Bruno Gilga: Tropa do braço viola direito à livre manifestação

Tempo de leitura: 4 min

via Diana Assunção, diretora do Sintusp

De dentro do cerco – relato da violência policial no ato de 22/2

por Bruno Gilga – trabalhador da Universidade de São Paulo e diretor do SINTUSP

Sem qualquer pretexto aparente, em um momento em que o ato marchava pacificamente, como havia sido desde o início, a tropa avançou sobre os manifestantes com cacetetes e os escudos do choque. Em uma rua estreita, vindos dos dois lados, espremeram e cercaram entre 150 e 200 manifestantes.

Sem ter para onde fugir das cacetadas, as pessoas começaram a cair no chão, umas sobre as outras e a ser pisoteadas. Nesse momento caí sobre uma garota, com outras sete pessoas sobre mim; ela gritava de dor, me pedindo ajuda, e eu explicava que estava na mesma situação, não conseguia me mover. Aí, muita gente se machucou, pelo menos uma gravemente, e pedíamos em coro por uma ambulância.

Num clima geral de perplexidade, todos questionavam o porquê daquilo, diziam que ninguém havia feito nada, que a ação era ilegal.

Foto Silvio Cesar

Com todos sentados e rendidos, os policiais começaram a indicar indivíduos no grupo e chamar os “pinças”. Vinham então os policiais lutadores, entravam no grupo, aplicavam um “mata leão” no manifestante apontado e o arrastavam para fora do cerco, onde não podia ser visto, e de onde se ouvia alguns gritarem.

Faziam o mesmo contra qualquer um que questionasse aquilo de qualquer forma, para desde o início amedrontar quem quisesse reagir; “– Quem falar, vai sair junto!”.

Um policial entra para puxar uma garota, alguém grita “não encosta nela, ela é mulher, cadê a polícia feminina?”. Uma policial ao lado imediatamente dá uma chave no pescoço da garota – rendida e com os braços para trás, como todos -, e a arrasta com violência particular.

Outro policial grita para um garoto “– Desliga o celular, porra, vocês estão detidos, desliga agora!”, ao que uma senhora responde “– Ele é menor de idade, está avisando a mãe”.

O policial ri, mas é mais agressivo na resposta: “Se é menor, o que tá fazendo aqui? Cadê essa mãe, que devia estar com ele, que não está estudando? Se está aqui detido tem motivo!”.

Alguém diz que é um direito transitar na rua, pacificamente, e o mesmo policial lhe aponta o cassetete: “– Você! Eu vou te pegar, vai ver!”.

Ao fundo, os sons de bombas e tiros, e gritos dos que estavam fora do cerco, provavelmente protestando contra o que acontecia ali, e o cheiro de gás lacrimogêneo que hora ou outra nos cobria; esses eram momentos tensos, muitos esboçavam indignação, e todos os policias erguiam os cassetetes: “ — É pra ficar sentado porra, se não vai apanhar!”.

Alguns começavam a agitar, outros mais amedrontados pediam pra parar. Foi cerca de uma hora e meia, sentados no asfalto sob a chuva, assistindo ao “procedimento” em meio às provocações e humilhações. Primeiro levaram todos os que tinham qualquer roupa preta, e todos os de mochila.

Já nesse momento, “escolhiam” alguns que não tinham máscara ou mochila, nem estavam de preto, mas eram pretos; enfim, levaram quase todos os negros.

Quando bem mais da metade já havia sido retirada dali, um policial com equipamento do choque começa a caminhar entre os restantes: “ — Cadê os black blocs? E agora, ninguém aqui é black bloc?”.

Olha para o rosto de cada um: “– Esses são movimento social, pra lá! Vocês de vermelho, pra lá! Você de amarelo, chorando, senta ali também. E esse aqui, tropa, tava agitando? Tava? Pra lá também”.

Enfim, os ônibus estavam completamente lotados de manifestantes detidos, e fui liberado com outros — nem de preto, nem pretos –, que sobraram.

Além de mim, outro diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP foi detido, e levado para a delegacia, assim como um professor da USP, e vários estudantes.

Sou trabalhador da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e nós do SINTUSP levávamos uma faixa: “Da Copa eu abro mão! Pelo fim do vestibular! Não ao corte de gastos na USP e em toda a educação!”.

O estado quer aparecer como “amigo” dos manifestantes pacíficos contra os “vândalos”.

Fica claro que se apoiaram no discurso que criminaliza os black blocs para criminalizar toda a manifestação, e impedir que ela seguisse – mais uma vez, de forma completamente pacífica –, numa operação que, segundo a própria polícia, tinha 2300 policiais para 1000 manifestantes. Foram 260 presos, nenhuma prova ou indício contra nem um único sequer.

Nem com boa vontade se pode acreditar que se trate de “desproporções” ou “excessos”: essa ação, violando ilegalmente o direito de livre manifestação nesse caso, teve o objetivo consciente de coibir, pelo medo, a intenção de exercê-lo em qualquer outro caso.

