Gustavo Castañon: Até quando vamos aceitar urnas proibidas no mundo inteiro?

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DE NOVO NOSSAS VELHAS COMPANHEIRAS: A FRAUDE, A CEGUEIRA E A COVARDIA.

Gustavo Castañon, especial para o Viomundo

Pela nona vez seguida, os resultados da boca de urna, que tem alto grau de confiabilidade, foram desconfirmados pela urna eletrônica além da margem de erro.

Mais uma vez, quem perdeu esses votos foi a esquerda e candidatos fora do eixo PSDB-PMDB. Mais uma vez, a esquerda se cala como se não soubesse estatística, como se nossas urnas não fossem as mais atrasadas do mundo, como se a fraude não fosse algo facílimo de executar por seções locais do TRE, por hackers, ou mesmo pela empresa que totaliza os votos.

Esse não é um choro de perdedor. Escrevo artigos sobre isso desde 2010, prevendo esse tipo de acontecimento toda eleição. A destruição do PT e a onda conservadora são evidentes, ninguém está dizendo que elas são fruto de fraudes eletrônicas. A questão aqui não é essa. A questão aqui é que pode haver fraudes eletrônicas. A questão aqui são números frios.

A pesquisa de boca de urna do Ibope apontou em São Paulo Dória com 48% dos votos, Haddad com 20%, Russomano com 14%, Marta com 11%, e Erundina com 4%. Ela tinha 2% de margem de erro e significância de 99%, o que quer dizer que a chance de a realidade estar fora da margem de erro era somente de 1%. E como ocorre há nove eleições seguidas, ela estava.

As urnas eletrônicas deram 53,3% a Dória. Isso mesmo. Mais de cinco pontos a mais que a boca de urna e 3,3 pontos além da margem de erro. A chance de isso ter ocorrido ao acaso é inconcebível. Haddad teve 16,7%, 3,3% a menos que o previsto, 1,3% além da margem de erro. Já os outros candidatos, e isso é o mais curioso: os outros candidatos tiveram seus resultados cravados pelo Ibope. O “erro” que atingiu Dória e Haddad não os atingiu.

No Rio a boca de urna Ibope apontou Crivella com 30%, Freixo com 20%. Pedro Paulo (PMDB) com 15%, Bolsonaro 12%, Índio 9%, Carlos Osório (PSDB) 7% e Jandira 4%. Embora no Rio os desvios tenham sido a maioria na margem de erro, a direção foi a mesma de toda eleição: da esquerda e dos populistas para a direita. No fim da apuração, Freixo e Crivela estavam com 2% a menos de votos e Pedro Paulo a somente 2% de distância de Freixo.

Pra quem não sabe, a boca de urna é a mais confiável das pesquisas. Ela pergunta a pessoas que acabaram de votar em quem votaram. Só isso. Cada pesquisador recolhe em massa respostas em vários pontos distintos de coleta num dia. Ela deve refletir, por sua ampla amostra, o resultado exato das eleições. Ela não capta tendências nem tem erros de amostragem comuns a outros tipos de pesquisa de opinião.

O que me choca como militante de esquerda é o descaso de nossos partidos com um sistema que, se já é inseguro em relação às eleições majoritárias, relativamente basiladas por pesquisas, pode apresentar fraudes brutais nas eleições proporcionais.

Esses não foram casos isolados. Esses foram parte de nossa vergonhosa tradição. Como é que escolhemos culpar institutos de pesquisa que estariam jogando sua reputação na lama sem qualquer possibilidade de influenciar o resultado das eleições? Quem os pagaria por isso? Como não duvidar das piores urnas do mundo diante de um caso após o outro, ano após ano?

Na verdade, sequer podemos imaginar o que houve no país, pois só houve pesquisas de boca de urna nas cidades do Rio e São Paulo. Mas vejamos a barbárie que acometeu vários pontos do Brasil nas últimas eleições.

