Mark Weisbrot: As tropas brasileiras no Haiti

Tempo de leitura: 3 min

Tropas brasileiras deveriam deixar o Haiti

por MARK WEISBROT*, na Folha de S. Paulo

O Brasil deveria começar a defender os direitos humanos pelo lugar em que exerce a maior influência, que, hoje, são as tropas da ONU no Haiti

A declaração da presidente eleita Dilma Rousseff, neste mês, de que fará o Brasil se opor às violações dos direitos humanos no Irã foi recebida aqui em Washington com certa animação. É evidente que o Departamento de Estado não enxerga essas coisas sob uma perspectiva humanitária, mas utiliza os direitos humanos como arma política para promover o ódio contra os alvos de sua preferência.

Mesmo assim, a politização dos direitos humanos por parte de Washington não é motivo para um país como o Brasil se abster de defender os direitos humanos em todo o mundo, de maneira movida por princípios, e não política.

Mas também o Brasil deveria começar pelo lugar em que exerce a maior influência; no momento, esse lugar é o Haiti, onde o Brasil chefia a missão militar da ONU (a Minustah) que ocupa o Haiti.

Essa missão teve legitimidade questionável desde o início, quando foi enviada ao Haiti depois de o governo democraticamente eleito do presidente Jean-Bertrand Aristide ter sido derrubado em um golpe de Estado em 2004.

O golpe foi resultado direto dos esforços dos EUA para derrubar o governo de Aristide. Membros do governo constitucional foram postos na prisão e milhares dos partidários do governo foram mortos.

A Minustah desenvolveu uma reputação de brutalidade e violações dos direitos humanos, que incluem a invasão de um dos maiores bairros pobres do Haiti, em julho de 2005, deixando dezenas de civis mortos ou feridos.

Neste mês, o Haiti promoveu eleições presidenciais, financiadas pelos Estados Unidos, das quais o maior partido político foi excluído.

Foi o equivalente a promover uma eleição no Brasil sem permitir a participação do PT ou do PSDB. As eleições também foram maculadas por fraudes e pela ampla exclusão de eleitores.

Basicamente, a Minustah veio tomar o lugar, como força repressora, do odiado Exército haitiano, que o presidente Aristide aboliu. Washington não permite que haja democracia no Haiti, porque os haitianos inevitavelmente escolheriam um governo de esquerda.

Telegramas divulgados recentemente pelo WikiLeaks ilustram que o objetivo de Washington é manter o controle sobre o governo do Haiti e, especialmente, sobre suas relações exteriores.

Por que o Brasil deveria participar da negação de direitos humanos e democráticos básicos do Haiti? E, para agravar a situação ainda mais, a Minustah provocou uma epidemia de cólera que já matou 2.400 pessoas e contaminou mais de 109 mil, provavelmente devido à negligência criminosa e grosseira de despejar dejetos humanos no rio Artibonite. Milhares de haitianos foram às ruas para exigir que as tropas da Minustah deixem o país.

A Minustah custa mais de US$ 500 milhões por ano, sendo que a ONU não consegue levantar nem um terço desse valor para combater a epidemia que a própria missão causou. E agora ainda pede aumento dos recursos para a Minustah, para além de US$ 850 milhões.

Organizações e líderes políticos progressistas, incluindo a maior confederação sindical -a CUT-, o MST e líderes políticos do PT, como Markus Sokol, pediram que o Brasil retire suas tropas do Haiti.

Dilma deveria dar ouvidos à sua base e à população do Haiti, que não pediu esse exército de ocupação, que não tem razão legítima para estar lá.

Como afirmou a CUT, o Brasil deveria “enviar médicos e engenheiros, não tropas de ocupação”.

Tradução de CLARA ALLAIN

*MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas ( www.cepr.net ), em Washington, e presidente da Just Foreign Policy ( www.justforeignpolicy.org ).


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Comentários

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Boiana Azul 2008

Quero aqui discordar, com todos aqules que duvidam do exito da missão no Haiti, se os EUA queriam se livrar de uma problema e ao mesmo tempo desmoralizar o chefe da missão que é o BRASIL, ALI representados por versáteis em sua maioria FARDADOS, se deu muito mal, pois os nossos SOLDADOS reestabeleceram a LEI e a ORDEM, e tudo isso com um respeito jamais aquele povo foi tratato, e por isso lá estão, todo esse tempo e tratam e são tratos com vedadeiros amigos e irmãos do povo HAITIANO. Portanto meu caros não me venham com irá e com comentários raivosos, pois no que tange ao BRASIL, e seuS SOLDADOS a missão vai muito bem obrigado, e quanto a mandar médicos e engenheiros prá lá, não vejo a incompatilidade da presença de nosso SOLDADOS, até por que sem os SOLDADOS, não há medicos, engenheiros, professores, jornalista, escritores, que se disponha a se quer pisar no solo HAITIANO. e quanto ao EUA não querer a eleição de um membro da esquerda daquele pais, não esqueça que o governo que manda por lá e o governo do PT, pelo que eu saiba e de esquerda. VAMOS LÁ SOLDADO BRASILEIRO eu tenho mutio orgulho do trabalho de voces, firme com o braço forte e apoiando o povo HAITIANO COM A mão amiga, não deixem que estes abutres de plantão, mantenham-se com arma nas mão e DEUS NO CORAÇÃO. este que vos falam conhece o terreno.

