Rodrigo: “Dilma tem que sair do Palácio e usar a força que vem da rua”

Tempo de leitura: 3 min

Dilma e o Povo

Dilma não pode tirar os olhos da rua

Dilma, entre dois fogos

“A saída não está num extremo (só negociação congressual) nem no outro (ignorar o Congresso e partir para o confronto na rua). Mas numa composição das duas táticas. Dilma precisa negociar, sim. Mas tem que sair do Palácio e fazer o debate, usando a força que vem da rua. A direita pode enforcar-se na corda de sua arrogância.”

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador

O governo Dilma terá a dura tarefa de se equilibrar entre dois fogos.

De um lado, está a força das ruas – que empurrou Dilma para a vitória. De outro, está o “centrão” no Congresso.

Sejamos claros. Na Câmara, a centro-esquerda (PT, PCdoB e mais alguns votos no PSB e PDT) tem menos de 100 deputados. Isso mesmo: cerca de 20% da Câmara, apenas!

O PMDB – que seria o aliado de “centro” a garantir estabilidade – envia sinais de rebelião. Mas Dilma não pode prescindir do centro para governar…

O PSD de Kassab deve assumir papel importante. Pode-se aglutinar, em torno do PSD, uma base de apoio de centro que ofereça a Dilma um contraponto, se o PMDB de Eduardo Cunha insistir na chantagem. Na teoria, PSD/PR/PP/PDT podem formar um bloco com mais de 120 deputados (o dobro do PMDB).

De toda forma, é um xadrez complexo. Se ceder demais ao centro no Congresso, Dilma desagradará as ruas – onde colheu o apoio que lhe garantiu a vitória numa campanha em que o cerco midiático conservador chegou a níveis semelhantes ao de 1954, no ataque final a Getúlio Vargas.

A situação de Dilma pode encontrar paralelo também no governo Jango. Ele era pressionado pela esquerda – para avançar nas Reformas de Base. Só que o aliado PSD (partido de centro), rechaçava as reformas. Jango queria a reforma possível – que pudesse ser aprovada no Congresso. Pressionado pela esquerda, foi para o tudo ou nada. Perdeu apoio do PSD, e foi derrubado por um golpe em 1964.

Dilma enfrenta dilema semelhante. Com duas diferenças:

— a presidenta tem a legitimidade conferida pelas urnas; precisa usar o capital político agora, para romper o cerco conservador (Jango fora eleito como vice, e assumiu o cargo após a renúncia de Janio em 1961);

— Dilma tem em mãos o roteiro para  romper esse cerco – um Plebiscito para a Reforma Política.

Como convocar o Plebiscito? Sob quais regras? Em que momento? Isso vai decidir o futuro do embate político em curso no Brasil. A vitória de Dilma nas urnas foi só uma batalha – a guerra será prolongada.

Assim como na campanha eleitoral, a afoiteza do conservadorismo pode-se virar contra seus próprios interesses. Lembremos: passado o primeiro turno, FHC (“quem vota no PT é desinformado”) e milhares de apoiadores de Aécio (“nordestinos vagabundos”)  deixaram claro para o Brasil o ódio antinordeste e antipovo que os movia.

Isso deu a Dilma uma votação consagradora no Nordeste e moveu a esquerda (inclusive a esquerda não-petista, como ficou claro no Rio e mesmo em São Paulo) contra o PSDB.

O excesso de força e a arrogância elitista foram componentes da derrota tucana. Agora, pode-se dar o mesmo.

Passada a eleição, o PMDB exibe seus vetos, derruba a proposta de participação popular. É um sinal claro: não queremos povo no meio do salão! O PSDB de Aloysio e outros trogloditas vai pra tribuna avisar : “não haverá trégua”.

Isso tudo alegra o núcleo duro do tucanato (na mídia comandada por mervais e outros derrotados). Mas, ao mesmo tempo, tem caráter didático para unir mais gente em torno de Dilma. A direita pode enforcar-se na corda de sua arrogância.

A presidenta precisa sair do Palácio e fazer o debate, mostrando quem quer impedir as reformas no Brasil.

Dilma – com apoio de Lula – precisa manter o povo na rua. Só isso permitirá que ela negocie – numa condição de mais força – com o centro no Congresso.

Ou seja, a saída não está num extremo (só negociação congressual) nem no outro (ignorar o Congresso e partir para o confronto na rua). Mas numa composição das duas táticas.

O PT até hoje abdicou da rua, resolvendo tudo com conciliação. Esse tempo acabou.

Mas não sejamos ingênuos, nem extremistas. A negociação segue sendo necessária. A esquerda não tem força para impor sua agenda “pura” ao país. Apostar nisso é apostar num desastre.