No Rio Grande do Sul, em 2014, houve uma avalanche absurda de 40,4% dos votos em Sartori, quando o resultado previsto na boca de urna Ibope era de 29%. Isso mesmo. A boca de urna (de 99% de confiabilidade) dava Tarso Genro (PT) 35%, Sartori (PMDB) 29%, Ana Amélia (PP) 26%. As urnas deram Sartori 40,4%, Genro 32,5% e Amélia 21,7%. Não existe possibilidade de tal erro ter sido ao acaso, simplesmente, não existe.

No Rio, nada menos que 8% dos votos parecem ter sido transferidos de Garotinho para Pezão e Crivella, materializando uma chocante ausência de Garotinho no segundo turno. Garotinho saiu da boca de urna com 28% e das urnas eletrônicas com 19,75%. A fraude é a única hipótese razoável para isso. Pezão teve mais 6% e Crivella mais 2% além da margem de erro.

Mas há muito mais barbaridades localizadas nas eleições de 2014 que a boca de urna não registrou. Particularmente absurda foi a avalanche de vinte pontos em Aécio somente em SP em 24 horas, e a consequente derrota acachapante de Marina para Aécio em 48 horas.

Simplesmente, isso tudo era inimaginável antes das urnas eletrônicas. Comemorávamos ou lamentávamos pesquisas de boca de urna como garantidas em no mínimo um ponto além da margem de erro. Não víamos movimentos de vinte pontos em dois dias, como os de Aécio em SP, ou de quinze pontos como o de Dória esse ano.

A nova geração não sabe o que é isso e está acostumada com o “tempo real”. Mas nossa geração não tem o direito de se calar sobre essa barbárie.

O Brasil é atualmente o único país sem o comprovante impresso individual do voto, como até a Veja reconhece. A urna brasileira é obsoleta, e só chegou a ser usada além do Brasil, no Paraguai e na Argentina, tendo sido proibidas depois das primeiras eleições em que foram usadas. Hoje, são proibidas em todos os outros países do mundo.

Especialistas da UnB, UFMG e USP já se declaram publicamente contra o sistema atual. Da mesma forma, a Sociedade Brasileira de Computação. O “Relatório Unicamp”, citado pelo TSE em defesa das urnas, é de quinze anos atrás e sugeriu medidas de segurança para aperfeiçoar o sistema que nunca foram adotadas. A Coppe UFRJ também se declarou pela inconfiabilidade do sistema e pela impressão de voto em relatório oficial.

A falta de um sistema de votação seguro e da possibilidade de conferência e recontagem físicas de seções eleitorais suspeitas é um crime contra a democracia e um desrespeito à militância e ao voto de milhões de pessoas.

Mesmo que não houvesse fraudes em massa toda eleição, e estou absolutamente convencido de que elas existem, resta o fato de que uma eleição que não pode ser contestada nem recontada não é democrática.

Quem não luta por essa transparência eleitoral, não merece uma democracia.

E líderes que não contestam esse absurdo sombrio, não merecem nosso voto.

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Comentários

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Nelson

Como bom coxinha, o Lukas, antes mesmo de ler com a mínima atenção o texto do professor Castañon – se é que chegou a ler um parágrafo, pelo menos, – já saiu detonando contra o artigo. Se ferrou. Deu mancada, uma vez mais.

Aliás, dar mancada é coisa comum nos coxinhas. Acostumados a ler e a se informar somente pelo PIG, eles acreditam, piamente, que estão bem informados. Os donos do poder agradecem.

Nelson

Um pouco de ironia.

Na verdade, professor Castañon, quando uma patota de canalhas, respaldada pelo Judiciário que se diz o garantidor da Constituição, decretou a nulidade dos votos de todos nós – tanto dos que votaram na Dilma quanto dos que deram seu voto ao Aécio -, a preocupação com as fraudes nas urnas eletrônicas passa a ser desnecessária, inútil. Nossos votos nada valem mesmo.

Morvan

Boa tarde.

