Fernando Sepe: O que a cracolândia diz sobre todos nós

Tempo de leitura: 5 min

O Real no centro de São Paulo – atravessar o fantasma e se identificar com o sintoma

por Fernando Sepe*

“Ao vencedor as batatas” – Machado de Assis

Podemos dizer que uma das trilhas abertas mais interessantes do pensamento de Marx foi demonstrar como os acontecimentos e fenômenos que surgem cotidianamente no seio das sociedades burguesas e são tratadas como desvios contingentes à norma e, portanto, passíveis de serem abolidas da sociedade através de sua melhoria, na verdade seriam produtos necessários e imanentes ao próprio sistema. Ou seja, criminalidade, guerras, crises e quebras do sistema econômico, podem ser entendidas não como acidentes, pequenos problemas contingentes de funcionamento da sociedade, mas sim, como aquilo que é absolutamente necessário e consequência direta da própria estrutura social, acontecimentos que explicitam a verdade das contradições imanentes à manutenção do sistema. O que é uma perspectiva interessante, pois nos leva a um tipo de análise político-social que parte exatamente desses excessos, dessas quebras e problemas para questionar aquilo que entendemos como funcionamento normal do dito social.

Isso é bem próximo do insight básico freudiano que nos mostrava como a chave para o psiquismo humano era dado nos sonhos, nos lapsos linguísticos, nos sintomas neuróticos, nas quebras, no comportamento taxado de patológico. Talvez devido a essa proximidade entre ambos os sistemas, Lacan que foi um leitor atento tanto de Freud, quanto de Marx, dizia que fora Marx quem na verdade tinha inventado o sintoma como algo simbólico que é chave para um verdadeiro entendimento do real.

Partindo dessa perspectiva, poderíamos nos questionar sobre o significado da cracolândia há tantos anos incrustada bem no coração da maior cidade do país. Pois ela é exatamente uma infeliz e trágica junção entre o campo da exclusão social e da patologia mental. Um núcleo duro de miséria no centro de São Paulo, um conglomerado dos “excluídos dos excluídos”, um sintoma do nosso sistema. Frente uma situação como essa, a fantasia ideológica surge como mecanismo de defesa àquilo que não se quer ver.

O viciado em crack será então tratado como uma anomalia do sistema, como uma exceção, um objeto exterior ao seu bom funcionamento e, portanto, passível de intervenção militar e médica. Mas o que exatamente uma intervenção truculenta visa retirar da frente de nossos olhos?

Como todos sabemos, São Paulo é a “grande cidade” da oportunidade e da concretização do sonho brasileiro cosmopolita. Uma cidade onde “tudo acontece”, que “nunca dorme”, onde todas as necessidades de gozo podem ser concretizadas na “night” (“uma das melhores do mundo!”). Além disso, ela é a “locomotiva” desse enorme país emergente que é o Brasil, seu poderoso e democrático centro econômico. Sim, uma cidade de diversidade, a mais “multicultural” do Brasil, lugar onde toda cena da cultura acontece. Ela não é tão bonita quanto Rio de Janeiro, nem tão festiva quanto Salvador, mas isso porque ela é feita de gente que trabalha muito, que leva grande parte da economia do país para frente. “Tudo isso” é São Paulo. E muito mais, é claro.

Pois há também uma fantasia com a qual o paulistano se identifica. Esse fantasma do trabalhador – do homem de bem – que, por ter dinheiro, fruto suado do trabalho, tem o mérito e o direito ao gozo que a cidade pode propiciar. Por isso, não há problema que os serviços sejam extremamente caros, pois é exatamente “O preço” a marca que distingue o vencedor do derrotado. Em São Paulo, a fratura social gigantesca se individualiza em posturas que cada vez mais valorizam a distância que o dinheiro, os objetos e lugares de luxo assinalam entre uma elite e um populacho. O interessante é notar como a necessidade de gozo é mercantilizada e articulada com a classe social e os objetos-fetiches disponíveis a cada uma delas, seguindo uma lógica da desagregação, da desigualdade e do privilégio.

