Dr. Rosinha: O adesivo sexista, o silêncio tucano e o avanço dos fundamentalistas
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Impune, a direita perdeu o pudor; os tucanos ficam de bico calado
Apologia ao crime
DR. ROSINHA, especial para o Viomundo
Semana passada fiquei chocado quando vi, nas redes sociais, o adesivo sexista feito contra a presidenta Dilma Rousseff. Muitos e muitas já escreveram sobre isto, mas me sinto, ainda que atrasado, na obrigação de ser mais um a se manifestar e repudiar este tipo de agressão, não por ser contra a Dilma, mas por ser contra a mulher, independentemente de qual seja.
O adesivo prega a violência sexual não só contra a presidenta Dilma, mas contra todas as mulheres.
É repugnante que alguém possa pensar, quanto mais elaborar, um material não só extremamente machista, mas que propõe a violação e a tortura de mulheres.
O adesivo sexista, ao insinuar a introdução de um bico de mangueira de bomba de combustível na vagina da presidenta ou de qualquer mulher é fazer apologia à violação, ao estupro, à tortura.
É repugnante que alguém elabore, como é repugnante que alguém coloque a venda, como fez o site de vendas Mercado Livre, que tem como uma das sócias Verônica Serra, filha do senador José Serra (PSDB-SP). E ainda tenha quem compre e use o adesivo.
O protesto contra tal adesivo foi feito por muita gente, por movimentos organizados, por alguns órgãos e instituições nacionais e internacionais, inclusive pela ONU, menos pelo PSDB (FHC, Aécio Neves, José Serra, Aloisio Nunes, etc), DEM (Caiado, Agripino Maia, etc.), PPS (Roberto Freire). Se fizeram, desculpe listá-los, mas não vi, ouvi ou li que tenham protestado.
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Conforme a ONU, este adesivo não só prega, mas é uma violência política sem precedentes. E faz apologia à violência sexual, como se o Brasil, um dos países mais machistas do mundo, já não fosse também um dos mais violentos do planeta.
O Brasil, entre 84 países, é o sétimo em assassinato de mulheres. Segundo o Ministério da Saúde, são registrados de 40 a 50 mil atendimentos por ano a mulheres vítimas de violência doméstica. Estima-se, também, que ocorram 50 mil estupros por ano no país. Há um subregistro importante, pois nem toda mulher faz boletim de ocorrência ou procura um serviço de saúde para ser atendida após ter sido violentada.
Entre 2009 e 2011, quinze mulheres foram assassinadas por dia, ou seja, uma mulher a cada 96 minutos.
O adesivo é mais um dos componentes da pregação de violência e de desrespeito aos direitos humanos e civis em ascensão no nosso país. Desrespeito não por agressão do Estado, como foi na ditadura militar, mas pelo comportamento de setores da sociedade, alimentados por partidos (PSDB, PPS, DEM, Solidariedade e PSC) e lideranças políticas de direita e por um amplo setor da imprensa.
Ameaçam qualquer pessoa que pense diferente, seja politicamente, seja por questão étnica, de gênero e de religião. A violência de gênero, da qual a presidenta foi vítima, é repugnante.
É um ato que jamais imaginava ver. Um ato que jamais imaginava que o homem, ser racional, fosse capaz de fazer, pregar explicitamente a violência sexual.
A superação deste tipo de ato sexista e do machismo em si só será alcançada pela educação. Mas o que está ocorrendo com a educação neste país? Ressalvo que, ao fazer esta pergunta, faço-a não só aos educadores formais, mas a tão cantada e decantada família, que fundamentalistas religiosos fazem fila na frente de microfones (rádios, TVs, púlpitos e Congresso Nacional) para defender. Que família é essa que não dá conta de sexualmente educar seus filhos e que não permite que as escolas eduquem?
A resposta está no extremo conservadorismo, não de comportamento, mas de ideias. Muitos fazem o discurso que não corresponde à prática: defendem a família e, fora dela, têm várias namoradas ou namorados. Pregam a honestidade e vivem praticando crimes.
Conservadorismo de ideias refletido na elaboração do Plano Nacional de Educação e, agora, nos debates dos planos estaduais e municipais. Há uma resistência religiosa para que não conste nos planos de educação a questão de gênero. Não podem os educadores, dentro da sala de aula, falar que existem dois sexos e que os direitos são iguais. Os fundamentalistas se negam a isso.
Excomungam quem propõe que, nos planos, conste qualquer referência à orientação sexual. Para eles, a família só pode ser heterossexual.
A presidenta Dilma (como milhares de mulheres são) foi vítima de um ataque sexista. Conforme a nota divulgada pela ONU, o adesivo que atacou a Presidenta é “expressão de misoginia (ódio, desprezo ou repulsa ao gênero feminino e às características a ele associada) e interpelação dos direitos humanos de mulheres e meninas”.
No mês passado ocorreram manifestações em quase todas as capitais dos países da América do Sul contra o machismo e a violência contra a mulher. Na ocasião a presidenta Dilma Rousseff condenou esse tipo de crime, afirmando que “toda a sociedade é agredida quando se ataca uma mulher”.
O adesivo sexista não atacou somente a presidenta Dilma. Atacou todas as mulheres e homens que tem consciência de que o machismo é a razão do feminicídio.
Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, foi deputado federal (PT-PR)
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