Breno Altman: O PT como partido da ordem que não é sua

Tempo de leitura: 3 min

O que pode aprender o PT com os erros dos comunistas italianos?

O que acontece quando um partido de matiz socialista passa a defender os instrumentos de repressão de um Estado que segue sob hegemonia burguesa

por Breno Altman, no Opera Mundi, em 24.02.2014

Corria o ano de 1976. O Partido Comunista Italiano alcança 36% dos votos nas eleições parlamentares (quase o dobro do PT em disputas pela Câmara dos Deputados). O secretário-geral do partido, Enrico Berlinguer, anuncia a política de solidariedade nacional. Apesar de não integrar o governo hegemonizado pela Democracia Cristã, passaria a apoia-lo no parlamento. O objetivo era dar estabilidade política ao país, que vivia longa situação de empate entre esquerda e direita, abrindo hipoteticamente caminho junto ao eleitorado mais conservador.

Esta política provoca muita tensão em setores do partido. Não há dissidências expressivas, mas o diálogo com a juventude estudantil e operária, cujo ápice de mobilização tinha ocorrido nos anos anteriores, é bastante afetado. Organizações extra-parlamentares ganham espaço para liderar parcelas da esquerda, em um rumo oposto ao pregado pelos comunistas.

Nesse caldo de cultura – que combina o quadro internacional com a podridão da DC e a guinada do PCI -, emerge a luta armada na Itália, até então circunscrita a ações de propaganda. As Brigadas Vermelhas, fundadas em 1970, conquistam certo apoio e se lançam na chamada “estratégia da tensão”, declarando guerra aberta ao Estado burguês. Sua principal ação: o sequestro e assassinato, em 1978, do ex-primeiro ministro Aldo Moro, um dos chefes máximos da Democracia Cristã.

A direita pressiona por mudanças legais e constitucionais. Aspira por leis de exceção que permitissem a radicalização da repressão não apenas contra as Brigadas e outras organizações combatentes, mas contra o chamado “movimento” – os numerosos grupos sociais que davam suporte, direto ou indireto, à luta armada.

O PCI vive, então, um impasse. Romper com a política de solidariedade nacional, defendendo a Constituição e recompondo sua influência à esquerda. Ou manter seu compromisso com a DC, abraçando as políticas repressivas. Prevalece a segunda hipótese. A Itália passa a ter juízes sem rosto, suspensão de garantias constitucionais, aceitação de culpa por presunção, repressão massiva sem ordem judicial. Com o aval comunista.

Após alguns anos, as Brigadas estavam derrotadas. Quem havia se fortalecido era a direita mais dura, no seio da DC. O PCI tinha perdido influência e vê sua votação decair fortemente. Berlinguer se dá conta do erro cometido desde 1976 e comanda a virada da política no início dos anos 80, voltando à estratégia de confrontação contra as classes dominantes e o conservadorismo.

O partido recupera um pouco de sua força. Com a morte súbita do secretário-geral, em 1984, chega aos 33% dos votos nas eleições europeias e é, pela primeira vez, o partido mais votado da Itália. O “efeito Berlinguer”, no entanto, dura pouco. A decadência eleitoral e social se impõe nos anos seguintes. Uma forte corrente revisionista, forjada durante a política de solidariedade nacional, impede que se consume a guinada proposta pelo líder comunista antes de sua morte.

Final dos anos 80. Crise do socialismo. Colapso da União Soviética. A queda de influência se combina com o caos político-ideológico. A ala de direita assume o comando e liquida o PCI, que passa a se chamar Democratas de Esquerda, depois apenas Democratas e finalmente Partido Democrata. Rompe com o marxismo e o socialismo. Vira um trapo político, cuja ascensão eventual na política italiana depende de sua aliança com os antigos democratas-cristãos e seus satélites. Apoia o neoliberalismo, a política norte-americana e as posições mais conservadoras.

Os setores que discordaram dessa revisão ficam isolados e entram em processo de divisão. A esquerda italiana, a mais potente e vigorosa de todo o mundo ocidental, passa a viver sua longa crise terminal.

Obviamente as situações são distintas. Mas não é o caso da esquerda brasileira e do PT aprenderem algumas lições com essa experiência? Não seria útil refletir o que acontece quando um partido de matiz socialista passa a defender os instrumentos de repressão de um Estado que segue sob hegemonia burguesa? Não seria importante pensar quais as consequências quando a esquerda abandona o papel de campeã radical da democracia para ser o partido de uma ordem que não é a sua?

*Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi

Leia também:

Bruno Gilga: Tropa do braço viola direito à livre manifestação


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Comentários

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sagarana

A pá de cal no petismo foi a carta ao “povo” brasileiro.

