Hugo Fanton: Alckmin passa o trator nos atingidos pelo Rodoanel

Tempo de leitura: 4 min

por Hugo Fanton, da Assembleia Popular, sugerido pelo Luiz Malavolta 

A construção do trecho norte do Rodoanel é o carro-chefe do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e é a maior obra viária do país, com um custo de R$ 6,5 bilhões, financiada com recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que emprestará R$ 2 bilhões, governo federal (R$ 1,7 bilhão) e o restante pago pelo próprio governo do Estado.

Desde o início, o governo ignorou os alertas de que a obra causaria grande impacto social e ambiental por passar sobre áreas densamente povoadas e de proteção ambiental, na Serra da Cantareira. Alckmin também deu de ombros para os especialistas que diziam que a obra era desnecessária, visto que há rodovias ao norte da região metropolitana de São Paulo, como a Dom Pedro, que já fazem a ligação entre as rodovias a leste (Dutra e Ayrton Senna) e a norte (Fernão Dias e Bandeirantes).

As promessas da Dersa, órgão do governo do Estado responsável pela obra, e de outros representantes do governo eram de que os impactos seriam mínimos e que as famílias atingidas não teriam seus direitos violados. Esta, aliás, era uma das condições impostas pelo BID para emprestar o dinheiro ao governo. Assim, o governo ofereceu duas alternativas às famílias: um apartamento da CDHU, com pagamento de auxílio aluguel até a conclusão das obras, ou uma indenização justa.

O que vemos hoje, com a concretização das primeiras remoções, é bem diferente do que foi acordado e prometido. Baixas indenizações, pressão psicológica, falta de garantias e de apoio às famílias têm sido as marcas do processo de remoção dos moradores de bairros como Jardim Paraná, na Brasilândia, e Parada de Taipas, na região do Jaraguá, duas das áreas mais afetadas pelas obras.

Indenizações baixas

A Dersa terceirizou à empresa Diagonal a elaboração dos laudos das casas que serviram de base para o cálculo da indenização paga aos moradores. Os laudos, que levaram em conta apenas as benfeitorias das casas e não consideraram o tempo que as famílias viviam no local, tampouco a área das residências, conforme previsto na Lei de Usucapião, foram concluídos entre julho e setembro deste ano. Os resultados causaram indignação a muitos moradores, descontentes com os valores das indenizações.

Estranhamente o procedimento do governo no cálculo das indenizações para os atingidos pelo Rodoanel Norte foi diferente do adotado em outras obras, como na Linha 17-Ouro do Metrô, que removeu comunidades inteiras na região da Avenida Água Espraiada, na zona sul. Lá, as indenizações ficaram entre R$ 85 mil e R$ 119 mil. No caso do Jardim Paraná e Parada de Taipas, as indenizações oferecidas variam muito mais e foram consideravelmente mais baixas: R$ 2 mil, R$ 5 mil R$ 15 mil.

À maioria esmagadora das famílias foi oferecida uma indenização que impossibilita a mudança para uma moradia digna. Mais uma vez, as famílias são forçadas a migrar para regiões irregulares, como áreas de mananciais, de preservação ambiental ou favelas. Ou seja, é o próprio governo do Estado incentivando a ocupação de áreas irregulares, de onde, muito provavelmente, os mesmos moradores serão removidos daqui a alguns anos. Um dado que ilustra esse processo são os diversos anúncios de casas em áreas irregulares colocados no lugar onde a Dersa faz plantão de atendimento.

Para forçar as famílias a pegar as indenizações irrisórias, o governo simplesmente não indicou os prazos e os locais onde serão erguidas as unidades habitacionais. Ou seja, sem saber onde serão construídas as novas moradias e em quanto tempo elas ficarão prontas, os moradores foram induzidos a optar pelas baixas indenizações. Desde o início, entidades como o Escritório Modelo da PUC, que atua nas comunidades em parceria com a Defensoria Pública, e o Ministério Público exigiram que o governo informasse o local exato onde seriam construídas as moradias.

Táticas do governo para forçar as famílias a sair

Aqueles que optaram pelas unidades habitacionais, fizeram a aposta no escuro. Correm o risco de ir morar em áreas distantes, com menos infraestrutura. Ou, pior, podem ficar sem as casas, como muitos removidos pelo trecho sul do Rodoanel, que até hoje esperam as unidades que lhes foram prometidas.