Esse tipo de fantasia social e individual tem uma força ideológica gigantesca e é pensamento dominante dentro da classe média e elite paulistana. Porém, o que elas realmente visam é mascarar as evidentes contradições do sistema social brasileiro. Nesse caso, São Paulo, como a maior cidade do país, se torna um lugar privilegiado para observar tais contradições e excessos, pois nela tudo é revelado como que por uma lente de aumento. Sim, pois o que não se diz é que os lugares comuns enumerados nos parágrafos anteriores apenas mascaram uma realidade social mutilada e desigual, assim como um estado de dor e sofrimento psíquico frente à impossibilidade de sentido e a desarticulação completa do desejo.

Realidade social atravessada de ponta a ponta por fraturas e lutas; uma cidade onde a educação é mercadoria e marca de uma clivagem social absurda; uma das mais preconceituosas do país vide os ataques contra gays na “multicultural” av. Paulista, vide os comentários separatistas e preconceituosos contra nordestinos que tomaram as redes sociais quando da eleição da presidente Dilma; uma cidade onde cultura também é mercadoria e das mais caras, apenas para privilegiados; enfim, uma cidade marcada, como todo país, por um gigantesco descompasso entre – por um lado – desenvolvimento econômico – por outro – distribuição de renda e educação.

Já no campo do sofrimento psíquico, vemos uma completa desarticulação do desejo. Não capazes de buscar o que querem devido às pressões e demandas de reconhecimento, de status, do imperativo de parecer um vencedor frente ao outro, as pessoas chafurdam em trabalhos cada vez mais desinteressantes, trabalhos sem nenhum sentido à vida, mas capazes de darem a possibilidade de um gozo a partir dos objetos-fetiches-mercadoria que o dinheiro propicia. O que se esquece de dizer, porém, é que esse gozo é SEMPRE insatisfatório, o que apenas revela o vazio da própria existência.

O imperativo de gozar o tempo todo articulado a necessidade de um trabalho desinteressante cria uma geração que apesar de parecer saudável, de sempre estar sorrindo nas redes sociais, de toda imagem de potência e vitória que passa, é uma geração ansiosa e deprimida, que já não acredita em nada, onde a única articulação do desejo se dá com objetos cada vez mais irrelevantes e transitórios, como as últimas “invenções da Apple”, ou com qualquer outro tipo de objeto-fetiche, principalmente dinheiro. Um gozo fantasma, rápido e insatisfatório, uma geração hedonista, onde o desejo foi capturado pelos simulacros do sucesso (a fetichização da imagem das celebridades, dos esportistas, etc) e dos objetos-mercadoria (que não à toa as mesmas celebridades são quem mais acesso têm a eles).

Ora, podemos ler a cracolândia como um sintoma maior dessas contradições existentes no campo social (o enorme descompasso entre crescimento econômico – educação e distribuição de renda) quanto do campo psíquico – a captura do desejo a partir da exigência do gozo articulado cada vez mais com imagens e objetos fetiches apenas disponíveis frente um regime de trabalho desinteressante. Pois, ao mesmo tempo em que a cracolândia marca a exclusão social, é também um campo dominado pelo sofrimento psíquico de pessoas que identificam seu desejo com o barato rápido, transitório e viciante do crack a ponto de não mais conseguirem exercer uma vontade livre e se perderem em um triste universo de gozo fantasmático.

A sociedade é responsável pelos usuários não porque isso é uma responsabilidade do politicamente correto. Mas sim, porque ele é sintoma maior de uma dinâmica própria as nossas sociedades hedonistas capitalistas pós-modernas. Voltando ao começo do texto, eu falava como o sintoma deve ser interpretado para então revelar a causa estrutural imanente ao próprio sistema. Mas apenas isso não basta. É Lacan quem diz que o fim do tratamento psicanalítico ocorre quando somos capazes de atravessar o fantasma e, de certa forma, nos identificar com o sintoma.