Ted Tarantula

TODAS as pautas politicas brasileiras são baseadas em conceitos ideológicos velhos de 100 anos ou mais… as pautas especificas (transporte urbano, reforma agraria, disfuncionalidade politica, ineficácia – e ineficiência – das instituições, papel da imprensa e um vasto etc – também são..então acho que, com muita sorte breve estaremos entrando no século XX.

    Bonifa

    Tudo é relativo. Século XX em relação à Noruega, século XXII em relação ao México.

Mário SF Alves

Não seria importante pensar quais as consequências quando a esquerda abandona o papel de campeã radical da democracia para ser o partido de uma ordem que não é a sua?
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Ainda que tendo em conta que Brasil é Brasil e Itália é Itália; ainda que atentos às vicissitudes dos tempos atuais, quando as grande corporações em ritmo crescente sequestram cada vez mais Estados, e através dos quais semeiam o terror e golpes de todo gênero, ainda assim, como justificar a adoção por parte de um governo democrático de um dos instrumentos mais terríveis da velha, totalitária, mesquinha e socialmente excludente ordem?

Mauro Assis

Acontece que a “ordem petista” mudou e faz é tempo: o negócio da moçada agora é manter a boquinha, apenas.

O PT se tornou assim um PMDB do B. Querem apostar que se a Dilma perder na semana seguinte a ptzada engata o discurso de “apoio à união nacional”, recebendo em troca algumas diretorias da Petrobrás?

João R. Brandão

O PT continua na dianteira das pesquisas para reeleger a presidente Dilma devido a terra arrasada da politica tucana nos oitos anos de FHC.

É possível que o PT fique mais quatro ou oito anos depois de Dilma, se a oposição tiver como candidatos Aécio, Campos e Alckmin para 2108. Se isso ocorrer será uma benção para o partido do Lula.

Quem quiser saber o que é “o quase pleno emprego” entre no google e veja quais são os pisos salariais de trabalhadores em usinas, frigoríficos, telemarketing, grandes redes de supermercados, etc.; mal chegam a um salário mínimo e meio.

E a classe capitalista não está satisfeita com esses baixos salários pois querem a terceirização da mão de obra.

Muitos conglomerados, “as campeãs nacionais” recebem grosso dinheiro do BNDS sem exigência, de um partido que dizia socialista, de melhores condiçoes a seus empregados.

No Banco do Brasil, na CEF, a cobrança para atingimento de metas supera a pressão de muitos bancos particulares sobre os funcionários. Daí os astronômicos lucros dessas empresas de controle do governo federal.

O Banco do Brasil pratica há muito tempo a terceirização sob o olhos complacentes de seu sócio majoritário, o governo federal, o governo de Dilma.

A CUT, Central Unica dos Trabalhadores? Uma grande máquina burocrática que tem no momento, como ação primordial, segurar os movimentos sindicais para a “governabilidade” do governo petista.

As administrações petistas gabavam de serem mais competentes que a dos adversários.

O desastre que estão levando á PETROBRAS desmente essa tão divulgada competência.

Uma empresa orgulho do país, que resistiu aos oitos anos predadores de FHC, foi jogada num buraco financeiro dado o tamanho irresponsável de suas dívidas.

Há um jargão empresarial que diz “que o petróleo mesmo mal administrado dá lucro”. O PT superou-se, fazendo as mais incríveis engenharias financeiras para apresentar um sofrível balanço da empresa.

Nessa marcha, o PT tem como destino o que virou o PCI italiano, não um trapo, mas um PMDB, um PDT da vida política nacional, porque os autenticos petistas e simpatizantes já bandonaram há muito suas fileiras por traição de seus ideais.

José X.

Apesar de em geral gostar do Breno Altman, não cheguei nem no 1º parágrafo do artigo, fiquei naquele parágrafo explicativo antes do nome do autor: “O que acontece quando um partido de matiz socialista passa a defender os instrumentos de repressão de um Estado que segue sob hegemonia burguesa”

Ao que parece o autor está confundindo um pouco as bolas…deve estar confundindo o PT com o partido que governa a fazenda dos Neves, antigo estado de Minas Gerais, onde um jornalista (Marco Aurélio Carone) está preso por…por ser jornalista.

mineiro

belissimo texto como muitos que aparecem nos blogs. o problema do pt é que o partido se tornou um partido de convenicencias e de acordos, o pt ja abandonou as suas origens a muito tempo. mas ficou pior com esse governo da fhc de saias , e isso ficou nitido. o pt ta cada vez mais para a direita do que para a esquerda, mesmo que haja no partido muita gente boa e a militancia é muito fort. se nao o pt ja tinha acabado a muito tempo, nao tem como um partido de esquerda ter gente da laia do ze cardoso , o bernadao , do vacarreza e outros mais covarde e vendidos. nao tem como , os avanços que tiveram no governo lula ,retrocedeu com essa pres. a verdade mesmo é que o pt precisa de uma sacudida , mais uma sacudida bem forte para limpar a poeira, porque no ritmo que vai ,vai ser um partido tucano nao demora. porque politico do nivel das tucanalhas ja tem.