Castañon e demais debatedores, sou autor de Petição, no Change Ponto Org, demandando ao TSE a Adoção do “Paper Track” nas Urnas Eletrônicas brasileiras. Tragicomicamente, minha Petição se houve vitoriosa por Derrubada de Veto de Dilma, em 18 de Novembro; no caso da Petição em si, tentei, e, acredito, consegui, explicar ao apoiante o funcionamento do ‘papelzinho de contraprova’.
As urnas brasileiras, de 1ª Geração, são comprovadamente inseguras. Além do problema tecnológico em si, padecem do efeito do “homem no meio” e carregam um software alheio à lógica do escrutínio em si, o Inserator (não, não é um programa das Organizações Tabajara; antes o fosse).

Para ler sobre a Petição ao Paper Track no Change, acesse Aqui.
Para ver uma crítica igualmente contundente e abalizada sobre a fragilidade das urnas eletrônicas brasileiras, pelo cientista Diego Aranha, clique Aqui.
E ainda, sobre o infame Inserator, acesse Aqui.

Saudações “#ForaTemerGolpsista; a política sem discussão: eterna fábrica de coxários“,
Morvan, Usuário GNU-Linux #433640. Seja Legal; seja Livre. Use GNU-Linux.

    Gustavo Castañon

    Francisco Águas, você realmente se equivoca. A boca de urna não considera abstenção, ela é feita com eleitores que acabaram de sair da zona eleitoral e já votaram.

    Gustavo Castañon

    Obrigado pela contribuição Morvan. Estamos juntos há um tempo nessa luta, não? Vou divulgar o artigo que postou. Abraço!

Laura Rodrigues

Fato acontecido no Rio de Janeiro. A pessoa chegou para votar e por algum engano, um mesário digitara seu número no lugar de outro, inclusive entregando o comprovante errado ao votante, que não percebeu. A pessoa foi impedida de votar. Com voto físico, isto jamais teria acontecido.
Dentro do atual quadro de irregularidades para assumir o poder, diante de tantos absurdos que vemos, acho que uma fraude eleitoral não seria impensável.

Rogério Bezerra

Nos anos de 1990 quatro brasileiros eram donos de uma empresa de automação bancária, caixas eletrônicos. Era deles também a maioria das urnas eletrônicas que o TSE espalhou pelo país. Antes da virada do século, porém, uma empresa americana comprou boa parte da firma. Desde então as urnas que recolhem e apuram a maioria dos votos dos brasileiros é de estrangeiros.
Três vivas para tudo que vem de fora… LEGAL!!!

Francisco Águas

Sou péssimo em estatística, mas me corrijam se eu estiver errado, a abstenção não mudaria toda a estatística do boca de urna?

    Lukas

    Lá vem um chato atrapalhar a teoria conspiratória com fatos…

    É cada uma…

    FrancoAtirador

    .
    .
    Também é Fato que Existem Centenas,

    Senão Milhares, de Mesários Tucanos

    espalhados pelas Seções Eleitorais.

    Sem falar dos Funcionários dos Fóruns

    e dos Especialistas em Programação.
    .
    “A Verdade é que Mesários podem
    votar no lugar dos eleitores”

    https://andersbateva.wordpress.com/2016/05/02/cryptorave-2014-biometria-e-os-riscos-da-urna-eletronica/
    https://youtu.be/X3RKI8N3j2o
    .
    .

    Gustavo Castañon

    Caro Francisco,
    Sim, você está errado. A abstenção não influi na boca de urna porque é feita somente com eleitores saindo da secção onde acabaram de votar.

Guanabara

Gosto muito das reportagens de nossa Plural Imprensa Gloriosa que enaltecem as urnas, como as mais modernas, e vivem simplesmente repetindo que o processo é seguro, com seus “especialistas” dando entrevistas e repetindo a exaustão que elas são seguras, porque elas são seguras, e não há risco de fraude, porque elas são seguras, infalíveis, seguras….

Se a segurança falhar, eles anulam 50 milhões de votos, não tem problema.

FrancoAtirador

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Especialmente em São Paulo, os Resultados Eleitorais, Há Tempos,

deixam Muitas Dúvidas que só se Resolveriam pela Recontagem.

Não Há Sistema Informatizado 100% Confiável: É Uma Regra Geral.
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