Miguel Rosseto: Financiamento empresarial, gênese da corrupção

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Agência Brasil - ABr - Empresa Brasil de Comunicação - EBC

Miguel Rossetto: Gênese da corrupção

por Miguel Rossetto, via e-mail

Não há espaço para hesitar: o tema central de uma reforma política democrática é o fim do financiamento empresarial de partidos e campanhas.

Seus efeitos negativos apontam em cinco direções. O financiamento empresarial sequestra a regra básica nas democracias – a cada cidadão ou cidadã, um voto – e amplia a exclusão do segmento popular com menos acesso ao poder econômico. Por isso, o crescente e perigoso distanciamento entre políticos e sociedade.

Em segundo lugar, afeta o pluralismo da disputa eleitoral, concentrando mais recursos nas candidaturas favoritas. Por este caminho, altera a agenda das democracias pela pressão dos grandes agentes econômicos privados.

O financiamento empresarial corrói a transparência dos partidos ao vinculá-los a objetivos que não podem ser assumidos porque ferem o interesse público. E, por fim, aumenta o risco de políticos, na corrida por dinheiro, praticarem ações ilícitas.

A operação Lava-Jato e o escândalo do metrô de São Paulo expõem as vísceras deste sistema: grandes empreiteiras financiadoras de eleições, políticos dos principais partidos e licitações viciadas em obras públicas. Situação antiga, que evidencia a gênese da corrupção eleitoral.

Ao lado disso, assistimos a explosão do “investimento” empresarial nas eleições brasileiras – mais de 90% arrecadado vêm de doações (investimentos?! empréstimos?!) de grandes grupos econômicos e bancos. Em 2014, este gasto ultrapassou R$ 5 bilhões! Uma única empresa doou R$ 360 milhões!

A sociedade civil – liderada pela CNBB, OAB, CUT e UNE – vem formando uma consciência cidadã de intolerância à corrupção. Manifestações de rua, projetos de iniciativa popular, como o Ficha Limpa, e a afirmação de uma opinião pública majoritária contra o financiamento empresarial expressam essa cidadania ativa.

Comprometida com os mesmos ideais de combate à corrupção e à impunidade, a presidente Dilma Rousseff lançou um pacote para aperfeiçoar o Estado brasileiro. Entre as iniciativas, a criminalização do caixa 2, o confisco de bens de servidores corruptos e a punição a empresas corruptoras. Além disso, apoia uma reforma política que encerre a possibilidade de empresas financiarem partidos e eleições.

É esta também claramente a posição majoritária do STF, que afirmou por seis votos contra um a Ação Direta movida pela OAB que sustenta a inconstitucionalidade do financiamento empresarial. Esta decisão, fundamental para a democracia brasileira, repousa no pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes, prorrogado desde abril de 2014.

A corrupção é intolerável. Combatê-la diretamente é também dotar o país de um sistema político mais democrático, transparente e controlado pela sociedade. É necessário e será melhor vivermos com campanhas eleitorais mais baratas e austeras, nas quais as idéias, opiniões e programas partidários sejam a base de escolha dos nossos representantes. Quem deve financiar esta democracia é o eleitor cidadão, e não interesses empresariais.

Miguel Rossetto é ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República

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Comentários

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Liberal

Se corrupção já é crime e sempre existirá, a proibição de doações de empresas nao melhorará a situação, apenas dificultará saber a respeito dos interesses ocultos envolvidos.

FrancoAtirador

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https://youtu.be/hVqigF7WcGI

Julio Silveira

Grande Rossetto, uma excelente cabeça dentro do PT, sujeito inteligente e de poucas vaidades, diferente de alguns que tomaram conta do PT, esse partido que costuma se deixa levar por políticos tipo mariposas. Desses que não podem enxergar luzes que procuram gravitar em volta dela, até por ela serem destruídos.

Chico

Dr: Rosinha para ministro das comunicações. Pesquisem, com ele a lei dos meios sai.

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