O manifesto de Chauí e Paul Singer

Tempo de leitura: 8 min

MANIFESTO AOS BRASILEIROS E BRASILEIRAS

por Marilena Chauí e Paul Singer

Em 31 de outubro deste ano, os brasileiros serão chamados novamente às urnas para decidir os rumos do país pelos próximos quatro anos. A campanha tem se caracterizado por um acirrado duelo de denúncias, calúnias e boatos, que quase não deixou espaço para a discussão dos problemas da nação e as diferentes opções políticas que existem para solucioná-los. Não podemos permitir que o mesmo se repita neste segundo e derradeiro turno, como se a escolha da pessoa que ocupará a Presidência da República dependesse exclusivamente das intenções ostensivas ou ocultas dos candidatos.

Os dois candidatos que disputarão nossos votos são Dilma Roussef e José Serra, que representam as duas coligações partidárias que governaram o Brasil durante os últimos 16 anos, com objetivos e métodos distintos, derivados de interesses e ideologias de classe muito diferentes.

É necessário então explicitar os projetos e se posicionar a partir de uma avaliação das opções que cada uma das coalizões representa, manifestada nas gestões, tanto nacionais como estaduais, que dirigiram.

A coligação que apóia Serra governou durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, e teve por mérito encerrar a violenta crise inflacionária que atingiu o país entre 1979 e 1994 por meio duma política que abriu completamente o mercado interno às importações de produtos industriais, vindas principalmente da Ásia, barateadas pelo baixo custo da mão de obra nos países de origem e pela valorização do real. O custo de vida efetivamente deixou de subir, tirando da miséria no primeiro ano do plano real alguns milhões de brasileiros, mais atingidos pela inflação alta. Contudo, os custos também foram altos. A indústria nacional entrou em terrível crise, que quebrou grande número de empresas e eliminou milhões de postos de trabalho. O desemprego tornou-se de massa, a ponto dos movimentos reivindicatórios dos sindicatos cessarem, com a trágica exceção das greves de protesto contra demissões coletivas.

O custo da estabilização dos preços foi altíssimo e foi pago pela classe operária, na forma de desemprego em massa e duradouro e de persistente queda dos salários, decorrente do excesso de oferta de força de trabalho no mercado. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a economia nacional só cresceu em alguns anos excepcionais; durante os demais a economia ficou em recessão, causada por sucessivas crises financeiras internacionais, de cujos efeitos a política liberal posta em ação foi completamente incapaz de proteger o país.

Durante o governo Lula a política econômica, que foi paulatinamente sendo retirada da camisa de força liberal, fez com que o Brasil crescesse duas vezes mais que durante os quatriênios tucanos. A oposição tucana alega que isso se deve à sorte de Lula de governar numa época em que as crises financeiras foram menos freqüentes. Este argumento foi posto à prova quando estourou a atual crise financeira internacional, em 2008, que é de longe mais extensa e profunda que as crises ocorridas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Como todos sabem, a economia brasileira foi afetada apenas durante dois trimestres graças à vigorosa política anticíclica do governo. Este ano espera-se que a economia brasileira cresça algo como 7%, enquanto a maioria das economias do 1o Mundo ainda estão mergulhadas na crise.

O crescimento econômico havido durante o governo Lula é fruto portanto de opções políticas, que apesar do ponto de vista cambial e monetário não ter se distinguido consideravelmente do período de FHC, no computo geral realizou uma inflexão na política econômica, ampliando o credito, fomentando o mercado interno, recolocando o estado como agente ativo do crescimento, taxando o capital especulativo estrangeiro que entra no país, valorizando o salário mínimo e inclusive desenvolvendo em escala uma serie de políticas sociais, que também tiveram importante impacto do ponto de vista econômico, ao ampliar a demanda efetiva por bens e serviços no mercado interno.

