15 de março: “O ódio em sua face mais colérica” foi mostrado nas ruas

Tempo de leitura: 3 min

Captura de Tela 2015-03-17 às 12.43.48

Show de horrores

Jandira Feghali *

Parte dos protestos de domingo (15) nos chocaram. A interminável lista de desaparecidos e mortos no combate à Ditadura logo me veio a mente ao assisti-los. De Abelardo Rausch Alcântara à Zuleika Angel Jones, milhares de brasileiros, a maioria comunistas, deram suas vidas pela liberdade. Até hoje mais de 400 nomes são lembrados pela perseguição do Regime.

Como bem destacou a presidenta Dilma Rousseff, em recente pronunciamento, a liberdade de expressão de hoje foi garantida por pessoas como ela. E isto deve ser valorizado e constantemente lembrado por todos nós.

Apesar do descontentamento de parte da sociedade com a crise econômica, que tem ausculta do Palácio do Planalto, há uma infinidade de equívocos registrados nos atos do final de semana. Que marcha democrática é essa que caminhou de mãos dadas com fascistas das mais variadas nuances? Que espécie de manifestação acolhe e divide o democrático espaço das ruas com um clamor pela ajuda dos militares? Atos em que até ex-agentes do DOPs discursam? Ideias atrasadas que ficaram pela História, mas que atualmente parecem ter saído das catacumbas do ostracismo ávidas por alijar nossos filhos e netos dos ares da liberdade.

Da Avenida Paulista à orla de Copacabana, nas inúmeras faixas espalhadas, o ódio em sua face mais colérica era mostrado. Misturados aos protestos, inflados pelo aparato midiático e o financiamento de grupos econômicos, faixas verde e amarelo pediam soluções que iam desde a morte de comunistas e o enforcamento de Lula e Dilma, ao retorno da Ditadura, com intervenção militar, o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Vimos suásticas por todo o lado, além de frases em inglês, alemão e até italiano. Este, verdadeiramente, não é o Brasil.

A insatisfação social não pode desaguar neste tipo de retrocesso. O Brasil não pode se tornar palco de supostos líderes e golpistas, que usufruem de sua condição como oposição ao Governo para angariar espaço, poder e status. De forma oportunista, manipulam a informação para milhares de pessoas, aumentando o incômodo generalizado pela atual dificuldade econômica e a investigação em curso sobre os casos de corrupção.

A livre manifestação é bem-vinda, mas incorrer na instabilidade democrática não é porta de emergência. Pelo contrário, é o fim do poço. A população, de uma vez por todas, precisa se envolver com o debate político nacional e pressionar o Congresso Nacional pela aprovação de mudanças estruturantes. O Governo Federal também deve se perfilar pelo fim do financiamento empresarial nas campanhas eleitorais, medidas anticorrupção, a taxação de grandes fortunas e a preservação de direitos.

A defesa do mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff e o combate à corrupção deve ser feita por todos nós, assim como os trabalhadores e movimentos sociais fizeram no dia 13, ocupando com pautas concretas as ruas das capitais e também ostentando as cores de nossa bandeira, um símbolo de todos os cidadãos. A valorização e fortalecimento da Petrobras, por exemplo, e a reforma política ganharam corpo nos atos por serem essenciais para as mudanças que o povo brasileiro anseia.

O Governo precisa falar para toda a população, sem recuar, apresentando uma agenda concreta, positiva e ousada, clareando as perspectivas futuras, reacendendo a esperança e consolidando a verdadeira democracia. Nossa nação não pode ser obrigada a assistir cada vez mais as sanhas da extrema direita no asfalto, misturadas ao povo, numa marcha contra a memória de todos que um dia lutaram e morreram pela liberdade deste país. Basta desse show de horrores.

*Líder do PCdoB na Câmara Federal


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Fabio SP

Mi-mi-mi-mi….

Plutarco

Um erro muito comum é se tomar o todo pela parte.

Estive na manifestação no interior de São Paulo e não vi NENHUM cartaz de apoio à ditadura militar.

