Ronald Barata: Não há chance de golpe no Brasil

Tempo de leitura: 4 min

Brasil, país cristão: dividiu o pão com as megacorporações estrangeiras

O PODER MUNDIAL NÃO PRECISA DE GOLPE NO BRASIL

 Ronald Santos Barata, no site do PCB, em 07.04.2014

As riquezas minerais, especialmente o petróleo, continuam sendo o grande motivo de muitos golpes em diversas partes do mundo, para garantir a exploração e posse desses bens por alguns poucos países ricos. É óbvio, há interesse por outras riquezas também.

Há quem pense, talvez a grande maioria, que quem conduz todo o esquema de exploração das riquezas dos países periféricos seja apenas o imperialista EUA. Desconhecem o verdadeiro poder mundial das 300 famílias detentoras de imensas fortunas, lideradas por 13 dinastias, que habitam em vários países. Manejam o poder através de mecanismos que se pode conhecer em meu blog, no artigo “Governo Mundial”.

Diversos países foram invadidos ou sofreram golpes patrocinados pelos EUA, França, Grã Bretanha etc.

No Brasil, Getúlio Vargas, ao sair do poder em 1945, deixou créditos de cerca de US$ 500 milhões junto aos EUA e £100 milhões junto a Inglaterra. José Linhares exerceu a presidência por seis meses, passando para o Marechal Eurico Gaspar Dutra que cedeu às pressões daqueles dois países devedores.

O primeiro, EUA, obrigou o Brasil a dilapidar os créditos em mercadorias que ainda não fabricava: importou rádios de pilhas, geladeiras, iô-iôs, canetas esferográficas etc. Não pôde aplicar em bens de capital. O outro país devedor, obrigou o governo Dutra a encampar a falida e sucateada “The Leopoldina Railway Co.”, por quase todo o valor dos créditos brasileiros e, pior, faltando, pelo contrato, apenas alguns meses para voltar para a União sem nenhum custo. E Dutra, de quebra, criou a Escola Superior de Guerra, sob figurino desenhado por oficiais norte-americanos.

Voltando à presidência, em 1951, Getulio imprimiu orientação de defesa das riquezas nacionais. Caiu em 1954, após a aprovação da Lei 2004 (monopólio estatal do petróleo) e a limitação da remessa de lucros.

Jânio Quadros caiu em agosto de 1961, após restabelecer relações diplomáticas com países da “Cortina de Ferro”, preparar o restabelecimento com a URSS, mandar limitar a remessa de lucros para o exterior e impedir a criação de uma Força Interamericana para invadir Cuba, proposta pelos EUA.

João Goulart foi derrubado após editar decreto de limitação da remessa de lucros e medidas que desgostaram a burguesia rural. O golpe que o derrubou em 1964, iniciou-se em 1954, pois o poder mundial não permitia nenhum governo que tivesse autonomia. Em 1964, devido também à conjuntura internacional, militares, com apoio de civis, consumaram o golpe idealizado, conforme o embaixador Lincoln Gordon, pelos EUA. Afinal, Cuba estava atravessada na garganta do poder internacional e já se avizinhavam outros governos populares.

Quando Obama anunciou que iria bombardear a Síria, para derrubar o governo de Bashar Assad, era a aplicação da política de dominação universal concebida no final da II Guerra Mundial. Recuou devido à indecisão do Congresso e repúdio da opinião pública, mas não significa modificação da política para o Oriente Médio. Em 1953, ao derrubar o governo nacionalista de Mossadegh no Irã, recolonizou o pais e estabeleceu uma base para toda a região.

Foi no governo de Franklin Roosevelt (1882/1945) – quatro mandatos 1933/45 –, que foi criado o “War and Peace Program” visando ao domínio perpétuo dos EUA sobre todo o mundo, quando ainda se pensava que, com a desagregação do Império Britânico, a Grã Bretanha deixaria de ser imperialista.

No início da ditadura militar-civil no Brasil, o grande capital internacional gozava de ampla liberdade. Porém, Geisel (1974/1979) impôs algumas medidas de defesa da nossa soberania. Fez acordo com a Alemanha para construir a usina nuclear de Angra, desagradando aos EUA, e denunciou o Acordo Militar Brasil-EUA, que Lula veio a restabelecer.

