É preciso extinguir a “estadodependência” do jornalismo de ódio

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O “odiojornalismo” não pode ser patrocinado pelo dinheiro público

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, em 10.11.2014

Está confirmado: o governo de Dilma não vai mais anunciar na Veja.

Paulo Henrique Amorim deu primeiro essa informação.

É uma decisão ao mesmo tempo tardia e acertada.

É absurdo você colocar dinheiro público – e quanto, e há quanto tempo – numa publicação nociva à sociedade.

A melhor definição para o que a Veja faz veio de uma acadêmica da UFRJ, Ivana Bentes: “odiojornalismo”.

O ódio que a revista semeia com tanta obsessão se refletiu, recentemente, em coisas como as manifestações criminosas, nas redes sociais, contra os nordestinos.

Diogo Mainardi,o primeiro “odioarticulista” da Veja, há poucos dias chamou os nordestinos de “bovinos” num programa de televisão que vai se tornando igual à revista, o Manhattan Connection.

O blogueiro da Veja Augusto Nunes, o gênio cosmopolita de Taquaritinga, acha que está sendo engraçado ao tratar Lula como o “presidente retirante” e Evo Morales como “índio de topete”.

Em 2006, ainda militando na mídia impressa, escrevi um texto que dizia que Mainardi “mainardizara” a Veja. Sua má fé, sua falta de princípios jornalísticos – tudo isso saiu de sua coluna e se espalhou pela revista, notei então.

Agora, passados alguns anos, é possível dizer que a Veja “mainardizou” toda a grande mídia. Mainardis e derivados infestam jornais, revistas, rádios, tevê.

O “odiojornalismo” não pode, naturalmente, ser patrocinado pelo dinheiro público.

O anunciante privado que quiser prestigiar este tipo de pseudojornalismo tem inteira liberdade para fazer isso.

Mas o dinheiro público não pode ser torrado numa coisa tão predadora.

É patética a dependência do “odiojornalismo” do Estado. Patética porque essa dependência é a negação do espírito capitalista, tão defendido pelas grandes empresas de jornalismo.

Empresas genuinamente capitalistas não se alimentam do Estado. Isto é um fato.

Se houver mercado para o “odiojornalismo” – mercado, não dinheiro público – que ele financie “jornalistas” como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Rodrigo Constantino, Pondé, Merval, Noblat etc.

O dinheiro público é sagrado. Deve ser usado para construir escolas, hospitais, portos e todas aquelas coisas que compõem uma sociedade digna.

Anunciantes e investidores privados podem e devem patrocinar o “odiojornalismo”, se entenderem que isso é bom para o país.

É um direito deles. Assim como será um direito dos consumidores eventualmente retaliar, se considerarem que certas marcas estão bancando causas ruins.

Mas esta é outra história.

Parar de queimar dinheiro público na Veja foi um passo importante – ainda que, repito, tardio, dado o comportamento criminoso da revista.

Mas é preciso mais.

O “odiojornalismo” não se limita à Veja. Onde ele estiver, os recursos dos contribuintes não podem estar.

Silvio Santos tratou de manter calada Sheherazade, outra “odiojornalista” bancada por tanto tempo pelo dinheiro público.

Ele sabe que quebra se o governo cortar a verba do SBT – 150 milhões de reais por ano.

Caso decida dar voz novamente a ela, Silvio Santos que vá procurar outros anunciantes que compensem um eventual corte da publicidade do governo.

Seja capitalista, em suma, se puder e se souber.

É disto que o Brasil precisa: um choque de capitalismo na mídia.

É hora de passar a um estágio superior de mídia no capitalismo nacional — sem a “Estadodependência” de empresas tão dedicadas ao “odiojornalismo”.

