Paul Krugman: O sangramento enfraquece o paciente

Tempo de leitura: 4 min

A cura pelo sangramento

por PAUL KRUGMAN, no New York Times, em 18.09.2011

Os médicos chegaram a acreditar que pela retirada do sangue dos pacientes poderiam purgar os “humores” diabólicos que, pensavam eles, eram causadores das doenças. Na realidade, é claro, tudo o que o sangramento fazia era tornar o paciente mais fraco e com maior chance de sucumbir.

Felizmente, os médicos já não acreditam que sangrar os doentes vai torná-los saudáveis. Infelizmente, muitos dos que fazem a política econômica ainda acreditam. E o sangramento econômico não está apenas inflingindo vastas dores; está começando a solapar nossas perspectivas econômicas de longo prazo.

Algumas informações: no último ano e meio, o discurso político, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, tem sido dominado por pedidos de austeridade fiscal. Ao cortar os gastos e reduzir os déficits, nos disseram, as nações poderiam restaurar a confiança e promover o renascimento econômico.

E a austeridade tem sido real. Na Europa, nações com problemas como a Grécia e a Irlanda, impuseram cortes selvagens, enquanto nações mais fortes impuseram programas mais suaves de austeridade. Nos Estados Unidos, o modesto estímulo federal de 2009 se extinguiu, enquanto governos estaduais e locais cortaram seus orçamentos, de forma que no conjunto tivemos de fato um movimento em direção à austeridade não muito diferente do da Europa.

O estranho, no entanto, é que a confiança na economia não aumentou. De tal forma que empresas e consumidores parecem muito mais preocupados com a falta de clientes e de empregos, respectivamente, do que se sentem seguros com o rigor fiscal de seus governos. E o crescimento parece que se afoga, enquanto o desemprego permanece desastrosamente alto dos dois lados do Atlântico.

Mas, dizem os apologistas dos resultados ruins obtidos até agora, não deveríamos focar no longo prazo em vez do curto prazo? Na verdade, não: a economia precisa de ajuda real agora, não de recompensas hipotéticas dentro de uma década. De qualquer forma, dados começam a emergir sugerindo que os problemas de “curto prazo”  da economia — agora em seu quarto ano e tornados piores pelo foco em austeridade — estão custando também às perspectivas de longo prazo.

Considerem, em particular, o que está acontecendo com a base manufatureira dos Estados Unidos. Em tempos normais, a capacidade industrial cresce de 2 a 3 por cento todo ano. Mas, diante de uma economia persistentemente fraca, a indústria tem reduzido, não aumentado, sua capacidade de produção. Agora, de acordo com estimativas do Banco Central [dos Estados Unidos], a capacidade está quase 5 por cento menor do que era em dezembro de 2007.

O que isso significa é que, quando a economia real finalmente se recuperar, vai enfrentar falta de capacidade e gargalos de produção muito mais cedo do que deveria. Ou seja, a economia fraca, que é parcialmente resultante dos cortes no orçamento, está causando danos futuros, além dos presentes.

Além disso, o declínio na capacidade de produção é apenas a primeira das más notícias. Cortes similares vão provavelmente acontecer no setor de serviços — na verdade, já podem estar em andamento. E com o desemprego de longo prazo em seu ponto mais alto desde a Grande Depressão, existe o risco real de que os desempregados vão ser considerados como não-empregáveis.

Ah, e o forte dos cortes em gastos públicos está sendo feito na educação. De alguma forma, demitir centenas de milhares de professores não parece ser uma boa forma de garantir o futuro.

Na verdade, quando você combina os crescentes indícios de que a austeridade fiscal está reduzindo nossas perspectivas de futuro, com as taxas de juro bem baixas nos papéis da dívida dos Estados Unidos, é difícil evitar uma conclusão surpreendente: a austeridade pode ser contraproducente mesmo do ponto-de-vista puramente fiscal, já que crescimento menor no futuro significa menor arrecadação.

