Weissheimer: A lógica por trás da ditabranda

Tempo de leitura: 5 min

Política| 31/03/2011 | Copyleft

O que a falácia da ditabranda revela

A escolha do termo “ditabranda” pela Folha de S. Paulo para caracterizar a ditadura militar brasileira não foi um descuido linguístico. Trata-se de uma profissão de fé ideológica embalada por uma falácia. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a América Latina. A ditadura brasileira apoiou política e materialmente uma série de outras ditaduras na região, sendo responsável por muitas torturas, mortes e desaparecimentos em outros países. “A gente não matava. Prendia e entregava”, admitiu um general brasileiro.

Marco Aurélio Weissheimer
, na Carta Maior

Em um editorial publicado no dia 17 de fevereiro de 2009, o jornal Folha de S. Paulo utilizou a expressão “ditabranda” para se referir à ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Na opinião do jornal, que apoiou o golpe militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart, a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes similares na América Latina.

Como já se sabe, a Folha não foi original na escolha do termo. Em setembro de 1983, o general Augusto Pinochet, em resposta às críticas dirigidas à ditadura militar chilena, afirmou: “Esta nunca foi uma ditadura, senhores, é uma dictablanda”. Mas o tema central aqui não diz respeito à originalidade. O uso do termo pelo jornal envolve uma falácia nada inocente. Uma falácia que revela muita coisa sobre as causas e consequências do golpe militar de 1964 e sobre o momento vivido pela América Latina.

É importante lembrar em que contexto o termo foi utilizado pela Folha. Intitulado “Limites a Chávez”, o editorial criticava o que considerava ser um “endurecimento do governo de Hugo Chávez na Venezuela”. A escolha da ditadura brasileira para fazer a comparação com o governo de Chávez revela, por um lado, a escassa inteligência do editorialista. Para o ponto que ele queria sustentar, tal comparação não era necessária e muito menos adequada. Tanto é que pouca gente lembra que o editorial era dirigido contra Chávez, mas todo mundo lembra da “ditabranda”.

A falta de inteligência, neste caso, parece andar de mãos dadas com uma falsa consciência culpada que tenta esconder e/ou justificar pecados do passado. Para a Folha, a ditadura brasileira foi uma “ditabranda” porque teria preservado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, o que não estaria ocorrendo na Venezuela. Mas essa falta de inteligência talvez seja apenas uma cortina de fumaça.

O editorial não menciona quais seriam as “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça” da ditadura militar brasileira, mas considera-as mais democráticas que o governo Chávez que, em uma década, realizou 15 eleições no país, incluindo aí um referendo revogatório que poderia ter custado o mandato ao presidente venezuelano. Ao fazer essa comparação e a escolha pela ditadura brasileira, a Folha está apenas atualizando as razões pelas quais apoiou, junto com a imensa maioria da imprensa brasileira, o golpe militar contra o governo constitucional de João Goulart.

Está dizendo, entre outras coisas, que, caso um determinado governo implementar um certo tipo de políticas, justifica-se interromper a democracia e adotar “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”. A escolha do termo “ditabranda”, portanto, não é acidental e tampouco um descuido. Trata-se de uma profissão de fé ideológica.

Há uma cortina de véus que tentam esconder o caráter intencional dessa escolha. Um desses véus apresenta-se sob a forma de uma falácia, a que afirma que a nossa ditadura não teria sido tão violenta quanto outras na América Latina. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se elas não mantivessem relação entre si, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a região.

O golpe militar de 1964 e a ditadura militar brasileira alimentaram política e materialmente uma série de outras ditaduras na América Latina. As democracias chilena e uruguaia caíram em 1973. A argentina em 1976. Os golpes foram se sucedendo na região, com o apoio político e logístico dos EUA e do Brasil. Documentos sobre a Operação Condor fornecem vastas evidências dessa relação.

Recordando. A Operação Condor é o nome dado à ação coordenada dos serviços de inteligência das ditaduras militares na América do Sul, iniciada em 1975, com o objetivo de prender, torturar e matar militantes de esquerda no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

O pretexto era o argumento clássico da Guerra Fria: “deter o avanço do comunismo internacional”. Auxiliados técnica, política e financeiramente por oficiais do Exército dos Estados Unidos, os militares sul-americanos passaram a agir de forma integrada, trocando informações sobre opositores considerados perigosos e executando ações de prisão e/ou extermínio. A operação deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos na Argentina, entre 3 mil e 7 mil no Chile e mais de 200 no Uruguai, além de outros milhares de prisioneiros e torturados em todo o continente.