É mais um sinal claro de que não pode seguir a repressão policial, os inquéritos conduzidos contra centenas de pessoas por irem a manifestações ou usarem preto, enquanto nenhum policial é punido por todos os manifestantes feridos, ou jornalistas cegos no últimos meses – muito menos pelo milhares de “Amarildos” pelo país. É preciso pôr fim a toda a perseguição politica, seja aos Black Blocs, seja a quaisquer manifestantes.

E os trabalhadores e jovens não devem se intimidar com esse “cerco”, nem com o “cerco” ideológico que tem sido feito contra todas as manifestações, pois estes atos são também a voz de uma maioria da população que está cansada de morrer nas filas dos hospitais, de não ter educação gratuita e de qualidade, de pagar caro pra ser transportado como sardinha.

Uma maioria da população que não concorda com Ronaldo quando ele diz que “com hospitais não se faz uma Copa”, e que rechaça os gastos exorbitantes com a Copa no país enquanto os serviços públicos estão nessa situação. E essa voz, não poderão calar.

Leia também:

Professor Pascal: No ônibus dos presos, “ameaças, terror psicológico”


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Comentários

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Alexandre

A brutal repressão policial às manifestações é um crime e deve ser combatido. Mas gostaria de saber por quê, em ano eleitoral, a nossa ‘esquerda’ está fazendo o papel de idiota útil da direita. Esse papo de não vai ter Copa é a senha para tirar de seus buracos escuros todos os direitistas sem voto, que não têm como vencer as eleições nas urnas.

O governo de centro-esquerda que comanda o Brasil tem muito (muito mesmo) o que avançar, pois é conivente e covarde diante dos verdadeiros donos do poder, mas duvido que o avanço para o país seja a volta dos privatistas ou um salvador da pátria de toga – que é o que as ‘massas na rua’ aparentemente buscam conseguir. A falta de visão de nossa esquerda mais aguerrida é exasperadora…

jorges

Quando a moçada começou a forçar a barra no peito e na raça contra o um anunciado aumento de passagens de ônibus em Porto Alegre eu vibrei, pois parecia que uma nova geração aguerrida, politizada. Não duvido que o cerne da maioria das manifestações tem esse viés guerreiro, mas lhes falta percepção do momento político. Penso que hoje são vários os movimentos e aqueles que miram a Copa pra acertar na sucessão presidencial se tornaram a vanguarda. E se aceitam a participação de subgrupos mascarados contratados (os mesmos que balançam bandeiras e fixam cartazes durante as eleições) para provocar anarquia e até convivem bem com eles, os atos públicos passam atestado de inocência, passividade ou até de parceria com eles. Não duvido que essa ação da PM em SP citada no artigo seja deliberada para provocar este tipo de reação, acirrar os ânimos e mirarem juntos o mesmo alvo: o governo Dilma. Tudo isso manipulado pela grande mídia e os empresários.

lulipe

O autor sugere o quê para conter os baderneiros, flores e chocolates ou um cafuné???

    Leo V

    Você está falando do que?

    que baderneiros?

    Ninguém que foi preso, humilhado e espancado infringiu qualquer lei?

    A impressão que tenho é que os comentaristas do blog do Reinaldo Aevedo pularam pra cá. Um verdadeiro enxame de John Bastos.

    Alexandre

    Sabe o que é pior? Essas manifestações anti-Copa da nossa esquerda são justamente o que os leitores de Reinaldo Azevedo e companhia querem para derrubar a centro-esquerda do poder. Vocês todos podem dar as mãos e rogar aos céus pela derrubada da Dilma e seu governo vermelho. Parabéns, esquerda útil (à direita).

abolicionista

Alguém realmente acredita que os Black Blocs tem capacidade de dar um golpe de estado? Se houver um golpe, certamente ele não será coordenado pelos jovens que compõem os Blocos negros, seja qual for a orientação política de seus eventuais integrantes, sejamos sinceros. Um golpe só poderia ser orquestrado, no momento, por uma união da mídia e do judiciário. Ambos os setores estão caçando os manifestantes: a mídia os trata como vândalos e a lei, como terroristas. Se o PT não tem mais legitimidade para sair às ruas, isso não é culpa dos Blocos Negros, sinto muito. Isso é culpa do aparelhamento do partido, que se tornou um cabide de canalhas oportunistas como Rui ava de rapina e companhia.

    Leo V

    Vc tocou num ponto interessante.

    Todo essa sanha contra esse fantasma chamado “black blocs”, tanto pela direita quanto pela esquerda eleitoral, é um caso para análise em si mesmo. Como um punhado de moleques que quebram vidraça e tentam encarar a polícia pode deixar com tanto medo essa gente? Como isso pode ser visto como ameaça de Estado???
    Será a sociedade brasileira tão conservadora assim? Será a ordem estabelecida tão frágil e capaz de cair com um sopro (com umas vidraças quebradas)?