Leia também:

Urariano Mota: Os encontros com patroas e empregadas domésticas


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Comentários

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MARIO

Sou Petista , sempre votei em candidatos do PT , apenas uma vez que votei no BRIZOLA , agora uma coisa nos temos assumir , a DILMA chega dar nos nervos , como é Burra Teimosa , como ela complica tudo ,, não tem coragem de enfrentar os meios de comunicação , mantendo o MINISTRO da Justiça essa “ANTA” , o tal de Edinho silva outra, Aluisio mercadantes outra , e outos tranqueiras , nao tem coragem de aumentar impostos dos ricos que sonegam quase tudo , e passa a prejudicar justamentes aqueles que votaram nela , tentando agradar os ricos que nunca votaram e nunca votaram nela , a hora que ela precisar de povo para ir as rua como que ela vai como ela pedir apoio desse povo que esta RENGANDO arruma briga com esses bandidos do PMDB, arruma briga com esse ” SANTINHO DO TCU”, não houve ninguém , se acha a mais poderosa , me pedoem mais eu já estou começando a torcer pelo seu afastamento ,quem sabe ela saindo pelos fundos vai aprender respeitar mais os outros.

    rezende

    concordo com vc em genero, numero e grau.

Marat

O articulista acertou na mosca: “É uma decisão ao mesmo tempo tardia e acertada”.
Primeiro ponto: A “revista” já ganha muito dinheiro de grupos internacionais para semear a discórdia no país;
Depois, ela faz matérias não só conta um governo, mas contra todo um país, contra um projeto de nação. Ela escreve para um público que odeia o Brasil e lambe as botas dos Estragos Unidos, Inglaterra e os demais poodles europeus.
Mas não é só isso: Ela mente e utiliza documentos falsificados para “provar” suas teses.
Também eles precisam aprender a pescar, e deixar de ser sanguessuga do governo.
Certamente o dinheiro vetado a esses meliantes será mais bem empregado!
Finalmente acertaram uma!!!

Roberto Locatelli

É muito fácil falar contra o Estado e difundir o ódio, ganhando milhões do Governo (otário) Federal.

Fabio SP

Peraí? O dinheiro da publicidade é da DILMA ou veio dos meus impostos?

Se veio dos meus impostos, eu quero que parte da publicidade vá para a VEJA!!!

    Francisco

    Simples. Deposite dinheiro na conta da veja mané.

Luis Augusto Pisseti

Cortar verba de PUBLICIDADE de um órgão de comunicação pq ele faz oposição ao governo?
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Hummm
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e qual o critério?
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Amizade?
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Simpatia?
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Subserviência?
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Perigoso esse caminho!
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Espero q esse dinheiro público seja, então, gasto em hospitais e escolas e não seja direcionado para os blogs e revistas “chapa-branca”!

    Wagnão

    Meu amigo, é preciso compreender melhor as coisas. Não de maneira apenas superficial. A partir do momento que uma revista de jornalismo se preocupa em colocar na capa denúncias contra a Presidente da República e tais denúncias não possuem provas, fica claro que essa revista não busca informar pessoas, mas sim, colocar-se como elemento anti democrático. Isso não aconteceu apenas uma vez. São muitas capas e muitas informações que em qualquer outro país ensejaria em retaliações governamentais ainda piores. Ninguém é a favor de gente corrupta, mas se você acompanha atentamente as notícias deste blog, vai entender que há dois pesos e duas medidas com relação a notícias contra o PT. E porque será? Empresas de jornalismo como a Rede Globo e o Grupo Abril, são legítimos representantes de uma ideologia que não querem ver a justiça funcionando e o país crescendo. Querem apenas que tudo continue como está para que possam continuar por muitos anos como legítimos senhores feudais de nossa terra.

Elias

Eu não dou essa bola toda a Diogo Mainardi a ponto de inventar o verbo “mainardizar”. Não, ele e o pai dele, o publicitário Enio Mainardi, não passam de dois vassalos da comunicação antiga, anterior à internet. Hoje, quando muito conseguem aparecer nas páginas de uma revista decadente, de um televisão capenga onde os estúpidos empresários ainda põem dinheiro. É só conferir se os Mainardi tem alguma a ressonância na internet. Ambos têm minguados seguidores. Não é Mainardi, Jabor, Augusto Nunes, Pondé que ditam as regras desse jogo violento que se pratica hoje. Talvez podemos chamá-los de péssimos jogadores de um campeonato patrocinado pela pior das máfias. O grande problema não são os vassalos, são esses órgãos de imprensa e multimídia mancomunados para fazer de nossa nação uma nação menor, subserviente aos interesses de um capitalismo assassino que em nome do lucro mata crianças, mulheres e anciãos.

