Marcos Martins: Sabesp pede economia de água, mas desperdiça 32%

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Fotos Caio Castor

Ato contra falta de água em São Paulo critica Alckmin por tentar esconder racionamento

Para lideranças sindicais, populares e estudantis a falta de investimento do governo tucano é o principal motivo da crise

Por Lúcia Rodrigues

Apesar da gravidade da crise da falta de água em São Paulo atingir milhares de pessoas, o protesto capitaneado pela CUT que ocorreu na manhã e início da tarde desta quinta-feira, 5, em frente à sede da Sabesp, em Pinheiros, região oeste da capital paulista, não conseguiu atrair um número expressivo de trabalhadores. Aproximadamente 400 pessoas participaram do protesto, que reuniu lideranças sindicais, populares e estudantis.

Marcada para ocorrer no Dia Mundial do Meio Ambiente, a manifestação acabou coincidindo também com a greve dos metroviários, que começou nesta madrugada. O trânsito caótico pode ter contribuído para o esvaziamento do protesto, que denunciou o descaso do governo do Estado de São Paulo com o fornecimento de água potável para a população e a farsa montada para encobrir o racionamento que atinge a periferia.

Antes de chegar à empresa, os manifestantes percorreram em passeata aproximadamente 700 metros da Marginal Pinheiros e ruas do entorno. A faixa que abria o protesto alertava: “Vai ter Copa sim, o que não vai ter é água em São Paulo”. O objetivo dos dirigentes cutistas era entregar uma carta ao secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, com sugestões para saída da crise, mas não conseguiram porque seu gabinete está localizado no centro da cidade.

Na agenda de Arce, a reunião com os trabalhadores está marcada apenas para o dia 2 de julho.

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Falta de investimentos

Todas as lideranças entrevistadas pela reportagem de Viomundo — veja as fotos no álbum acima — foram categóricas, afirmando que o racionamento que atinge a periferia da região metropolitana de São Paulo foi motivado pela falta de investimentos do governo do Estado na construção de novos mananciais e novas estações de tratamento de água.

“É uma crise anunciada. Há algum tempo os índices mostravam que havia necessidade de investimentos, mas nada foi feito”, critica o presidente da CUT paulista, Adi dos Santos.

“Em 2004, o comitê de bacias já tinham alertado o governador que poderíamos ter uma crise, e que era preciso fazer investimentos na captação de água, em reservatórios e interligações. Praticamente nada disso foi feito”, completa o deputado estadual, Marcos Martins (PT-SP).

O parlamentar também ressalta que a Sabesp não investiu em campanhas de conscientização para a economia de água. “Não adianta fazer campanha só na hora do sufoco. A água precisa ser economizada, mas a Sabesp não dá o exemplo. O vazamento em sua rede chega a 32%”, frisa. “A culpa pela falta de água, não é de São Pedro nem da população. O governo tem de assumir a responsabilidade de não ter feito as obras necessárias”, arremata.

Tucanos jogaram água fora

O técnico em gestão da Sabesp e diretor do Sintaema, o sindicato que reúne profissionais da Companhia, Anderson Fernandes Guahy, enfatiza que há mais de 12 anos o governo do PSDB não constrói nenhuma estação de tratamento de água nem faz captação para evitar a crise hídrica.

“Há muito tempo a gente vem dizendo que não há reservatórios suficientes na região metropolitana de São Paulo, para atender à demanda da população. Só agora é que estão fazendo o primeiro reservatório novo (no Ipiranga), mas a obra só deve ficar pronta em um ano e meio.”

O técnico recorda que a falta de investimentos em reservatórios é outro dos motivos para o racionamento de água enfrentado pela população. “Lembra das chuvas de 2010, quando vários bairros (Pantanal, na zona leste, é um deles) foram alagados? Aquela água poderia ter sido reservada e tratada. Mas a Sabesp não fez isso, porque não tinha reservatório para guardar”, revela.

Ele aponta que o tratamento de esgoto é outra das saídas para se extrair água potável. “É caro, mas é possível. Em Campinas há um condomínio com essa tecnologia. As pessoas são abastecidas com a água tratada do esgoto. Essa (técnica) acontece através de membranas. Mas a Sabesp para dar lucro para os acionistas, não investe nessa tecnologia.”

A saída é viável, mas não é imediata. O funcionário explica que demoraria em torno de 10 anos para que esse sistema entrasse em funcionamento.

Outra forma de tentar amenizar a crise é evitar que as indústrias continuem utilizando água potável na produção. “Tem que utilizar água de reuso”, frisa Anderson. “As empresas não podem continuar usando água potável para resfriar peças. É preciso investimento em águas pluviais, em água de reuso. O governo precisa estimular as indústrias a fazerem isso”, reforça o presidente da CUT paulista.

Governo esconde

A negação do governador Geraldo Alckmin de que o racionamento está a todo vapor é criticada pelas lideranças populares.

Para Guilherme Boulos, dirigente do MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o racionamento é uma realidade e afeta a periferia. Ele coordena várias ocupações nas regiões mais pobres de São Paulo. O acampamento Copa do Povo, em Itaquera, na zona leste, é um deles.

“Em alguns bairros de Itaquera falta água dia sim, dia não. Na zona sul, no Jardim Angela, Capão Redondo não tem água à noite. Em Embu das Artes quando se abre a torneira, em alguns períodos do dia, a água sai marrom. Essa é situação. São Paulo vive um racionamento de água, mas o governo só vai anunciar isso em outubro, depois da eleição. Tá claro que o objetivo é empurrar com a barriga. É por isso que estamos aqui (na rua). O problema da falta de água em São Paulo não é da natureza. É político. É por causa da falta de investimento, de planejamento, da privatização. A Sabesp se voltou cada vez mais para o lucro e não para o atendimento da população”, sentencia.

O vice-presidente da UNE, a União Nacional dos Estudantes, Arthur Miranda, concorda com Boulos. “O governador Geraldo Alckmin não tem compromisso com a população e tenta esconder o problema que está cada dia mais evidente. Santo André está sem água, Mauá está sem água.”

Lira Alli, do Levante Popular da Juventude, habituada a liderar escrachos contra torturadores que atuaram durante a ditadura, também resolveu participar da manifestação. “Quem mais sofre com a falta de água é a periferia e o PSDB está no poder (praticamente) desde o fim da ditadura militar.”

Em um discurso, a estudante de Artes Cênicas da USP, fez uma crítica aos tucanos em ritmo de funk e pediu a saída deles do governo. “A água é direito, não é mercadoria. Fora tucanada que nos ferra todo dia”, cantou Lira em um dos trechos da letra.

Chega de tucanos

O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, foi outro que bateu duro nos tucanos. “Alckmin está criando o caos na cidade. Não está faltando só água para beber. O que significa desenvolvimento sem água? Não tem crescimento econômico e industrial. Sem água vai ter falta de emprego. É por isso que temos de fazer a mudança. Chega de tucanos em São Paulo”, enfatiza.

“A CUT tem o firme propósito, único e exclusivo de dizer para a população que o governo Alckmin, é um governo que sucateia e arrebenta São Paulo e que nós vamos derrotá-lo na eleição de outubro. É para isso que nós estamos aqui”, conclui o sindicalista.

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