Também não foi respeitado, em muitos casos, o direito ao desmembramento familiar. Quando mais de uma família vivem juntas, cada uma delas tem direito a uma indenização ou unidade habitacional. Este princípio, em tese, seria adotado nas remoções do trecho norte do Rodoanel. Mas a falta de critérios – ou a adoção de critérios ocultos – fez com que várias famílias que vivem juntas recebessem só uma indenização ou unidade habitacional.

Não bastasse esse conjunto de violações, o governo usa uma tática espúria para forçar a saída das famílias: a destruição das casas que estão vazias, o que enche as comunidades de entulho, lixo, ratos e baratas, tornando insustentável a permanência daqueles que desejam ficar e batalhar por uma indenização maior ou por garantias a respeito das unidades habitacionais. Além do barulho incessante dos tratores e marretas, as famílias têm de suportar crianças brincando em meio a escombros e lajes desprotegidas, expostas a vários riscos.

Os processos de despejo ocorrem sem a presença de assistentes sociais ou médicos. Para piorar, o governo só paga a indenização ou deposita a primeira parcela do auxílio aluguel quando a família deixa a casa. Como é que uma família consegue alugar ou comprar outra casa e fazer a mudança sem o dinheiro?

Comunidades sugiram há décadas

As comunidades da zona norte de São Paulo afetadas pela obra surgiram há décadas. O Jardim Paraná, por exemplo, foi fundado em 1994, ocupado por famílias sem-teto ou que não conseguiam mais pagar aluguel. De lá pra cá, a comunidade ganhou água, luz, asfalto, linhas de ônibus e até um CEU. Tudo à custa de muita luta das famílias.

Por conta disso, os moradores, que têm direito à propriedade dos imóveis conforme a Lei de Usucapião, teriam de ser indenizados ou atendidos de forma justa. As convenções de organismos internacionais, como a ONU, prevê que, nos casos de remoção, as famílias afetadas sejam reassentadas em condições iguais ou melhores às que tinham. Nada disso está ocorrendo nas comunidades afetadas pelo Rodoanel.

O governo de São Paulo, que tem dinheiro para custear uma obra bilionária, não atende as famílias dignamente mesmo sabendo que o montante para pagar indenizações justas ou garantir moradias dignas às famílias é irrisório perto do gasto com o trecho norte. O governo e a Dersa passam por cima das deliberações de órgãos internacionais, rasgam a lei e a Constituição. Como resultado, vemos famílias se desestruturando, pessoas entrando em depressão e a própria cidade sendo prejudicada.

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Comentários

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lidia virni

Injusto é o GF dar 1,7 bilhão para ajudar a consumar um crime lesa-humanidade como esse. Se há dinheiro para dar a governos fascistas, o GF também deveria entrar com sua parte para ajudar os expulsos de suas casas a conseguir moradias dignas em locais decentes. Não dá para entender. Sabemos que o Minha Casa, Minha Vida não funciona em São Paulo.

J Souza

Ação típica dos políticos do mercado financeiro… Querem economizar em cima dos mais fracos, dos que não têm o judiciário nas mãos. Tomara que no futuro os filhos dos despejos não virem bandidos do PCC…

francisco pereira neto

Chamem o Paulo Preto, ou melhor, Paulo Afro descendente.
Afinal, não se deixa um amigo no meio da estrada!

FrancoAtirador

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TRENSALÃO: PROPINODUTO DO TUCANATO PAULISTA

CASO ALSTOM

Procuradores da Suíça arquivam processo contra 3 investigados
por negligência da Procuradoria da República de São Paulo

Suíça pediu em fevereiro de 2011 que o Ministério Público Federal brasileiro interrogasse quatro suspeitos do caso, analisasse sua movimentação financeira no País e fizesse buscas na casa de João Roberto Zaniboni, que foi diretor da estatal CPTM entre 1999 e 2003, nos governos dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin, mas nenhum pedido foi atendido.

De acordo com a Procuradoria da República em São Paulo, o gabinete do procurador Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações sobre os negócios da Alstom no Brasil, cometeu uma “falha administrativa”:
o pedido da Suíça foi “arquivado numa pasta errada” [SIC!].