    Ou será que os “black blocs” são um péssimo exemplo de “indisciplina” e autonomia para as camadas mais sofridas da polução, que aguentam uma opressão e violência cotidianas?
    O medo entorno dos black blocs talvez seja o medo de ver essa panela de pressão chamada brasil estourar… O mascarado é qualquer um, qualquer pessoa. Qualquer um pode se revolta e encarar o Caveirão. Péssimo exemplo esse, que os senhores da ordem não podem admitir, pois sabem que sua ordem é estabelecida cotidianamente sob a opressão de milhões, e que basta se erguerem um pouco que mandam essa ordem pelos ares.

david

# O não que significa sim e o Não que significa não #
– Não ao aumento de $0,20 é um enorme SIM. Significa que os cidadãos merecem SIM ter transporte para exercer sua cidadania, pois para ser cidadão é necessário estar íntegro, ou seja, não ser extorquido no transporte, ter escolaridade e segurança são alguns dos pontos necessários para a cidadania.
– Não à copa é NÃO mesmo. É não a uma ação (de média importância) de duas presidências da república eleitas.
– Levantaram uma bandeira errada este ano, as manifestações históricas de 2013 estão sendo rebaixadas para baixo de disputas partidárias ao invés de questionar a estrutura de nossa dita-democracia. (segundo o artigo publicado na boitempo citado abaixo existe uma vanguarda que foi cercada na manifestação – isto é diferente do que se viu no ano passado com o movimento passe livre e a adesão espontânea seguinte).
– As grandes manifestações só podem existir se se referirem a algo estrutural diretamente exemplos:
“Não a copa, fora TV GLOBO” – é anti PT.
“A Copa é nossa, fora TV GLOBO” – é pró PT.
“FORA TV GLOBO”, “FIM DA PM”, “10% PARA EDUCAÇÃO” – se referem diretamente à estrutura.

Davi Basso

Me parece que esta onda de repressão conta com o favor de alguns cidadãos. Ao pautar o ato de extravaso do cidadão como violência, o interesse dominante inflamou nossa desunião. Há raríssimos espaços para o cidadão expressar sua vontade. Quando a sociedade abre um espaço o interesse dominante a taxa de violenta e pauta toda a discussão como um peso nas costas dos que procuram melhorar a sociedade. É uma inversão de discursos. O estado e seus parasitas, por sí só, como herança da violência invertem o papel e atribui a violência ao cidadão. Nós estamos comprando estes discursos e nos dividindo. Nada mais propício aos grandes beneficiários do estado/capital. Há violência black bloc, há violência nas manifestações, há violência no movimento por moradia e terra, há violência em todo movimento em prol de um pais mais igualitário. Ela trabalha duplamente para o estado/capital. Uma para desincentivar qualquer ato de discordância do regime estabelecido. A segunda para esconder a própria violência utilizada para manutenção desta “ordem” de poucos beneficiários.

Leo V

Mais um video do dia 22 de fevereiro em São Paulo.

Mais um video que mostra em parte como os poderes constituídos tentam suprimir uma geração fisicamente e moralmente.
Não, não é um video sobre agentes públicos prendendo terroristas. É um video sobre terror de Estado sobre a juventude trabalhadora.

Um video sobre democracia.

https://www.youtube.com/watch?v=Fr08flZC25g#t=18

Marcio Ramos Terrorista

… normal, ja participei de muitas manifestações, nada mudou… a PM a mando de politicos faz a limpa… a midia frouxa puxa o saco… e o PT naõ tem nada com isso?

    Francisco

    Se o PT intervir nos estados (em particular no estado de São Paulo…) os gringos baixam aqui, com direito a aval do STF, discurso indignado de Álvaro Dias e William Bonner de sobrancelha levantada.

    O PT pode contar contigo na rua pela democracia e manutenção do último pleito? Francamente, não. Aliás, se Alckmin é o cão chupando manga, porque o povo de São Paulo não dá uma tunda eleitoral no PSDB?

    Se o povo “gostcha”, fazer o que? Impor liberdade? O que se pode fazer é trabalho político. Quem faz trabalho político hoje no Brasil?

    Se todo o “mexe-mexe” dos movimentos atuais fosse por liberdade de expressão, ajudava que era uma beleza. “Queremos falar, sem a Globo filtrar!”. Isso é luta produtiva e, convenhamos, honesta. “O SUS tá ruim porque constrói estádio!”. Tá variando?

    Ajudaria, porque “constrangeria” o governo petista a “responder ás ruas” e regular essa desgraça dessa Lei de Mídia: ovo de todas as serpentes da América Latina. Até Alvaro Dias ia ter que fingir que era a favor da liberdade de expressão.

    Tem que ter foco e bater num ponto da estrutura de cada vez. Dispersão, descoordenação, infiltração. Uma zona!

    Ganha quem? A “Lei e a ordem”. E você pode reclamar aonde? Nesse bloguinho aqui…

Fabio Passos

2300 policiais atacaram uma manifestação, bateram e prenderam aleatoriamente .
Os manifestantes estão corretos. Terrorista é a PM.

Agora… a estúpida destruição de bens públicos utilizados pela população pobre também é injustificável.
Os manifestantes, fossem revolucionários de verdade, deveríam atacar as corporações capitalistas.

Francisco

Sempre que passa na TV alguma manifestação na Europa e os policiais julgam que o negócio pode descambar para depredação, os policiais agem como essa “tropa do braço (ou ninja)”. Ato perfeitamnete legal.

