Menina iniciada no candomblé é apedrejada: “Não saio mais de branco. Tenho medo de morrer”

Tempo de leitura: 3 min

menina-candomble

Menina já pedia paz em imagem publicada antes de ser agredida. Hoje, ela afirma que não vestirá mais branco porque tem ‘medo de morrer’ (Reprodução/Facebook)

Menina iniciada no candomblé é apedrejada na cabeça por evangélicos

Intolerância religiosa: menina de apenas 11 anos é apedrejada na cabeça por evangélicos e diz que está com medo de morrer: ‘Continuo na religião, nunca vou deixá-la. É a minha fé. Mas não saio mais de branco’. A garota e os parentes também foram xingados: ‘Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno’

Redação do Pragmatismo Político, sugerido por FrancoAtirador 

Com apenas 11 anos de idade, K. conheceu a intolerância religiosa na noite de domingo de forma dolorosa. A menina, iniciada no Candomblé há quatro meses, seguia com parentes e irmãos de santo para um centro espiritualista na Vila da Penha, quando foi atingida na cabeça por uma pedra, atirada, segundo testemunhas, por um grupo de evangélicos. Ainda segundo os relatos, momentos antes, eles xingaram os adeptos da religião de matriz africana.

“Eles gritaram: ‘Sai Satanás, queima! Vocês vão para o inferno’. Mas nós não demos importância. Logo depois, o pedregulho atingiu minha neta e, enquanto fomos socorrê-la, eles fugiram em um ônibus”, contou a avó da menina, Kathia Coelho Maria Eduardo, de 53 anos, conhecida na religião como Vó Kathi.

O caso foi registrado ontem na 38ª DP (Brás de Pina) como lesão corporal e no artigo 20 da lei 7.716 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião). A polícia tenta identificar os agressores através de câmeras dos ônibus da região.

K. chegou a desmaiar e, segundo seus parentes, teve dificuldade para lembrar de fatos recentes. “Ela está bem, pois foi socorrida para o hospital e até foi à escola, pois é muito estudiosa. Mas na hora chegou a perder a memória. Que mundo é esse que estamos vivendo? Não se respeita nem criança?”, questionou, ainda indignada, Yara Jambeiro, 49, também integrante do Barracão Inzo Ria Lembáum e uma das responsáveis pela educação religiosa de K.

O caso ganhou repercussão na Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro. Ivanir dos Santos, que preside a comissão, defende a importância da punição aos responsáveis.

“Não se trata de um fato isolado. É assustador uma pedrada em uma criança. Vivemos um momento delicado na questão da intolerância. As investigações precisam chegar aos agressores para que o exemplo não seja de impunidade e que a liberdade religiosa seja reafirmada como está na lei”, avaliou.

Responsável por uma rede social com 50 mil adeptos e que defende a cultura afro-brasileira, Marcelo Dias, o Yangoo, divulgou o caso: “É assombroso”, criticou.

Medo de morrer

Em entrevista ao jornal carioca Extra, a menina disse que a partir de agora quer esconder de todos a fé que abraçou por medo de sofrer novas represálias.

“Continuo na religião, nunca vou deixá-la. É a minha fé. Mas não saio de mais de branco. Nem no portão eu vou. Estou muito, muito assustada. Tenho medo de morrer. Muito, muito medo”, afirmou.

A garota recorda com indignação do momento em que foi agredida. “Só me recordo de ter colocado a mão na cabeça, sentir o sangue e logo depois vê-lo pingando no chão. Foi uma coisa do nada. Nem vi direito de onde veio. Mas eu poderia ter sofrido algo grave. Atingiu minha cabeça. Mas e se fosse meu olho?”, questionou.

Ialorixá de 90 anos enfartou com ofensas

A denúncia de que uma pedra feriu a menina K., de 11 anos, na noite de domingo, chegou à Comissão de Combate à Intolerância do Rio em meio a reunião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em protesto pela morte, no dia 1º , de uma uma ialorixá, de 90 anos de idade, em Camaçari, na Bahia.

Segundo seus parentes e filhos de santo, a religiosa enfartou depois da instalação de uma igreja evangélica em frente ao seu terreiro.

Conhecida como Mãe Dede de Iansã, Mildreles Dias Ferreira teria morrido após seguidores da igreja, terem passado uma madrugada inteira em vigília proferindo ofensas em direção à casa de santo.

“A polícia recebeu queixas contra as manifestações em frente ao terreiro antes da morte dela. Fizeram cerimônias em frente à casa de forma acintosa e, em outros casos, há quem macule terreiros, além de outras práticas sistemáticas”, enumerou Ivanir dos Santos, presidente da comissão.

