João Paulo Rillo rebate secretário de Educação de Alckmin: Educação tem rosto e lado, sim!
Tempo de leitura: 3 min

por João Paulo Rillo, especial para o Viomundo
Após tratar com absurda violência moral a greve dos professores estaduais, restringindo-se a desconhecer as reivindicações e submetendo os alunos à mais longa paralisação da categoria, o secretário de Educação do governo de Geraldo Alckmin escreve artigo sobre a ausência de vencedores na greve.
Ao se negar a negociar, se negar ao diálogo, o governo tucano se nega a reconhecer a legitimidade dos professores como interlocutores para um debate sobre as prioridades na educação. Se eles, profissionais aprovados em concursos públicos, experientes em relação à realidade da educação paulista, não são interlocutores competentes, quem serão as personagens consideradas por eles competentes para estabelecer um diálogo sobre a Educação em São Paulo?
Em seu artigo, o secretário Herman Jacobus Cornelis Voorwald afirma que é pressuposto que a Educação não tenha lado. Ao contrário, a Educação tem lado sim e as divergências não são só algumas, são muitas e com total antagonismo. A bandeira e a camisa não são as mesmas. Prova disso são os resultados radicalmente inconciliáveis. E o aluno não é um ser abstrato. Tem rosto, pensa, é pobre, mora na periferia. E este aluno da escola pública tem o direito inalienável à educação de qualidade. Mas o que temos é uma educação cujos professores precisam decretar greve para fazerem ouvir as suas mais sentidas reivindicações para impedir a exclusão desse aluno do próprio conhecimento.
As péssimas condições de ensino foram determinantes, elas sim, para a luta e a greve. Não há, como quer fazer crer o secretário, “interesses alheios ao ensino” motivando o movimento, tanto assim que a pauta de reivindicação é extensa e vai muito além de salários e benefícios para os professores, ela trata frequentemente de condições de trabalho e da qualidade da educação.
O ufanismo com que o secretário avalia a Educação Pública Paulista “notoriamente reconhecida por sua grandeza, pluralidade e histórico de inclusão” veda o olhar sobre a estagnação do ensino com avaliações que não prosperam. Por que, com todo esse ufanismo, ainda temos índices permanentemente de evasão e abandono, principalmente no Ensino Médio? De que adiantou o plano de carreira pretensamente inédito (nem tudo o que é novo é bom), o maior concurso da história do magistério paulista se temos ainda quase 50% de professores na rede que não são concursados? E a constatação triste e vergonhosa dos contingentes de analfabetos funcionais formados pelas escolas da rede estadual?
Com a avaliação ufanista sobre as escolas públicas e a falta de uma análise real da situação das escolas e do ensino, o secretário se volta contra a Apeoesp, procurando tornar a entidade representativa da categoria a verdadeira vilã. Segundo a avaliação rasa do secretário, o movimento só existiria para aparecer na mídia, uma mídia, em sua maioria, notadamente comprometida com o governo e que tratou o movimento com indiferença, registrando a greve sempre a partir das referências oferecidas pela administração tucana. Para reduzir o impacto das numerosas assembleias realizadas publicamente, há ainda a acusação mais complexa de que a Apeoesp teria encapuzado baderneiros como se fossem professores. Em relação a isso, o secretário fica devendo uma explicação.
O secretário apregoa, ainda, que iniciou uma política salarial. Duvidoso. Em 2011 foi aprovada lei que concedia reajuste aos professores de 42,2% em quatro anos. À época, representou aumento de RS 229,07 no salário inicial dos quais RS 92,00 eram gratificações e, portanto, o professor já recebia. O reajuste real, então, foi de RS 137,07. Esta quantia não repõe as perdas acumuladas.
De que vale um plano de carreira inédito se os professores não conseguem chegar ao topo? De que vale o argumento do secretário sobre a participação de entidades na construção de políticas educacionais se, na realidade, o professor não só é impedido de se manifestar, como também é ignorado enquanto personagem imprescindível para a solução dos graves problemas enfrentados pela educação em São Paulo?
Apoie o VIOMUNDO
João Paulo Rillo é deputado estadual (PT-SP)
Leia também:




Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!