Der Spiegel: PM carioca é pior que as gangues

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Foto usada pela revista para ilustrar a reportagem

10/10 às 10h29 – Atualizada em 10/10 às 15h37

‘Der Spiegel’: Polícia Militar do Rio de Janeiro é “pior do que gangues”

Revista alemã afirma ainda que governo Cabral é ‘mais violento do que a ditadura’

do Jornal do Brasil

“Pior do que gangues”. Esta é a forma com que a revista alemã Der Spiegel (Hamburgo) se refere à Polícia Militar do Rio de Janeiro na sua edição desta semana.

A reportagem especial é assinada pelo correspondente do veículo no Brasil, Jens Glüsing, com detalhes sobre a ocupação do Conjunto de Favelas do Lins, na zona norte, no domingo passado (6), para implantação da 35ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade.

O título da matéria ainda complementa: “polícia do Rio é criticada nas favelas por medidas enérgicas”.

A revista comenta o envolvimento de PMs da UPP da Rocinha na morte do pedreiro Amarildo de Souza, que teve repercussão internacional, a violência militar durante a ocupação do Complexo do Alemão, há dois anos, a truculência praticada pelos PMs contra manifestantes nos atos pacíficos que estão acontecendo na cidade.

A publicação ainda destaca a declaração do historiador da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva, que afirma que o governo de Sérgio Cabral é “mais violento do que a ditadura militar”.

Segundo o Spiegel, a nova campanha de segurança do Estado visa contribuir com as autoridades na reconquista do controle das favelas às vésperas da Copa do Mundo.

As UPPs visam reprimir a ação de traficantes dessas comunidades, “mas muitas vezes acabam por substituí-los com a sua própria regra brutal”, destaca o veículo.

A reportagem de Jens relata a operação no Conjunto de Favelas do Lins, que aconteceu de forma pacífica, como a secretaria de Estado do Rio havia prometido.

O repórter detalhou a operação que durou 50 minutos e o momento em que os policiais hastearam a bandeira brasileira “como anúncio de tudo o que o Estado recuperou”.

Nas linhas seguintes, a matéria explica que o complexo já havia sido dominado por grupos de traficantes perigosos, como também acontece na maioria das mais de 300 favelas do Rio de Janeiro.

A Spiegel destaca que as UPPs “estão no centro da estratégia do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho”.

O texto relembra que a polícia criou, inicialmente, unidades permanentes nas favelas, que só eram ocupadas durante operações especiais que terminavam em fortes tiroteio e morte de inocentes.

A matéria conta que a única operação que resultou em violência pesada foi a ocupação do Complexo do Alemão, um dos maiores complexos de favelas no Rio de Janeiro, terminando em vários dias de tiroteios.

“Desde a introdução das UPPs, a taxa de homicídios caiu drasticamente. (…) Mas quanto tempo vai manter a paz? Entre os muitos moradores da favela, a força policial do Rio de Janeiro tem uma reputação pior do que as quadrilhas de traficantes criminosos. Eles são vistos como bandidos e assassinos – e muitas vezes com razão, como admite o secretário de Segurança Beltrame”, destaca a matéria.

A revista relembra o caso do pedreiro Amarildo de Souza, supostamente torturado e morto por policiais militares da UPP da Rocinha, na zona sul da cidade e das muitas denúncias de moradores da comunidade que afirmam serem vítimas dos PMs.

“Uma investigação feita por uma unidade especial chegou à conclusão de que ele [Amarildo de Souza] foi torturado com choques elétricos na presença do comandante da UPP do distrito e, eventualmente, assassinado. Seu corpo ainda está desaparecido. Ele provavelmente foi retirado da favela no porta-malas de um carro da polícia”, relata a matéria, que destaca em um dos trechos que “o crime lança uma sombra sobre toda a estratégia de pacificação do governo”.

O crime na Rocinha é avaliado de forma mais abrangente pela revista.

“O delito é quase sem precedentes: tortura é rotina em muitas delegacias de polícia. Polícia, bombeiros e ex-militares formaram milícias que levam os traficantes para além de muitas favelas e que vão estabelecer seus próprios reinados de terror”, analisa o repórter da Spiegel.