O que aqui, em nosso caso, quer dizer atravessar a fantasia ideológica brasileira de um país emergente, onde por milagre todas as contradições irão desaparecer com o crescimento econômico e, então, finalmente poderemos ser vencedores, gozando nessa terra abençoada e ensolarada ao som e à cadência do samba e do carnaval. Mas nesse mesmo movimento de atravessar o fantasma, é preciso se identificar com o sintoma. Reconhecendo nos excessos que “A cracolândia” e “O usuário” escancaram, a verdade sobre nós mesmos e sobre nossa realidade social.

* Graduado em Comunicação Social pela faculdade Cásper Líbero e graduando em filosofia pela USP, atualmente em intercâmbio, terminando a graduação na Sorbonne – Paris IV; contra ele pesa o fato de que é leitor regular deste site.

Wálter Maierovitch: São Paulo usa o crack para segregar os pobres


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Comentários

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Marcelo de Matos

Às favas o pragmatismo! A solução de todos os problemas sociais está na filosofia: Marx, Freud, Lacan. Precisamos ser livres: “Não permaneça preso a uma pessoa – toda pessoa é uma prisão” (Nietzsche). Não se prenda a cachorros. Minha cunhada toma conta dos cachorros de dois netos e nunca pode viajar conosco. O pessoal da Cracolândia não é livre porque é “dependente” do crack. Precisamos acabar com toda dependência, já que ela é a raiz do mal. Socorra-nos Freud! Os dramas familiares ocorrem em razão da dependência. Tem muita mulher que apanha e fica calada porque depende do marido. Há muitos casais que não vivem bem, mas, continuam juntos porque um depende do outro. O problema é ou não filosófico? De certa maneira, sim. Não acho, porém, que São Paulo seja diferente de outras capitais, como Rio e Recife. Nessas há o mesmo estereótipo de burguesia, pessoas dotadas de idêntico elã consumista. A Cracolândia desaparecerá, o crack não. O Rio não guarda nenhum vestígio do tempo em que era a porta de entrada do tráfico de escravos.

Horridus Bendegó

Já identificava no ato de se pagar mais caro, especialmente em São Paulo, um conteúdo narcísico, de auto apreciação da capacidade de poder. Poder o que muita gente não pode, e assim, se masturbar diante da própria imagem de sucesso aumentada pelo contra-ponto da miséia que a tudo rodeia.

São Paulo = perversão social.

Adilson

continuação…

O crack entra para fixá-los de forma tão agressiva quanto (quase) irreversível naquele mundo paralelo que ali construíram. Um argamassa poderosíssimo, tristemente mais "eficaz" do que o mais alto sonho de consumo que possa vagar por nossas mentes, nós os 'senhores de bem da boa sociedade'.

O PROBLEMA CRACOLÂNDIA é seríssimo, não pode ser visto apenas como 'bando de gente usando drogas' e esse texto dá uma boa contribuição para entendê-lo de forma mais abrangente.

Adilson

Muito bom texto.

A Cracolândia é um fenêmeno singular, é diferente de um mero aglomerado de pessoas que se unem para consumir drogas que existe em todas as cidades brasileiras. Creio que devemos fazer um esforço para tentar compreendê-la tb do ponto de vista antropológico, das redes de siginficações que são formadas naquele local e que dão um enorme sentido para as pessoas que ali estão/vivem.

Não é só a droga ali consumida freneticamente (que aliás é poderosíssima) mas, apesar da aparente desorganização e do estado miserável, existe ali uma forte noção de grupo, com rituais próprios, com atividades outras (como samba, jogos, rodas de conversa..), com níveis de poder e até com leis e regras que precisam ser cumpridas.

