Delação de Delcídio ainda precisa de provas. Mesmo quando denuncia prejuízo de R$ 1 bi em negociatas na Petrobrás sob Joel Rennó
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FHC estava no Planalto quando o tucano Delcídio era diretor da Petrobrás: ele narrou corrupção na compra da P-36, que afundou, e na atuação da empresa Marítima, contratada por Joel Rennó
Da Redação
Lemos com atenção toda a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, que hoje deixou o PT.
O senador é a síntese do tucano-petismo ao qual nos referimos seguidamente: todos os escândalos iniciados no governo de FHC sobreviveram e às vezes floresceram sob o governo Lula.
Sanguessugas, vampiros, mensalão, petrolão…
Não foi falta de aviso de uma tendência do PT, que tentou barrar a filiação de Delcídio, como denunciamos aqui.
Sem moralismo: o incentivo está na necessidade do financiamento de campanha, com as sobras dirigidas ao enriquecimento pessoal.
A delação do senador nos fez lembrar de um episódio que vivemos na Globo: a denúncia de que policiais rodoviários federais do Rio cobravam propina de motoristas que eram parados e descobertos com irregularidades em seus automóveis ou documentos, num posto de uma rodovia que cortava o estado.
A reportagem foi ao ar, com imagens de motoristas que deixavam o dinheiro para que fosse recolhido pelos policiais.
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Porém, na Justiça, os acusados contestaram: argumentavam que não havia imagens dos policiais recolhendo o dinheiro da propina. Da última vez que tivemos notícia do caso, os acusados esperavam absolvição e pretendiam processar a emissora em busca de indenização. Alegavam que nunca foram filmados recolhendo o dinheiro e, portanto, não havia prova material do pagamento de propina.
Nosso ponto: na Justiça, diferentemente do jornalismo investigativo, é preciso mostrar a cadeia de provas que une o motorista corruptor ao policial corrupto: o dinheiro ou a vantagem precisa passar direta ou indiretamente entre um e outro.
Na delação de Delcídio, isso claramente não acontece. Foram acrescentadas “provas” para corroborar a delação de Delcídio, mas até agora são bastante frágeis: agendas, viagens realizadas pelo senador, etc.
Explicamos: Delcídio diz que teve uma conversa com a presidente Dilma nos jardins do Alvorada, destinada à nomeação de um juiz que soltaria réus da Lava Jato.
Porém, fica a palavra dele contra a dela. A não ser que fosse exibida uma gravação de áudio do encontro, mesmo que os dois tenham de fato se reunido na data e hora mencionadas pelo delator, isso não significa absolutamente nada.
Podem ter conversado sobre o que Delcídio denunciou, ou sobre bicicletas e gatos.
Isso não vale apenas para Lula ou Dilma. Vale também para as denúncias de Delcídio contra Aécio Neves ou Fernando Henrique Cardoso.
O presidente do PSDB teria pedido ao senador Delcídio um tempo para “maquiar” os documentos enviados pelo Banco Rural à CPI dos Correios, de forma a livrar aliados do tucano.
Esta declaração não vale absolutamente nada, a não ser que a Polícia Federal requisite novamente os dados do banco e os compare com aqueles oferecidos à CPI.
Se de fato houver discrepância, será batom na cueca.
Também não dá para sustentar a versão de Delcídio segundo a qual Aécio teria recebido propinas através da estatal Furnas.
É preciso requisitar formalmente a delação premiada do operador Nilton Monteiro, que está disposto a colaborar com autoridades federais.
Nilton, que foi preso por agentes ligados a Aécio durante a campanha eleitoral de 2014, é capaz de fornecer o mapa da mina para todos os esquemas de financiamento tucano através de caixa dois em Minas Gerais, inclusive a famosa lista de Furnas do diretor de Engenharia da estatal Dimas Toledo, que incrivelmente sobreviveu no cargo depois que Lula ascendeu ao Planalto. Foi, mesmo, uma indicação de Aécio a Lula?

Da mesma forma, Delcídio apenas forneceu indícios de um prejuízo que soma U$ 270 milhões à Petrobras durante a gestão de Joel Rennó na Petrobrás.
Ele dirigiu a empresa nos governos Itamar e no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando Delcídio era tucano e diretor da Petrobras (veja documentos).
Por valores de hoje, seria cerca de R$ 1 bilhão, sem considerar a inflação.
Como poderia agir a Polícia Federal neste caso? Fazendo uma devassa na vida de Joel Rennó, German Efromovich e na empresa Marítima.
Além disso, seria preciso analisar as relações dos acusados por Delcídio aos presidentes da época. Não havendo provas, é puro disse-me-disse de Delcídio.
Que fique claro: isse vale para o PT, para o PSDB e para qualquer partido denunciado na Lava Jato.
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