    Luís Carlos

    “FHC de saias” é uma expressão machista e sexista? Agrega algum valor crítico ao seu comentário?

FrancoAtirador

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Perdida no emaranhado da burocracia estatal, a cúpula do PT – hegemonizada por falcões, bernardos e cavvallezzas – abandonou as bases teóricas que fundamentavam o programa político do Partido dos Trabalhadores e que proporcionavam a atuação radical da militância petista que, por sinal, não costuma ferir princípios programáticos por uma suposta sustentabilidade governamental firmada em uma permanente busca pela conciliação de classes sociais, condição, de fato, inexeqüível – como a História comprova – e que se afigura ilegitimamente em uma verdadeira traição à classe trabalhadora como um todo, que se vê transformada em mera [tele]espectadora consumidora auto-alienada, serva de um regime de semi-escravidão humana.

Lembremos, então, aos traidores de classe, que caminho escolheram:

PANDEMÔNIO DE INFÂMIAS:
CLASSES SOCIAIS, ESTADO E POLÍTICA NOS ESTUDOS DE MARX SOBRE O BONAPARTISMO

Por, Vânia Noeli Ferreira de Assunção*

De fato, apenas o desenvolvimento das forças sociais num determinado grau permite a irrupção bonapartista.
Como vimos, refere-se a um momento em que a burguesia já entrava em fase contra-revolucionária, enquanto o proletariado encontrava-se no período de ascensão e amadurecimento.
Nada disso seria possível em estágios de desenvolvimento mais baixos.

O bonapartismo eleva a essência contraditória do estado capitalista ao seu máximo grau – é a radicalização das tendências (imanentes a este estado) de abstração e, concomitantemente, de oposição à sociedade civil.
Como explicitou Marx ao discutir o caso clássico, foi o ápice do processo de autonomização, aperfeiçoamento e centralização do estado burguês, tendo tido de ser precedido por toda uma série de medidas neste sentido.
Nascido das contradições da sociedade, manifestava o início da contra-revolução burguesa e apontava como possibilidade posta no horizonte, ainda que não no imediato, a revolução proletária.

Marx dizia que a república parlamentar, ainda que continuasse sendo uma forma de dominação, era a menos perversa para os trabalhadores e, ademais, a que permitia às lutas de classes alcançar sua forma mais pura, mais clara e mais radical, possibilitando sua superação.

Ora, ao interpor o Estado (na pessoa ou instituição que é seu representante direto) entre as classes sociais – as quais não podiam, é verdade, lograr momentaneamente uma vitória sobre a outra –, o bonapartismo age objetivamente como freio da luta de classes.

Sua presença é, portanto, maléfica no curto prazo – já que impõe uma forma de dominação muito mais dura para os trabalhadores – e, ainda, para toda perspectiva de superação da sociedade de classes, o que depende do enfrentamento e da vitória do proletariado sobre a burguesia.

Desta maneira, o bonapartismo assegura uma sobrevida ao capitalismo, explicitando mais uma vez a capacidade de adaptação e de superação de crises que este sistema mostra.

Como observou boa parte dos pensadores que aqui analisamos, a democracia burguesa cede cada vez mais espaço para o bonapartismo.

Em alguns casos, o problema se torna ainda mais complexo.

Em situações como a do Brasil, o bonapartismo é a encarnação de uma contra-revolução permanente de caráter preventivo, característica ingênita da dominação burguesa.

Aqui, elementos do bonapartismo estiveram presentes desde a gênese do capitalismo industrial, constituindo a natureza mais íntima e o projeto de poder da burguesia nacional.
Esta não pode (nunca pôde) dominar senão desta forma:
uma autocracia mais ou menos aberta, terrorista ou conciliadora, é sua forma de exercício do poder político.

De maneira que as lutas de classes vêem-se represadas, constrangidas, sufocadas, impedindo-se sua emersão, sua explosão e sua solução – já que as contradições preexistentes e as que germinam sob o próprio fenômeno não podem vir à luz com um retorno da democracia burguesa.