O que deveria estar acontecendo? A resposta é que precisamos de um grande empurrão para fazer a economia se mover, não em uma data futura, mas agora. No presente, precisamos de mais, não de menos gastos governamentais, apoiados por políticas agressivamente expansivas do Banco Central e de suas contrapartes fora dos Estados Unidos. E não são apenas economistas teimosos que estão dizendo isso; empresários como Eric Schmidt, do Google, estão dizendo a mesma coisa, e o mercado de ações, ao comprar dívida dos Estados Unidos a juros tão baixos, está para todos os efeitos pedindo uma política mais expansiva [do Banco Central].

Para ser justo, alguns formuladores da política parecem entender isso. O novo plano de emprego do presidente Obama é um passo no caminho certo, enquanto alguns membros do Banco Central americano e do Banco da Inglaterra — mas, infelizmente, não do Banco Central Europeu — têm sugerido políticas muito mais orientadas para o crescimento.

No entanto, realmente precisamos é convencer um número substancial de pessoas com poder político e influência de que elas gastaram o último ano e meio seguindo na direção errada, e que elas precisam fazer um giro de 180 graus.

Não vai ser fácil. Mas, até que se faça o giro, o sangramento — que está tornando nossa economia mais fraca agora, colocando o futuro, ao mesmo tempo, em risco — vai continuar.

Tradução Luiz Carlos Azenha

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FrancoAtirador

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Colonos Judeus armados "para marchar sobre cidades Palestinas"

Terça-feira, setembro 20, 2011 07:00

Fontes da mídia hebraica afirmam que os colonos judeus ilegais pretendem organizar manifestações e comícios na periferia de cidades palestinas na Cisjordânia ocupada.

De acordo com relatos do jornal israelense Yedioth Ahronoth, os colonos armados ameaçaram atirar em palestinos se eles organizarem contra-manifestações ou tentarem se aproximar dos assentamentos ilegais.

As marchas, alegam, estão sendo organizadas para demonstrar o "controle" da terra pelos colonos; eles tentarão obter acesso aos escritórios de coordenação do exército de ocupação israelense.

Uma marcha semelhante está prevista para Tel Aviv, de onde ativistas de direita se dirigirão aos territórios palestinos ocupados para estender o conflito às áreas nominalmente sob o controle da Autoridade Palestina.

Yedioth Ahronoth disse que os líderes dos colonos têm planos de organizar marchas em três regiões de Bet Aeyl até próximo ao Gabinete de Coordenação e Ligação, e do assentamento de Kiryat Arba, em Hebron, para o assentamento de Har Manoá. Os organizadores decoraram carros com bandeiras de Israel.

Meir Bartel, um dos líderes dos colonos extremistas que se autodenominam os "jovens das colinas", disse ao jornal que "Israel deve anexar os blocos de assentamentos em resposta à decisão da Autoridade Palestina de ir às Nações Unidas. Organizaremos marchas para mostrar ao mundo que esta terra é a terra do povo de Israel."

Um oficial de segurança do assentamento judaico acrescentou: "As ordens militares são pouco claras, e se os Palestinos tentarem ultrapassar os limites dos assentamentos, nós não hesitaremos em abrir fogo com balas de verdade contra eles."

Tradução: Google (adaptada, mediante autorização de BK)

Original em:

http://occupiedpalestine.wordpress.com/2011/09/20

FrancoAtirador

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O PÊNDULO DA HISTÓRIA ESCAPA AO CONSERVADORISMO

Há uma travessia em curso no pêndulo da crise mundial.

Sua velocidade é crescente.

A esquerda brasileira, as forças progressistas e o próprio governo devem apertar o passo para não se perderem na inútil batalha do dia anterior.

Vive-se um deslocamento de forças e percepções para fora do centro de gravidade do conservadorismo mercadista.

O discernimento da sociedade já não cabe mais em velhos perímetros calcificados pela ortodoxia.

O campo conservador desidrata a ponto de regurgitar expoentes e agendas do centro político.

Editoriais e o colunismo da chamada grande imprensa colidem diariamente com o seu próprio noticiário.

O dispositivo midiático demotucano apregoa aquilo que a página seguinte evidencia ser a catástrofe em marcha na vida das nações.

Por mais que se desvirtue a realidade o efeito espelho percola a formação das consciência, argui certezas e desacredita receitas.