Na contabilidade macabra de mortos e desaparecidos, o Brasil registrou um número menor de vítimas durante a ditadura militar, comparado com o que aconteceu nos outros países da região. No entanto, documento secretos divulgados recentemente no Paraguai e nos EUA mostraram que os militares brasileiros tiveram participação ativa na organização da repressão em outros países, como, por exemplo, na montagem do serviço secreto chileno, a Dina. Esses documentos mostram que oficiais do hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ministraram cursos de técnicas de interrogatório e tortura para militares chilenos.

Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (30/12/2007), o general Agnaldo Del Nero Augusto admitiu que o Exército brasileiro prendeu militantes montoneros e de outras organizações de esquerda latino-americanas e os entregou aos militares argentinos. “A gente não matava. Prendia e entregava. Não há crime nisso”, justificou na época o general. Humildade dele. Além de prender e entregar, os militares brasileiros também torturavam e treinavam oficiais de outros países a torturar. Em um dos documentos divulgados no Paraguai, um militar brasileiro diz a Pinochet para enviar pessoas para se formarem em repressão no Brasil, em um centro de tortura localizado em Manaus.

Durante a ditadura, o Brasil sustentou política e materialmente governos que torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Esconder essa conexão é fundamental para a Folha afirmar a suposta existência de uma “ditabranda” no Brasil. A ditadura brasileira não teve nada de branda. Ao contrário, ela foi um elemento articulador, política e logisticamente, de outros regimes autoritários alinhados com os EUA durante a guerra fria. O editorial da Folha faz eco às palavras do general Del Nero: “a gente só apoiava e financiava a ditadura; não há crime nisso”.

Não é coincidência, pois, que o mesmo jornal faça oposição ferrenha aos governos latino-americanos que, a partir do início dos anos 2000, levaram o continente para outros rumos. Governos eleitos no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai passam a ser alvos de uma sistemática oposição midiática que, muitas vezes, substitui a própria oposição partidária.

A Folha acha a ditadura branda porque, no fundo, subordina a continuidade e o avanço da democracia a seus interesses particulares e a uma agenda ideológica particular, a saber, a da sacralização do lucro e do mercado privado. Uma grande parcela do empresariado brasileiro achou o mesmo em 64 e apoiou o golpe. Querer diminuir ou relativizar a crueldade e o caráter criminoso do que aconteceu no Brasil naquele período tem um duplo objetivo: esconder e mascarar a responsabilidade pelas escolhas feitas, e lembrar que a lógica que embalou o golpe segue viva na sociedade, com um discurso remodelado, mas pronto entrar em ação, caso a democracia torne-se demasiadamente democrática.

Leia aqui o que Emir Sader escreveu sobre o golpe.

E aqui sobre o general que pretendia defender o golpe.

Aqui, sobre a condenação de agentes que atuaram na Operação Condor… na Argentina.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Gilson Caroni: 1964, não podemos dormir novamente | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Lei aqui artigo de Marco Aurélio Weissheimer sobre a lógica por trás da ditabranda. […]

FrancoAtirador

.
.
Memórias dos anos de chumbo

Por Ana Helena Tavares no Outras Palavras

http://www.outraspalavras.net/2011/03/31/memorias

Igualdade

A "elite" formada graças aos cofres públicos do país, festeja a democracia porque o povo está fora e não tem direitos sociais garantidos que lhes garanta a cidadania. O que é bom para a oligarquia significa o apartaeamento da maioria que são dominados socialmente pela mídia que garante privilégios e distinções a "elite" que adora o Brasil para auferir lucros e gastar "nosso" dinheiro no exterior. A impunidade é o banquete da "elite" malvada e desumana, que separa até hospitais para não ser atendidada junto a pessoas pobres e para demonstrar seu poder econômico, premiado com isenções e e benefícios fiscais e cadeiras cativas no parlamento há 30, 40, 50 anos.Bem que poderiam governar a Libia.

edv

Interesante que a Veja insiste em colocar na nossa agenda coisas como o "terrorismos internacional", dando capa ao "terrorismo no Brasil", como se, fato ou não, esse fosse um grande problema nacional.
Cada vez que perco tempo em "scanners" eletrônicos de aeroportos nacionais para vôos domésticos e tenho que despachar meu multi-canivete suíço, que carrego há décadas em minha bagagem de mão, lembro o quanto temos que nos sujeitar a (e gastar dinheiro com) problemas alheios, que nem criamos nem vivemos.