E olha que na minha cidade tem o CTA, ITA etc, ou seja, tem muito milico prá esses lados.

    JC

    Você tem razão, caro Plutarco. Mas seria bom não esquecer que o propósito da tal ‘parte’ é o de contaminar o ‘todo’. Também não há que desacreditar das fotos…
    O caso é que o modelo, agora aplicado ao Brasil, não dispensa os golpistas infiltrados ou ocultos e que recebem apoios (que não são verdes nem amarelos) para suas manobras.
    O grande Peron já dizia ‘Yo no creo en las brujas pero que ellas hay, ellas hay…’
    Cordial abraço,
    JC

JC

Desculpe-me Deputada Jandira mas, como brasileiro que sou, não me foi possível deixar de fazer um comentário ao hino que entôou à Presidente e às interpretações um tanto burlescas da origem dos descontentamentos, dos ‘equívocos’ que estão ocorrendo, e outros. E da mesma forma à convocação que faz para que nos envolvamos todos na defesa de um governo cuja receita, comportamento, representam a mais pura antítese daquilo que os braSileiros desejavam e acreditavam iria o país receber, de conformidade com as promessas da atual Presidente quando de suas camapanhas eleitorais. Que garantias nos daria ela após por duas vezes haver desrespeitado suas promessas e juramentos? Será mesmo que não entende a Sra.que o governo de Dilma é quem deve, ele próprio – alertando e convocando o povo – comandar a reação à revolução colorida que, conforme o figurino, determina seja criado pela mídia apátrida o ódio entre os brasileiros(as)? É tão difícil para a Deputada entender como seria penoso defendermos todos a continuidade de ministros (as) acintosamente convocados como, por exemplo, Kátia Abreu, Joaquim Levy, Paulo Bernardo e Eduardo Cardozo? E compartilharmos da feitura de bolinhos com os Marinhos ou de champanhotas com os Frias? Ou pactuarmos caladinhos, como ela sempre o fez, da entrega descarada do patrimônio público? Ou fecharmos os olhos às ações apátridas de FHC e Serra, e dar o braço a Maluf?
Também não posso deixar de fazer menção ao silêncio um tanto estranho do seu artigo sobre as verdadeiras causas do ódio, demonstrado nas faixas, palavras e ações, dos bravos ‘patriotas‘ manifestantes de Ipanema e da Avenida Paulista. Que providências de fato, segundo a Sra., tem adotado o nosso governo neste particular momento para defender o Brasil da cobiça sem freios de nações mais poderosas?
Cordialmente,

JC

Chico

Certo coxinha indignando.

Então o coxinha resolveu contar uma História (com H mesmo) que achou muito engraçada, mas que considerou também digna de muito estranhamento de sua parte.
Conta o coxinha que foi ao Paraguai, aqui pertinho de Marechal Candido Rondon –PR, até uma área de paraquedismo, nada contra, mas coxinha adora pular de paraquedas.
Chegando a tal área de paraquedismo, o amigo que dirigia o veículo, viu a placa que regulamentava a velocidade de 40 km/h, estranhou que os guardas faziam anotações quando os veículos passavam mesmo com velocidade baixa, 80km/h ou, no máximo 100km/h.
Quando passaram pelo guarda reduziu a velocidade perguntou ao guarda num portunhol muito vagabundo – estás murtando? Pur que? – o guarda respondeu também num portunhol adequado ao ouvinte – no percebes qui estás in alta velocidade – retrucou o coxinha que dirigia o veículo – no, estaba a no máximo 80km/h.
A discussão girou em torno disso se estava a 80km/h ou 120km/h como afirmava o guarda. Irritado o guarda paraguaio pediu que saísse do carro, chamou-o a frente do veículo e perguntou – estás viendo isto – o motorista respondeu- vindo, o que? O guarda sentenciou – os mosquititos muertos no parabrisa e toda la frente del auto motor. Si estas viendo, es porque estava a mais de 110 km/h, tudos nosotros saber que mosquititos só morrir cuando alcanzados mas que 110km/h.
Así es multado, que es de hecho el dominio, y usted no lo sabía.