Quem sai na chuva, sabe que pode se molhar, certo?

Joguei muita pedra em ônibus na Bahia de ACM, mas segurava o meu “tchan”.

Sobre o “de menor”… O garoto que bate carteira também é protegido pela ECA, mas está fazendo algo que, a critério da autoridade policial presente, é ilegal no ordenamento juridico. Detêm um, detem o outro. Na primeira oportunidade, entrega, um ou outro, à autoridade policial compativel com a faixa etária.

Qual o problema? Repressão “padrão FIFA”. Coisa de Europa, de primeiro mundo.

Convêm também evitar que algum manifestante fique gritando “Quebra!” no meio da passeata pacifica. Pode ser mal interpretado. Mas para que isso seja acertado, a passeata tem que ser precedida por reuniões, debates e negociações internas ao movimento: se é para quebrar, é para quebrar se é pacifica que seja pacifica. Passeata “libertária” tem seus riscos…

Anarquista adora ver o mar pegar fogo e sacar da frigideira. Fazer o quê?

PS. Pessoalmente, acredito que o estramento quanto á ação da tal “tropa ninja” é maior por dua razões: 1) atuou com eficiencia e “cortou o barato” do quebra-quebra e; 2) prendeu branco.

Branco preso é uma coisa que, no Brasil, “revolta”!

    Leo V

    Perfeitamente legal?

    Critério de legalidade é outra polícia ter feito?
    Na alemanha é proibido, e comendantes foram punidos.

    Para nao ficar exaustivo, nem sequer o próprio Manual de Conduta da PM permite esse tipo de ação. A policia nfringe seu próprio código de conduta:

    “No entanto, o próprio Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar condena a prática. Não é preciso ler o manual inteiro, logo na introdução, o item 3.2.1 diz exatamente o seguinte:

    “A multidão não deve ser pressionada contra obstáculos físicos ou outra tropa, pois ocorrerá um confinamento de consequências violentas e indesejáveis.””

    O que foi feito, o kletting, foi exatamente isso, como registram vários videos do momento. Muita gente saiu machucada apenas por conta da ação, que fez gente ser pisoteada e sufocada por falta de espaço.

    Eu realmente me impressiono com gente que se supõe de esquerda defender repressão, e ilegal, contra manifestação por direitos pra população!

    Acho que merece um verdadeiro estudo esse fenômeno que está vindo à tona. Como o conservadorismo da classe média atravessa cores partidárias.

    Francisco

    O velho Prestes falou uma coisa, uma vez que me deixou bolado até o dia em que o PT ganhou aqui no Brasil. Disse ele: “O Estado que não se defende, não é Estado”.

    Vou resumir a ópera: e se fosse uma passeata de fascistas? Tu ia ficar olhando Manual enquanto adolescentes destroem o trabalho político de duas três gerações?

    Dilma ficou folheando Manual e as labaredas iam subindo no Palácio do Itamaraty (você lembra…). Naquela noite, em Brasília, poderíamos ter visto (pela TV…) um retrocesso de trinta anos ou quarenta anos, o desperdício da vida e dos sacrifícios de milhares de militantes e sindicalistas, tudo voar pelos ares porque… porque mesmo?

    Qual era mesmo a bandeira naquele dia? Naquela noite… Alguém REALMENTE lembra? Qual a infantilidade que seria escrita nos livros de História para justificar o colapso de uma democracia de 200 milhões de eleitores?

    Quanto você acha que precisa balançar para cair? As Leis (e Manuais) que defendem Alckmin são as mesmas que podem ou não ser usadas para defender a nossa democracia. Pense nisso!

    Espero firmemente que quando os bárbaros subirem a rampa do Itamaraty (ou Alvorada) outra vez, Dilma lembre da frase de Prestes: “O Poder que não se defende, não é Poder!”.

    Por fim, faça uma conta: o que vocês já ganharam que ainda não tinham?

    Leo V

    “Se fosse uma passeata de fascistas”.

    Belo argumento para suprimir os direitos civis.

    Não eram fascistas mas poderiam ser. Atentado ao direito, à lógica.

    O sujeito merece ser preso, reprimido, ilegalmente, porque ele poderia ser quem ele não é. Durma com isso.

Marcio Leandro

Difícil admitir, mas finalmente a polícia fez o que deveria ter feito desde o início.
TODAS as manifestações desde o ano passado desandaram para a depredação, saques e quebra-quebra, tumultuando o direito de ir e vir de toda a cidade.

    Leo V

    As para diminuir preço da passagem de onibus eram pelo direito de ir e vir.

    Ou só quem pode pagar tem direito de ir e vir?

    Quem vai às ruas sabe que 90% das vezes, só há conflito e coisas são quebradas após a polícia atacar.

    Mas esse é o poder dos meios de comunicação, alterar a ordem dos fatores.

    abolicionista

    Traduzindo:
    1. A PM estava correta ao arrancar o olho de um repórter, quem manda filmar onde não é chamado?
    2. A PM estava correta ao espancar mulheres, mulher tem é que ficar no tanque.
    3. A PM estava correta ao forjar flagrantes, quem está nas ruas, bom sujeito não é.
    4. A PM estava correta em espancar manifestantes, é apenas uma ação preventiva.