No que diz respeito às políticas sociais, o governo tucano iniciou ou deu continuidade a algumas políticas sociais: a distribuição de auxílios às famílias com renda abaixo dum patamar mínimo e a concessão de crédito subsidiado pelo Pronaf aos pequenos agricultores mais necessitados. Mas estes programas foram executados de forma tão limitada que beneficiaram apenas uma fração dos que deveriam ser atendidos. Quando diferenças de quantidade se tornam muito grandes, geram diferenças de qualidade: no governo FHC as políticas sociais eram marginais e de pouco impacto, mas no governo Lula elas se tornaram prioritárias, ganhando abrangência e desencadeando forte estímulo ao desenvolvimento econômico local.

Em suma, a grande prioridade do governo tucano foi impedir a volta da inflação, o que foi conseguido pelo recurso a medidas recessivas sempre que turbulências financeiras atingiam o Brasil. A outra prioridade deste governo foi reduzir as dimensões do Estado mediante a privatização da indústria siderúrgica, das empresas estatais de produção e distribuição de energia elétrica, de telecomunicações, além da maioria dos bancos públicos. O coroamento deste processo foi a privatização da Vale do Rio do Doce, feita sem qualquer justificativa de interesse público, mas apenas pelo princípio ideológico de que qualquer empreendimento que possa ser operada pela iniciativa privada não deve permanecer em poder do Estado. Apesar da venda de grande parte do patrimônio público, o governo FHC acumulou enorme dívida pública.

O governo do Presidente Lula priorizou desde o seu início a retomada do desenvolvimento com redistribuição da renda. Para atingir estes objetivos, o governo lançou o Programa de Fome Zero, estratégia estruturante de combate à pobreza e distribuição de renda, que, entre outras coisas, tratou de estimular a produção alimentar pela agricultura familiar e propiciar segurança alimentar para o povo brasileiro. Ao mesmo tempo unificou diversos programas de renda mínima, até então fragmentados e localizados, e deu escala, resultando no admirado e internacionalmente imitado Programa de Bolsa Família, que resgatou da fome e da miséria dezenas de milhões de brasileiros e levou pela primeira vez desenvolvimento econômico aos bolsões de pobreza. Mais recentemente, o governo promoveu a criação do Sistema Único de Assistência Social, o SUAS, ampliando a rede de proteção social rumo à universalização da promoção dos direitos para crianças e adolescentes em situação de risco, população de rua e outros segmentos vulneráveis.

No governo Lula, o crescimento econômico não esteve apartado do respeito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o país assumiu o protagonismo na defesa do uso da matriz energética limpa e propondo compromissos internacionais importantes na redução do desmatamento e da emissão dos gases de efeito estufa. Para não falar da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que significará uma nova etapa em termos de sustentabilidade e inclusão social, com o reconhecimento dos catadores de materiais recicláveis alcançando um patamar de dignidade. Isso é respeito ao meio ambiente aliado com o desenvolvimento humano.

Na área da segurança pública, por meio do Ministério da Justiça, que ao fazer a articulação entre a política de segurança e ações preventivas na área social, inaugurou uma nova etapa no combate à violência em nosso país, enfrentando ao mesmo tempo as causas e o crime em si.

A natureza deste manifesto não permite descrever cada uma das muitas políticas sociais realizadas pelo governo petista. Vamos apenas enumerar as mais importantes: a Luz para Todos que atingiu a quase totalidade das famílias dela carentes; o Pronaf, que atuava na prática apenas no Sul do Brasil foi estendido a todo território nacional, resgatando assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos; o salário mínimo foi reajustado sistematicamente acima da inflação, beneficiando milhões de assalariados e aposentados. O programa de Aquisição de Alimentos criou um mercado seguro para os pequenos produtores agrícolas, preferencialmente organizados em cooperativas, e juntamente com o Programa Mais Alimentos e o de Alimentação Escolar arrancou da miséria grande parte do campesinato, a ponto da emigração do campo às cidades ter cessado apesar do desemprego nas metrópoles ter caído à metade nos últimos sete anos.

De fato, o crescimento econômico aliado às políticas ativas de trabalho e emprego fizeram que fossem gerados mais de 14 milhões de postos de trabalho formais nos últimos anos. Além disso, o governo fomentou o trabalho associado em economia solidária, fortaleceu a agricultura familiar e facilitou a formalização de milhares de empreendedores individuais. O resultado tem sido a redução do trabalho informal e desprotegido.