Sombra

A Sombra. O arquivo da ditadura são os oligarcas que atuaram na ditadura como protagonistas e hoje atuam no regime democrático como garantidores da estabilidade governamental, não dá para entender.
Mudou que hoje pintam bigodes e cabelos e se dizem democratas. Ai meus sais com diz a brilhante doutora Fátima Oliveira.

Arquivo?

Durante a visita ao Chile e em El Salvador autoridades reuniram-se com o presidente Barack Obama e solicitaram a ele que possibilite conhecer a verdadeira participação dos EUA na ditadura civil militar destes paises. No Chile tres ex presidentes reuniram-se com o presidente americano.Em El Salvador no salão de recepção e jantar oferecido ao visiatante, estava afixada na parede um quadro a óleo com a imagem do Monsenhor Romero, assassinado por combater a ditadura e as torturas do regime. O presidente americano em El Salvador ouviu pedidos de abertura de documentos dos EUA para que o país possa reescrever sua história, Obama junto com o presidente salvadorenho foi ao tumulo de Monsenhor Romero na Catedral e lá ouviu mais relatos sobre o heróísmo e combate do religioso e de outros que perderam a vida no período.Chile e El Salvador países terão acesso a informações que serão difundidas para o mundo e que supostamente envolvem os países da América Latina que na ditadura atuaram conjuntamente, portanto os arquivos da ditadura é uma questão global, não é mais regional.Se houve atuação conjunta os documentos irão revelar.

Justiça

O golpe de 1964 foi um golpe civil militar.
Juízes da Argentina cumprem a Constituição Federal e estão ao lado do povo. O Judiciário foi por diversas vezes cobrado pela Presidente da República Cristina Kirchner para que atuassem em nome do país e cumprissem seu papel de órgão independente.Conviver com a impunidade deste período é reiterar torturas e mortes e assistir a violência policial como se ainda estivéssemos na ditadura.O Presidente do STF Cezar Peluso declarou na FAAP que a violência e a corrupção são questãos crônicas nas policias do Brasil.
Se a Folha afirmou que é ditabranda ela que informe qual foi sua participação no período e que o Judiciário julgue se foi branda a sua participação.Se fôsse na Argentina a procuradoria da Republica ou as Mães da Praça de Maio já teriam processado este jornal por esta declaração aviltante.

O_Brasileiro

A maioria das pessoas, principalmente as que têm mais de 30 anos, se c… de medo militares!
Porque esse medo está no inconsciente coletivo. Vide as torturas cometidas cotidianamente pelas polícias militares Brasil afora. É puro reflexo de práticas sistemáticas dos governos militares.
E o número "menor" de vítimas da ditadura imposta pelo golpe militar é apenas um distorcimento estatístico.
Não foram contabilizados os assassinatos cometidos contra pessoas que "não respeitavam" os militares, que contrariavam os interesses até de cabos e sargentos, e que foram rotulados de "criminosos comuns", e não políticos.
E como no Brasil a verdade foi enterrada muito cedo, nunca se saberá o número real de vítimas. Nem com "exumação" da verdade, pois esta, em relação à ditadura militar do Brasil, já apodreceu, e os vermes da mídia golpista ainda comem seus restos!

Luis

Perdoem-me mais um "fora de pauta": a Época deste final de semana está em campanha de captação de recursos. Descobriu um furo furado, requentou noticias sob o mensalão. Faz isso sem que apareçam as impressões diretas da Globo. O portal Globo, nem mesmo repercute. Coube à Folha de São Paulo dizer que o furo furado e o mexido requentado enfim "provaria" o vínculo do "mensalão" com a campanha de Lula. A revista traz alguns tucanos e demistas junto para dar credibilidade. O Josias de Souza tem o cuidade de diferenciar: Valério tem ligações diretas com a campanha Lula, mas operou "sob" governos tucanos.

tanhilllyr

Texto muito bem escrito, parabéns, o final foi ótimo.

Antonio

Quero assistir à Folha (aquela que não dá para ler) – ou é Veja – afundar. Quero ainda comemorar alguns aniversários da afundação. Vou comermorar e aplaudir em pé.
FHC é filhote grande e criado do Golpe. Seu governo tentou ainda dar continuidade ao que determinava o Grande Irmão Ianque, para quem FHC ajoelha e agacha sobremaneira, deixando sua popa completamente desprotegida. Em sua fase do plano diabólico, a estratégia era saquear o País, entregar as empresas aos amigos internacionais e colocar o povo na condição de escravo ou marginalizado. O ogro só não conseguiu levar a coisa mais a fundo porque apareceu um Lula no meio do caminho.

