Alckmin se recusa a dialogar e crescem denúncias de violência, arbitrariedades e abuso de poder contra estudantes das escolas ocupadas

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Salim Faranh 2

por Conceição Lemes

Principalmente desde terça-feira 23, crescem as denúncias de violência, arbitrariedades e abuso de poder contra os estudantes das escolas ocupadas da rede pública do Estado de São Paulo.

E o que é pior.  Em algumas escolas, eles têm de enfrentar a Polícia Militar (PM). Em várias outras, o abuso de poder está sendo praticado pelos diretores das próprias escolas.

A escola tem a obrigação de proteger as crianças e adolescentes enquanto elas estão sob a sua tutela. E um dos responsáveis por esse cuidado sãos os justamente os diretores. Só que, infelizmente, alguns atuando contra os seus estudantes.

— Por que se o governador Geraldo Alckmin havia dito que não recorreria à PM para retomar as escolas? — muitos devem estar se perguntando.

São várias razões:

1. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz uma coisa e faz outra em relação às escolas ocupadas. Menos de 24h após ele dizer que não usaria a PM em “escolas invadidas”, houve repressão policial em três.

2. O governador está fazendo pressão, sim, apesar da sua cara de paisagem, como se não tivesse nada a ver com a violência e arbitrariedades

3. Definitivamente o governo paulista não quer diálogo, como têm denunciado pais, alunos e professores. “Diálogo” para Alckmin significa ele dizer uma coisa e todo mundo bovinamente segui-lo, sem qualquer questionamento.

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Tanto que na audiência dessa terça-feira 23 no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), que julgou a reintegração de posse das escolas ocupadas, o intransigente secretário da Educação de São Paulo, Herman Voorwald, não mandou NENHUM representante.  Nessa audiência, o TJ-SP negou o recurso do governo Alckmin, que pedia a reintegração das escolas ocupadas.

Cá entre nós, o servil secretário Herman Voorwald  não teria adotado esta postura desapreço ao Judiciário se não tivesse a bênção do seu protetor Alckmin.

4. O secretário da Educação cancelou também participação audiência na Assembleia Legislativa paulista, que ocorreria nesta quarta-feira 24.

Semestralmente os secretários  de Estado têm de comparecer à Assembleia Legislativa para falar de suas realizações.  Herman Voorwald não foi. A Alegação oficial é a realização do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Mas tudo indica que o motivo real foi não se expor publicamente, para evitar manifestações contra a sua gestão, particularmente a malfadada “reorganização” escolar

5. Nesta quarta (24/11) e quinta (25/11) a Secretaria da Educação realiza o Saresp.  Cerca de 1,2 milhão de alunos dos 2º, 3º, 5º, 7º e 9º anos do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio devem ser avaliados em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e redação.

Acontece que os estudantes lançaram uma campanha de boicote ao Saresp.

Nas escolas ocupadas, ele está suspenso. E mesmo nas não ocupadas, muitos estudantes aderiram ao boicote, simplesmente não respondendo as perguntas ou rasurando as provas.

As notas obtidas pelos estudantes compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp). Dos resultados dependem os bônus para diretores de escolas e professores.

Daí, talvez, alguns diretores estarem agindo como capitães do mato. Alguns prenderam os alunos dentro da escola. Outros, sob o pretexto de que os alunos estavam destruindo o patrimônio público, chamaram a PM para prender a meninada.

Enfim, vivemos tempos em que o exercício da cidadania é tolhido de forma arbitrária, que lembram muito a época da ditadura.

É na periferia a ação da PM tem sido mais violenta contra crianças e adolescentes que não aceitam o fechamento de sua escola ou a remoção arbitrária.

Ironicamente, com o seu autoritarismo,  Alckmin está forçando a meninada a se politizar.  No futuro, é possível que colha os frutos de sua  ação desastrada e arrogante e não vai gostar. Tampouco vai poder jogar nos outros uma culpa que é dele.

Abaixo, seguem algumas das denúncias  de que falamos acima. Elas estão postadas principalmente no  Não fechem minha escola e no Mal Educado

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CONTRA OCUPAÇÃO DA FIRMINO PROENÇA, PM DE ALCKMIN PRENDE OITO ESTUDANTES

A Firmino Proença é uma escola pública estadual bem antiga no bairro da Moóca, Zona Leste da capital paulista.

Contra a sua ocupação, a PM prendeu oito alunos nesta quarta-feira, como mostra a repórter Fernanda Cruz, da Agência Brasil:

Oito estudantes foram apreendidos pela Polícia Militar durante a tentativa de ocupação de uma escola na zona leste de São Paulo. Os adolescentes tentavam ocupar a escola Firmino Proença, na Mooca, por volta das 5h30, quando uma zeladora percebeu e chamou a PM. O grupo protestava contra a reorganização escolar que levará ao fechamento de 94 unidades de ensino no estado.