Haveria que mencionar ainda a ampliação notável das redes públicas de escolas do primeiro ao terceiro grau, estimuladas pelo FUNDEB, que ampliou o financiamento público para toda a educação básica, coroada pelo Programa ProUni, que abriu as portas do ensino superior a centenas de milhares de jovens oriundos de famílias de baixa renda e/ou racialmente discriminadas; e a acentuada expansão de escolas técnicas tem a mesma natureza redistributiva.

Além disto, o governo Lula criou novos programas que buscam uma transformação mais profunda da sociedade, criando novos modelos de desenvolvimento e de participação social nas políticas publicas, como por exemplo, as políticas de apoio à economia solidária, os Territórios da Cidadania, as ações de etnodesenvolvimento para as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, todas elas grandes inovações na integração e gestão democrática das políticas públicas.

Para além dos programas, o governo Lula, deu à Secretaria de Direito Humanos da Presidência da República, o status de Ministério, reforçando o compromisso do Governo Federal com os direitos humanos. Os trabalhos desse Ministério, corajosos e bravos, não passaram despercebidos pela sociedade, que tomou conhecimento – se bem que por via distorcida por um certo olhar conservador vindo da grande imprensa – de temas como o direito à memória e à verdade a respeito dos anos fatídicos da Ditadura Militar, a democratização dos meios de comunicação de massa e a ampliação dos direitos de setores excluídos da população.

Outro aspecto que revela quão distintos são os projetos de cada uma das coalizões partidárias em disputa é a forma de encaminhar a participação social no desenvolvimento das políticas públicas. Se no governo de FHC não houve completo esvaziamento dos espaços de exercício da democracia direta, como Conselhos e Conferências, estas práticas ficaram restritas a pouquíssimas temáticas.

Durante o governo Lula se buscou ampliar os espaços de democracia direta e de participação da sociedade civil organizada nas políticas públicas. Foram realizadas dezenas de conferencias nacionais, cobrindo quase todos temas de políticas publicas, da saúde à comunicação, da economia solidaria ao desenvolvimento rural, do meio ambiente à problemática urbana. Estas conferencias elaboraram propostas que se transformaram em políticas públicas, sendo inseridas no Plano Plurianual votado pelo Congresso Nacional. Os Conselhos nacionais, que foram criados ou reavivados pelo governo Lula, tem sido um importante espaço de participação da sociedade civil nos rumos do governo e um importante avanço em direção ao orçamento participativo na esfera federal. Desta maneira, tem se caminhado nos últimos anos para a democratização do estado e mediante a abertura de canais de democracia direta.

Fica claro que os dois candidatos que disputam o segundo turno das eleições representam projetos de país consideravelmente diferentes. São as diferenças destes projetos que devem guiar a decisão de cada eleitor, não os seus supostos ou pretensos méritos individuais. Uma eleição presidencial nada tem de parecido com um concurso para a escolha do indivíduo mais apto para “gerenciar” o país. É a ocasião em que os cidadãos têm a oportunidade, que só a democracia oferece, de escolher pelo voto livre a coligação partidária que lhes parece melhor atender aos interesses e aspirações da maioria.

Para que esta escolha seja consciente é essencial que o 2o turno permita que o projeto de país de cada um dos candidatos seja conhecido, esmiuçado e submetido à critica de todos brasileiros politicamente engajados.

Apesar deste debate de projetos ainda não ter ocorrido, as experiências de cada coalizão que disputa este segundo turno, tanto em âmbito federal, comparando os períodos de FHC e de Lula, como as experiências estaduais, nos fazem crer que o projeto representado pela coalizão encabeçada por Dilma Roussef é aquele que representa a maior possibilidade de transformação do Brasil, com desenvolvimento econômico, redistribuição de renda e ampliação e radicalização da democracia.

É justamente Dilma, que por sua trajetória de luta ao longo da vida e papel central que teve no governo Lula, que representa a garantia de continuidade, consolidação e avanço deste projeto iniciado pelo Presidente Lula.

Para assinar este manifesto, envie seus dados (nome completo e RG) para [email protected], com assunto “Manifesto aos Brasileiros e Brasileiras de Marilena Chauí”.