    Luci

    E a Igreja Antonio? Há um livro da professora Maria Victoria Benevides, chama-se "Fé na Luta". Lá esta bem explicada a participação da Igreja, que no primeiro momento apoiou a ditadura, depois principalmente em São Paulo, com atuação firme de Dom Paulo Evaristo Arns e em Recife Dom Hélder Câmara se posicionarm contra o golpe e atuaram firme contra o regime.

ZePovinho

Digite o texto aqui![youtube wtRok__1_I8 http://www.youtube.com/watch?v=wtRok__1_I8 youtube]

ZePovinho

Digite o texto aqui![youtube fWt9R8oCDnQ http://www.youtube.com/watch?v=fWt9R8oCDnQ youtube]

ZePovinho

Digite o texto aqui![youtube W87jUmjUFSI http://www.youtube.com/watch?v=W87jUmjUFSI youtube]

Dois barcos

Se o presidente Lula não tivesse mudado o rumo de sua política e não se deixasse viver cercado de deslumbrados, ele teria concretizado a abertura dos arquivos da ditadura.Mas aqueles que estavm do lado de lá, apoiaram se beneficiaram estão sentadinhos no trono e parece que estão com a chave da história, e são os cinquentões da ditadura, posando de democratas.

Farsa

Só no Brasil se vige uma democracia forte porque é que não se abrem os arquivos da ditadura para sabermos a verdadeira nhistória deste período, tenho certeza que até a história de "grupos de extermínio" nas periferias e matança do povo pobre poderemos desvendar. A Argentina está dando exemplo de maturidade e demoicracia forte. Afinal o período da ditadura já passou ou estamnos na sombra de resquícios? Na Argentina os que fizeram parte da ditadura não estão no govetno, lá os argentinos não permitiram, e o povo sabe quem foi parte.

Rogério Leonardo

O cunho do termo "ditabranda" foi uma das atitudes mais nefastas que tive a oportunidade de presenciar em relação à tentativa de revisão histórica que certos órgãos e pseudo-jornalistas tentam fazer do período negro vivido no Brasil entre 1964 e 1984.

O pior é que os argumentos são tão frágeis que custa a crer que existam pessoas com coragem para defendê-los.

Primeiro, é um absurdo a tentativa de certos integrantes de nossa grande imprensa de relativizar a “dureza” de nosso regime utilizando apenas a aritmética da morte para vomitar a infeliz ideia de que, como o aparato repressivo de nossa ditadura militar torturou e matou apenas um número “X” de presos políticos, e, por exemplo, a ditadura argentina matou um número “Y” de presos políticos, a nossa ditadura foi “tranquila”, um verdadeiro “passeio no parque” para àqueles que contra ela se insurgiram.

Tal pensamento demonstra um sério desvio de caráter e personalidade, pois busca desconstruir o sentimento de indignação e dor provocado pela morte de cada preso político, ao reduzi-lo apenas a um frio dado estatístico, perdido em meio aos vários relatórios macabros produzidos pelo regime de exceção.

A esses sádicos peço que tenham coragem de perguntar aos pais e filhos destas pessoas se eles foram menos traumatizados ou sofreram menos porque, relativamente, a nossa ditadura matou menos do que a ditadura argentina.

Outra falácia bastante difundida diz respeito a uma ardilosa tentativa de equiparação entre todos àqueles que lutaram contra a ditadura militar, como se fossem uma massa uniforme, de ideologia única e compacta que pretendia instalar outra ditadura (comunista) no país. Dizem os facínoras: “Olhe, agradeçam aos militares, se não fosse o regime militar os comunistas iriam implantar uma ditadura comunista no país, e, como vocês sabem, uma ditadura comunista é muito pior do que uma ditadura capitalista.”

Tal assertiva é de uma primariedade que beira o retardamento mental, os focos de luta contra a ditadura eram tão heterogêneos quanto hoje pode-se verificar, por exemplo, nas recentes revoltas nos países do oriente médio. Existiam diversos grupos, cada qual tinha uma motivação, e, como o estudo da história comprova, poucos foram àqueles que tinham em mente uma contra revolução nos moldes da revolução cubana.

A verdade é que, bastava que você um leitor de determinados livros ou defensor, por exemplo, da liberdade de expressão, para que crescesse a possibilidade de sequestro e tortura pelo aparato policial militar. Muitos foram os jornalistas, professores, estudantes torturados pela ditadura militar. A maioria pessoas que jamais chegaram a manusear uma arma, quanto mais cometer algum tipo de violência contra quem quer que fosse.