Os usuários/habitantes acabam inevitavelmente desenvolvendo um senso de pertencimento aquela "comunidade", que lhes dão algum sentido na vida, dentro dessa perda (quase) total que tiveram em nosso meio social como o texto tão bem assinalou…

FrancoAtirador

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DINHEIRO (Parte 1)

"Que é isto? Ouro? Ouro amarelo, brilhante, precioso?
Não, deuses: eu não faço protestos vãos!
Raízes quero, ó céus azuis!
Um pouco disto tornaria o preto, branco;
o feio, belo; o injusto, justo; o vil, nobre;
o velho, novo; o covarde, valente.
Mas, ó deuses! Por que é isto? Isto que é, deuses?
Isto fará com que os vossos sacerdotes
e os vossos servos se afastem de vós;
isto fará arrancar o travesseiro
de debaixo das cabeças dos homens fortes.
Este escravo amarelo fará e desfará religiões;
abençoará os réprobos;
fará prestar culto à alvacenta lepra;
assentará ladrões, dando-lhes título, genuflexões e aplauso,
no mesmo banco em que se assentam os senadores;
isto é que faz com que a inconsolável viúva contraia novas núpcias;
e com que aquela, que as úlceras purulentas
e os hospitais tornavam repugnante,
fique outra vez perfumada e apetecível como um dia de abril.
Anda cá, terra maldita !
Meretriz, comum a toda a espécie humana,
que semeia a desigualdade na turba-malta das nações,
vou devolver-te à tua verdadeira natureza!

Ó tu, amado regicida!
Caro divorciador da mútua afeição do filho e do pai;
brilhante corruptor dos mais puros leitos do Himeneu!
Valente Marte! Tu, sempre novo, viçoso, amado galanteador,
cujo brilho faz derreter a virginal neve do colo de Diana!
Tu, deus visível, que tornas os impossíveis fáceis,
e fazes como que se beijem!
Que em todas as línguas te explicas para todos os fins!
Ó tu, pedra de toque dos corações!
Trata os homens, teus escravos, como rebeldes,
e, pela tua virtude, arremessais a todos em discórdias devoradoras,
a fim de que as feras possam ter o Mundo por Império!"

WILLIAM SHAKESPEARE em TÍMON DE ATENAS
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    FrancoAtirador

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    DINHEIRO (Parte 2)

    Shakespeare ressalta particularmente duas propriedades do dinheiro:

    (1) ele é a divindade visível, a transformação de todas as qualidades humanas e naturais em seus antônimos, a confusão e inversão universal das coisas; ele converte a incompatibilidade em fraternidade;

    (2) ele é a meretriz universal, o alcoviteiro universal entre homens e nações.
    O poder de inverter e confundir todos os atributos humanos e naturais, de levar os incompatíveis a confraternizarem, o poder divino do dinheiro reside em seu caráter como a vida espécie alienada e auto-alienadora do homem. Ele é a força alienada da humanidade.

    O que se é incapaz de fazer como homem, e, pois, o que todas as faculdades individuais são incapazes de fazer, é possibilitado pelo dinheiro. O dinheiro, por conseguinte, transforma cada uma dessas faculdades em algo que ela não é, em seu antônimo.
    O dinheiro é o meio e poder, externo e universal (não oriundo do homem como homem ou da sociedade humana como sociedade) para mudar a representação em realidade e a realidade em mera representação. Ele transforma faculdades humanas e naturais reais em meras representações abstratas, isto é, imperfeições e torturantes quimeras; e, por outro lado, transforma imperfeições e fantasias reais, faculdades deveras importantes e só existentes na imaginação do indivíduo, em faculdades e poderes reais. A esse respeito, portanto, o dinheiro é a inversão geral das individualidades, convertendo-as em seus opostos e associando qualidades contraditórias às qualidades delas.
    O dinheiro, então, aparece como uma força demolidora para o indivíduo e para os laços sociais, que alegam ser entidades auto-subsistentes. Ele converte a fidelidade em infidelidade, amor em ódio, ódio em amor, virtude em vício, vício em virtude, servo em senhor, boçalidade em inteligência e inteligência em boçalidade.
    Visto que o dinheiro, como conceito existente e ativo do valor, confunde e troca tudo, ele é a confusão e transposição universais de todas as coisas, o mundo invertido, a confusão e transposição de todos os atributos naturais e humanos.
    Aquele que pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde.

    O dinheiro não é trocado por uma qualidade particular, uma coisa particular ou uma faculdade humana específica, porém por todo o mundo objetivo do homem e da natureza.

    Assim, sob o ponto de vista de seu possuidor, ele troca toda qualidade e objeto por qualquer outro, ainda que sejam contraditórios.

