No “sincericídio” de Gilberto Carvalho, uma avaliação correta

Tempo de leitura: 3 min

Itaquerão: Depois da Copa, mesmo com o Brasil campeão, problemas do entorno vão continuar

por Luiz Carlos Azenha

O trecho acima é de uma entrevista do ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, à Folha.

Concordo com a avaliação dele.

Fiz uma série de viagens recentes, ao interior de São Paulo, Minas Gerais e Ceará.

O que me impressionou foi ver que o antipetismo foi disseminado aos grotões.

Em minha opinião, a partir de um cerco conservador que encontra ampla repercussão na mídia antipetista.

Como sempre escrevi, as redes sociais ampliaram, não diminuiram o poder das famílias que controlam a mídia brasileira.

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Elas fornecem a matriz do pensamento conservador, que agora se dissemina com muito maior rapidez e profundidade através das redes sociais, com o poder reforçado pelo fato de que os compartilhamentos partem de pessoas que são parentes, amigos ou conhecidos.

O que quero dizer é que para um leitor eventual de jornal — que mora no interior de Tocantins e não é assinante da Folha, nem da Veja — um artigo do Reinaldo Azevedo cujo link ele recebe no Facebook, recomendado por um parente, vem com uma força emocional que inicialmente independe do conteúdo.

A opinião da direita viaja mais, mais rápido e chega onde não chegava antes; o discurso raivoso ajuda a ganhar a competição contra outros conteúdos que diariamente disputam nossa atenção, por ter óbvio apelo emocional.

Para desmontá-lo, seria necessária uma contra-ofensiva para a qual o PT não se preparou, crente no poder do controle remoto e na propaganda eleitoral de João Santana. Tarde demais? Saberemos em outubro.

Reinaldo Azevedo tem um blog, escreve para a Folha e faz comentários para a rádio Jovem Pan, ou seja, não por acaso atua em múltiplas plataformas disseminando o pensamento do patrão.

É um padrão que se repete.

Podemos ouvir Merval Pereira na rádio CBN, lê-lo em O Globo e vê-lo na Globonews.

A caminho de Santana do Acaraú, no interior do Ceará, ouvi o historiador Marco Antonio Villa falando mal do PT num programa da rádio Jovem Pan, via satélite. Nada disso, obviamente, acontece por acaso.

Além da incompetência/covardia do próprio PT e de seus governos na área da comunicação, marcada pela presença no comando de jornalistas cujo interesse essencial é preservar laços com a mídia corporativa que lhes rendam futuros empregos, a blogosfera acaba tendo um impacto negativo quando estimula o que eu chamaria de “síndrome da seita religiosa”, o popular avestruz — ou toupeira — que esconde a cabeça para não saber o que se passa à sua volta.

Assim sendo, as manifestações de junho do ano passado são descartadas como obras de “coxinhas”, da ultraesquerda radical, de black bloc demoníacos — como se não existesse absolutamente nada subjacente…

É uma tentativa de se esconder da realidade, atribuindo tudo aos outros.

É por isso que o Viomundo, desde sempre, advogou a produção de conteúdo próprio, com o objetivo de fazer jornalismo crítico e independente — especialmente da mídia patronal, mas também do PT e do governo federal — que nos permita ter contato com a realidade sem passar pelos filtros ideológicos da mídia corporativa.

Há um claro mal estar no Rio de Janeiro, por exemplo, com sinais bem evidentes de fracasso da política de pacificação que foi apoiada tanto pelo governo federal petista quanto pelos aliados locais e pela Globo. Foi o que ficou claro em nossa série de reportagens, bancadas exclusivamente pelo financiamento de nossos leitores.

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Da mesma forma, a Copa das Copas é também a Copa da elite e há uma boa dose de ressentimento daqueles que não estão participando pessoalmente da festa, enquanto assistem na TV os de sempre se divertindo em estádios que foram construídos com recursos públicos.

Como também escrevemos anteriormente, o governo federal deveria ter promovido ou incentivado governos locais a adotar ações para enfrentar o descontentamento popular no entorno dos estádios. Em Itaquera, por exemplo, moradores que correm risco de perder a moradia assistiram esputefatos à incrível demonstração de capacidade de todos os governos: produziram uma maravilhosa obra de engenharia em tempo recorde ao mesmo tempo em que faltam vagas em creches, médicos em postos de saúde e o metrô anda lotado. Depois da Copa, Brasil campeão ou não, tudo vai continuar como era, mais o estádio?

Gilberto Carvalho está certíssimo: para vencer o cerco conservador estimulado pelo antipetismo da mídia, é preciso atacar os problemas subjacentes ao descontentamento da sociedade, que não são poucos: de uma economia em marcha lenta à profunda crise urbana das metrópoles.

Uma blogosfera crítica é essencial para que isso aconteça.

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