Com informações de O Dia e Extra | Flávio Araújo

Leia também:

Paulo Fonteles Filho:Malafaia e Feliciano reinventaram os tribunais inquisidores 


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

abolicionista

A evangelização das periferias está preparando um exército fascista e intolerante. O futuro do país está seriamente ameaçado pelo fanatismo religioso, em dez anos, é bem provável que teremos um presidente evangélico. Nosso prospecto não é virar Cuba, mas o Afeganistão… Enquanto isso, Dilma e Haddad vão pagar pedágio no Templo do Salamão…

abolicionista

A evangelização da periferia é consequência direta da esquerda ter abandonado os movimentos de base e a guerra ideológica. Os oportunistas como Malafaia aproveitaram um vácuo político deixado pela esquerda nas periferias das grandes metrópoles. A intolerância é combinada com uma disciplina e um sentido de pertencer a uma comunidade. Em troca, o sacrifício do intelecto e da própria individualidade. Nos rituais evangélicos, os transe representam a diluição do indivíduo na comunidade, ainda que sob a tutela de um bandido que posa de guru. Abandonados à própria sorte pela esquerda, os miseráveis brasileiros, cujos bairros parecem mais grandes campos de refugiados, abraçaram aquilo que lhes permite ostentar o mínimo de dignidade. De quebra ainda é possível agora apedrejar aqueles que não fizeram o mesmo, descontando sua enorme amargura num bode expiatório. E depois a gente é criticado por dizer que o pacto governista do PT abriu as portas para o fascismo. O pior cego é o que não quer ver…

Antonio

Não sou advogado, mas penso que pode ser possível processar, imputando ao Malafaia, Feliciano e outros menos votados a responsabilidade pelo que ocorreu com essa menina.
A exacerbação do ódio como esse dois e outros pastores têm feito, deu margem a que alguns energúmenos atacassem a família, atingindo e ferindo a menina.
Algum advogado pode ou poderia analisar o caso e entrar com uma representação para, no mínimo, responsabilizar esses pastores?
Penso que talvez seja melhor do que ficar postando o que todos aqui já sabem.

    Warley

    Você fala de ódio, mas o seu comentário só tem isto. Você fala como se os 40 milhões de evangélicos jogassem pedra todos os dias em outros e como se estes dois pregassem isto. O seu ódio é tão grande que você está inventando coisas.

Bacellar

Livro de Malafide Cap.XXII.Vers.XV: Apedrejarás menininhas de 11 anos que não compartilhem de vossa sagrada fé. Fugirás sem prestares socorro. E Jeová fez a pedra, e viu Jeová que era boa.

Lukas

Quase tão ruim a isto é o Estado Islâmico executar por decapitação os cristão na Líbia.

    abolicionista

    A propósito, vocês fascistas estão cada vez mais parecidos com eles. Por que não vai para o Afeganistão, abraçar seus amigos fundamentalistas?

Julio Silveira

A violencia, amparada no discurso religioso, encobre uma demencia viral que se espalha como rastilho de polvora no mundo todo.

Warley

Que exagero. É o primeiro caso em muitos anos, e os caras jogaram e correram. Foi uma molecagem.

Nesta aqui vocês lembraram a Veja, exagerando as coisas e vendo demônios onde não existe.

    Carlos

    Na Idade Média a Igreja católica também começou apedrejando aqueles que ela julgava serem hereges, terminou queimando-os na fogueira. A intolerância começa assim, e acaba lavando as almas em sangue. Toda a violência e mortes já produzidas em nome de Deus já não bastam? Será que é isso mesmo que Deus quer que façamos? que Deus é esse, que em seu nome se atira pedra num ser humano, ou atira-se o semelhante na fogueira? Eu nasci numa família cristã, mas não foi isso que aprendi.

Urbano

Pura inquisição das mais pútridas e perpetradas por vermes fascistas, que atua sob um manto estropiado a se passar por Religião…

    Urbano

    Sim! Os evangélicos íntegros e responsáveis devem se posicionar firmemente contra esses absurdos, a fim de preservar a sua própria Instituição.

Mário

Já não dava para andar de vermelho; agora usar branco também pode fazer mal à integridade física. Daqui a pouco vamos ter que usar só camiseta da seleção para não apanhar na rua!

Danilo

Até quando CRIMES serão permitidos em nome da religião? A impunidade faz o Brasil cada vez mais selvagem e sem controle. Não se pode JAMAIS ser tolerante com quem pratica intolerância. Isso é perigoso e danoso à sociedade, que está cada vez mais refém de um primitivismo irracional.

Julio Terceiro

Os adeptos dessas religiões que praticam o preconceito, fazem aquilo que é pregado. Portanto, uma hora o estado vai ter que intervir nisso, ou seja, infiltrar-se no culto e gravar o que pode insuflar tais movimentos discriminatórios. Se continuar assim, daqui a pouco teremos uma jihad evangélica. OU corta pela raiz, ou vamos lamentar mais ainda isso, no futuro.

Afonso Guedes

Mais um episódio revelador da caridade cristã. No fundo revela as idiossincrasias das religiões. São todas de paz, dizem. A católica já dizimou (Hum!! o termo é meio estranho) centenas de milhares, muitos foram incinerados em praça pública. Os do islã preferem a decapitação. E assim vamos. De paz em paz fomentando o ódio.
O século é XXI. temos uma nave pousada num cometa que voltou a operar assim que sua baterias foram carregada pelo sol. Mas as fábulas e seus crentes persistem…

Deixe seu comentário

Leia também