1. Paul Singer
2. Marilena Chauí
3. Paulo de Tarso Vannuchi
4. Giorgio Romano
5. Ricardo Musse
6. Glauco Pereira dos Santos
7. Lea Vidigal Medeiros
8. André Singer
9. Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos
10. Walmice Nogueira Galvão
11. Reginaldo Moraes
12. Walter Andrade
13. Fabio Sanchez
14. Roberto Marinho Alvez
15. Maurício Sardá
16. Daniela Metello
17. Antonio Haroldo Mendonça
18. Daniel Puglia, professor (FFLCH – USP)
19. Weber Sutti
20. Gustavo Vidigal
21. Mauricio Dantas
22. Roseli Oliveira


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Comentários

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Therezinha Alves

Vamos votar em Dilma . Precisamos fazer uma grande campanha pela volta da moralidade a todos os cidadãos. Como previu Rui Barbosa" de tanto triunfar nulidades, etc,etc, o homem tem vergonha de ser honesto", precisamos não ter vergonha de ser honesto. Honestidade, vergonha, justiça e defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana,deve ser nossa meta. Vamos construir um pais melhor para nossos filhos . Vamos deixar de ser como disse Bertold Brecht, um analfabeto político. Vamos votar certo no dia 31/10- Vamos continuar a fazer um Brasil Melhor

Therezinha . Alves

Essas pessoas que criticam o governo atual, deveriam conhecer essas realidades, mas como torcem o nariz e saem para o exterior, não conhecem seu próprio país e ficam falando grandes asneiras e inverdades, porque não querem abrir mão de seus privilégios e vida desonestas, como dar propinas a guarda de trânsito, sonegar imposto de renda e muitos outros e depois se acham com moral de criticar políticos desonestos. Não que um erro justifique outro, mas o que precisamos mais neste país é sermos honestos e corretos , apesar da maioria não ser.

tHEREZINHA c. aLVES

Vamos votar em Dilma . Precisamos pensar principalmente nos que não tiveram a oportunidade de suprir as necessidades básicas, e não a ampliação de minha casa de veraneio, mais um carro , mais, mais, mais, e para os outros nada…. Precisamos sair do individualismo e pensar mais no nosso povo sofrido. Eu viajei pelo nordeste, interior de Alagoas, Sergipe e Bahia e fiquei encantada com a melhora destas pequenas cidades onde a seca obrigava ao êxodo a São Paulo, onde eram discriminados e maltratados. Hoje não precisam mais sair, pelo desenvolvimento da agricultura Familiar e melhores condições de vida.

Yara Falcon

Somente quem não tem olhos para ver é que não sabe diferenciar o Governo Lula do seu antecessor. Transito por várias cidades brasileiras e tenho conversado com pessoas de classes sociais diferentes, a sensação que tenho é de que todos reconhecem viver com mais qualidade de vida e dignidade após o Governo Lula. A maioria diz: "Dilma faz parte deste novo Brasil, ela terá todo nosso apoio". Não faço pesquisa de votos,mas pelo número de pessoas que tenho ouvido, durante meu trabalho formal e voluntário neste Brasil, nossa candidata está eleita. Assino este manifesto com conhecimento da melhoria de nossas estatísticas econômicas e sociais, sou de formação economista, e das BOAS políticas públicas da gestaõ do presidente Lula. Todo meu apoio a Dilma !
Yara Cecy Falcon Lins ( economista,escritora e ex-presa política autora de Mergulho no Passado – A Ditadura que vivi)

eliana azevedo

GENTE: A Pá de Cal no caixão do Serrojas já foi lançada: Bilhões de reais sem licitação (ou com licitação falsa) para o metrô de SP. Depois desse, não há mais o que salve o PSDB, SERRÓQUIO e SUA corja!
Viva a impprensa que fala a verdade! FORA PSDB!