Além disso, para enterrar de vez esse argumento nefasto, e necessário lembrar que aquele que age contra um Estado repressor e autoritário, age em legítima defesa de suas garantias básicas de existência, age pela liberdade, e, a não ser que pratique violência contra a população civil, não pode ser condenado, é um herói, muito diferente dos assassinos torturadores e seus apoiadores.

Que fique bem claro, ao contrário do que dizem os reacionários, os soldados da ditadura militar que morreram em confronto com os guerrilheiros no Araguaia nunca foram vítimas (aliás, soldado dificilmente é vítima), foram na verdade assassinos. Entre outras coisas, não respeitarem as convenções de guerra e utilizaram de violência contra a população local para conseguir informações. Ademais eram extremamente covardes, pois estavam em número infinitamente superior (cerca de 10 soldados para cada guerrilheiro). Praticaram uma chacina e não uma batalha.

Para finalizar, diferente dos guerrilheiros e outros desaparecidos, estes agentes da repressão tiveram direito, ao menos, a um enterro decente com apresença de seus famíliares, gesto de humanidade negado até hoje a muitas famílias de desaparecidos.

Não se pode colocar na mesma vala os heróis que lutaram contra a ditadura e os covarde que dela se serviram.

pelasmadrugadas

Agora na BBC em 1/04 Ex-militar argentino é condenado à prisão perpétua por centro de torturas http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/04/

Luci

A democracia instalada no país foi um "arranjo" para acobertar fatos estarrecedores que hoje tomamos conhecimento. Qualquer tentativa de mudança às estruturas conservadoras e mantenedoras dos privilégios e distinções da oligarquia a mídia representante dos mesmos vem com o discurso padrão de divisões perigosas, ameaça a ordem vigente, e que a anistia foi geral e irrestrita. A Internet repõe a verdade a memória e a história. O povo pobre continua amargando os métodos da ditadura. Por trás da ditabranda está o terror que ainda persiste contra o povo pobre. Recentemente assisiti um debate num canal de TV o History, um militante politico afirmou: "a semente da ditadura são as empresas que ai estão".
Que este governo possibilite ao Brasil conhecer a verdadeira história deste período.

    Antonio

    É verdade Luci. Paulo Maluf é filhote grande da ditadura. Ele pilhou o Estado Brasileiro e entregou empresas aos amigos estrangeiros. FHC é filhote da ditadura que, auxiliado por seus amigos, saqueou e entregou o Estado Brasileiro aos amigos nacionais e internacionais. As grandes empresas da construção civil surgiram da corrupção e pilhagem do Estado Brasileiro. Todo o caos social vivido hoje é fruto, é oriundo da ditadura militar. A elite brasileira usou da força dos militares para estruturar ainda mais o Estado Brasileiro para o saqueamento. Usou o golpe para tentar calar o povo brasileiro, deseducando politicamente, privatizando, criando os planos de saúde, as universidades privadas, a segurança privada, favelizando o País e drogando meninos e meninas. Todo o entulho do caos social em que vivemos devemos ao golpe militar, que muitos babacas mal intencionados amam tanto.

    Luci

    Antonio obrigada por sua contribuição ao debate com informações importantes, é impossível ler sua resposta sem ficar emocionada. Eu só acrescentaria que o golpe foi civil (empresas e os que se omitiram e até cantaram o período) militar. Golpe Civil militar.
    Antonio diante da triste realidade que coloca o Brasil como um dos paises mais desiguais do mundo, resultado dos fatos que o senhor muito bem descreveu eu lhe pergunto qual o significado do voto obrigatório?

    Fabio SP

    "a semente da ditadura são as empresas que ai estão"
    Entre elas a Coteminas do saudoso Zé Alencar, né não?!?!

Ronaldo

Sr. revisor, vou comentar fora do assunto mas aproveito a tribuna.

Como não leio, não assisto, e não ouço o PIG, pergunto à comunidade esclarecida: os eventos com o Lula em Portugal foram noticiados ou aproveitaram o falecimento do vice-presidente para fingir que não perceberam?

FrancoAtirador

.
.
Em abril do ano passado, em entrevista na GN, da RGTV,

o ex- Comandante do DOI-CODI do Rio de Janeiro (1974-1977),

o general Leônidas Pires Gonçalves, disse literalmente que

"foi graças ao golpe militar de 1964 e à guerra contra a 'subversão'
que hoje existe democracia no Brasil, se bem que um tanto autoritária."