Um ‘Esquecimento’ Providencial

JB, via GGN/Luís Nassif OnLine

Sem apoio do Brasil, parte do caso Alstom é arquivado pela Suíça

Sem a cooperação dos colegas brasileiros, procuradores da Suíça que investigam negócios feitos pela multinacional francesa Alstom com o governo do Estado de São Paulo arquivaram as investigações sobre três acusados de distribuir propina a funcionários públicos e políticos do PSDB.

A Suíça pediu em fevereiro de 2011 que o Ministério Público Federal brasileiro interrogasse quatro suspeitos do caso, analisasse sua movimentação financeira no País e fizesse buscas na casa de João Roberto Zaniboni, que foi diretor da estatal CPTM entre 1999 e 2003, nos governos dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin, mas nenhum pedido foi atendido.

De acordo com a Procuradoria da República em São Paulo, o gabinete do procurador Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações sobre os negócios da Alstom no Brasil, cometeu uma “falha administrativa”:
o pedido da Suíça foi arquivado numa pasta errada e isso só foi descoberto na quinta-feira.
O pedido ficou sem qualquer providência por dois anos e oito meses.

As informações foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo.

A procuradoria suíça também solicitou que fossem interrogados os consultores Arthur Teixeira, Sérgio Teixeira e José Amaro Pinto Ramos, suspeitos de atuar como intermediários de pagamento de propina pela Alstom. Os procuradores da Suíça apontam que Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira foram os responsáveis pelos repasses ao ex-diretor da CPTM.

Após perceber a falha administrativa, a Procuradoria no Brasil disse que já avisou o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) sobre o problema e que as autoridades suíças serão indagadas se ainda querem adotar medidas quanto aos suspeitos.

No entanto, nesta semana autoridades brasileiras receberam a informação de que os suíços arquivaram as investigações sobre Zaniboni, Ramos e Sérgio Teixeira, morto em 2011.

Eles haviam sido indiciados por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

O único que continua sendo investigado é Arthur Teixeira, controlador da empresa Gantown, sediada no Uruguai, que teria feito repasses da Alstom para Zaniboni entre 1999 e 2002.

Zaniboni afirma que o dinheiro se referia a serviços de consultoria prestados antes de sua chegada à CPTM.

(http://www.jb.com.br/pais/noticias/2013/10/26/sem-apoio-do-brasil-parte-do-caso-alstom-e-arquivado-pela-suica/)
(http://jornalggn.com.br/fora-pauta/procuradoria-da-republica-um-esquecimento-providencial)
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Marat

Não vejo uma matéria, uma menção sequer as jovens idealistas que estão acampados em frente ao Palácio dos Bandeirantes, há mais de 80 dias… Não vejo no PIG (aqui tudo bem, eles são 50 tons de marrom…), mas não vejo também nos Blogues progressistas!

    lepisma Saccharina

    Marat, bom dia.
    Só uma curiosidade, vc é da São Francisco?
    abçs,

Marcos Antonio Silva

A obra vai trazer grandes dividendos eleitorais ao regime de propaganda político-partidária. Isso que importa para o governo tucano, aqui em Sâo Paulo ou em qualquer outro lugar em que o interesse privado confronte o interesse público.

denis dias ferreira

Esse é o jeito de conversar típico do PSDB. Não é mesmo sr. Aécio?

José X.

Geraldinho Pinheirinho, como sempre poupado pelos black blocks, MPL e coisas afins.

    francisco niterói

    Poupado por muitos mais.

    O PSB vai apoiar o alckmin em 2014. E ai fica a pergunta: a erundina se sentiu ultrajada pelo apoio ao maluf, mesmo ele nao sendo o candidato. E agora, apoiando o fascista de pinheirinho, que é o candidato, ela entrou no maior silencio.

    Fala, erundina, fala, sou todo ouvidos.

    Ozzy Gasosa

    Boa, Francisco!
    Cadê a indignação da Erundina agora?
    Ela subirá no palanque do Pinóquio Alckmin?

    Lucas Gomes

    você pelo jeito só lê a folha e a veja, né?
    não viu o protesto chamado pelo MPL contra o caso de corrupção no transporte público?
    indignação seletiva, dá-lhe petistas!

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