Como na Alemanha, a assunção do bonapartismo no Brasil eclodiu antes mesmo de a dominação da burguesia autônoma se firmar, pois a luta de classes já se punha;
à semelhança da Alemanha, tratou-se aqui de um regime preventivo;
diversamente do caso prussiano, todavia, em que trouxe um elemento progressivo ao realizar a unidade nacional, na via colonial de objetivação do capitalismo o bonapartismo tem um caráter exclusiva e perversamente negativo.

Fica, pois, a idéia de que é sob o bonapartismo que a burguesia dos países atrasados efetiva, no período da contra-revolução, as transformações históricas indispensáveis, garantindo-se que serão efetivadas em segurança, com exclusividade, conciliadamente e sem possibilidade de perda de controle do processo.

No caso brasileiro, condenando a nação a uma forma de dominação política exclusivista, autocrática e subordinada, regime favorecedor de uma burguesia ensimesmada em seu minimundo e saciada com mesquinharias.

A perspectiva revolucionária do trabalho tem, pois, tarefa mais difícil, mais complexa e mais radical.

*Graduada em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (1993).
Mestre (1999) e Doutora (2005) em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) – Rio das Ostras.
(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=N682927)

Íntegra em:

(http://www.afoiceeomartelo.com.br/posfsa/Autores/Assun%C3%A7%C3%A3o,%20V%C3%A2nia/V%C3%A2nia%20Noeli%20F%20%20de%20Assun%C3%A7%C3%A3o%20-%20tese%20de%20doutorado.pdf)
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    Luís Carlos

    A república parlamentar é uma forma de dominação menos perversa e que permite a luta de classes sua forma mais pura, conforme citação de Marx pela autora. República parlamentar que, com suas imperfeições impostas pelas deficiências e limites da representação política, ainda permite estabilidade social/política para que a luta de classes se dê, acrescento eu, por meio de guerra de posição.
    O golpismo e a violência é a superação do modelo republicano de democracia representativa? Que evidência temos disso? Ou seria o recrudescimento de uma dominação bonapartista? A superação do estágio de democracia representativa, da economia de mercado e reprodução do metabolismo do capital se dá pela participação política e autonomização de sujeitos históricos/econômicos/sociais/políticos e exercício da capacidade dialógoca ou pela tática da violência e desestabilização política? Os estágios de acúmulo político e o processo histórico em curso na América Latina nos permitem dizer que a superação dos limites da representação política se dão pela efetiva participacáo democrática. Mas como exercitar democracia participativa pela tática de violência que esvazia a política e faz da tomada da ruas e manifestações populares a não política, a negação da política?

    FrancoAtirador

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    Caro Luís Carlos.

    Há um erro grave de leitura
    sobre quais são os atores
    que estão encenando a peça.
    Agora, o momento é outro.
    O recrudescimento do bonapartismo
    se evidencia com o Barbosismo
    e não com os ‘BBsismos’.
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    Luís Carlos

    Sobre o Barbosismo não tenho dúvida. Sobre outros nenhuma certeza.

    FrancoAtirador

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    Todo Black Bloc é um mascarado.

    Nem todo mascarado é Black Bloc.

    Os Anonymous, sim, são perigosos.
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Luís Carlos

Usar de violência durante período de direitos civis e liberdades políticas, como ocorria na Itália à época, é democrático? Usar de táticas terroristas em período de liberdade política é democrático ou apenas é a face dura do autoritarismo?
A violência como tática contribui para conquistas sociais em períodos de democracia política ou favorece recrudescimento da repressão e fascismo?
A política se fundamenta no diálogo e possíveis e necessárias alianças ou em atos permanentes de violência?
Quando trabalhadores alcançam vitórias e têm sucesso em suas bandeiras devem abandonar guerra de posição para utilizarem táticas de villência e terror?
Os trabalhadores sucumbiram na Itália no período narrado pelas alianças realizadas ou pelo extremismo terrorista que chocou população, paralisou nação italiana e isolou politicamente partidos de esquerda?
Em regimes de democracia polītica, avanços sociais e conquistas dos trabalhadores a violência é ferramenta eficaz para classe trabalhadora?
A Venezuela aponta resposta negativa, colocando em risco estabilidade de governo revolucionário dos trabalhadores.

    Leo V

    Claro que atentados ‘vanguardistas’ como das Brigadas Vermelhas eram uma estupidez.

    Mas você fala da luta armada como se ela tivesse caído do céu.