    Quem tiver saco, continue a lista, basta começar com “A PM estava correta”…

    5., 6., 1000…

Leo V

Lincoln Secco sempre certeiro:

http://blogdaboitempo.com.br/2014/02/24/terrorismo-oficial/

    FrancoAtirador

    .
    .
    O artigo “Sobre Sheherazades, Batmans e demônios”,

    de Carlos Eduardo Rebuá*, também no Blog da Boitempo,

    foi um dos melhores que li sobre o tema, até agora:

    Nas últimas semanas dois episódios ocorridos no Rio de Janeiro não saem dos noticiários, dos papos de botequim, das redes sociais, dos jornais de 0,70 centavos:
    o adolescente negro assaltante que foi “justiçado” por jovens de classe média no Flamengo, que apanhou e foi algemado nu por uma tranca de bicicleta junto a um poste;
    e a morte do cinegrafista da Rede Bandeirantes de televisão por um rojão lançado por dois jovens “Black blocs”, na manifestação contra o reajuste das passagens de ônibus.

    Trata-se de dois fatos que não guardam semelhança entre si, a não ser pela “odisséica” cobertura midiática, em seu papel costumeiro de juiz, júri e tribunal, conjugados num mesmo corpo institucional.

    Se em relação ao primeiro episódio vimos distintos setores sociais defenderem o “justiçamento” contra a bandidagem e clamarem pelo exercício da violência por conta do Estado, que nos “desprotege”, em se tratando do segundo caso o que estamos presenciando é a condenação sumária dos jovens envolvidos no ato, antes mesmo de serem apurados os fatos.

    Cometeram um assassinato e responderão por isso, mas antes mesmo da “fala do especialista” da vídeo-esfera (SEMERARO, 2006, p. 142) analisar as imagens, já estavam sentenciados.

    Nada de novo no front midiático tupiniquim, que numa primeira mirada, encontrou seus Nardoni e Richthofen da vez e garantiu pauta para os próximos dez dias.

    Todavia, um segundo olhar sobre o ocorrido mostra que a prisão de Fabio Raposo e Caio Silva de Souza não é apenas mais um julgamento espetacular dos mass media, na acepção debordiana, mas a “revanche” que tanto queria o establishment burguês, “alvejado” pela opinião pública com suas próprias balas de borracha, lançadas à exaustão pela polícia militar em Pinheirinho ou no Junho Rebelde.

    O caso do “pelourinho do Flamengo”, onde um negro pobre “pagou” por seu crime ao velho estilo Batman ­(o herói aristocrata que não mata, mas pune os infratores e redime aquela sociedade corrupta e desigual) em Gotham City, teve seu ápice midiático no comentário autoral de Rachel Sheherazade (SBT Brasil, 04/02/2014), apresentadora do SBT Brasil, que destilou o mais raivoso ódio de classe (assim como fez em relação aos rolezinhos, organizados por “arruaceiros”), ao estilo TFP (Tradição, Família e Propriedade), contra o “marginalzinho de ficha mais suja que pau de galinheiro” e em defesa dos cidadãos “de bem”, lançando a campanha “Adote um bandido” para os militantes de direitos humanos e a campanha “Legítima defesa coletiva” para as “vítimas de bem” da indefesa sociedade civil.

    O vídeo já tem quase um milhão de visualizações do YouTube (entre entusiastas e críticos), mas talvez seu “direito de resposta”, no mesmo SBT Jornal de dois dias depois (06/02), exponha de forma mais crua o conservadorismo atroz de nossa sociedade, quando a jornalista – apresentada por seu colega de programa como uma mulher cristã e mãe – diz que é uma ferrenha crítica da violência, que está ali todo dia “batendo na violência”, defendendo as “pessoas de bem” que estão “abandonadas à própria sorte” e “desesperadas”.

    Quem ouve as palavras de Sheherazade­ – que em Mil e uma noites sobrevive após ludibriar o sultão por noites seguidas – sem saber do que se trata pode achar que se refere a algum jovem da periferia de uma grande cidade, provavelmente negro, provavelmente sem perspectivas.
    Só que não!
    O programa termina dizendo que o que deve prevalecer sempre é a liberdade de expressão.

    É o cinismo como forma de ideologia na manutenção da lei dos “de cima”.

    O direito de resposta na verdade é o endosso do agressor, que não apenas reitera o que disse como zomba daqueles que o criticaram.

    “O modo mais destacado dessa ‘mentira sob o disfarce da verdade’, nos dias atuais, é o cinismo:
    com desconcertante franqueza, ‘admite-se tudo’”, mas esse pleno reconhecimento de nossos interesses não nos impede, de maneira alguma, de persegui-los;
    a fórmula do cinismo já não é o clássico enunciado marxista do ‘eles não sabem, mas é o que estão fazendo’;
    agora, é ‘eles sabem muito bem o que estão fazendo, mas fazem assim mesmo’.” (ŽIŽEK, 1996, p. 13).