David Rockefeller cria e preside, em 1982, o “Diálogo Interamericano” e a política imperialista para a America Latina começa a mudar.

Sofreram golpes também, o Chile (grandes reservas de cobre), a Bolívia (gás natural), Argentina (petróleo) e até o pequenino Uruguai, estratégico para o pleno desenvolvimento das ditaduras latino-americanas.

Os golpes foram efetuados para liberdade de exploração das riquezas minerais dos diversos países. Essa necessidade dos países dominantes persiste até hoje, para que possam desenvolver suas próprias economias  e dominar a economia mundial.

Esperava-se que, com o restabelecimento da democracia no Brasil, os governos eleitos tivessem autonomia, devido à legitimidade conferida pelas urnas, e defendessem os interesses nacionais e populares. Ledo engano. Os grandes grupos internacionais continuam dando as cartas.

Sarney, igual a peru tonto, empurrou com a barriga seus cinco anos. Collor foi mais incisivo na implantação da política econômica neoliberal que Fernando Henrique consolidou e aprofundou a desnacionalização da economia com as privatizações, a derrubada do monopólio estatal do petróleo, beneficiando as petroleiras multinacionais e atacou os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários e outras medidas lesivas aos interesses nacionais.

Lula manteve a mesma política e, mais realista que o rei, aceitou a nomeação para a presidência do Banco Central do Brasil do indicado por David Rockefeller. Anunciou o Sr. Meireles em Washington, em Nov/2002, após sair de uma reunião como George Bush. E, no mesmo mês e ano, passou um final de semana na fazenda da família Moreira Salles, testa de ferro da multinacional Molycorps que explora nióbio no Brasil e é dona da maior reserva do mundo em Araxá. Esse preciosíssimo mineral está saindo desbragadamente para a Grã Bretanha e para os EUA, países que não dispõem em seus sub solos de nenhum grama do metal. O manganês do Amapá já acabou, e ficaram apenas os buracos.

Dilma aceita tudo, e as empresas nacionais estão sendo adquiridas, livremente, pelas multinacionais que já dominam a rede de supermercados, lanchonetes, laboratórios, indústrias, distribuidoras de energia, telefonia etc. E privatizou o pré-sal.

Portanto, se o poder mundial, o grande capital, os bancos, os grandes órgãos de mídia, o agronegócio, estão à vontade e lucrando como nunca, por que tirar do poder quem lhe atende completamente? E, de quebra, se a oposição vencer, nada mudará. Será o original derrotando a cópia.

Interessa a esse poder, sim, derrubar governos que acabaram com a exploração de suas riquezas nacionais, como Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e até a Argentina, que está tomando medidas de defesa de suas riquezas.

Leia também:

Entrevista de Lula a blogueiros: Zero Hora mente e omite informações de seus leitores


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

alberto

Não encontrei o artigo mencionado no texto: governo mundial, tem como me passar o link ?? Grato

Anja

Sim. A questão da soberania brasileira é decidida apenas no que trata da sobrevivência das empresas e remesa de lucros. Povo não serve pra nada. Matam e pronto. Seja de fome, de salário baixo, de falta de investimento em saúde, de ignorância. Apenas os agentes nos órgãos é que servem para alguma coisa.

jacó

A grande idiotia da direita é embaralhar as cartas, DILMA é uma nacionalista por isso é apoiada por todos os BRASILEIROS menos pelos banqueiros e derrotados que não saem do seu mundinnho de sonhos yanquis com i mesmo são uns quintas colunas.

Otto

O PCB dizia mesma coisa em 1964, que não havia conjuntura pra golpe. E foi o que se viu.

    Mário SF Alves

    Resposta:
    Só o PC.

Francisco

A maioria das grandes cachaçarias hoje foi adquirida por gringos.

Pergunta besta: o que ainda é de brasileiros, no Brasil?

    Mário SF Alves

    Só o PC.