    Leo

    Elias, capital por capital, o socialismo não vive sem ele. Não foi a toa que os bancos “fizeram a festa” nos dois Governos de Lula.
    .
    Quanto a míngua de Mainardi, acho que você está enganado. Ele tem sim muitos adeptos a sua forma de pensar.
    .
    E não leia os pensamentos de um lado só. Dê atenção a tudo e tire suas próprias conclusões, ainda que as fontes disponíveis sejam tortuosas.
    .
    Abraços.

    Elias

    Leo, você me dá a impressão de não ter compreendido nada do que eu disse. No seu 1º parágrafo você defende o capital; no segundo você defende Mainardi e no terceiro você tenta ser professoral. Óbvio que todo ser pensante deve ponderar sobre todos os lados. O que me parece ridículo é o centro, que não é nem um nem outro. Eu tenho lado. E meu lado é o oposto da direita. Como poderia contraditá-la se não a lesse?

Cláudio

♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥

****

*************.

* . . . . **** . . . . Lei de Mídias Já!!!! **** … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. **** … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Marat

Enquanto os governos derem o bolsa-PIG, essa turminha vai se encher de uísque e só escrever o que seus chefinhos mandarem!
Sobre o tal do Mainardi, o que dizer? Um jumento com um megafone!

Arquimedes Andrade

Estou de acordo. O dinheiro público não pode ser usado para alimentar a mídia corporativa, que desinforma, prega o ódio.
Mais cidadania e menos pobreza.

Arquimedes Andrade

Estou de acordo. O dinheiro público não pode ser usado para alimentar a mídia corporativa, que desinforma, prega o ódio.
Mais Escolas em todos os níveis e saneamento básico para todos.

Gilberto

Concordo, já foi tarde a retaliação à Veja e também a musa da direita Sheherazade, porém ainda é necessário mais, e a Globo? Tratamento igual a todos os coxinhas do PIG.
Ceilândia – DF

Julio Silveira

Acho que o governo deveria dar ao empresariado do ramo o que eles pregam para outras atividades, e principalmente para a cidadania mais desfavorecida, um pouco de empreendedorismo e capitalismo. Deixando de lhes amparar com a bengala publica. Eles que vão buscar mercado entre os seus e enfrentarem os riscos inerentes ao principio do capitalismo.

Abelardo

Eu diria que também é “óciojornalismo”. Existe o que se classifica de imprensa, mas falta o trabalho jornalístico sério e falta o jornalismo ético. Porém, sobra muita ficção e bastante armação.

renato

Mas eu quero a queda total da Veja..
Depois eu me preocupo com o resto.

Urbano

Suspender as verbas de publicidade da editora primeiro de abril, sem que se faça igualmente com a groubostonoma, não vem a ser grande coisa, não. Até porque o que se fez com aquela foi simplesmente chutar cachorro morto. A groubostonoma sequer fez um nano menos de patifaria durante a sua existência, com toda a certeza. Ademais, sem a devida isonomia não há justiça nem no céu.

    Urbano

    Os cretinos mais estúpidos alegam que o Bolsa-Família é comunismo, no entanto se calam sobre o Bolsa-Capitalismo existente no Brasil, desde tempos imemoriais. Em outras palavras o que se extrai de mais lúcido nessa corja é que enricar ainda mais os ricos nababos vem a ser mais que justo e legal; no entanto, evitar a inanição dos mais pobres vem a ser uma ação das mais espúrias de um Estado. Por aí se conclui o quanto essa gente da oposição ao Brasil é tão cretina e desumana. Pior é que existe aos montes pessoas como a que cheguei a perceber na semana passada, em que o cara pôde comprar um carro popular, mesmo que já bem surrado, mas estampa no vidro traseiro o adesivo de campanha política de quem tem o maior desejo de eliminá-lo da face terrena. Agora como que se pode considerar um indivíduo desses portador da mais natural ou sublime massa cefálica?