Karina

Um absurdo o nível de desinformação de boa parte dos brasileiros (incluindo dos leitores dessa página). Gostaria de parabenizar o texto e reforçar a necessidade de que seja reestabelecida a autonomia do povo Haitiano o quanto antes. Um povo deve ser soberano para decidir seus caminhos futuros. Ajuda humanitária não se faz com intervenção militar, mas sim com a cooperação com médicos, engenheiros, tecnologias sociais. Por outro lado, o tão clamado desenvolvimento não se faz com o envio de recursos públicos cuja aplicação será decidida por ONGs internacionais das quais boa parte, ainda que não todas, está mais interessada em absorver recursos e tocar seus projetos do que em pensar a emancipação e desenvolvimento da população haitiana. Aquele povo vem sendo punido e sofrendo inúmeras catástrofes e abusos nos últimos anos.
Cabe-nos perguntar se vale a pena o Brasil manter as tropas no Haiti tão somente pela melhor imagem na disputa por uma cadeira no conselho de segurança da ONU?! O mesmo Brasil que defende os direitos humanos no plano internacional é aquele que almeja se tornar uma potência hegemônica no bloco dos países ditos emergentes e que, para isso, exerce o mesmo tipo de imperialismo das grandes potências. O resultado é, portanto, uma diplomacia contraditória, muito embora com alguns avanços em alguns planos nos últimos anos.

Jiddu

O sucesso das tropas brasileiras no Haiti não estava no script. As mentiras e meias-verdades do Weisbrot so podem ser fruto de má-fé. Os EUA, percebendo-se irremediavelmente queimados no Haiti, convidaram o Brasil a liderar a missão da ONU, estimulados pelo discurso de afirmação do governo brasileiro a partir de 2002. Talvez esperassem matar dois coelhos com uma cajadada só: tiravam o seu da reta e tinham a quem culpar. Não contavam com a nossa astúcia, nossa capacidade de planejamento e a disposição de liderança. Estribuchem os incomodados. Essa é a missão mais bem sucedida da ONU no gênero, malgrado o terremoto e a acusação duvidosíssima de as tropas terem causado a epidemia de cólera. A reputação dos brasileiros entre os haitianos é muito boa. É uma página de heroísmo que está sendo escrita. O autor finge atacar os EUA para fazer o jogo do veículo para o qual escreve, que só pensa em tentar tirar os méritos do governo Lula. Mas o Brasil envia médicos, engenheiros, pessoal de ajuda humanitária em geral, que graças às tropas pode trabalhar com a segurança necessária. O articulista não deveria tentar insultar nossa inteligência.

Rafael Sá

Como não publicaram o comentário, pretendo reapresenta-lo, com todo o respeito a diversidade de idéias do blog.

Quanto ao texto, só pode ser desinformação, sinceramente.

Na prática as missões de paz já levam consigo um componente humanitário, já que desde o dia em que a missão chegou ao Haiti, chegaram com ela médicos e dentistas. E foram montados hospitais de campanha, que atualmente estão sendo muito bem utilizados, uma vez que a infra-estrutura ambulatorial e de média complexidade no país foi devastada pelo desastre do terromoto.

Aliás, pela absoluta falta de quem fizesse auxílio humanitário, num período em que o Haiti estava mergulhado na guerra civil entre gangues, repartindo pedaços do território, o grupo de engenharia civil do exército ajudou na pavimentação e recuperação de estradas, além de haverem a recuperação de escolas na capital Porto Príncipe.

Aliás, se o autor desse texto sofre de amnésia, é bom lembrar que o governo brasileiro se empenhará na construção de barragens para pequenas centrais hidrelétricas (PCH's), ampliando a geração de energia de modo a abastecer a maior parte da lha.

Rafael Sá

Só pode ser desinformação, sinceramente.