Mais adiante, a Spiegel ressalta que “os grupos de traficantes já tentaram várias vezes retomar favelas pacificadas. Houve tiroteio, especialmente no Complexo do Alemão. E bandidos que fugiram dessas favelas se refugiaram em outras favelas na periferia da cidade, levando a um aumento da violência suburbana”.

O Raios X da segurança no Rio de Janeiro feito pela Spiegel não faltou as atuais manifestações que estão tomando as ruas do Rio de Janeiro e marcadas por fortes confrontos entre manifestantes e Polícia Militar.

“…a polícia está reprimindo mais brutalmente os manifestantes. Praticamente todas as semanas há uma batalha de rua no Rio de Janeiro entre manifestantes e policiais, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo e violência aparentemente excessiva, mesmo contra transeuntes”, relata.

Em seguida, a matéria destaca um comentário de Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro: “A polícia foi menos violenta sob a ditadura militar do que no governador Cabral”.

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Comentários

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Malvina Cruela

Por falar em Alemanha, curiosamente – só que não – nenhuma palavra na blogosfera de esquerda sobre o discurso do escritor Luiz Ruffato na feira de Frankfurt..onde ele diz do Brasil e dos brasileiros quase tudo que pode deve e precisa ser dito, e a reação descabelada da nossa “inteligentsia” (que Millor Fernandes dizia que estava mais para burritsia..)
Mas tudo muito coerente com o fenômeno de termos muitos mais Policarpos Quaresmas a esquerda que a direita.

Edgar Rocha

O dilema parece o da Revolta da Vacina. Dizer que se oferece o melhor, tratando como cachorro e ferindo ainda mais os princípios da cidadania não resolve em nada. Se há alguma boa intenção, esta se dilui no miasma de desprezo e desumanidade que os agentes criam durante suas ações. Aqui em Itaquera, por vezes, preferi me calar diante do crime, por saber que qualquer ação policial efetiva redunda em morte, chacinas, incriminações, achaques, coação moral, enfim, desrespeito da pior natureza. Como apoiar uma ação policial, como as que eu já presenciei, em que o sujeito para um bando de garotos (traficantes, assaltantes, assassinos que sejam e, de fato, muitas vezes são) e ao invés de agir dentro da legalidade, invadem casas sem mandato, espancam à luz do dia, num teatro grotesco de demonstração de força e direito ao abuso e, por fim, fazem os sujeitos abordados se ajoelharem diante de todo mundo, molhar os nacos de maconha na água de fossa e comerem segurando o engulho? Com engulho fico eu, sabendo que depois de todo o show os carinhas ainda são liberados, saem com a corda toda feito feras, sob a condição de beneficiarem de alguma forma certos agentes (acreditem, os mais violentos são os que mais tiram proveito e mantêm o crime de pé).

Urbano

Já na época do cangaço, os povos temiam muito mais os macacos do que os cangaceiros…

paulomsm

Então voltemos à situação anterior que era melhor. A bansidada solta nas ruas, os bondes, os arrastões. As balas perdidas…

Wanderson

Policiais são piores, muito piores. Traficantes tem suas próprias leis e suas regras, mas geralmente são criados na favela seus pais moram la, seus amigos de infância e conhecidos também. Não que eu os defenda, ilegal é ilegal – mas estes tratavam com mais respeito os moradores do que os policiais que agem como se detivessem o poder absoluto sobre o que acontece nas favelas.

Alex

Sera que Jens Glüsing e a rvista Der Spiegel Teriam a ombridade de olhar para o proprio rabo e resolver os seus problemas antes de ju7lgar os outros?

A gentil e super educada policia alemã…

http://www.youtube.com/watch?v=Wh_h-JZzEtw

Só na Moita

O processo investigativo de acordo com ordenamento jurídico não é consumado! O processo dá-se de forma arbitraria “na porrada”. Os próprios policiais em sua formação tem incorporado o DNA da ditadura militar “tortura” sob olhar complacente da sociedade brasileira. A pergunta é: o que difere um bandido de um policial em serviço? um crime compensa o outro?

Pedro Albeirice

Concordo, mas a polícia é FLUMINENSE, é estadual, nao da cidade do Rio.

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