Claudio-SJ

ahh agora o capitalismo é bom

    renato

    Não, é que sabemos que o capitalismo afunda…o barco.

    paulo roberto

    Mas não o foi sempre, iluminado guru Cláudio-SJ?… (iluminado pela Veja, evidentemente).

Monalisa

Decisão mais que tardia;Mas, antes tarde do que nunca

FrancoAtirador

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“A Fábrica de Fatos e a Produção da Opinião Pública”

“As eleições têm um componente simbólico e de ‘narrativa’
que ultrapassa em muito qualquer racionalidade ou matemática eleitoral”

Excertos da Entrevista de Silvana Bentes
ao Instituto Humanitas UniSinos (IHU):

‘ÓdioJornalismo’: O Jornalismo Padrão Veja Como Paradigma

A primeira coisa que chama atenção na eleição presidencial de 2014, que deu a vitória apertada à presidente Dilma Rousseff, é a profunda ingerência de uma Mídia-Estado na cultura política, associada com arcaísmos e anacronismos de um pensamento conservador que atravessa os mais diferentes grupos e classes sociais.

Chegamos ao clímax de uma campanha eleitoral que reflete uma cultura de criminalização que produz uma ativa rejeição da política, apresentada cotidianamente em narrativas midiáticas que ficcionalizam as notícias e novelizam a política, com reiteradas associações da política e dos políticos com corrupção, ilegalidade, traições, intrigas.
Uma memética negativa que afasta e despolitiza os muitos do que realmente está em jogo:
interesses econômicos, especulação contra a vida, a privatização das riquezas,
o moralismo e conservadorismo em que assujeitam minorias e diferenças.

Essa cultura do “ÓdioJornalismo” e o estilo Veja também aparecem na retórica dos articulistas e colunistas de diferentes jornais e veículos de mídia que formam hoje uma espécie de “tropa de choque” ultraconservadora
(Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Merval Pereira,
Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Rodrigo Constantino, são muitos),
que alimentam uma fábrica de memes de uma ultradireita que se instalou e trabalha para minar projetos, propostas, seja de programas sociais, seja de ampliação dos processos de participação da sociedade nas políticas públicas, seja de processos de democratização da mídia e todo o imaginário dos movimentos sociais.

Essa demonização da política tornada cultura do ódio se expressa por clichês e por uma retórica de anunciação de uma catástrofe iminente a cada semana nas colunas dos jornais e que retroalimentam, com medo, insegurança, ressentimento, uma subjetividade francamente conservadora de leitores e telespectadores.

Se lermos os comentários das notícias e colunas nos jornais (repercutidos também nas redes sociais), vamos nos deparar com um altíssimo grau de discursos demonizantes, raivosos e de intolerância, à direita e agora também à esquerda.

Trata-se de uma redução do pensamento aos clichês, memes e fascismo, extremamente empobrecedora, mas incrivelmente eficaz.

Essa pedagogia para os microfascismos e a educação para a intolerância podem ser resumidos na retórica que desqualifica e aniquila o outro como sujeito de pensamento e sujeito político, o que fica explícito na fala de alguns colunistas.

Um exemplo muito claro, inclusive no seu cinismo, é este trecho de uma coluna do Arnaldo Jabor de 28/10/2014, pós-eleições. Com uma argumentação pueril e assujeitante que coloca eleitores, nordestinos e nortistas, pobres como “absolutamente ignorantes sobre os reais problemas brasileiros”, em um cenário pós-eleições em que “nosso futuro será pautado pelos burros espertos, manipulando os pobres ignorantes. Nosso futuro está sendo determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos”.