LUIS

LUIS CARNEIRO
Sugiro a voces que venham caminhar aqui pelas periferias da Brasilandia, e aipas e verão que milhoes estão entrando na linha da miséria, porque voces tao sabidos não proclaman uma uniao e saiam dess aposição confortavel d eficar filosofando miseria.
Nem Pt nem ninguem tem moral para dizer que é melhor diante de tanta porcaria correndo solta, não é por que é melhor que o pior que é melhor para o Brasil, é ruim do mesmo jeito, vai negar que não teve rolos nesse periodo?
Tao escolados , tão sabidos e ficam so dentro de seus palacios , venham para a realidade.

Amanda Cota Leite

Assino o manifesto: Amanda Cota Leite, estudante da Universidade Federal de Alagoas que muito se beneficia com o novo quadro político que estamos inseridos e, portanto, não queremos, de forma alguma, retroceder àquela gestão de greves, professores mal pagos, estrutura mais do que precária e descriminatória em relação aos pobres e negros, que por uma educação básica péssima não tinham oportunidade a um futuro digno.

El Cid

A entrevista com Dom Luiz Bergonzini – http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-entrev
Enviado por luisnassif, ter, 26/10/2010 – 12:50

Por fabio silva

Nassif,

A melhor entrevista com o bispo de Guarulhos foi publicada hoje, pelo jornal Folha Metropolitana. O repórter teve coragem de cercar o religioso.

Abrs
http://www.folhametro.com.br/folha_metro_/f?p=254….

Dom Luiz Gonzaga nega ter recomendado voto em Serra Ricardo Filho

Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo diocesano de Guarulhos, concedeu entrevista exclusiva à Folha Metropolitana ontem à tarde em sua casa, no bairro do Gopoúva, e explicou as várias questões sobre o folheto que conclama o fiel católico a não votar em Dilma Rousseff. O impresso, que estranhamente demorou a ser reconhecido como oficial pela CNBB, foi apreendido pela Polícia Federal no dia 17, sob suspeita de prática de crime eleitoral. De acordo com o clérigo, suas ações foram em defesa da vida. “Nunca disse uma palavra, vote no Serra. Nunca.” Acompanhe:

Folha Metropolitana – O senhor tem manifestado voto contra Dilma Rousseff. É uma indicação pessoal?

Luiz Gonzaga Bergonzini – É, como bispo, como cidadão, não somente pessoal, sempre tendo em vista a condição da defesa da vida.

FM – Mas o senhor se valeu do nome da CNBB para dar essa opinião.

LGB – Não. Absolutamente. (Me manifestei) Como bispo de Guarulhos, responsável pela Diocese de Guarulhos, sujeito única e exclusivamente ao papa. A CNBB não é um organismo hierárquico é uma conferência episcopal que coordena as atividades dos bispos do Brasil. Ninguém pode assumir atitudes a favor ou contra as instituições da Diocese.

FM – Para fazer os folhetos, o senhor usou que recursos?

LGB – Recursos próprios.

FM – Não foi dinheiro da Cúria?

LGB – De Jeito nenhum. Pessoas que doaram. Eu não tenho recursos. Inclusive os empresários que doaram o fizeram com a condição de não divulgar o nome deles. Não sei quem doou, nem quanto cada um doou. Teve uma sobrinha, de R$ 1 mil mais ou menos, por causa da interrupção do trabalho da gráfica, que eu vou doar ao seminário.

FM – A CNBB disse que não indica partidos ou candidatos, diferentemente do senhor. Como nessa fase temos apenas dois candidatos, sobra o voto em Serra ou em branco ou em nulo. Qual a sua posição?

LGB – A minha palavra é uma só: não vote na Dilma. As outras possibilidades cada um vai ter de decidir. Eu dizia não vote em Dilma, no primeiro turno, desde que a campanha tinha oito ou nove candidatos (à Presidência). Eu não indiquei candidato nenhum.

(continua abaixo)

    El Cid

    (continuando)

    FM – Mas o senhor está reiterando isso agora também?

    LGB – Justo. Eu não mudei de posição. Eu não sou como ela, com todo o respeito à senhora Dilma, que mudou três vezes o plano de governo dela. A minha palavra continua a mesma: eu disse, mantenho, escrevo, assino e confirmo. Isso não significa que só agora que estejam na disputa apenas dois eu esteja recomendando o voto contra Dilma. Eu continuo dizendo: não vote na Dilma.