Oito viaturas foram enviadas para o local e os alunos foram encaminhados para o 8º Distrito Policial, no Belenzinho. Os jovens foram acusados de depredação do patrimônio. A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo informou que enviou advogado para defendê-los. Os alunos foram ouvidos e liberados por volta das 11h.

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DIRETORA DA PLÍNIO NEGRÃO LIGA PARA OS PAIS E REVELA ORIENTAÇÃO SEXUAL DE ALUNO

Não fechem minha escola

DENÚNCIA: Na manhã de hoje, 23 de novembro, a E.E. Plínio Negrão foi ocupada pelos estudantes, contra a reorganização das escolas que vai fechar escolas, tirar ciclos e superlotar salas.

Numa tentativa sórdida de desestabilizar o movimento, Mirian, diretora da escola, ligou para os pais dos estudantes que estão ocupando, para tentar tirá-los à força do colégio.

Em uma dessas ligações, a diretora expôs a orientação sexual de um aluno, que ainda não havia se assumido pra família.

É CRIMINOSA a atitude da diretora, que, ao invés de prezar pela vida e educação dos estudantes, promover o acolhimento e a discussão sobre o tema, se utiliza de métodos LGBT-fóbicos e completamente impróprios para tentar barrar a luta legítima dos estudantes, que já se espalha por mais de 100 escolas.

Plínio  Negrão

Estudantes da EE Plínio Negrão, na Vila Cruzeiro, em Santo Amaro, na capital paulista

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PM FILMA E ANOTA RG DE ALUNOS QUE ESTÃO NA PORTA DA SALIM FARAH MALUF 

Não fechem minha escola 

A Escola Estadual Salim Farah Maluf fica no bairro José Bonifácio, na Zona Leste da cidade de São Paulo.

As fotos abaixo registram o momento da ocupação.

Salim Farah Salim Faranh 2

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DIRETOR DA ETEC JARDIM ÂNGELA PRENDE ALUNOS DENTRO DA ESCOLA

URGENTE!!!

Estudantes da ETEC Jardim Ângela acabaram de ocupar sua escola. Porém, o diretor não liberou a chave, trancou os portões e está mantendo os alunos presos lá dentro. Ele está proibindo também que os estudantes façam a assembléia que planejaram logo após a ocupação.

A ETEC Jardim Ângela fica próxima à Represa de Guarapiranga, região do Jardim Ângela, Zona Sul da capital, área conhecida historicamente por ser muito carente de política pública e de investimentos em educação profissional de qualidade entre outras necessidades.

imagem etec guarapiranga

Foto: Vinicius Gomes

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DIRETORA DA CONSELHEIRO CRISPINIANO ACUSA OS ALUNOS DE FAZEREM BADERNA

Mal Educado 

Estudantes ocupam a EE Conselheiro Crispiniano, uma das escolas mais antigas e tradicionais de Guarulhos, contra a reorganização. O colégio perderia o ensino médio pelo projeto de Alckmin.

De manhã, a direção chegou a chamar os pais dos alunos, que estavam reunidos em assembleia, dizendo que eles estavam fazendo baderna, mas a comunidade escolar apoia a mobilização. “Eu sou a favor da ocupação, vou apoiar minha filha, eles não estão destruindo patrimônio, estão organizados”, disse uma mãe.

No vídeo abaixo, de vestido verde, a diretora Ana Maria Batista


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NA LEONARDO VILLAS BOAS E NA IRMÃ GABRIELA, EM OSASCO, DIRETORIAS COLOCARAM ALUNOS EM RISCO

Mal Educado, via Leo V, leitor do Viomundo, nos comentários

A EE Leonardo Villas Boas fica no Bairro Padroeira, periferia de Osasco, e foi ocupada pelos alunos na manhã de terça-feira 17 novembro. É vizinha de muro da EE Irmã Gabriela e estava destinada ao fechamento de acordo com o plano de reorganização escolar do governo estadual.

Acontece que um movimento de mães com abaixo-assinado e manifestações conseguiu reverter o fechamento, assim a escola Leonardo e sua vizinha escola Irmã Gabriela foram alçadas ao status de reorganizadas para 2016. A reorganização agrada a um grupo de mães que apostam no argumento de que a separação entre ensino fundamental e ensino médio garantirá que seus filhos pequenos fiquem mais resguardados diante do tráfico de drogas.

No ato da ocupação, apoiadores se fizeram presentes diante do portão da escola e duas moças acabaram detidas. A vice-diretora (o diretor está de licença) reagiu agredindo verbalmente os ocupantes. Depois, telefonou aos pais informando que seus filhos estavam depredando a escola (a única coisa que os alunos quebraram ao entrar na escola foi a ordem vigente, calcada no autoritarismo e na opressão) e que alguns já estavam sendo presos, e que “a ROTA vai entregar seu filho em casa se a senhora não vier buscá-lo”. Aos alunos, além de dizer que seriam presos, que apanhariam, disse a dois garotos: “vocês são maricas, umas bichinhas” ; para uma menina que varria o chão exclamou: “você vai terminar assim mesmo, varrendo chão, é pra isso que você estuda, e eles vão virar servente de obra”.