Numa coluna anterior, de 14/10/2014, podemos ver como funciona essa pedagogia calcada na construção de memes e clichês, a obsessão anacrônica por Cuba e agora pelo “bolivarianismo” e o caráter ameaçador que se dá a qualquer política pública contemporânea e modernizante que tenha como horizonte a participação social:

“— Qual é o projeto do PT? — Fundar uma espécie de bolivarianismo tropical e obrigar o povo a obedecer ao Estado dominado por eles. — Que é bolivarianismo? — É um tipo de governo na Venezuela que controla tudo, que controla até o papel higiênico e carimba o braço dos fregueses nos supermercados para que eles só comprem uma vez e não voltem, porque há muito pouca mercadoria.”

Trata-se de metáforas primárias, mas capazes de se difundir velozmente em um “semiocapitalismo” para usar a expressão do ativista e pensador italiano Franco Beraldi, inspirada em Félix Guattari, que tem como base signos, imagens, enunciados que giram velozmente, viralizam, comovem. Essa é a base tanto do ativismo, da publicidade social, quanto do pensamento conservador.

A questão é como desconstruir esses clichês e trabalhar para que essas mudanças em curso se massifiquem a ponto de se tornarem um novo comum.

De certa forma foi o que vimos em relação aos programas sociais.

Não será possível desmontá-los e desqualificá-los como se imaginava, pois o acesso aos programas tem dois vieses:
a entrada da chamada classe C ao mundo do consumo, como consumidores simplesmente, mas ao mesmo tempo uma politização do cotidiano, com a percepção de si como sujeito de direitos e com uma interface com o Estado que não se reduz ao negativo, carência e insuficiência de serviços.

A próxima desconstrução massiva da mídia se dará em torno das noções de “participação popular”, “liberdade de expressão” e “controle social”, buscando construir uma valoração negativa e associá-las a um projeto autoritário de “menos democracia” e de restrição de direitos, quando se trata justamente de redistribuir poder simbólico e capital midiático pelos muitos.

Uma operação que está em curso [na Mídia-Empresa] e que busca articular
[e associar] políticas de regulação da mídia com “censura” de conteúdos.

Os discursos de ódio que assolam o país (uma construção em curso desde 2002 e alimentada midiaticamente no caso do antipetismo) contaminaram também parte da militância governista e de forma difusa contaminaram as redes e as ruas em embates reais e simbólicos. Sem dúvida, trata-se do resultado de um processo em curso que passa pela judicialização da política, mas que inclui muitas outras indignações, inclusive as das Jornadas de Junho de 2013 contra os partidos e os processos verticais de governos e Estados.

Um discurso represado contra a corrupção, que foi explorado à exaustão pela mídia e que desde as Jornadas de Junho surge no que tem de libertador, mas também de hipócrita e moralista, um discurso de viés conservador.

A Mídia-Estado produz e gerencia subjetividades, excitando e medindo forças com a sociedade, com as redes, com muitos conectados e desconectados e teve, nessa eleição, um caráter, eu diria que até épico, uma inflexão e temperatura que intensificou a percepção dos muitos do que podemos chamar de midiocracia, o governo das mídias.

Se analisarmos nessa eleição o grau de ingerência das mídias e o que chamei, na falta de uma palavra melhor, de “ÓdioJornalismo”, galvanizando microfascismos e comportamentos antidemocráticos, podemos entender os mecanismos de produção de crise.

Foi o caso da intervenção da Veja, nessas eleições, entre outros acontecimentos que precisam de algum tempo para serem avaliados.

Como pudemos acompanhar no projeto Manchetômetro, que mede o número e destaque de matérias negativas para os diferentes candidatos e o número de escândalos e seu tempo de exposição na mídia.

Nas análises da campanha presidencial de 2014, o site “Manchetômetro” chama atenção para o devir-Veja do noticiário brasileiro, com destaque para a Folha de São Paulo, para o que chamou de “Folha padrão Veja”, em que “Dilma foi campeã de chamadas e manchetes negativas por quase todo período de campanha”.

Na ecologia das mídias que se retroalimentam, a Folha chegou a publicar um material noticiando a ausência de repercussão da capa da Veja sobre as acusações do doleiro a Lula e Dilma: “Jornal Nacional não menciona reportagem”, de 25/10/2014.