    FM – Uma legislação de 1948 já prevê a interrupção da gravidez no Brasil. E há ainda uma norma técnica sobre o assunto de 1998, assinada em 2001 pelo então ministro da Saúde José Serra. Por que nos folhetos o senhor centrou fogo somente na petista?

    LGB – Essa norma técnica foi feita para segurar a extensão do aborto…

    FM – O senhor acredita que ela foi feita para segurar, para conter esse avanço?

    LGB – A norma? sim. Não havia porque aplicar aquela lei. Eu não estou defendendo o Serra, não. Essa norma técnica afirma que é viável, é possível, é permitido oficialmente, legalmente, e legalmente não quer dizer moralmente, o aborto em caso de estupro, em caso de má-formação, de anencéfalo, e risco de vida para a mãe. (…) A vida pertence a Deus, parte Dele e Ele só pode tirar. Legalmente, dentro da lei brasileira, existem essas possibilidades, essas concessões, mas não são aprovadas pela Igreja.

    FM – Mas o candidato Serra acabou se apropriando desse discurso…

    LGB – Acontece que ele é contra o aborto. Não sei se você viu uma declaração em que ele disse temer que a liberação do aborto vire uma carnificina.

    FM – Mas entre declarar e praticar… Recentemente, veio à tona que a esposa dele (Mônica Serra) teria feito aborto durante os anos de exílio nos Estados Unidos. No caso, temos uma candidata que defende e outro que a mulher já praticou o aborto. Com quem o senhor fica?

    LGB – Eu não fico. Já disse ao senhor que sou contra o aborto e contra Dilma. Sou contra todo e qualquer partido ou político que defenda o aborto. Eu não estou defendendo o voto em Serra, você é quem vai decidir. Vote em branco, vote nulo, você é quem vai decidir. O voto é secreto e inviolável.

    (continua)

    El Cid

    (continuando)

    FM – Ao conclamar voto contra um dos candidatos o impresso deixa de ser um documento de orientação religiosa para ser um panfleto sem número do CNPJ. Isso configura crime eleitoral, não?

    LGB – Onde você viu isso?

    FM – Eu estou fazendo uma pergunta.

    LGB – Não senhor. É um documento assinado por três cidadãos, bispos, que têm residência fixa e podem ser encontrados a qualquer tempo. É um documento que foi assinado sim e distribuído.

    FM – Eu queria entender a razão de sua posição tão veemente contra Dilma se temos dois candidatos com ideias sobre aborto tão parecidas.

    LGB – Eu disse isso desde o primeiro turno quando tinha nove ou dez candidatos, agora sobrou só ela e Serra e eu continuo dizendo: não vote em Dilma.

    FM – Não seria o caso de retomar o artigo ‘Daí a César o que é de César’ e ponderar sobre essas questões? Porque a impressão que dá é que o senhor está pregando voto em um dos candidatos. O senhor não se sente responsável…

    LGB – De jeito nenhum. O que eu escrevi, eu assinei. E nunca disse uma palavra vote no Serra. Nunca. Desafio qualquer pessoa a dizer que eu recomendei voto no Serra, que recomendei por escrito ou de viva voz o voto no Serra. Ao contrário, disse não vote na Dilma ou em qualquer candidato que defenda o aborto. E não vou reformular o artigo. O que eu disse está assinado.

    FM – Após essa celeuma sobre o folheto, a CNBB se manifestou dizendo que não indica candidatos ou partidos e o Regional Sul 1 condenou a instrumentalização do documento para uso em campanhas. Depois silenciaram. Demorou para que assumissem a responsabilidade sobre o impresso. Por que isso aconteceu?

    LGB – Eles devem ter se reunido e analisado melhor e visto a intenção de defesa da vida, e que não é uma visão político-partidária. Deve ser isso.

    FM – O Senhor disse em uma ocasião que iria buscar orientação no Vaticano. O senhor chegou a fazer isso?

    LGB – Sim, enviei uma carta endereçada ao papa dizendo que estava à disposição dele e que aguardava sua decisão com uma obediência filial.

    FM – O senhor não obteve resposta?

    LGB – Não.