Na prática as missões de paz já levam consigo um componente humanitário, já que desde o dia em que a missão chegou ao Haiti, chegaram com ela médicos e dentistas. E foram montados hospitais de campanha, que atualmente estão sendo muito bem utilizados, uma vez que a infra-estrutura ambulatorial e de média complexidade no país foi devastada pelo desastre do terromoto.

Aliás, pela absoluta falta de quem fizesse auxílio humanitário, num período em que o Haiti estava mergulhado na guerra civil entre gangues, repartindo pedaços do território, o grupo de engenharia civil do exército ajudou na pavimentação e recuperação de estradas, além de haverem a recuperação de escolas na capital Porto Príncipe.

Aliás, se o autor desse texto sofre de amnésia, é bom lembrar que o governo brasileiro se empenhará na construção de barragens para pequenas centrais hidrelétricas (PCH's), ampliando a geração de energia de modo a abastecer a maior parte da lha.

Otto

Lendo os comentários, constato que a maioria é fruto da ignorância da história do Haiti e da influência maléfica de seu vizinho gigante.

Zé das Couves

Esse cara é doido? Cheirou cola? Tudo bem ser contra a ocupação, mas colocar a culpa de uma epidemia de cólera na Minustah é de uma desonestidade assustadora. Ora, as condições sanitárias no Haiti sempre estiveram longe do ideal, e o país ainda foi devastado por um terremoto e um furacão. O autor ignora esses fatos?

Fuzileiro Naval

Nota-se que esse Mr.Mark ou não sabe do que está falando – melhor hipótese – ou deturpa a realidade propositalmente. Nesse caso, se torna uma vergonha para vocês, que são de esquerda, já que a mesma tem o hábito de se autoproclamar guardiã da ética e da liberdade. Mas enfim… comecemos a análise dos absurdos:
1 – O autor DECLARA que a Minustah foi culpada pela epidemia de cólera. Levando em consideração o nível de higiene presente nas bases da ONU e no resto do país, essa afirmação é, no mínimo, duvidosa;
2 – A "invasão do bairro pobre" em 2005, ao invés de ser um massacre, como o autor diz, foi uma incursão vitoriosa festejada pela população, pois acabou com gangues perigosíssimas que aterrorizavam a todos;
3 – Enviar engenheiros e médicos? Só depois que houver segurança. Para a maioria de vocês, que não têm noção nenhuma de combate – o que não é demérito, cada um tem sua profissão – parece muito bonito dizer: "Não mandem soldados armados, mandem ajuda humanitária". Isso também é feito, mas é impossível que os médicos atendam alguém no meio de tiroteios, execuções, chacinas, como as que ocorriam no Haiti. Portanto, é necessário que haja tropas armadas no país.
Poderíamos fazer mais algumas críticas a esse texto tão fraco e tendencioso. No entanto, para não me estender, concluo declarando que o trabalho do Brasil na Minustah é largamente apoiado pela população, e o mundo todo reconhece o bem que estamos levando ao país caribenho. Prova disso é a nossa convocação para participar da UNIFIL, missão da ONU no sul do Líbano.
Brasil acima de tudo!!

Marco Ferreira

Governos de esquerda não mandam força de de ocupação, mandam médicos, enfermeiros, engenheiros. Governos de esquerda não corroboram o imperialismo americano. O Brasil deveria seguir o exemplo de Cuba e mandar médicos para o Haiti. Ajudar a cuidar da população e não reprimi-la. O exemplo tá aqui: http://operamundi.uol.com.br/noticias/MEDICOS+CUB

Vergonha

O dinheiro mandado para o Haiti deve ter sumido. Eles continuam na mesma miséria. A única coisa digna de louvor é o trabalho dos médicos CUBANOS. Estes sim tem amor ao próximo.

    Marcio H Silva

    Que só puderam realizar este trabalho após a ocupação das tropas Brasileiras que colocaram ordem na casa.

Morvan

Lendo o texto ora, dá-nos a impressão (só impressão!) de que a situação do Haiti é invenção brasileira. Nada mais falso. O azar do Haiti é ser vizinho dos Estados Unidos (isto equivale a uma sentença de morte) e de ser um povo de pele negra. Ou seja, ser negro (um defeito, para qualquer estadunidense) e ser pobre e ainda por cima ser vizinho dos Estados Unidos, tu querias o que??? Ai de ti, Haiti!!!
O trabalho do Brasil no Haiti não é nenhuma Brastemp, mas o autor nos induz a erros grosseiros. É um trabalho humanitário, isto sim.
A reação dos "americanos" (estadunidenses) ao trabalho brasileiro se dá pelo protagonismo do Brasil. É isso que incomoda, e muito.
Morvan, Usuário Linux #433640.

Fernando

Ótimo artigo.