    O primeiro atentado cometido nesse período histórico que vai do final dos anos 60 ao início dos 80 na Itália, foi cometido contra a esquerda, em 69 em Milão, no fia do chamado “outono quente”.
    Houveram uma série de atentados depois, muitos realizados pela extrema-direita com ou sem cumplicidade do Estado.
    A “estratéga de tensão” foi inaugurado pelo Estado, não pelos grupos de esquerda. O movimento operário estava extremamente forte e combativo, o que levou o Estado (como sempre aliás), mesmo em regime democrático, a usar violência.
    E é na espiral de repressão inaugurada pelo Estado que surgem os grupos armados, de todo tipo na Itália. Mas os grupos armados sempre foram uma fração muito minoritária da esquerda extra-parlamentar.
    Porém, nessa espiral de repressão da estratégia de tensão o espaço para movimentos sociais ficou cada vez mais reduzido, impulsionando cada vez mais gente à clandestinidade e a ações armadas.

    Isso é história. A lógica repressiva do Estado, sufocando movimentos sociais, tirando a possibilidade de existência e atuação deles, impulsiona grupos para ações “vanguardistas”.

    E não faz diferença se o governo é eleito ou não. Na Itália o governo era eleito mas o Estado era repressor, criando eis que permitiam prisão preventiva sem acusação por 4 anos, por exemplo.

    Aliás, como diz um intelectual que respeito muito, a diferença entre democracia e ditadura não é a brutalidade policial. Nas democracia as policias podem ser tão brutais quanto numa ditadura. O que diferencia as duas é que as democracias são capazes de recuperar os conflitos sociais.
    E é essa recuperação dos conflitos sociais que o PT está se mostrando incapaz de realizar. A perda dessa capacidade é um sinal gravíssimo para m partido que sempre se destacou exatamente pro essa capacidade. Mostra uma mudança que parece ser fatal para o PT.

    Democracia não é sinônimo de liberdades civis, como estamos vendo exatamente neste momento no Brasil. Aliás, como sempre soube quem mora nas periferias das cidades.
    Na forma como a palavra é usada, ela é sinônimo de eleições, tão somente.

    Luís Carlos

    Primeiro: não falei da luta armada. Fiz perguntas.
    Segundo: “as democracias são capazes de recuperar conflitos sociais” … …e o “…é essa recuperação de conflitos sociais que o PT está se mostrando incapaz de fazer”. De que conflitos sócias falas? Ou por exemplo, a implantação de programa como o Mias Médicos não é enfrentamento intenso de conflito social? O que são ataques feitos pela extrema direita desse país e seus aparelhos ideológicos da mídia corporativa e autarquias como conselhos de categoria médica vociferando preconceitos, expelindo violência, xenofobia e instigando gravíssimas faltas éticas por parte de médicos? Ou o enfrentamento da lógica de mercado aplicada à saúde pública por parte da corporação médica e da indüstria farmacêutica em favor da população para melhoria de indicadores epidemiológicos como a MORTALIDADE INFANTIL e MORTALIDADE MATERNA não é recuperar conflito social? Pergunto: em que área se dá de forma mais explícita a presença expúria da lógica mercantilista ao preço da morte de crianças? Na saúde pública! No SUS, eterna trincheira de resistência e luta entre princípios socialistas como universalidade e equidade e o mercado “que se auto regula” movido à ganância e egoîsmo.
    Tanto o PT demonstra capacidade de “recuperar conflitos sociais” que trouxe e trará ainda mais médicos cubanos para enfrentar a lógica perniciosa do mercado e sua ganância atávica que humilha trabalhadores e solapa vidas diariamente. E para quem não sabe o que isso significa, sugiro ouvir pessoas que tem sido atendidas por esse programa nos últimos meses em todo país. Ficarias espantado em saber do altíssimo grau de satisfação dos cidadãos que tem usado serviços do Mais Médicos.
    Uma das piores e mais reacionárias corporações no Brasil, ao ponto de cobrar valores, sem remorso, mesmo com a morte de pessoas, está sendo enfrentada, ainda que alguns façam pouco caso disso e desconsiderem isso como recuperação de conflitos sociais que estão na ordem do dia sendo disputados ferrenhamente por esse governo.
    Terceiro: o que diz ser “tsinônimo de eleições, tão somente” custou a vida de muitos companheiros e companheiras absolutamente valiosos e corajosos para ser CONQUISTADO. Graças a eles/elas estamos aqui debatendo agora. Não foi dádiva a ser desprezada e jogada no lixo por apreço a tática golpista.

    Leo V

    De quais conflitos sociais falo?

    Oras, desses que estão estourando da forma mais espetacular nas ruas!

    1) Transporte público: conflito que não é nova e que tem desencadeado revoltas populares há mais de 10 anos!