    Ele é a confraternização dos incomparáveis; força os contrários a abraçarem-se.

    Karl Marx
    Manuscritos Econômico-Filosóficos
    Terceiro Manuscrit

    FrancoAtirador

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    DINHEIRO (Parte 3)

    O dinheiro, já que possui a propriedade de comprar tudo, de apropriar objetos para si mesmo, é, por conseguinte, o objeto por excelência .
    O caráter universal dessa propriedade corresponde à onipotência do dinheiro, que é encarado como um ser onipotente.
    O dinheiro é a proxeneta entre a necessidade e o objeto, entre a vida humana e os meios de subsistência.
    Mas, o que serve de medianeiro à vida de um indivíduo também serve à existência de outros homens para o mesmo indivíduo.
    Ele é para o indivíduo a outra pessoa.
    O que existe para o indivíduo por intermédio do dinheiro, aquilo por que o indivíduo pode pagar (isto é, que o dinheiro pode comprar), tudo isso é o próprio indivíduo, o possuidor de seu próprio dinheiro. O poder do indivíduo é tão grande quanto o do seu dinheiro. As propriedades do dinheiro são as propriedades e faculdades próprias do seu possuidor. O que o indivíduo é e pode fazer, portanto, não depende absolutamente de sua individualidade.
    O indivíduo é feio, mas pode comprar a mais bela mulher para si. Conseqüentemente, esse indivíduo não é feio, pois o efeito da feiúra, seu poder de repulsa, é anulado pelo dinheiro.
    Ele é um homem detestável, sem princípios, sem escrúpulos e estúpido, mas o dinheiro é acatado e assim também o seu possuidor.
    O dinheiro é o bem supremo, e por isso seu possuidor é bom. Além do mais, o dinheiro poupa-o do trabalho de ser desonesto; por conseguinte, é presumivelmente honesto.
    Ele é estúpido, mas como o dinheiro é o verdadeiro cérebro de tudo, como poderá seu possuidor ser estúpido?
    Outrossim, ele pode comprar pessoas talentosas para seu serviço e não é mais talentoso que os talentosos aquele que pode mandar neles?
    Ele, que pode ter, mediante o poder do dinheiro, tudo que o coração humano deseja, não possui então todas as habilidades humanas?
    Não transforma o seu dinheiro, então, todas as suas incapacidades em seus contrários?

    Se o dinheiro é o laço que prende o indivíduo à vida humana, e a sociedade ao indivíduo, e que o liga à natureza e aos demais seres humanos, não é, o dinheiro, o laço de todos os laços?
    Não é o dinheiro também, portanto, o agente universal da separação?

    O dinheiro é o meio real tanto de separação quanto de união, a força galvano-química da sociedade.

    Karl Marx
    Manuscritos Econômico-Filosóficos
    Terceiro Manuscrito
    1844

FrancoAtirador

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O que constitui a alienação do trabalho?

Primeiramente, ser o trabalho externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e, por conseguinte, ele não se realizar em seu trabalho, mas negar a si mesmo, ter um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas, mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido.
O trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho forçado.
Ele não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer outras necessidades.
Seu caráter alienado é claramente atestado pelo fato, de logo que não haja compulsão física ou outra qualquer, ser evitado como uma praga.
O trabalho exteriorizado, trabalho em que o ser humano se aliena a si mesmo, é um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação.
Por fim, o caráter exteriorizado do trabalho para o trabalhador é demonstrado por não ser o trabalho dele mesmo, mas trabalho para outrem, por no trabalho ele não se pertencer a si mesmo, mas sim a outra pessoa.
Tal como na religião, a atividade espontânea da fantasia, do cérebro e do coração humanos, reage independentemente como uma atividade alheia de deuses ou demônios sobre o indivíduo, assim também a atividade do trabalhador não é sua própria atividade espontânea.
É atividade de outrem e uma perda de sua própria espontaneidade.
Chegamos à conclusão de que o ser humano (o trabalhador) só se sente livremente ativo em suas funções animais – comer, beber e procriar, ou no máximo também em sua residência e no seu próprio embelezamento – enquanto que em suas funções humanas se reduz a um animal.