Por último, o que pode oferecer um alívio a Dilma? Parte dos empresários e o setor menos amalucado do PSDB não vão apostar em terceiro turno. Os empresários querem um país em paz, pra fazer negócios. E Alckmin quer diálogo, pra evitar que São Paulo morra de sede.

Alckmin talvez tenha percebido que, se entrar nessa rota de “tocar fogo no país”, o PSDB também pode acabar tragado pela onda de descontrole que adviria de tal tática extremista.

O quadro é complexo. Mas Dilma tem trunfos na mão. Precisa usá-los logo.

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Comentários

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ricardo silveira

O PSDB rasgou a fantasia, é um partido muito diferente daquele que militou Covas, Montoro. No PSDB, hoje, parece que não sobrou ninguém, são todos tranqueiras que se somam aos DEMs e PPSs da vida, Com a morte de Covas e Montoro, o partido ficou nas mãos de FHC, esse simulacro de intelectual e político, e a esses trastes se juntam os oportunistas do PDT, PTB que seguem a onda que lhes beneficia, são apenas parasitas.
A análise é clara, Dilma tem que se valer da maioria eleitoral já, porque depois não conta, sem povo na rua essa canalha da direita vai sufocar o governo e o país. Eles já têm as instituições da justiça e da mídia do lado deles, é a elite ao mesmo tempo ignorante e canalha. ´
São coisa ruim, o país não precisa disso.

abolicionista

Caros, hoje, na Paulista, cerca de 2500 pessoas se reuniram para pedir uma intervenção militar. Se isso não é polarização, não sei o que é. Golpismo tem que ser tratado como tal. É preciso criar uma frente ampla de esquerda anti-fascista, unificar as lutas e as agendas. É preciso retomar as ruas. Imediatamente.

léo

Lula, sugiro que voce já a partir de 2015, inicie viagem pelo brasil, para identificar in-loco, como o Brasil melhorou nos ultimos 12 anos. Comece pelo interior de São Paulo.

Léo

Não consigo acreditar que partidos e politicos eleitos pelo povo, por birra de uma derrota hajam como crianças mimadas, impedem o país de ir para a frente pelo simples fato de um cara mimado, sem escrúpulos e amigo daqueles que mataram pelo simples fato de opinar. Atente mais uma vez contra a democracia por perder uma eleição.

Urbano

Independentemente do Congresso, tem que se integrar o povo no melhor direcionamento do país. O povo com plena consciência dará uma contribuição inestimável, certamente. Agora, para isso tem que se acabar com o fascismo do pig e sua gangue mafiosa, que trabalham diuturnamente para imbecilizar o povo.

Vivianne

É isso mesmo. Tem 3 ou 4 providências pontuais, urgentes, que precisam ser tomadas já, como a punição a Veja. E, pelo amor de deus… o próximo ministério tem que ser a jóia da coroa. Coragem Presidenta!

Washington Souza

Pessoaaaal! Vamos para as redes sociais “O CORAÇÃO VALENTE”, precisa de ajuda do Povo! Vamos mobilizar todos como foi feito em junho de 2013, o Congresso Nacional, orquestrado pelos derrotados e com o partido do PMDB, querem excluir a participação Popular da Reforma Política. VAMOS PRA CIMA! VAMOS ENVOLVER A COORDENAÇÃO DO MOVIMENTO. VAMOS ENCOSTAR NA PAREDE OS OPORTUNISTAS.

Eduardo Souto Jorge

Entendo que so duas coisas vao fazer o Brasil avancar para as reformas de base com vistas a finalmente libertar o proletariado e os campesinos: 1) revolucao armada, 2) comgresso nacional com maioria de esquerda e prograssistas de todas as cores. Como a numero 1 e pura fantasia de uma noite de verao dos anos 60, vamos ser realistas e parar de falar besteira. O PT e a Dilma/Lula, tem que jogar o congress reacionario nas maos dos eleitores. dar a cada dia uma saia justa neles, . Em 2016 teremos eleicoes municipais(as mais importantes para mim). Nao vejo outra saida. Ou os partidos verdadeiramente de esquerda , capitaneados pelo PT e o Governo federal, c omecam um trabalho verdadeiramente profundo com as mentes dos brasileiros, principalmente os jovens , o proletariado e o campesinato, para que isso desague em votos para a esquerda ou vamos melhorando, ate a direita voltar ao poder. Quem tem a midi tem uma bomba atomica nas maos. E, antes que alguem fale em marco regulatorio, nao se esquecam que precisamos de votos no congress.Se nem o casamento gay, conseguimos aprovar…

    ivo miranda gomes

    Às vezes em questões de dias, avançamos muito mais do que avançamos em séculos… sem nunca esquecer que “a águia de Minerva só alça voo ao anoitecer”.
    As opções estão à mão… ou avançamos para um futuro de progresso, bem estar avanços sociais ou damos meia volta e voltamos para o passado de opressão, miséria e falta de liberdade… depende de todos e de cada um de nós.