    2) Moradia (seja remoções forçadas, sejam necessidade, com ocupações etc etc, que estão pipocando)

    3) Condições de trabalho: vide Jirau, Belo Monte etc., em que se tem que fazer um estado de exceção e chamar a Força Nacional para “calar” o conflito. Para não entrar em outras questões como educação etc…

    O governo tem feito algumas políticas positivas em algumas áreas pode ter se atencipado à explicitação de alguns conflitos. Mas o fato é que o PT buscando leis de exceção e repressão para lidar com eles, sem nenhum saída que aponte na recuperação desses conflitos explicitados em manifestações, demonstra uma fragilidade imensa.

    Nos rolezinhos o PT foi capaz de recuperar, mas porque era mel na chupeta. Eram apenas jovens que queriam diversão, sem demandas específicas.

Luís Carlos

Miguel do Rosário fez comentários interessantes e pertinentes sobre esse texto no Cafezinho.

    Flavio Lima

    O Miguel “matou a pau”, foi na veia. Desculpando pela imagem violenta do “matou a pau”, nesses tempos sombrios acaba não ficando bem.

Julio Silveira

O problema é que PT foi um partido que cresceu baseado nos sindicatos. E agora, alcançado o poder, em função disso afastado do movimento trabalhista, sem saber viver sem o movimento sindical, aderiu ao sindicato dos partidos políticos, esses que só defendem seus próprios interesses.

    abolicionista

    Julio, não sei se entendi seu comentário. Mas acho que tanto os sindicatos quanto os partidos políticos sofreram um processo parecido. Eles estão no ápice duma crise de legitimidade. Os motivos pelos quais isso aconteceu me parecem complexos. No geral, venceram as tendências da globalização. O PT sobreviveu porque se adaptou a elas, para o bem e para o mal. Se o PT continuasse a ser um partido de sindicalistas, hoje também seria um trapo. E esse é o ponto fraco do texto. A gente fica se perguntando: mas como o PT poderia continuar a ser combativo, se a classe trabalhadora hoje não está mobilizada, se o “chão da fábrica” se automatizou ou foi explorar mão-de-obra em outro país?

Karlo Brigante

E o PT hein? Não move uma palha!!!
Chego a ficar desanimado! Esses “jornalista” todos os dias é pau no Governo, nos programas sociais, nos politicos Petistas ou ligados ao PT. Se não fosse a figura do Lula, Já teria desistido de tudo.
Os Politicos do PT parecem mulher de malandro!!! E a gente aqui, nos “Blogs Sujos” Pagando um pau desgraçado defendendo esse Governo, enquanto os Petistas dormen, Hibernam… descansando em berço esplendido. É desanimador.

Francisco

Se o PT defende uma “ordem que não é a sua”?

Pergunte-se o seguinte: que atitudes teria o DEMO, o PSDB ou Feliciano, se a “ordem fosse sua”?

Nem direita e nem esquerda estão numa “ordem que é a sua”. O que a direita oligárquica brasileira faria numa “ordem sua” já sabemos, qualquer livro de História explica. O que faria a esquerda brasileira “numa ordem sua”? Não sabemos e talvez nunca saibamos…

O que impede os grupos politicos de fazerem o que seus instintos primitivos ordenam (a tal “ordem sua”) é o ordenamento das instituições democráticas. Os tratados internacionais, a ONU, os poderes harmônicos da república, a autoridade do voto.

Se o PT é um partido democrata (e a não candidatura de Lula ao terceiro mandato provou isso de maneira incontrastável), essa “ordem que não é sua” é, pelo menos em parte (boa parte), “ordem sua” do PT.O PT quer defender as liberdades democráticas, certo?

Os samurais tinham como norma que não se deve sacar da espada se não vai usar e, se vai usar, não é para “esgrimir” é PARA USAR. Ou seja, se é para fazer revolução, faça, se não é, não faça marola. Fazer marola é diferente de fazer revolução. Se revoluções são ações históricas de resultado incerto, marolas têm resultado perfeitamente previsivel, por um lado, e não previsivel por outro. Pelo lado “previsivel” resulta em erosão inexorável da autoridade (à esquerda ou à direita). Pelo lado inprevisivel…

Meu caro, a História é mestra: Alende, Goulart, SD alemã…

    Leo V

    Errado, o PT está mostrando que não quer defender as liberdades democráticas.

    Vide declarações do governo, do Ministro da Justiça, do Haddad, que são praticamente idênticas a de um Alckmim ou de uma Globo sobre a atuação da polícia, sobre lei antiterrosimo etc tec.

    É no governo do PT que leis de exceção estão entrando em vigor.