    Por sua vez, o episódio da morte do cinegrafista da Bandeirantes representa mais uma cruzada midiática contra setores radicalizados da sociedade civil, que desde junho do ano passado trouxeram para a cena política pautas sociais que, em outros momentos, passavam ao largo dos noticiários televisivos, com destaque para o preço das passagens dos transportes que deveriam ser públicos.

    A morte de Santiago de Andrade foi a revanche esperada e ensaiada há meses pelo mainstream da mídia brasileira, ávida por “desmascarar” os Black Blocs, tratando-os como uma organização homogênea, institucionalizada, porém controlada de fora.

    Após o rojão ferir fatalmente o funcionário da Band, foi rápida a construção de um consenso que costurava entre si:
    a suposta associação dos envolvidos com o deputado estadual do PSOL-RJ, Marcelo Freixo, opositor ferrenho do governador Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes e da grande mídia;
    a “ficha suja” de Fabio e Caio, com passagens pela polícia e participação em outras manifestações (pasteurizando de forma magistral todas as pessoas que ousam se manifestar de forma mais incisiva, como por exemplo aquelas que ocupam prédios públicos ou enfrentam o cerco policial);
    a defesa de que a nação brasileira e os brasileiros são pacíficos e que a violência de alguns é esporádica, injustificável e intolerável, forjando o “mito da não-violência” (CHAUÍ, 2006, p. 125), que apaga a “realidade das divisões sociais e da luta de classes, reduzindo sua emergência à situação de meros momentos enlouquecidos da sociedade” (Ibidem, p. 134).

    O nó final dessa costura ideológica é a recuperação da chamada ‘Teoria dos Dois Demônios’, adaptada ao contexto atual.
    Muito conhecida de sociedades latino-americanas que passaram por ditaduras civil-militares no século passado, notadamente a Argentina, tal concepção representa um “malabarismo retórico” (Vladimir Safatle, “Dois demônios”) de quem crê que esquerda e direita cometeram “excessos” e que, por isso, deixar as coisas no passado seria o melhor a ser feito.

    De um lado, um demônio popular, terrorista de esquerda
    que despertou outro demônio, militar, terrorista de Estado.

    Em meio a isso tudo estaria a atemorizada sociedade civil, inocente e ingênua, que assiste impassível ao drama da violência (IRAMAIN, 2009-2010, p. 18).

    Num contexto atual, como de praxe, a mídia encena o acontecimento, forjando e manipulando simulacros do real (CHAUÍ, 2006, p. 18), onde o fato cede lugar à sua versão, sintonizada com os interesses dos grupos dominantes do país.

    Os Dois Demônios retornam com vigor, sob nova roupagem (não deixando coisas no passado), com os manifestantes – que “precipitam as coisas” – e o Estado, agora “democrático”, nos dois polos opostos, e a frágil e não-violenta sociedade civil no meio do tiroteio.

    Apaga-se dos noticiários a questão da violência como recurso sempre à mão do chamado Estado de Direito – Estado de Exceção para os subalternos e paradigma de governo dominante na política contemporânea (AGAMBEN, 2004, p. 13) –,
    que salvaguarda a propriedade privada burguesa e mantém a desigualdade como pressuposto.

    Na atual cena política brasileira Sheherazades, Batmans e Demônios estão à solta, em meio à planejada resposta-revanche dos grandes meios de comunicação à Junho de 2013, colocada na rua no momento oportuno, tendo como alvos personagens reais e lutas reais, que na “mídia-esfera” aparecem como simulacros, mas no mundo concreto são ameaças reais à hegemonia que a mídia representa.

    REFERÊNCIAS

    AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.
    (http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/titles/view/estado-de-excecao)

    ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: Inferno. São Paulo: Editora 34, 2008.

    CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.

    DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

    IRAMAIN, Demetrio. Una historia de las Madres de Plaza de Mayo (suplemento coleccionable). Revista Sueños Compartidos. Fundación Madres de Plaza de Mayo. 2009-2010.

    ŽIŽEK, Slavoj. O Espectro da Ideologia. In.:ŽIŽEK, Slavoj. Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

    *Carlos Eduardo Rebuá é Historiador, doutorando em Educação pela UFF e professor da UNIGRANRIO.
    Dele, leia também, ‘Hereges marxistas: similaridades e permanências’, sobre Walter Benjamin e Antonio Gramsci
    (http://blogdaboitempo.com.br/2013/09/16/hereges-marxistas-similaridades-e-permanencias).

    (http://blogdaboitempo.com.br/2014/02/20/sobre-sheherazades-batmans-e-demonios)
    .
    .

    Giba

    Toda a argumentação do analista se apóia na idéia de que a mídia teria encontrado em dois casos ( o jovem amarrado ao poste e a morte do cinegrafista ) seu mote para uma suposte revanche contra o movimento de protesto de junho. Mas esquece-se o articulista que foi exatamente a Midia ( vide Datenas e Resendes da época ) quem inflou aqueles protestos. Revanche do quê se aquelas jornadas de junho cumpriram o papel de trazer os resultados que a mídia tanto desejava, quais sejam: rebaixar os índices de aprovação de Dilma e do governo Federal. A mídia não quer nenhuma revanche, ela quer ver novos protestos massivos, na expectativa de eleger um de seus candidatos ( Aécio, Marina, Campos ou Barbosa). Nisto, a repressão policial aos protestos seja exatamente para anabolizar os protestos atuais, via sentimentos de indignação da juventude manipulável que vai para a passeata na base do “oba-oba”.