A agenda que dobra a aposta na doutrina neoliberal perde legitimidade na esteira de uma contradição insolúvel: as bases sociais mais amplas beneficiadas por esse modelo estão agora sendo pisoteadas por ele.

A classe média europeia ou a norte-americana verga sob o peso brutal da instabilidade que devora o lastro econômico e a sua contrapartida subjetiva.

A mudança é abrupta e truculenta.

Se a esquerda não se credenciar, a extrema direita só ocupará o vácuo pela violência, a intolerância e a xenofobia.

A 2ª-feira foi particularmente pedagógica na exposição dessa nova moldura.

Nos EUA, o presidente Barack Obama – um exemplo de centro expelido pelo estreitamento conservador – demarcou seu campo na luta pela reeleição.

E o fez afrontando o fiscalismo suicida que ancora a doutrina do Estado mínimo.

O resumo de sua diretriz orçamentária poderia ser traçado em uma frase: Obama corta R$ 1 trilhão da guerra e quer US$ 1,5 trilhão em impostos dos ricos.

Os republicanos acusaram o golpe duplo contra o seu altar.

E voltaram a falar o idioma da guerra fria para carimbar a plataforma orçamentária de Obama de 'guerra de classes'.

A coalizão conservadora que no Brasil se opõe ao financiamento do SUS com uma taxa de 0,1% sobre operações financeiras ainda não se expressa assim. Mas age como se tal fosse.

Se Obama afrontou o extremismo, por que haveriam de recuar as forças que expressam a angústia da fila do SUS?

O outro impulso pedagógico no pêndulo político da crise teve como alavanca a imolação final da Grécia cobrada pela ortodoxia do euro.

Ao pedir mais sacrifícios a uma sociedade que arde na pira neoliberal, os guardiões da fé conservadora vestiram ostensivamente o capuz do algoz.

A tal ponto que Nouriel Roubini, o outrora mister catástrofe, ao apregoar o calote da Grécia em entrevista ao Financial Times, soou apenas como sensato, em contraposição à estridência alucinada dos que verbalizam a 'razão' dos mercados.

(Carta Maior; 3ª-feira, 20/09/2011)

FrancoAtirador

Um rio subterrâneo

Nos anos 90 o setor financeiro detinha 10% do lucro norte-americano.

Hoje essa fatia é da ordem de 40%.

Num mundo cujo PIB oscila em torno de US$ 60 trilhões, os ativos financeiros somam US$ 600 trilhões.

Quanto rendem em recursos fiscais?

A julgar pelo exemplo brasileiro, pouco.

Cruzamentos de dados da Receita Federal demonstraram que dos 100 maiores contribuintes da extinta CPMF, 62 nunca tinham recolhido imposto.

O roubo recente de 170 cofres particulares no banco Itáu, em São Paulo, reafirma o calibre da sonegação.

Apenas 3 donos dos "mini-caixas 2" compareceram ao Distrito Policial para registrar o tradicional B.O.

Muitos contrataram detetives particulares na tentativa de reaver a fortuna sem ter que dar explicações à Receita Federal.

Sob sigilo do nome, um dos afanados revelou à Folha que guardava apenas algumas pedras de diamante no cofre: 3 milhões de reais.

Há, portanto, um rio subterrâneo de fastígio plutocrático que transita por debaixo da crise.

Quem se dispõe a trazer um pedaço dele à superfície na forma de receitas fiscais indispensáveis à superação dos desafios, incertezas e carências desse momento?

(Carta Maior; Domingo,18/09/2011)

FrancoAtirador

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Falando em saúde humana e economia global:
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NOVA IORQUE (EUA)

Em evento da Organização das Nações Unidas (ONU), paralelo à Assembléia Geral que se realizará nesta quarta-feira (21), Dilma Rousseff defende quebra de patentes para combater doenças crônicas como 'direito humano à saúde'.

Por Najla Passos – Especial para a Carta Maior

Dilma participou de reunião sobre doenças crônicas não-transmissíveis e defendeu que acesso a medicamentos e prevenção à saúde devem caminhar juntas, numa alusão à histórica posição favorável do Brasil à quebra de patentes de remédios para tratar doenças crônicas.