    FM – Acha que a CNBB pode ter recebido uma orientação do Vaticano no sentido de apoiar o documento?

    LGB – Pode ser. Não vou perguntar a eles e eles não vão me dizer…

    FM – Mas pode ter acontecido?

    LGB – Pode. Coloca aí que o bispo disse que pode, mas que não afirma isso.

    FM – Por que a Diocese usou o Kelmon Luiz de Souza como intermediário na encomenda dos folhetos?

    LGB – Quando nós convidamos líderes de vários movimentos da Igreja para uma reunião sobre essas questões, decidiu-se que seria feito um impresso. E na divisão de tarefas o Kelmon ficou encarregado dessa parte de impressos

Sérgio Pestana

Assino o manifesto com todo prazer e estou passando para os amigos.

ebrantino

De pleno acordo !!

Romualdo Alves

O Brasil precisa dos seus filhos fortes, inteligentes e solidarios, a nossa democracia não pode retroagir, a liberdade de pensar e agir jamais poderá ser reprimida. O Brasil precisa de PAZ, Serra nunca mais.

soraya

Publicado no Brasil Atual e divulgado no Conversa Afiada. Estou, como solicitado, ajudando a espalhar.

Chaui: ‘tucanos articulam violência para culpar PT’

Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual

Publicado em 25/10/2010, 20:10

Última atualização às 20:50

São Paulo – A filósofa Marilena Chaui denunciou nesta segunda-feira (25) uma possível articulação para tentar relacionar o PT e a candidatura de Dilma Rousseff à violência. De acordo com ela, alguns partidários discutiram no final de semana uma tática para usar a força durante o comício que o candidato José Serra (PSDB) fará no dia 29.

Segundo Chaui, pessoas com camisetas do PT entrariam no comício e começariam uma confusão. As cenas seriam usadas sem que a campanha petista pudesse responder a tempo hábil. “Dia 29, nós vamos acertar tudo, está tudo programado”, disse a filósofa sobre a conversa. Para exemplificar o caso, ela disse que se trata de um novo caso Abílio Diniz. Em 1989, o sequestro do empresário foi usado para culpar o PT e o desmentido só ocorreu após a eleição de Fernando Collor de Melo.

A denúncia foi feita durante encontro de intelectuais e pessoas ligadas à Cultura, estudantes e professores universitários e políticos, na USP, em São Paulo. “Não vai dar tempo de explicar que não fomos nós. Por isso, espalhem.”

Ela também criticou a campanha de Serra nestas eleições. “A campanha tucana passou do deboche para a obscenidade e recrutou o que há de mais reacionário, tanto na direita quanto nas religiões.”

    Rodrigo Leme

    Ou seja, se um grupo de petistas se organizar para fazer o que fez no RJ, a desculpa já está pronta.

    Quem disse que a Marilena não é uma gênia? Veja só: ela não precisa dizer COMO recebeu essa informação, de QUEM, não precisa embasar em nada, e já foi retransmitida pra cima e pra baixo. Genial. Dá até vontade de endossar manifesto liderado por ela.

    Daniel Siqueira

    exatamente, os PTistas adoram teorias de conspiração e qualquer justificativa que aumente a sensação de divisão entre "nos e eles". Assim como uma religião, só conseguem manter união hostilizando todo mundo que nao pertence a ideologia deles, ao inves de se unirem por valores positivos

Marcio Gaspar

Estive ontem na USP, no predio da Geografia e Historia, aonde houve um ato pro Dilma, com a participacao da Marilena Chaui, Suplicy , professores e muitos outros. A Marilena Chaui discursou e no final de sua fala fez um alerta. O alerta seria que o Serra estaria armando um golpe midiatico, mais um depois da bolinha de papel, o golpe se daria no dia 29 e seria um ataque ao Serra por militantes do PSDB vestido com a camisa do PT. O Serra iria sangrar de verdade, as imagens seriam usadas contra a Dilma e o PT, bem nas vesperas da eleicao para nao dar tempo de defesa. A Marilena Chaui fez um apelo para que isto fosse divulgado como forma de dissuadir este tipo de golpe.

maria e. ferrarezi

Quero assinar o manifesto com o maior prazer deste mundo

ruypenalva

Um documento que vai do Singer a Chauí

João jorge Conceição

ASSINO NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA CUIDANTE, DO DIREITO, DA CIDADANIA E DA SOLIDARIEDADE.