L@!r M@r+e5

Enquanto isso, Lula já iniciou o discurso “deixa disso” e chama a criminosa Veja de “panfleto”.

Lula só vem pra rua na eleição! No dia a dia, é só gabinete.

A presidenta disse que iria processar a Veja. Estamos esperando! #ProcessoDilmaVsVeja

Só espero que não tenha bolinhos e jantares desssa vez.

    Jair de Souza

    Menos mal que é graças a ele que a gente tem conseguido vencer, não é mesmo? Mas, pelo jeito, você acha que ele só está atrapalhando.

    Paulo

    “O PT até hoje abdicou da rua, resolvendo tudo com conciliação. Esse tempo acabou.”
    Se o PT não enfrentar isso estará traindo sua militância,da próxima vez(eleições municipais/2018)que peça a outros.

FrancoAtirador

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Se não apresentar agora, com urgência,

o Projeto do Novo Marco Regulatório,

La SIP articula y adiós Ley de Medios.

REINO UNIDO APROVA REGULAÇÃO DA MÍDIA

Rainha da Inglaterra Sancionou a Lei

CAPO DI TUTTI I CAPI MARINO

SE BORRA DE MEDO DA LEY DE MEDIOS

(http://naofo.de/1uta)
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    Marcos Baltar

    Também acho que a Dilma e o Lula tem voltar a trabalhar juntos e principalmente agir para pegar a veja e somente depois disso articular “concomitantemente” a Reforma Política e o Marco Regulatório da Mídia, a nossa Ley de médios. Deveria começar nomeando o Franklin Martins para ministro da comunicação ou para uma secretaria com estatuto de ministério. Sem ele e sem os ” blogueiros sujos” a militância de esquerda (PT, simpatizantes e outros partidos aliados) teria dificuldade de se organizar e provavelmente o golpe do PIG teria prosperado.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Caro Marcos Baltar. Discordo de você.

    Lula e Dilma sempre estão juntos.

    Quanto à ordem de urgência é o seguinte:

    1) O Marco Regulatório Econômico da Mídia

    é a Prioridade das Prioridades do País.

    É a Reforma das Reformas Democráticas.

    2) Sem Lei de Imprensa e com esse STF,

    não haverá a menor possibilidade

    de avançar em qualquer outra área,

    nem mesmo obter condenação da Veja.

    3) Em relação aos nomes, a esta altura,

    diante da premência, pouco importam.

    O importante é montar uma equipe coesa,

    com unidade de propósito na Comunicação,

    e apresentar logo a Proposta à Sociedade.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Observe-se que as Organizações Mafiosas Globo,

    por meio de reportagem, afirmam que a Inglaterra

    entrou para o Rol dos Países ‘Bolivarianos’.

    O jornal O Globo o faz já no começo da matéria

    ‘Reino Unido aprova regulação da mídia’:

    “LONDRES – Depois de países como Equador e Venezuela

    lançarem este ano medidas de controle [SIP] da imprensa,

    foi a vez de o Reino Unido unir-se à polêmica”.

    [Link disponível no comentário acima]
    .
    .

    abolicionista

    Daqui a pouco vão começar a denunciar estratégia britânica e bolivariana do PT…

    Já imagino as palavras de ordem do tio rei: “isso aqui não é a Inglaterra, petralhas! É preciso acabar com a tentativa de implementar no Brasil uma monarquia parlamentarista vermelha!”

    A loucura já é tanta que não duvido de mais nada…

    Mário SF Alves

    Eu também estou indignado. Indignação pequeno burguesa? Não creio.

    Seja como for e só de sacanagem, que tal discutirmos a “Ley de Medos”?

    Sim. Lei do medos. Medo de enfrentar de verdade a criminosa Veja; medo de enfrentar a ditadura dos meios de comunicação; medo de enfrentar a ditadura do Judiciário; medo de enfrentar a maior e mãe de todas as ditaduras e sua congênere corruptora, a ditadura econômica.

    Portanto, Ley dos Medos, já!

    ___________________________________
    Estratégia… estratégia e estratégia… tirou daí é dar gás pro retrocesso tão ampla e já publicamente visado pelos integrantes/descendentes ideológicos do IPES, atual Millenium.

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