À polícia, a vice-diretora afirmava que fora proibida de sair pelos alunos e que estes estavam quebrando a escola. A direção da EE Leonardo mentiu deliberadamente para a polícia e para os pais. Temos notícia de que a supervisão de ensino encontrava-se na escola durante este dia de ocupação e que, no mínimo, não foi capaz de disciplinar a direção da escola.

Do lado de fora, alguns policiais à paisana se fizeram presentes, fotografando apoiadores e estudantes, estabelecendo conversações com a guarnição policial que atendia à ocorrência e transitando dentro da EE Irmã Gabriela. O que estes agentes faziam lá dentro da escola vizinha?

A polícia foi embora por volta das 16h. Mas outras personagens permaneceram atacando a ocupação. Professoras e alunos sofreram diversos tipos de ameaças. Bombas sonoras foram atiradas para dentro da escola, por pessoas da própria comunidade.

Ao fim da tarde muitos adultos, adolescentes e crianças estavam na rua hostilizando apoiadores e ocupantes. Um pequeno grupo de alunos adultos do EJA agitava as crianças para que causassem o maior distúrbio possível na rua, além de hostilizar os ocupantes. Bombas eram frequentemente atiradas por cima do muro em franco ataque contra a escola ocupada, e também no meio da rua diante do portão principal, intimidando quem ali estivesse. Com o cair da noite alguns ônibus foram apedrejados, as bombas continuavam, e o portão lateral quase foi arrombado. Só pararam quando a chuva os dispersou. Os bravos ocupantes da EE Leonardo passaram a noite sozinhos, sem apoio externo.

No dia seguinte as bombas continuaram caindo dentro da EE Leonardo, sendo lançadas inclusive de dentro da EE I. Gabriela. A Supervisão de Ensino compareceu novamente no período da manhã. Um apoiador denunciou o fato ao funcionário que controlava a portaria da escola vizinha, que fez pouco caso do assunto. Cumplicidade ou conivência?

Por volta do meio dia três homens da polícia civil tentaram invadir a ocupação, mas foram contidos pela resistência dos apoiadores. Na EE I. Gabriela notou-se que pessoas estranhas ao quadro de funcionários estavam realizando funções de inspetores e controlando a entrada. Há suspeita de que alguns alunos teriam sido revistados.

No final do dia as bombas eram atiradas em grande quantidade no meio da rua, quase aos pés dos apoiadores, e também contra a ocupação, por cima dos muros. Os mesmos adultos do EJA que compareceram no primeiro dia ameaçavam novamente a integridade física dos apoiadores e incitavam violência. Surgiram falsos boatos de que a ocupação estava sendo invadida. Bombas continuavam sendo lançadas.

Pouco tempo depois a direção da EE I. Gabriela convida um grupo a entrar em suas dependências, para que lá de dentro pudessem ter fácil acesso à EE Leonardo, pulando o muro que divide as duas escolas. Bombas incessantes. Alicates de pressão foram vistos nas mãos das pessoas que realizaram a invasão. Cortaram facilmente o cadeado do portão principal, liberando a entrada dos jovens que estavam do lado de fora e depois cortaram outros cadeados para que todos os acessos à ocupação fossem liberados. O clima geral era de muita hostilidade e ameaça contra os ocupantes, que felizmente conseguiram escapar ilesos. A polícia chegou quando tudo estava “resolvido”.

Villas

O que motivou a comunidade a operar este ataque? Certamente existe uma conjuntura delicada, não há respostas fáceis e rápidas. E este breve comunicado, pela urgência da denúncia e limites de espaço, não permite desdobrar qualquer reflexão. Por hora nos limitamos a repetir que “a favela é um problema social”, como já dizia o pensador Bezerra da Silva.

Por outro lado, não é preciso procurar muito para encontrar o que salta aos olhos: o Estado engajou-se em um conflito que deveria mediar, pois tomou partido a favor do ódio e da intolerância, e além disso violou os direitos dos jovens que deveria acolher.

A sociedade precisa saber que alguns servidores públicos lotados na EE I. Gabriela e EE Leonardo mobilizaram a população incitando violência e organizando ações coordenadas de grupos contra a ocupação, submetendo os adolescentes a sérios perigos. Também a Polícia Militar demonstrou agir de forma combinada, aparecendo estrategicamente na hora certa. Apenas por sorte o que estamos reportando aqui não é uma tragédia. É o cotidiano de um sistema educacional voltado para a opressão e o controle.

Responsabilizamos a direção das duas escolas (contando com a conivência da Supervisão Regional de Ensino) por ter tomado parte na organização dos grupos que hostilizaram apoiadores e professores com agressões verbais e ameaças de agressão física, e por ter arquitetado a invasão de um prédio público ocupado por adolescentes, pondo em risco a vida daqueles que deveria proteger.

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