Uverland Barros

quero ler assinar o manifesto acima, é oportuno e inteligente..

prof. Dr. Uverland Barros da Silva – UNIVERSIDADE TIRADENTES – UNIT – ARACAJU-SE

thiago

Bom manifesto! Mas o trecho seguinte é falso. Energia limpa no Brasil significa cana-de-açúcar, predominantemente; que significa latifúndio e trabalho precário.

"No governo Lula, o crescimento econômico não esteve apartado do respeito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o país assumiu o protagonismo na defesa do uso da matriz energética limpa e propondo compromissos internacionais importantes na redução do desmatamento e da emissão dos gases de efeito estufa."

Armando do Prado

Análise racional e emocionante ao mesmo tempo.

Cidinalva

Quero assinar o manifesto, pois acredito que este seja um momento ímpar para a sociedade brasileira e eu como professora de história tendo cursado da graduação ao doutorado em universidade pública, tendo meus estudos finaciados e minha produçao valorizada nesse espaço que fora tão massacrado pelo projeto do PSDB e que, somente com o projeto que a Dilma representa tivera seu devido reconhecimento não posso me permitir em ser omissa neste momento. Diante de todas as mentiras contadas e recontadas, de todas as tentativas de desinformação feitas pela oposição à candidata Dilma, nós que amamos nosso país, que o estudamos, que formamos opiniões e que trabalhamos para formar as futuras gerações temos o dever de nos manifestar contra a mentira e a favor de um projeto de Brasil mais justo.

djalma

ASSINO O MANIFESTO:: Djalma Menezes de Oliveira, professor (UESB, BA)

Leilá Leonardos

Como cidadã brasileira agradeço aos redatores desse manifesto pela sintética e equilibrada análise do cenário político atual que os rumos da campanha eleitoral não permitem aprofundar. Quero ver o Brasil avançar como país ético, com institucionalidades fortes e probas, com seu povo alimentado, fortalecido em sua auto estima, esperançoso em seu futuro próspero e feliz, tendo acesso aos seus direitos fundamentais. Quero ver consideração à diversidade em políticas públicas eficazes e ter a certeza de que é possível superar as barreiras que separam norte e sul na grande nave Gaia. Quero ver o Brasil protagônico no concerto de nações com sua política externa fraterna e não imperial. Creio que Dilma levará o projeto de nação iniciado em 2003 e tão bem sucedido adiante. Quero Peço a Deus que a ampare, proteja, ilumine, lhe dê saúde e vigor para o seu trabalho de Presidenta da República.

    MARIALIBIA FARIA

    denúncia: A JOVEM RÁDIO PAN ESTÁ FAZENDO ENQUETE BRASIL, EM TODOS OS ESTADOS DA UNIÃO., HOJE, 26/10/2010, E O SERRA ESTA GANHANDO, AS 13:09, NESTE MOMENTO. ISSO É LEGAL??????????? O MAIS INTERESSANTER QUE O PT -SP NÃO ESTÁ INTERESSADO NESTA NOTÍCIA. ELES ESTÃO FAZENDO ESTA ENQUETE DESDE MANHÃ. NÃO É SÓ PEDINDO A DEUS QUE A DILMA VAI GANHAR. O PT VAI PERDER UMA ELEIÇÃO GANHA, POR ESTAR VENDIDO OU PURA COVARDIA.

    Therezinha C. Alves

    Texto muito bem elaborado, Fatos são fatos. O resto são cogitações .Precisamos querer o melhor para o Brasil e o melhor é Dilma, Mas todos nós precisamos participar não adianta só votar mas agir: criticando, fiscalizando, denunciando e acompanhando as ações do governo. Não basta apenas criticar e repetir o que os outros dizem, muitas vezes sem fundamento, repetindo como vaca de presépio, segundo nossas conveniência e interesses. Precisamos sair da posição individualista do que é bom para mim, mas o que é bom para a grande maioria. O que é bom para o Brasil!

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