Sabemos que uma revista como a Veja é motivo de piada em todos os Cursos de Comunicação do país, não apenas pelo nível de distorção e editorialização de suas capas, mas como exemplo de um singular negócio.

A moeda da Veja e de parte da mídia nunca foi o jornalismo, mas a “produção de crise” e sua capacidade de produzir instabilidade política e destruir reputações.

Essa é sua única moeda:
a ameaça de produção de crise e o restabelecimento da “estabilidade”.

Durante algum tempo acreditamos que as redes sociais enterrariam revistas como a Veja, pois com uma mídia-multidão, as denúncias seriais e campanhas podem ser desconstruídas com a velocidade e sagacidade dos muitos.

Mas as redes também podem produzir e reproduzir o mesmo discurso de ódio, racismo, intolerância.

É fato que o estilo Veja e o “ódiojornalismo” acabaram contaminando parte das redes sociais (por galvanizar sentimentos e crenças enraizados em um ambiente profundamente desigual e conservador).

Vemos hoje o leitor típico de Veja multiplicado e repetindo ou produzindo esse jornalismo de ódio, numa subjetividade denuncista/fascista.

Ao mesmo tempo, para além da desconstrução da retórica “fait divers” da Veja
e desconstrução do denuncismo como “negócio”, as redes antecipam as crises e tratam dela com humor e escracho, podendo neutralizá-las ou diminuir seu estrago.

Foi o que vimos nas capas antecipadas nas redes parodiando a capa denúncia da Veja contra Dilma e Lula, na sexta-feira dia 24 de outubro.

Utilizaram o humor como anticorpos para uma denúncia bomba produzida para desestabilizar as eleições.

Trata-se da expressão da inteligência coletiva, que neutraliza o truque conhecido e aguardado derretendo a suposta “bala de prata” dessas eleições antes mesmo de ela ser disparada.

A chegada nos Trending Topics – TTs da hashtag ‪#‎deseperodaVeja‬‬‬‬‬ denunciando
e desconstruindo a denúncia do doleiro contra Dilma e Lula
teve um efeito impactante e de amortecimento do golpe midiático.
A resposta de Dilma Rousseff no seu programa eleitoral denunciando a manobra,
o direito de resposta no próprio site da Veja, obtido junto ao TSE,
a não repercussão da capa da Veja no Jornal Nacional da sexta-feira
formaram uma onda de repúdio e descrédito em torno da operação golpista, notícia que não deixou de ser superexplorada pelos adversários de Dilma Rousseff.

Ainda no campo da análise dos discursos, é preciso dizer que todo o poder de fogo de Veja se concentra na capa, peça over editorializada e peça em que investem todo o impacto emocional, estético (anunciam previamente nas redações e contam com a cumplicidade do restante da mídia para repercuti-la mimeticamente).
No episódio dessas eleições, a capa se resume a uma frase de um doleiro pinçada de um processo.

Dentro da revista, o conteúdo da capa é pífio sempre.
Tudo se resume a três linhas: ‘O Planalto sabia de tudo — disse Youssef.
— Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado. — Lula e Dilma — respondeu o doleiro. (….) O doleiro não apresentou — e nem lhe foram pedidas — provas do que disse’, conclui a “reportagem”, explicitando o próprio blefe.

Aposta-se em uma capa editorializada e em uma frase não comprovada
para tentar desestabilizar uma eleição.

A maioria das pessoas também só lê as manchetes das primeiras páginas,
a disputa se dá aí, pois atuam formando os memes negativos,
associando pessoas, partidos e ações a crimes, ilegalidade, insegurança.

A estratégia se repete a ponto de não mais surtir o efeito esperado.

Ainda na sequência do golpe malsucedido de Veja, vimos da reação
com uma ação de “escracho” da União da Juventude Socialista – UJS,
com pichação e lixo jogado na fachada da Editora Abril.
Uma ação que poderia ter custado a eleição de Dilma, por confrontar diretamente a mídia e criar uma solidariedade com a Veja.
O fato de o TSE ter dado direito de resposta à Dilma
neutralizou parte do impacto negativo do golpe e contragolpe.