    Vide constituição e uso da Força Nacional contra trabalhadores em Belo Monte.. Estado de Exceção permanente.

    Eu tinha alguma esperança que o PT fosse pelo menos democrata. Mas a função de capataz do capital está prevalecendo, às claras, em 2014.

    Legal fazer Comissão da Verdade, mas não quando se aplaude e incentiva os crimes cometidos pelo Estado hoje.

    Luís Carlos

    Quais “leis de exceção” entraram em vigor nos governos federais do PT?

    Leo V

    Aqui um exemplo: http://br.noticias.yahoo.com/blogs/cartas-amazonia/belo-monte-sob-interven%C3%A7%C3%A3o-federal-221153765.html

    Aqui, mais: http://www.apublica.org/2013/01/copa-do-mundo-olimpiadas-leis-estado-de-excecao/

    Agora tem todas essas leis antiterrorismo, anti-máscaras, anti qualquer coisa que manifestantes façam… O kettling inaugurado em São Paulo, e que o Ministro da Justiça parece que gostou e quer aplicar em outros estados é a própria exceção da forma mais física e material possível. Suspensão do direito de manifestação, do direito de ir e vir, prisão por se manifestar.

    “ficou tão governista que… só aceita protesto em cartório!” (Romulo Itararé Garcias)

    Luís Carlos

    “É no governo do PT que leis de exceção estão entrando em vigor”.
    Nos links disponibilizados existem referências a lei municipal (RJ) e PL de auotoria de paralmentares como senadora Ana Amélia Lemos que foi contra Mais Médicos e não do “Governo do PT”.
    No primeiro link hà referência a decreto presidencial que dispensa autorização ou manifestação de governadores para deslocamento de Froça Nacional para um território estadual. Pergunto: se a federação é formado por estados e municípios, porque ter uma Força Nacional se a Presidéncia da República deve submeter a governador se essa força pode agir em territõrio nacional/estadual? No caso não é para ataque que ela foi deslocada ao Pará… …isso é “lei de exceção”?

    Leo V

    A questão não é apenas passar por cima dos Estados.

    É praxe o governo federal oferecer forças federais, mas nunca passar por cima de governo estadual.

    A questão além disso é renovar continuamente o uso da Força Nacional. É o exemplo mais explícito de um estado de exceção permanente.

    É o uso militar posto a serviço do capital no conflito entre capital e trabalho, explicitamente.

    Bertold

    Caro Francisco..

    As vezes tenho meus chiliques com o PT e a ptzada atual. Mas a emoção abranda e à razão sobrepõe clareando as ideias. Permita-me dizer que o seu comentário é o mais profundo e lúcido, não coisa de idealistas impacientes tal qual um adolescente achando que compreendeu e tem as respostas prontas para os acontecimentos da vida e do mundo. A verdade é que não é possível apartar o mundo real do imaginário. Apenas que o desejo, alguém já disse,”é o lugar da liberdade” mas a democracia é construção da razão, ai incluso o conflito sem violência ou anarquia para o poder.

    Mário SF Alves

    Também entendo que seja assim.

Henrique

A única solução viável, porém lenta, é o que o PT está fazendo e Gramsci chamava de revolução silenciosa ou passiva, por dentro das instituições.

    Leo V

    Não é o PT que está transformando as instituições, são as instituições que estão transformando o PT. Esse ano está ficando claro que como diz o título aqui posto, o PT claramente se tornou partido da ordem. E ninguém melhor que o “Partido dos Trabalhadores” poderiam conseguir fazer passar a agenda conservadora que ele está passando.

    Essa leitura gramsciana que chegou ao Brasil é bastante estranha. Parece até que Gramsci não era um leninista.

    Luís Carlos

    Gramsci certamente não era anarquista.

    Leo V

    Certamente não era anarquista, é claro.

    Grasmci era leninista. Foi exatamente isso que eu disse.

    Mas no brasil ele chegou como se fosse social-democrata.

    Luís Carlos

    Um dos principais propagadores das idéias de Garmsci no Brasil foi o professor Nelson Coutinho, e certamente não o fez de forma social-democrata.

    Leo V

    Eu admiro o Carlos Nelson Coutinho.

    Mas acho sim que a leitura de Gramsci dele é bem social-democrata. Não falo isso negativo. Sinceramente, para escolher entre uma leitura leninista e social-democrata, talvez eu prefira uma social-democrata.

    Só que é um Gramsci romantizado, que esquece que Gramsci era leninista.