Na mesma entrevista, o general saudosista do regime militar afirmou também:

"a tortura faz parte da guerra e a única coisa bonita na guerra é a vitória.
E nós [militares] vencemos".
.
.
No momento em que o ex-comandante do DOI-CODI RJ afirmou isso,

a única coisa que me veio à mente foi o seguinte:

O SONHO DA MAIORIA DOS GENERAIS É COMBATER NUMA GUERRA.

SE A GUERRA NÃO ACONTECE, ELES INVENTAM UMA.

DEPOIS FALAM DAS ATROCIDADES QUE COMETERAM

COM ORGULHO DE AS HAVEREM COMETIDO.
.
.

monge scéptico

Não adianta tapar o sol com a peneira. A ditadura brasileira foi sanguinária,
açulada pelos patrões de washington.
As crianças filhos dessas familias militares que recebem essa catequese diária paranoica,
e preconceituosa, jamais saberão sentar-se e discutir política. Aprendem primeiro a atirar de-
-pois discutem sozinhos. São os loucos torturadores de amanhã.
O infeliz que lê afolha eo PIG em geral, é ou torna-se um mentecapto cretino.
Ditabranda né? queria ver como reagiriam ao ver as filhas nuas no "pau de arara"…………..

Gerson Carneiro

E a manchete. Tamanha cumplicidade só a do Roberto Carlos.

Remindo Sauim

Só faltou dizer que todos estes torturadores e assassinos eram financiados pelos dólares da Casa Branca.

Victor

Ora, é disso que se trata: a cada eleição ganha por um governo trabalhista, menos poder para o mercado e seus operadores. Deve ser uma tragédia para eles estarem alheios a essa realidade. E, para contornar essas derrotas, existem argumentos variados, todos supostamente direcionados à proteção da democracia, a ponto de se esbarrar no absurdo que se deu em 1964: um golpe de estado para fazer "ressurgir" a democracia, estampava o editorial d'O Globo.

Assim sendo, esclarecer a verdade significa mais do que possibilidade de punição ou atribuição de culpa delos danos impostos aos militantes e a toda a sociedade. Esclarecer a verdade significa uma possibilidade de sepultar, de uma vez por todas, as pretensões políticas dessa classe apoiadora do regime de exceção.

Victor

O texto é esclarecedor: precisamos entender a "lógica" do golpe de 64. E essa lógica é simples: livre mercado.

Não por acaso, o golpe eclodiu no momento em que as discussões sobre as reformas proletárias cresciam no seio da comunidade brasileira. Era preciso distribuir renda, que significa acabar com a concentração de terras nas mãos de poucos ou intervir diretamente na economia para fazer valer os direitos dos pobres.

Lula adotou e implantou reformas significativas na sociedade brasileira, tirando milhões da miséria e inserindo outros milhões na classe média. E, também não por acaso, sofreu investidas duríssimas dos partidos de oposição e de sua assessoria de luxo, o "PIG".

Continua…

ZePovinho

Dica do Morvan que, como eu, usa linux(eu uso ubuntu 10.10):

[youtube kOt-qby223c http://www.youtube.com/watch?v=kOt-qby223c youtube]

    Morvan

    Boa tarde.
    Obrigado pela menção, ZePovinho.
    Eu uso KUbuntu (Ubuntu com interface gráfica KDE) 1010 no trabalho (Suporte) e em casa, Fedora 14.

    Abraços,

    Morvan, Usuário Linux #433640

FrancoAtirador

.
COLÉGIO MILITAR USA MATERIAL DE HISTÓRIA COM PERFIL DIFERENTE DO INDICADO PELO MEC

Livro do Exército ensina a louvar ditadura

A história oficial contada aos alunos dos 12 colégios militares do país omite a tortura praticada na ditadura e ensina que o golpe ocorrido em 1964 foi uma revolução democrática; a censura à imprensa, necessária para o progresso; e as cassações políticas, uma resposta à intransigência da oposição.

É isso que está no livro didático "História do Brasil -Império e República", utilizado pelos estudantes do 7º ano (antiga 6ª série) das escolas mantidas com recursos públicos pelo Exército.

Nelas, estudam 14 mil alunos, entre filhos de militares transferidos ou de civis aprovados em concorridos vestibulinhos. De cada aluno é cobrada uma taxa mensal de R$ 143 a R$ 160, da qual estão isentos os que não podem pagar. Mas 80% das despesas são custeadas pelo Exército.