Acho legítimas as ações de escracho, revolta e indignação que produzem danos simbólicos… Mas a ação do escracho na porta da Abril, legítima, foi no limite do “timing” e poderia ter selado uma reação furiosa em defesa das corporações de mídia, o que felizmente não aconteceu.

O Jornal Nacional da Globo fez a crônica da Veja, da UJS e do TSE de forma razoavelmente equilibrada no dia 25/10, véspera das eleições, para quem esperava o “apocalipse” (mais um golpe de mídia) e um alinhamento automático da Globo com a Veja nesse episódio.

Dilma manteve a vantagem na pesquisa do Ibope e ganhou as eleições por uma diferença apertada de pouco mais de três milhões de votos.

Mas não antes de enfrentar um último boato nas redes:
que o doleiro delator, que passou mal em meio a tantas reviravoltas,
tinha sido envenenado pelo PT e agonizava em um hospital!

Chegamos num nível bem alto de novelização dos fatos,
um tipo de narrativa com vilões, mocinhos, vítimas e algozes
que tem enorme penetração no imaginário e nas redes,
que funcionam como veneno e antídoto,
desconstruindo e produzindo memes e clichês.

O debate em torno da democratização dos meios de comunicação chegou a um limite no Brasil. Temos a Lei de Meios na Argentina, avanços no debate no Uruguai, no México.

No Brasil, a Reforma da Lei Geral de Comunicações segue obstruída mesmo sendo uma demanda e reivindicação de todos os movimentos sociais e culturais.

Com a massificação das redes sociais, o midiativismo, a proliferação de pontos de mídia e de uma miríade de contradiscursos, o enxameamento da mídia-multidão começamos a experimentar uma outra deriva,
mas insuficiente se não se auto-organizar
e se constituir como uma outra cultura de redes,
capaz de reagir e neutralizar os microfascismos cotidianos.

Íntegra em: (http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/537080)
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    abolicionista

    O pós-modernismo da Ivana Bentes que me desculpe, mas o nome disso é luta de classes. Não há interação simbólica possível com quem vai à Paulista e grita “viva a PM”. É como gritar “viva a morte”. As fileiras do fascismo, não serão desconstruídas pelas singularidades não estruturadas, mas devem ser enfrentadas por uma frente de esquerda organizada e combativa. Se o assassinato sistemático de jovens na periferia não provocar nossa indignação, não sei o que irá.

    abolicionista

    De resto, concordo com as críticas.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Caro Abolicionista, grato pela retificação:

    A Entrevistada do IHU é IVANA, não Silvana.

    Realmente, a Pesquisadora fez um Diagnóstico

    bastante Interessante da ‘Cultura de Redes’.

    Errou, no entanto, no Tratamento da Peste.
    .
    .

WALTER BEZERRA DE MENEZES NORDESTINO

MINHA PRESIDENTA DILMA…QUE DEUS LHE ABENÇOE E PROTEJA…
PEÇO ENCARECIDAMENTE QUE CORTE NÃO SOMENTE A VERBA DESSA “CARNIÇA DA VEJA”, MAS TAMBÉM DETODA A MÍDIA GOLPISTA DE TODAS AS HORAS…CORTE EM 90% A VERBA DA GLOBO, SBT, BANDEIRANTES E OUTRAS…QUERO VER QUEM TEM MAIS FOME…NORDESTINO OU ELES…BEIJO NO SEU CORAÇÃO…

    MARIO

    Acho que dinheiro público não pde ser gasto com midia nenhuma , midia- imprensa é um negocio, como qualquer outro , e como tal deve arcar com seus custos, a melhor propaganda para um governo seja ele , Municipal , Estadual ou federal , e a realização de obras , tanto no social quanto nos outros setores , quem faz propaganda nas TVs, é o comércio. Retira o absurdo de dineiro gasto em todos meios de comunicação e gasta com súde , educação Etc…

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