    Enfim, Gramsci no Brasil sempre foi usado dentro do PT para justificar os rumos do partido. O estranho mesmo era justificar a ocupação de assentos do legislativo e executivo como construção de hegemonia. Embora nessa própria leitura que se faz de Gramsci a construção de hegemonia teria a ver com a difusão de uma outra visão de mundo, com um aspecto cultural, em oposição a um senso comum prevalecente. E a lógica das eleições é oposta a isso: o candidato que quer ser eleito trabalha em cima do senso comum das pessoas,e não para altera-lo…

    Luís Carlos

    Leo
    Quanto aos limites da prática eleitoral, ou mais precisamente da democracia representativa de forma geral, temos acordo. Ela é por demais limitada para superação da realidade e atender necessidades prementes da classe trabalhadora. Por outro lado, a democracia representativa no Brasil, tomando processo histórico vigente, bastante incipiente. Mesmo com toda essa incipiencia e vícios (extremos) essa democracia ainda serve mais para avanços da classe trabalhadora do que regime que vivemos poucos anos atrás. A superação dessa democracia representativa viciada e corrompida por seu próprio conceito de representar e não ser seria possível pela violência que esvazia a política ou pelo exercício radical da participação repleta de democracia política?
    Gramsci, Marx e Paulo Freire não percorrem esse caminho por nós (ufa) mas contribuem bastante para nossa própria escrita da história, sempre fundamentada da democracia para maiores conquistas dos trabalhadores.

Henrique

Aliás, as cartas estão na mesa. O plebiscito, a reforma política, que o Congresso não quer fazer, pois sabe que são poucos os partidos de base popular. O PT sairia vencedor nessa reforma. Essa proposta não passa! Qual o outro caminho? Criminalizar a atividade política? Não! Isso leva à Ditadura…

Henrique

Se a pergunta final do texto diz respeito ao contexto das manifestações de hoje no Brasil, é uma pergunta que não se aplica, pois não se pode afirmar que são manifestações de esquerda. Fora alguns grupos do PSTU e do PSOL, há uma grande parte de anarquistas, fascistas e coxinhas que ali estão só para protestar (por tudo isso que aí está). Pergunte a eles o que é “tudo isso que aí está?”! Não sairão mais do que meia dúzia de palavras genéricas como “corrupção”, “roubalheira”, “caos”, nada que indique um novo caminho a se seguir.

    Leo V

    Henrique.

    Se aplica ao Brasil até isso.

    Ou vc acha que não havia uma luta simbólica entre o ‘movimento’ e o PCI sobre quem era de verdade de ‘esquerda’?

    A esquerda que está nas ruas não está protestando “contra tudo isso que está aí”.

    A ação dos governistas na internet é parte semelhante ao que ocorreu na Itália também: deslegitimar o ‘movimento’, muitas vezes chamando os manifestantes de marginais, fascistas etc…. muito semelhante ao que ocorre agora no Brasil.

    Mas a história acaba mostrando o papel que cada um desempenhou nesses momentos.

    Mário SF Alves

    Leo,

    Fico em dúvida se você tem certeza de que não está idealizando esse auê contra tudo o que aí está; esse auê travestido de #nãovaitercopa visando ferrar com a ordem vigente. Tem certeza de que o Leo não está sendo atropelado por este Leo V ansioso e apaixonado por este “movimento” que tanto corta de um lado como pode serrar do outro? Tem certeza de que tem se dado ao trabalho de tentar fazer uma avaliação correta sobre a sequência de atrasos que tem sido essas tais primaveras?

    Sei que você é cético quanto ao fato de golpes de estado necessariamente desembocarem em ditaduras, mas, e quanto ao que aconteceu na Líbia, você entendeu e concordou com aquilo que aconteceu lá?

Márcio

“Intelectuais” orgânicos pirando em 3, 2, 1…

ricardo

Parei de ler no “hegemonizado”.

Leo V

Guardada as devias proporções há muitas semelhanças entre o que ocorre no Brasil e a Itália do fim dos anos 70.

Lá o PCI ajudou, que dividia o governo, ajudou a reprimir os movimentos sociais. O avanço do patronato sobre os trabalhadores na Itália nos ano 80 foi consequencia também da repressão levada a cabo com a ajuda do PCI. Uma criminalização generaliza que levou à prisão e condenação de professores universitários, por exemplo.

O PT aqui está cumprindo papel semelhante. Está limpando terreno para avanço sobre direitos trabalhistas e civis.

E a propósito, o STF está pronto para dar mais um golpe: irá dizer se civis podem ser julgados pela Justiça Militar. Quando governistas apontam para baixo, para os fodidos que estão nas ruas, e falam de “golpe de direita”, não percebem ou fazem não perceber que o golpe de direita está sendo dado por cima.

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