Jornalista Anderson Leandro está desaparecido no Paraná; família crê em “sequestro político”

Tempo de leitura: 5 min

Em 2008, cobrindo a ação da Polícia Militar do Paraná numa desocupação, Anderson Leandro foi atingido por uma bala de borracha; os dois comandantes da operação foram afastados

O jornalista Anderson Leandro da Silva, de Curitiba (PR), está desaparecido desde o dia 10 de outubro. Casado, 38 anos, dois filhos,  ele atua há aproximadamente 20 anos em movimentos sociais e detém o maior acervo de imagens relacionadas a conflitos e pressões que enfrentam no Paraná.

A família — são 12 irmãos — crê em sequestro político. Um deles é a enfermeira Alaerte Leandro, que entrevistei este ano para a reportagem-denúncia: A morte materna invisível das mulheres negras.

Nesta tarde, por solicitação da família, o delegado-geral do Paraná Marcus Vinícius determinou que o TIGRE, grupo de elite da Polícia Civil, passe a investigar o desaparecimento de Anderson e  descubra se tem caráter político ou decorre de eventual retaliação pelos desdobramentos de uma desocupação truculenta feita pela Polícia Militar em 2008 e que levou ao afastamento dos dois comandantes da operação.

Os familiares criaram no Facebook uma página específica para tentar reunir informações que ajudem a localizá-lo. O endereço é http://www.facebook.com/BuscaJornalista. (Conceição Lemes).

do Blog do  Sérgio Bertoni

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná – Sindijor-PR, na condição de entidade de defesa dos valores materiais e morais da categoria, vem por meio desse documento solicitar atenção dos órgão responsáveis para um tema de grande relevância: o desaparecimento do jornalista Anderson Leandro da Silva, 38 anos, que trabalha na empresa Quem TV.

Anderson está desaparecido desde a última quarta-feira (10 de outubro de 2012), quando saiu da empresa de comunicação, por volta das 12h30, dirigindo o carro Kangoo (Renault), de cor branca, placa: AON 8615. Sua família registrou Boletim de Ocorrência (B.O: 2012/919767) na quinta-feira (11 de outubro) e ainda aguarda informações.

O Sindijor-PR entra em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná com o objetivo de intensificar a busca pelo profissional. Jornalistas de todo Paraná estão mobilizados e exigem providências.

Não é de hoje que jornalistas vêm tendo problemas relativos à segurança no trabalho. Em recente publicação, jornal Extra Pauta Digital (edição de outubro de 2012, leia aqui, página 07), mostramos ameaças que profissionais vêm sofrendo na fronteira.  Outro fato, também relatado na edição acima citada, foi o cerceamento de um profissional na cidade de Paranaguá, por parte de membros de órgãos públicos.

Chamamos atenção também para o recente pronunciamento do deputado estadual Ademar Traiano (leia o caso aqui), que desferiu ofensas pessoais, no intuito de intimidar o jornalista Celso Nascimento, da Gazeta do Povo. Na mesma linha de ameaças e cerceamentos, o jornalista Mauri Konig, também da Gazeta do Povo, após matéria investigativa em que pautava policiais, foi considerado inimigo público (por parte dos investigados) por estar cumprindo seu dever de jornalista.

Diante deste contexto, o caso Anderson Leandro da Silva, não pode ser esquecido. Em recente carta, a família do jornalista pede maior ação por parte do poder público, pois há suspeita de perseguição política. Também o professor de comunicação social, Valdir José Cruz, foi ameaçado por exigir informações sobre o caso, o que aponta contornos maiores ao caso do que um simples sumiço. Achamos pertinente reproduzir a carta em que a família mostra o histórico da situação até o momento:

Informações enviadas pela família (15/09/2012)

Depois de quatro dias de buscas intensas, amigos e familiares do jornalista Anderson Leandro enviaram correspondências por meio de seus advogados e de entidades dos movimentos populares de Curitiba ao governador do Estado, Beto Richa, e ao Procurador-Geral do Ministério Público do Paraná, Doutor Gilberto Gyacoia, pedindo que o caso seja considerado pelas autoridades policiais como sequestro por motivação política. Também solicitaram que o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – Gaeco – e a unidade especial Tigre, grupo de elite da Polícia Civil, assumam as investigações e confiram o caráter político ao sumiço dele. Anderson Leandro atua há aproximadamente 20 anos no movimento popular e, por isso mesmo, é detentor do maior acervo de imagens políticas e de cenas de conflitos relacionados às pressões dos movimentos sociais do Paraná.

A Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC) da Polícia Civil adota a linha de investigação pautada em crime passional e a família de Anderson Leandro tem receio de que se repita no caso dele a demora e a consequente perda de pistas que aconteceram em outros episódios similares, como o do sumiço do engenheiro Renato Brandão, há mais de um ano. Amigos e familiares de Anderson Leandro pedem urgência nas investigações e uma atenção que propicie a obtenção de vestígios, como pistas advindas das imagens de câmeras de vigilância dos edifícios residenciais e das empresas situados no possível caminho percorrido pelo jornalista desde que saiu de carro da produtora onde trabalhava. Ele vestia camisa azul e calça jeans; calçava sapatênis de couro marrom. O carro que Anderson Leandro dirigia era uma Renault Kangoo, placa AON 8615.

As circunstâncias do desaparecimento

Anderson Leandro da Silva, de 38 anos, saiu da produtora Quem TV, no bairro do Rebouças, por volta das 12h30 (horário retificado por imagens de câmeras de CFTV das imediações) da última quarta-feira, dia 10 de outubro de 2012. Ele avisou ao filho que iria fazer um orçamento de trabalho na cidade de Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba, e que voltaria para buscá-lo para levar para casa, como fazia todos os dias. Eram aproximadamente 20h30 quando o filho comunicou a mãe que Anderson Leandro não havia retornado. As buscas iniciais começaram por volta das 2h madrugada do dia (11/10/2012) por meio do fone 190, sendo que, na manhã deste mesmo dia formalizou-se o desaparecimento com o registro da ocorrência na Delegacia da Vigilância e Capturas de Curitiba. Após isso, na madrugada de quinta para sexta-feira (12), a família entrou com pedido de liminar junto ao Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça, para que fosse quebrado o sigilo telefônico do celular e dos telefones fixos (residencial e comercial) do jornalista.

A Justiça acolheu o pedido de quebra do sigilo telefônico ao meio-dia de sexta-feira, em pleno feriado. A DVC recebeu o relatório com o número das chamadas registradas no aparelho, mas a família não tem acesso ao conteúdo desse documento. Os investigadores informaram apenas que foi detectado sinal do aparelho às 12h55 do dia do desaparecimento na região de Campina Grande do Sul. Também foram identificados sinais do celular de Anderson Leandro nas regiões do Parolin e nas imediações do Detran. Depois dessa quebra de sigilo, a família não obteve mais nenhuma informação a respeito das buscas da polícia e mobilizou amigos e lideranças em esforços próprios.

O Sindijor-PR entende que o poder público deve intensificar as investigações com extrema urgência, já que se trata de um tema que atinge toda a sociedade.

Como entidade que defende os jornalistas no estado, o Sindijor-PR exige que o caso seja esclarecido e que todas as providências possíveis sejam tomadas pelos órgãos competentes do estado.

Guilherme Carvalho

Presidente

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná


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Comentários

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Fabio Passos

Assustador.
Totalmente justificada a suspeita de retaliação política.
Evidente que é necessário investigação de grupos especiais.

    Willian

    Na verdade, foi um caso de pedofilia. O cara tinha 35 anos quando se envolveu com uma menina de 15. O marido dela o matou, com a ajuda dela. Tem certas coisas que você não fica sabendo na blogosfera…rs

Marcio

Paraná está virando uma terra de ninguém, isto é, é só para a elitizinha do Estado.
Maringá virou uma grande capitania hereditária. Todos os empreendimentos do poder de mando local visam enriquecer uma família e seus apaniguados. A cidade é dominada por setores religiosos à serviço de interesses estranhissimos. Os pobres religiosos que se colocam contra este mando se veem excluidos da sociedade e a imprensa, bem, também é PIG, de quinta grandeza, mas PIG com fervor.

Regina Braga

~Que absurdo!E ainda falam em liberdade de expressão…Não seria bom, que a PF pudesse ajudar na investigação? Lamento muito, que jornalistas sérios, continuem sendo alvo de mafiosos.

lia vinhas

Espero que a própria PF entre no caso. O Brasil não pode seguir os passos daos países que atentam sucessivamente contra os profissionais da imprensa que não se submetem aos ditames de governos e políticos bandidos.

Luís Carlos

E a SIP? Vai se pronunciar na defesa do jornalista?

Giovani Blumenau SC

Azenha
A família deverá utilizar câmeras externas disponíveis em ruas e comércios e cruzar com os locais e horários onde este telefone foi detectado, na segunda ou terceira imagem já teria-se um padrão de veículo envolvido com o desaparecimento. Normalmente os suspeitos não atentam para os detalhes de rastreamento a que estão submetidos , acho que poderá se achar com facilidade quem portava o referido celular e chegar ao mandante.
Boa sorte aos familiares.

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