O animal se torna humano e o humano se torna animal.

Karl Marx,
Manuscritos Econômico-Filosóficos
Primeiro Manuscrito
1844
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Cenossaum

E amanhã, às 10 da manhã, manifestação no Pátio do Colégio, contra o Geraldo PORCO ASSASSINO e o Kassab LADRÃO DE MERENDA. Os dois confirmaram presença, venha com sapato de sobra…

PS: desculpa aos porcos que não matam ninguém nem se esconde atrás da toga de juíza ladra.
O movimento Viva São Paulo também vai entregar a faixa de PIOR prefeito do Brasil pro Kassab

Horridus Bendegó

Aliás, Zizek não desnudaria melhor…

Horridus Bendegó

O texto análise de Sepe "desnuda" São Paulo pela exposição cristalina de seu real oculto desrecalcado.
Uma cidade apenas onde os "vencedores" se tornam sádicos e o aspecto revelado nas diferenças ergue o trono á boçalidade.

rafael

Só tem uma questão, os milhares de excluídos que não usam entorpecentes, aqueles que levantam 4 horas da manhã para a jornada, e que pagam o preço pelo prazer hedonista dos nóias e afins, esses tão vítimas do "sistema" quanto dos drogados, tão maltratados e vilipendiados pelo Poder Público, esses desmentem o texto, há a opção do indivíduo em se drogar, e claro, tudo na vida traz consequencia.

    Adriano Cunha

    O problema é que a opção que é dada a grande parcela da população é apenas essa mesmo: drogar-se para se marginalizar mesmo frente aos que já são marginalizados, ou optar pela ausência da vaselina social. O prazer hedonista dos "nóias e afins" mata mais rápido, e a diferença para a parcela cheirosa da sociedade paulista reside só nisso.

    abolicionista

    Bela opção: drogar-se ou virar gado de abate da elite financista! Será que esse comentário foi idiota ou estúpido?

Adriano Cunha

Fernando, parabéns pelo texto. Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Problema maior talvez seja a nossa baixa tolerância ao paladar acre. Forte abraço.

juan

Azenha olha essa campanha do PSDB Aki http://noticias.r7.com/brasil/noticias/haddad-dei… do R7 bixo, desceram o cacete no Haddad, quem lê isso pensa que foi tudo uma M…

J.C.CAMARGO

LCAzenha/ FSepe : pela reação da Imprensa ao caso "Cracolândia", dá-se para concluir que há uma enor-
midade de "Jornalistas" viciados no CRACK! E dá para concluir, também, que estão ganhando muito mal, pois senão estariam consumindo COCAÍNA mesmo! Êta, mundo velho! Não muda!

    Miguel

    e pela reacao conservadora, da pra ver como os reacionarios pensam que todos sao individualistas e so criticam o que atinge o proprio umbigo.

Ananda

Albert Einstein disse: "Um ser humano é parte do todo que denominamos de "Universo". Ele vivencia a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos como algo separado do restante, numa espécie de ilusão de ótica da sua consciência. Essa ilusão é um tipo de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais e `a afeição apenas pelas pessoas mais próximas. Nossa tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza."
Sempre penso que nossa dificuldade de entender como tudo se inter-relaciona nos permite pensar que podemos excluir a parte da realidade que não gostamos, simplesmente tirando-a de nossa frente. A Cracolândia é retrato de nossa sociedade falida, de valores invertidos, vazia, e não vai deixar de nos inquietar e entristecer profundamente por não estar sob nossas vistas. A Cracolândia também somos nós.

Lorena

Eu não entendi muito bem a relação entre a cracolândia e de objetos fetiches.
p.s.: Não é uma crítica, viu? Eu estou apenas interessada em entender.

    Racar

    Acredito eu, Lorena, que ele comparou o desejo-consumo desses objetos que permeia a geração atual de trabalhadores ao vício dos usuários, que ambos não levam a lugar nenhum, masque ainda são atraentes, "impostos" pela sociedade, seja qual ela for.

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