As escolas militares poderiam utilizar livros gratuitos cedidos pelo Ministério da Educação a todas as escolas públicas. Mas, para a disciplina de história, optaram pela obra editada pela Bibliex (Biblioteca do Exército), que deve ser adquirida pelos próprios alunos. Na internet, o preço é R$ 50, mais um caderno de exercícios a R$ 20. O Exército afirma que o material "atende adequadamente às necessidades do ensino de História no Sistema Colégio Militar".

O livro de história mais adquirido pelo MEC para o ensino fundamental, da editora Moderna, apresenta a tomada do poder pelos militares como um golpe, uma reação da direita às reformas propostas por João Goulart (1961-64). A partir disso, diz a obra, seguiu-se um período de arbítrio, com tortura e desaparecimentos, em que a esquerda recorreu à luta armada para se manifestar contra o regime.

Já a obra da Bibliex narra uma história diferente: Goulart cooperava com os interesses do Partido Comunista, que já havia se infiltrado na Igreja Católica e nas universidades. Do outro lado, as Forças Armadas, por seu "espírito democrático", eram a maior resistência às "investidas subversivas".

No caderno de exercícios, uma questão resume a ideia. Qual foi o objetivo da tomada do poder pelos militares? Resposta: "combater a inflação, a corrupção e a comunização do país".

TORTURA

A obra não faz menção à tortura e ao desaparecimento de opositores ao regime militar. Cita apenas as ações da esquerda: "A atuação de grupos subversivos, além de perturbar a ordem pública, vitimou numerosas pessoas, que perderam a vida em assaltos a bancos, ataques a quartéis e postos policiais e em sequestros".

A censura é justificada: "Nos governos militares, em particular na gestão do presidente Médici [Emílio Garrastazu, 1969-1974], houve a censura dos meios de comunicação e o combate e eliminação das guerrilhas, urbana e rural, porque a preservação da ordem pública era condição necessária ao progresso do país."

As cassações políticas são atribuídas à oposição do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). "Embora o governo pregasse o retorno à normalidade democrática, a intransigência do partido oposicionista motivou a necessidade de algumas cassações políticas", diz trecho sobre o governo Ernesto Geisel (1974-79).

Para o historiador Carlos Fico, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o livro usado nos colégios militares é problemático tanto do ponto de vista das informações que contém como pela forma como conta a história.

"O principal motivo do golpe foi o incômodo causado pela possibilidade de que setores populares tivessem uma série de conquistas."

Mas, para Fico, mais grave ainda é a forma como o livro narra o período, com uma "história factual" carente de análise, focada apenas na ação dos governos. "Trata-se de uma modalidade desprezada inclusive pelos bons historiadores conservadores", avalia.

13 de junho de 2010

http://osamigosdapresidentedilma.blogspot.com/201

    Bonifa

    Isso sim, é intolerável. Faltar com a verdade histórica e formar novas gerações induzidas no erro e criadas no exemplo da submissão ideológica a compromissos vergonhosos que em má hora alguns militares do Brasil firmaram com os "colegas" americanos. Compromissos que comprometeram, isto sim, as mais elevadas tradições das Formas Armadas do Brasil. Isto não pode continuar!

    FrancoAtirador

    .
    .
    Em nome da tradição da moral,

    dos bons costumes da família

    e da propriedade privada

    é que foram e são, em todos os tempos,

    praticados os piores crimes contra a Humanidade.

    O Golpe Militar de 64 foi um destes crimes.
    .
    .
    A INFORMAÇÃO SOBRE A VERDADE HISTÓRICA

    É REQUISITO ESSENCIAL À CONSCIENTIZAÇÃO POPULAR.
    .
    .
    Por isto, o Ministério da Educação (MEC)

    precisa rever o conteúdo dos livros didáticos,

    principalmente os de história e geografia do ensino fundamental e do médio,

    pois há inúmeras escolas públicas e particulares

    adotando livros de estudos sociais não condizentes

    com a realidade política, econômica e social brasileira e mundial.

    Se queremos transformação social e cultural,

    devemos começar pela educação básica para crianças e adolescentes.
    .
    .