O guarda ensinou ao coxinha o que é dominio do fato. O coxinha viveu, mas não entendeu.

Chico

Certo coxinha indignando.

Então o coxinha resolveu contar uma História (com H mesmo) que achou muito engraçada, mas que considerou também digna de muito estranhamento de sua parte.
Conta o coxinha que foi ao Paraguai, aqui pertinho de Marechal Candido Rondon –PR, até uma área de paraquedismo, nada contra, mas coxinha adora pular de paraquedas.
Chegando a tal área de paraquedismo, o amigo que dirigia o veículo, viu a placa que regulamentava a velocidade de 40 km/h, estranhou que os guardas faziam anotações quando os veículos passavam mesmo com velocidade baixa, 80km/h ou, no máximo 100km/h.
Quando passaram pelo guarda reduziu a velocidade perguntou ao guarda num portunhol muito vagabundo – estás murtando? Pur que? – o guarda respondeu também num portunhol adequado ao ouvinte – no percebes qui estás in alta velocidade – retrucou o coxinha que dirigia o veículo – no, estaba a no máximo 80km/h.
A discussão girou em torno disso se estava a 80km/h ou 120km/h como afirmava o guarda. Irritado o guarda paraguaio pediu que saísse do carro, chamou-o a frente do veículo e perguntou – estás viendo isto – o motorista respondeu- vindo, o que? O guarda sentenciou – os mosquititos muertos no parabrisa e toda la frente del auto motor. Si estas viendo, es porque estava a mais de 110 km/h, tudos nosotros saber que mosquititos só morrir cuando alcanzados mas que 110km/h.
Así es multado, que es de hecho el dominio, y usted no lo sabía.
O guarda ensinou ao coxinha o que é dominio do fato. O coxinha viveu, mas não entendeu.

abolicionista

Feghali caiu no conto do vigário de que temos democracia efetiva no Brasil. Transcrevo pra vocês um trecho da análise de Paulo Arantes, para ajudar a cair na real:

A Ditadura só mudou o país de alto a baixo porque venceu em toda linha. E venceu tão inapelavelmente que nos fez acreditar que a derrotamos. Talvez tenha sido esta sua maior vitória. Esse é o mito fundador do Brasil contemporâneo, o de uma democracia nova que emergiu vitoriosa do tratamento de choque de um regime de aniquilação sistemática de seu inimigos de classe, aliás cuidadosamente selecionados — não se reprimia e desaparecia a esmo. Não que não houvesse resistência e luta. Houve, e muita, desde a primeira hora. Mas onde há resistência, também há colaboração, que foi abundante, para não falar na imensa terra de ninguém dos resignados e adaptados. Trinta anos de Terror Branco no Cone Sul e na América Central resultou por toda a parte em democracias de baixa intensidade, para ainda falta na língua da Guerra muito pouco Fria que deu régua e compasso ao nosso Estado de Segurança Nacional, como pode ser abreviadamente redescrito um regime que soube combinar desenvolvimentismo em marcha forçada e o trabalho sujo prescrito pela chamada Doutrina da Guerra Revolucionária, que os militares franceses derrotados em Dien-Bien-Phu trouxeram da Indochina na mochila e aplicaram na Argélia. Decididamente não foi apenas doméstico o acerto de contas, que de resto ainda não se encerrou. O processo de “pacificação” em que estamos enterrados até o pescoço, por definição, não tem prazo para acabar. Só que agora o inimigo é outro, embora a guerra continue interna, impulsionada pela perene ansiedade das classes proprietárias: será que o Golpe foi suficientemente assustador para apagar de vez até a memória de que um dia houve inconformismo de verdade no país? Na dúvida, melhor cultivar o temor reverencial dos militares. E o “revisionismo” da esquerda, convencida de que derrotou a Ditadura porque soube reencontrar enfim a Democracia contra a qual atentara no passado, provocando a compreensível embora desproporcional reação dos aparelhos coercitivos encarregados de garantir a lei e a ordem.”

Deixe seu comentário

Leia também