Histórico

É o primeiro artigo referenciado pela velha esquerda que elogia mais Geisel, presidente da Gloriosa, do que Lula. E se consta nisso a verdadeira razão de Gloriosíssima ter visto nessa esquerda que florescia no ABC como mais autêntica ao povo, posto que, não pretendia destruir o capitalismo existente para fazer o que só serve aos amigos, como é hoje em Cuba, quando nem papel higiênico, quando tem e se pode, pode ser comprado sem ser num supermercados da família e amigo dos castro.

=======

[Como os militares viram a emergência daquele novo sindicalismo?
Foi o Paulo Egydio quem levou ao general Golbery do Couto e Silva a notícia de um sindicalismo moderno no ABC, e o general achou aquilo muito bom, tinha até simpatia pelo movimento. Era o início de um Brasil diferente, com certo equilíbrio nas relações capital/trabalho. Getúlio não estava preparado para governar no regime democrático e saiu por uma porta genial, que foi o suicídio. Aquela bala matou a UDN e colocou-o na história. Como ele mesmo postulou. ]
‘EU ASSUMI PARA SER DEPOSTO’
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,eu-assumi-para-ser-deposto,1146389,0.htm

    Mário SF Alves

    E desde quando, em matéria dessa natureza, tal fonte, é fonte confiável?

Mário SF Alves

Ronald Santos Barata, no site do PCB, em 07.04.2014:

“Há quem pense, talvez a grande maioria, que quem conduz todo o esquema de exploração das riquezas dos países periféricos seja apenas o imperialista EUA. Desconhecem o verdadeiro poder mundial das 300 famílias detentoras de imensas fortunas, lideradas por 13 dinastias, que habitam em vários países. Manejam o poder através de mecanismos que se pode conhecer em meu blog, no artigo “Governo Mundial”.
___________________________________
Governo Mundial???

É… já não se faz mais PCB como antigamente.
_____________________________________________
Trezentas famílias???

E a crise do capitalismo? Crise sistêmica/estrutural, isso não conta?

E os milhões de rentistas que mamam nas tetas das PSICOPATAS megacorporações sequestradoras de Estados, isso também não conta?

E a informatização dos negócios e respectivos impactos negativos na própria dinâmica de acumulação capitalista?

E a globalização da economia?

E o Clube de Roma e os Limites do Crescimento?

E a Agenda 21 preconizando a depopulação?

E as guerras dos USA/SPYstates?


______________________________________

Fora esse cavalo de pau no marxismo, o que vem a seguir é informação imprescindível:

“No Brasil, Getúlio Vargas, ao sair do poder em 1945, deixou créditos de cerca de US$ 500 milhões junto aos EUA e £100 milhões junto a Inglaterra. José Linhares exerceu a presidência por seis meses, passando para o Marechal Eurico Gaspar Dutra que cedeu às pressões daqueles dois países devedores.
O primeiro, EUA, obrigou o Brasil a dilapidar os créditos em mercadorias que ainda não fabricava: importou rádios de pilhas, geladeiras, iô-iôs, canetas esferográficas etc. Não pôde aplicar em bens de capital. O outro país devedor, obrigou o governo Dutra a encampar a falida e sucateada “The Leopoldina Railway Co.”, por quase todo o valor dos créditos brasileiros e, pior, faltando, pelo contrato, apenas alguns meses para voltar para a União sem nenhum custo. E Dutra, de quebra, criou a Escola Superior de Guerra, sob figurino desenhado por oficiais norte-americanos.”


_____________________________________
Fico com o Chomsky [e prefiro não dar chance ao azar]:

Fico com o Bukowski:

    lukas

    Bukowski só nasceu na Alemanha, filho de um soldado americano. Mudou-se aos três anos para os EUA. Você pode continuar gostando dele, mesmo ele sendo “estadunidense”.

    Mário SF Alves

    Claro. E se me permite, vou continuar gostando dele, sim.