Morvan

Boa tarde.
Não que a "Lagarta de São Paulo" mereça qualquer consideração ou tenha qualquer credibilidade. Mas, considerando o desejo destes pré-históricos de "enterrar o passado", não nos esqueçamos jamais de que os militares brasileiros se orgulhavam de "exportar tecnologia (sic!) de tortura". Quem tiver alguma dívida, e, ao mesmo tempo, um "estomagão", não pode deixar de assistir ao indispensável "Chove Sobre Santiago" ("Il Pleut sûr Santiago"), de Helvio Soto. É a história "Não Oficial", sem qualquer resquício de "DitaBranda". A ver do que os estadunidenses e os nativos que não respeitam o seu país são capazes…

Morvan, Usuário Linux #433640

FrancoAtirador

.
.
A figura do comunista comedor de criancinhas

foi uma das mais cruéis criações

da ficção paranóica norte-americana.
.
.

    Kid Prado

    Tinha também aquela bela estória do filho (devidamente doutrinado e, então, homenageado pelos comunistas ) quando 'heroicamente' denunciou às autoridades os pais que rezavam e acreditavam em Deus. Muito comovente!

    Mário SF Alves

    E não só ali. Deve tar havido disso na Revolução Francesa; deve ter havido disso nas ditaduras latino-americanas, bem como HOUVE um interminável mundo disso no nazismo, quando o III Reich era ainda apenas um longínquo sonho.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Adolf Hitler também acreditava em Deus.
    .
    .

    Bonifa

    Enganou-se, amigo. Esta história diz respeito a uma criança da Juventude Nazista e faz parte de uma famosa peça de teatro. Não cometa fraude para defender suas idéis, por mais indefensáveis que elas sejam.

    Bonifa

    Acho que me enganei e me apressei. Peço desculpas. Não havia entendido sua colocação.

    Pitagoras

    He, he, he. Afinal de contas esse negócio de comer criancinha é com certos setores da igreja…e que apoiaram a ditadura.

Bonifa

Excelente. É preciso sempre lembrar que os militares embarcaram numa canoa assassina forjada nos estaleiros de Washington. Muitos deles acreditam até hoje, "romanticamente", que seu movimento foi algo autêntico e nacional.

douglas da mata

Caro Azenha,

Não sou chegado a teorias conspiratórias, e nem acredito na inteligência sistêmica do pessoal dessa "folha de embrulhar peixe podre".

Mas ao ler o texto, me assaltou o seguinte pensamento:

Como os jornais e o PIG nacional (e também o estrangeiro), se dedicam, exaustivamente, a formular os conceitos ideológicos que proverão o discurso do eixo conservador político, além de lhe dar repercussão e dimensão de verdade factual, junto a população, não seria demais imaginar que o editorial da folha de embrulhar peixe podre, junto com todas as manifestações locais, que buscam "amenizar" e "isolar" o período em questão, dos demais episódios que aconteceram nessa região ao sul do Rio Bravo, é uma tentativa de construir um argumento jurídico que afaste a possibilidade desses crimes serem julgados por cortes internacionais, que seria o caminho natural das famílias dos mortos, desaparecidos e dos torturados, caso as cortes nacionais mantenham a cabeça enterrada, como avestruzes de toga.

Assim, a tese "das ditaduras estanques", ou seja, a "cortina da soberania falaciosa", eximiria de culpa aqueles que agiram de forma integrada, orgânica e sistematizada, com troca de "tecnologia", ação estratégica e coordenada, um verdadeiro "solidarismo do terror". Vige em todos os sistemas jurídicos a isonomia, quer dizer: Como punir um general gorila argentino pelos crimes de tortura e seqüestro, morte, etc, e deixar seus cúmplices daqui impunes, se agiam todos de forma integrada, embora com certa autonomia e requintes peculiares a cada tipo de sadismo.

Dentre outras possibilidades, confirmar esse caráter pan-americanista das ditaduras soterraria de vez a validade dessa excrescência jurídica chamada lei de anistia, que na verdade deveria ser rebatizada de lei de impunidade, e exporia os autores de crimes de lesa-humanidade e genocídio a persecução penal dos tribunais internacionais, como aliás, nos ensinou o magistrado espanhol, Garzón.

Um abraço

Mário SF Alves

Os argumentos de sempre: 1) o de "ontem", deter a avalanche do comunismo internacional (e que poder de transformação tinha esse tal comunismo, devia mesmo ameaçar a ordem vigente, him?), 2) o de hoje, deter o terrorismo internacional. Tudo como dantes no quartel de abrantes do capitalismo ocidental.

    FrancoAtirador

    .
    .
    É verdade.

    Houve apenas a substituição de alguns termos,

    o "subversivo" de ontem é o "terrorista" de hoje.
    .
    .

Deixe seu comentário

Leia também