Leo V

Para quem quer entender como estão sendo organizadas as manifestações “Sem Direitos Não Vai Ter Copa” em São Paulo, e saber que Educação foi o tema escolhido de destaque da recente manifestação realizada dia 22:

http://educacao.uol.com.br/colunas/daniel-cara/2014/02/25/nao-foi-contra-a-copa-foi-pela-educacao.htm

    david

    Ah tá, para “saber que Educação foi o tema escolhido de destaque da recente manifestação realizada dia 22” e não saber que a manifestação contra a copa (e politicamente contra duas presidencias eleitas)tem que acessar um site… Tá bem explicado agora.
    Obrigado pelo esclarecimento.
    NÃO VAI TER COPA, não me representa.
    Agora se realmente for por uma educação mais íntegra, policiamento íntegro, mídia íntegra, etc. – tudo bem – estamos juntos.

David Preto

1-Não vai ter copa – não me representa.
2-NÃO VAI TER COPA é partidário (vermelhinhos contra PT).
3-O excesso da PM do governador de SP serve para justamente provocar mais desgaste entre as esquerdas e o PT.
4-Ano de 2014: eleições e 50 anos da “revolução” de 1°abril de 1964.
5-Copa menos de 5% dos investimentos do PAC2 e segundo a presidenta vai dar retorno, já pagou agora é só ver o resultado.
6-Lei antiterror: aí sim, teríamos que estar discutindo até onde e em quais circunstâncias o Estado deve usar ou não pode usar a força. Defender sem estrangular a sociedade civil.

    Leo V

    Qualquer manifestação que não seja controlada pelo PT de alguma forma é lida como sendo contra o PT. Lógica absurda.

    Francisco

    Absurda é essa lógica de não ter Copa para ter SUS ou educação. A educação e a saúde nunca, nunca receberam tanta dotação orçamentária quanto atualmente, nem vou citar a grana do pré-sal, me refiro à grana corrente.

    Pela lógica doida disso ai, devemos criar o movimento “Não vai ter Carnaval”, o movimento “Não vai ter Natal”, o “Não vai ter Brasileirão” ou pior, o “Não vai ter Fórmula Um”…

    Tudo para sobrar dinheiro para o SUS e a educação…

    Que tal criarmos o “Não vai ter Paraolimpiadas”?

    2014: ano eleitoral.

Tânia Garcia

Repressão policial contra movimentos sociais (sejam quais forem e onde forem) é violência, é retrocesso, é obscurantismo.
Mas os depoimentos do sindicalista e o do professor – ambos da USP – não deixam de ser intrigantes.
Pelo visto, eles são defensores de manifestações pacíficas e, provavelmente, devem ter repudiado o professor Chico Miraglia e os alunos da FFLCH pela ocupação da reitoria, na época em que o Grandino jogava os recursos da USP pela janela.
Daí a perplexidade: afinal o alvo da hastag #naovaitercopa é o governo federal, “não temos nada contra o governo tucano-paulista”…

    Leo V

    eu acho que “nãovaitercopa” não é contra nenhum governo em específico, mas contra o capital, contra os interesses do capital sobre as pessoas. O governos são meros mediadores desse interesse, sejam de que esfera forem.

henrique de oliveira

Não sabia que democracia é um bando de terrorista sair quebrando tudo , que os caras do MPL lutam por um transporte melhor e destrõem pontos de ônibus tacam fogo nos coletivos quebram estações de trens e matrô.
O direito a manifestação ate os militares da ditadura deixavam o povo se manifestar desde que não haja atos de terrorismo.
Que os black bostas e seus assemelhados ( PIG , Psol , Pstu , Psdb ) são um bando de covardes não resta duvidas , agora achar que a policia esta errada em descer o cassete nessa turma ja é demais paciência tem limites e a midia tem que entender que não pode usar esses idiotas para chegar ao poder.
Essa turma ja sabe que não ganham nas urnas então vamos transformar isso aqui num Iraque?

    Leo V

    Vc viu o video?

    O que vc acha dos sem-terra quando destroem os laranjais da Cutrale? Ou as mulheres da Via Campesina quando destroem laboratório da Aracruz?

    Só um conservador, diante da violência cotidiana dos interesses do capital contra as pessoas (para nem entrar na violência da polícia mesmo), pode se horrorizar com coisas quebradas.

    Eu coloco as pessoas diante das coisas.

    Essa moral é tipica de quem quer manter a ordem das coisas, intacta.

    Francisco

    Comparar o MST, sindicatos, associações de moradores com isso ai é sinal de total descolamento da realidade…

    Leo V

    Com “isso” o que?

    Eu dei alguns fatos reais que estão na memória das pessoas: o laranjal da Cutrale e o laboratório da Aracruz. Todo apoio aos sem-terra, nunca reprovei as ações, pelo contrário. Essas são só as ações que as pessoas recordam mais facilmente, mas se procurar tem muitas outras que não foram “pacíficas” nem “ordeiras” no sentido dado pelos conservadores.