    Liberdade, liberdade, a abra as asas sobre nós…

Narr

Complementando as ideias do autor do artigo: Geisel se recusou a fazer concessões ao capital estrangeiro na Petrobrás, conforme depoimento de Delfim Netto.
Figueiredo recusou-se a pagar parcelas da dívida aos bancos enstrangeiros e decretou a moratória.
Conforme o próprio autor, o governo Lula desnacionalizou mais ainda do que o de FHC.
Ora, entre o ruim e o muito ruim não há igualdade: Lula foi pior do que FHC.
Destarte, se no segundo turno estiverem Aécio e Dilma, será a escolha entre o neoliberal assumido e a neoliberal envergonhada e atrapalhada. Qual o menos ruim?
Há a opção do voto nulo: tanto faz, ninguém deve votar em Dilma só pra evitar Aécio de governar.

    Urbano

    Dessarte me desculpe, mas para o danoso ferrando henriqueaux como presidente ter sido melhor do que o Eterno Presidente Lula, das duas uma: ou estreiteza de juízo ou muita caeba…

Euler

O autor força a barra em relação a alguns dados. Petrobras privatizada? Bem que FHC tentou até mudar o nome da empresa – Petrobrax – mas não conseguiu. Consta que Lula readquiriu boa parte das ações. E os ataques dos tucanos e afins contra a empresa, hoje, são a prova de que ela não está controlada por capital privado, do contrário jamais esta oposição golpista abriria uma CPI – vide caso da Valle, entre outras, praticamente doadas ao capital privado e que jamais foram investigadas.

Também o acordo do pré-sal, pelo que já se analisou exaustivamente, não foi tão desfavorável assim para o Brasil. O controle das operações é da Petrobras e boa parte dos recursos arrecadados será canalizada obrigatoriamente para políticas sociais. Coisa que empresas privadas não admitem.

E finalmente, o clima de golpismo no Brasil está presente sim. E os governos Lula e Dilma, por maiores concessões que possam ter feito ao grande capital nacional e internacional, não são confiáveis a estes grupos. Estão mais sujeitos à pressão popular. Numa destas, Dilma e Lula podem criar coragem e assumir a luta pela democratização da mídia – talvez mais importante até do que a propriedade formal de algumas empresas.

A mídia tradicional, ligada aos piores interesses antipovo, ainda consegue pautar a agenda das políticas públicas, consegue intimidar os agentes dos três poderes, principalmente do judiciário, mas não somente, e consegue, enfim, criar um clima negativo, de crise, de caos, a ponto de transformar conquistas em derrotas.

O autor nada falou sobre o poder desta mídia, que formalmente não está nas mãos dos grupos estrangeiros, mas que na prática, através dos seus testas de ferro “nacionais” divulga e faz uma lavagem cerebral na população em relação a conceitos que são do interesse dos países e grupos imperialistas.

Como concessões públicas, rádios e TVs deveriam, sim, estar submetidas a um código de ética, a um marco regulatório, que respeitasse as riquezas culturais do país, a diversidade, e acima de tudo, a garantia da democracia, da informação que mostrasse os diversos lados ao invés do atual partidarismo pró-golpista.

    Mário SF Alves

    “…consegue intimidar os agentes dos três poderes, principalmente do judiciário, mas não somente, e consegue, enfim, criar um clima negativo, de crise, de caos, a ponto de transformar conquistas em derrotas.”

    ___________________________
    Liberdade plena para condicionar um e aterrorizar os outros dois. É essa a questão.

lukas

Impressionante! Vocês acham, corretamente, um absurdo a historia da Friboi ser do Lulinha, mas não acham esta besteira de golpe no Brasil nos dias de hoje.

Deve haver um motivo.

Urbano

Vai… Cabeça de golpista e bumbum de neném não se deve confiar, pois só sai boston…

    Urbano

    Sem que menos se espere.

Fabio Passos

A pilhagem de nossas riquezas continua.
Não conseguimos ainda moderar o roubo para permitir que o Brasil consiga escapar do subdesenvolvimento.

Mas não há dúvida que os interesses imperialistas sempre vão apoiar e preferir capachos mais dóceis e confiáveis… como os entreguistas desvairados do PiG-psdb.
Há risco de golpe sim.

nina rita

Estranho. Não é o que os fatos dizem. Vê-se que o golpe está em plena marcha. Se sucede um atrás do outro, e o Judiciário tem impedido bastante o Executivo. Há algo de errado nessa análise … como diz o juiz MAM “as coisas não fecham”.

Deixe seu comentário

Leia também