“O Brasil respeita seus compromissos em matéria de propriedade intelectual, mas estamos convencidos de que as flexibilidades previstas no Acordo TRIPs da Organização Mundial do Comércio, na Declaração de Doha, sobre TRIPs e saúde pública, e na estratégia global sobre saúde pública, são indispensáveis para políticas que garantam o direito à saúde”, afirmou Dilma no discurso, que teve seis minutos.

O Acordo TRIPs, assinado em 1994, constitui o mais importante instrumento multilateral de mundialização das propriedades intelectuais.

Dilma reiterou a importância de garantir o acesso universal aos medicamentos para doenças crônicas – especialmente hipertensão, diabetes, câncer e doenças respiratórias -, usando índices de mortalidade brasileiros como exemplos.

“No meu país, 72% das causas não violentas de óbito entre pessoas com menos de 70 anos são por essas doenças”, disse, explicando que o Brasil defende o acesso a medicamentos como direito humano à saúde. “Sabemos que é elemento estratégico para a inclusão social, para a busca da equidade e para o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde”.

A presidenta também elencou as medidas adotadas pelo governo para evitar tais mortes, como a distribuição gratuita de remédios para o combate à hipertensão e ao diabetes, programas de incentivo à prática de atividades, físicas e combate ao tabagismo, dentre outras medidas.

A presidente encerrou sua fala convidando os presentes a participarem da a conferência mundial sobre os determinantes sociais da saúde, que o Brasil promove em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 19 e 21 de outubro, no Rio de Janeiro.

Íntegra em:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos

Robert

qual o legado das olimpiadas 2004 para a grécia?
dividas?
brasilpovo manso é povo otário

Marcio H Silva

Lendo o texto, lenbrei das decadas de 70, 80 e 90 que vivi. Agora eles parecem nós desta época e nós parecemos eles desta época. Como o mundo dá voltas.

Paul Krugman: O sangramento enfraquece o paciente « Cirandeiras

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Bonifa

"No entanto, realmente precisamos é convencer um número substancial de pessoas com poder político e influência de que elas gastaram o último ano e meio seguindo na direção errada, e que elas precisam fazer um giro de 180 graus."
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Acontece que estas pessoas com poder político estão carecas de saber que seguem na direção errada, é desnecessário tentar convencê-los. O problema é muito mais sério. Eles desejam justamente caminhar na direção errada, desejam o sangramento geral, para chegarem ao poder aos supetões, de uma maneira absoluta, incontrastável, sem dar quaisquer satisfações aos últimos resquícios de democracia que, precariamente, ainda respiram com o governo Obama. Eles querem empalmar o poder total: Cumprido este objetivo, todos os problemas serão então resolvidos à bala, com um farto catálogo de métodos fascistas, internamente e externamente. Resta saber se o mundo vai sobreviver e resistir.

    Fabio_Passos

    Pois é.
    Como se fosse uma questão de racionalidade e não de imposição de interesses.

ZePovinho

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Esses vampiros da finança amalucada vão continuar enchendo o saco da gente com a velha cantiga de grilo:mais mercado,menos Estado,mais mercado,menos Estado……………………
Esse artigo,falando em sangue,me lembra uma piada do velho Costinha.Num daqueles discos dele,que faziam muito sucesso nos anos 80,ele contava que um vampiro bateu na porta de uma casa:

-Toc!Toc!Toc!

Uma voz feminina repondeu lá de dentro:

-Quem é???????????????

O vampirão disse:

-Sooouuuuuuuuuu eu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A mocinha disse:

-Eu quem??????????????????

O vampirão:

-EEEEEEEEEEuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!O vaaaaaaaammmpiro!!!!!!!!!!!!!

A mocinha não teve dó e respondeu na lata:

-Ah!!Benhê!!Passa no final do mês!!!!!!!!!!!!!

[youtube _Fjx4KgKofA http://www.youtube.com/watch?v=_Fjx4KgKofA youtube]

Polengo

Essa também é a teoria dos tucanos cujo líder é o prícipe cuja maior realização foi afundar a maior plataforma de petróleo do mundo.

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