    Que sejam coerentes. O PIG pelo menos é coerente nisso, pra ele todos são igualmente “vândalos”.

    Jô Freitas

    É exatamente isso que querem, transformar o Brasil num Iraque e depois por a culpa no PT.

FrancoAtirador

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Cerco da Polícia Militar aos manifestantes em São Paulo

Foto: Mídia NINJA

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Cerco-a-manifestantes-e-agressoes-a-jornalistas-marcam-protesto-contra-a-Copa-em-Sao-Paulo/4/30335)
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Francisco Andrade

Post que é pura hipocrisia,… o discurso é pacifista, mas, o que se vê nas ruas é vandalismo e violência. Experimente fazer esse discurso para o pobre coitado que teve o fusca incendiado com a família dentro, … vai fazer esse discurso para a família do cinegrafista morto só porque um idiota queria ganhar R$ 150,00 ( quem pagou ?… é a pergunta que não quer calar), …vá fazer esse discurso pro lojista que paga um monte de impostos e teve de ver sua loja vandalizada “democraticamente”,…. Depois que fizer tudo isso,…. VÁ PARA O INFERNO !

    Fernando

    Pra você um mulato morador da baixada fluminense e com subemprego não passa de ´´um idiota querendo ganhar 150 reais“.

    Quer dar lição de morla em quem tucano?

    Leo V

    Vc esteve nas ruas para dizer “o que se vê nas ruas”?

    Ou vc quer dizer “o que se vê nas TVs”?

    Você por acaso viu o video postado no início da matéria?

    Vc é um democrata? O que é democracia para vc? O que é direito de manifestação para vc?
    Aquelas pessoas no video estão infringindo qual lei para serem atacados daquela forma?

    abolicionista

    Você está coberto de razão, Leo. De repente parece que democracia passou a significar um modo de administração da vida política que não comporta nenhum tipo de conflito. É uma espécie de embalagem democrática. Quer dizer, participar de uma democracia deveria ser efetivamente tomar parte nas decisões de poder, né? Está na etimologia da palavra. Além disso, o conflito, principalmente o de classe, sempre esteve presente em todas as democracias historicamente constituídas. Temos os exemplos de toda sorte, o do movimento operário que parou São Paulo é um dos meus favoritos, porque muito pouco lembrado. Mas temos os movimentos negros nos EUA, por exemplo, que precisaram agir contra uma lei injusta. Enfim, há inúmeros exemplos. Contudo, o fato é que, de uma hora para outra, esse tipo conflito não é mais admitido. As democracias contemporâneas, sem decretar o Estado de Exceção, criaram leis de exceção que, de fato e de direito, acabam com o conteúdo da democracia. Basta citar o “patriotic act” nos EUA e a lei anti-terror no Brasil. Democracia não é mais participar das decisões coletivas, é apertar um botão. No resto do tempo, o cidadão não deve pensar, deve se divertir. Como não há mais democracia direta, qualquer ação de contestação é uma ameaça à ordem, ainda que seja uma ordem assassina, como no Brasil. Cabe ao cidadão de bem aceitá-la. Quem precisa de protestos quando temos shows de democracia? O conflito, contudo, permanece latente. As instâncias representativas, contudo, que deveriam canalizar a voz das ruas, preferem tapar a boca, os olhos e os ouvidos. Daí o caráter horizontal das manifestações. “Eis a desordem”, clamam os jornalistas, os políticos de esquerda e de direita, os secretários, os empresários, os eclesiásticos, os juristas, as famílias, os locutores esportivos, “é preciso haver ordem!”. Ainda que recorrendo à desordem: aos vigilantes da ordem, são permitidos pequenos excessos. A questão é que esse discurso se torna cada vez mais frágil, pois é fácil perceber que nunca houve ordem alguma, senão a institucionalização da desordem. Por isso não calarão as ruas, porque essas não cabem mais nas urnas. A violência com que estas responderão à desordem organizada é apenas a força necessária para sacudir os novos grilhões, ainda muito longe de serem quebrados.

    abolicionista

    PS: Eu estava me referindo à Greve Geral de 1917.

    Leo V

    perfeito abolicionista.

    assino embaixo.

francisco.latorre

polícia tucana e blackbosts.

um só coração.

..

Hell Back

E e lua-de-mel democrática terminou. Foi bom enquanto durou. Preparemo-nos para tempos mais duros.

abolicionista

É a democracia de exceção. Tem-se direito ao voto, mas nenhum direito civil está garantido. É o fim da democracia direta. E não está acontecendo só no Brasil, mas no mundo todo. Acho que, nos próximos anos, veremos surgir um novo tipo de movimento político capaz de fazer aquilo que a esquerda, após a Guerra Fria abriu mão de fazer: uma crítica radical do Estado Burguês e de suas instituições. Como acontece com todos os dogmas, o da democracia também parece estar encontrando seu limite histórico.

    cid carneiro

    Puuuuxa!! Que profundo…

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