Haiti é o único erro da política externa do presidente Lula, mas é um erro colossal.

mariazinha

Estou de pleno acordo com o texto brilhante de MARK WEISBROT*
Não sei se todas as razões pontuadas são estas mas que existe algo muito estranho ali, existe. Aos olhos leigos o BRASIL deveria sair, sim. Mesmo pq a ONU está desacreditada perante o Mundo e quem manda ali é os eua, um país em que não se pode confiar. Se o povo se revolta, alguma razão há e, pelo menos, deveria ser ouvido; não massacrado. Será que no Haiti há ouro em pó para eua ficar com essa ganância toda em cima ou será que que pensam poder acabar com a maldição vodu que está perseguindo-os? http://www.letras.ufrj.br/pgneolatinas/media/banc

Edemar Motta

Preconceitos à parte, o nome e as funções do cidadão já me fazem ficar de pé atrás.

As forças da Onu deixando o Haiti, que forças remanescerão por lá? Aqueles dez mil irmãos do norte de após terremoto voltaram para casa? Se voltaram, O Retorno ao Haiti será mais do que provável. Estadunidenses tem compulsão por ajudar os outros, são escoteiros ajudando velhinhas a atravessar a rua, queira ela ou não.

Legal o autor confirmar que Washington só aprecia democracias de direita.

Gerinho da Terra

O fato de o Haiti não ser um país rico não impede que não possa piorar. Um prova disso foi o terremoto (causa natural), mas a cólera levada pelos soldados da ONU é uma causa levada até lá, e trouxe mais morte para aquele povo.
Sou pelo Brasil FORA do Haiti.
FUI!!!!!!

Klaus

Tendo em vista a importancia do Haiti, a vitória de um candidato de esquerda poderia influenciar toda a América Latina a seguir seu exemplo, e uma onda vermelha inundaria o continente. Faça-me um favor…

    Elton

    Você nasceu ontem? É propositalmente ingênuo? Desde quando os EUA permitiram pacíficamente um governo de esquerda às suas portas? Pegue um mapa e veja onde está o Haiti: Na America Central, bem próximo de Cuba e do estado americano da Flórida. A relevância do país nesse caso é secundária……..o que importa é a etrna aplicação da Doutrina MONROE desde 1823. Estudar um pouco faz bem antes de "abrir a boca"……

Fábio Venâncio

Para mim essa é uma visão meio que destorcida da realidade .Uma visão destorcida do excelente trabalho que os soldados brasileiros fizeram lá no Haiti.
Esses bairros pobres a que se refere o texto ,eram cheios de bandidos que dominavam o local ,matavam ,roubavam , violentavam mulheresentre outras coisas .
Toda as patrulhas sempre eram recebidas a bala.Era como no Rio de Janeiro só que bem pior.
Violação dos direitos humanos é a pobreza que vive aquelas pessoas ,é ver crianças comendo e fuçando no lixo que estava espalhado por todo lugar.Violação dos direitos humanos é saber que tem gente que anda de Hummer enquanto a grande maioria passa fome.
A Minustah,comandada pelos Brasileiros ajudou a mudar um pouco da situação em que se encontrava o país.Começou a se ter coleta de lixo ,coisa que não existia ,foram feitas muitas obras de sameamento básico,a violência diminuiu tanto que no ano de 2009 os soldados da Minustah não deram um tiro se quer.
Infelizmente o terremoto trouxe mais dor e sofrimento a esse povo,e colocou todo um trabalho a estaca zero.
Moro na região de Pirassununga e conheço vários soldados que estiveram lá,conheço as suas histórias,são meus amigos ,vizinhos e conhecidos .São pessoas como eu e você ,não são bandidos.O autor do texto deveria conhecê-los e entrevistá-los,ouvir suas histórias ,antes de escrever tal texto.
Desumano é deixar esse povo na mão agora ,no momento em que eles mais precisam.
Esse discurso é o discurso da elite rica.
É pobre que ajuda pobre,pois rico não ajuda ninguém .
Se o Brasil não tomar a frente e ajudá-los a vida para eles será mais dura doque já é.Os países ricos estão se lixando para os países pobres .Depois de explorá-los até a última gota ,vedem armas e deixam que eles se exterminem uns aos outros.
Como país cheio de humanidade precisamos sim ajudar o Haiti e todos aqueles que precisarem de nossa ajuda .E diferente dos Eua e cia ,seremos respeitados e queridos no mundo todo.

Dirval Cruz

Lendo o post acima tenho a impressao que o Haiti era uma especie de Suica, sob o governo Aristide e que a ONU, com suas tropas de paz, lideradas pelo Brasil, transformou o pais em um… Haiti! Fa;am-me um favor! Ter que ler isso e ate divertido… mas nada razoavel

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