Wilson Cano: A crise no Brasil já dura 35 anos

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Entrevista de Rennan Martins (reprodução parcial), via Carta Maior

Encerraremos 2015 com um encolhimento que deve ultrapassar 2% do PIB. Como chegamos neste quadro? Quais são suas principais causas?

Wilson Cano: Estamos numa crise que já conta 35 anos de idade! Não caímos apenas na passagem 14-15. Passamos pela década de 80, da crise da dívida, em que o Estado nacional foi fragilizado fortemente. Depois, na de 90, com a instauração do neoliberalismo, abriu as comportas da fragilizada economia nacional, com a liberalização comercial e financeira, a privatização e perda de vários direitos trabalhistas. Esta última, valorizou fortemente o câmbio, jogando a pá de cal sobre a indústria nacional. O pior é que não foram apenas os governos “liberais” que fizeram isso: depois de Sarney (final de seu governo), Collor, Itamar e FHC, o PT deram continuidade à política macroeconômica neoliberal, a despeito de suas progressistas políticas sociais e de uma nova postura na política externa.

O quanto o cenário internacional afeta o mercado interno brasileiro? Quanto podemos atribuir a erros de gestão governamental?

Wilson Cano: Com a queda de exportações, é claro que os setores exportadores perdem, desempregam e eduzem, portanto, a renda por eles gerada. Além do mais, tanto Lula como Dilma praticaram elevadas taxas de juros, aumentando sobremodo a dívida interna e o montante de juros pagos no orçamento federal. Hoje, eles fazem algo como 8% do PIB e cerca de 95% do deficit fiscal!

Poderia nos explicar as razões e a forma com que a crise de 2008 saiu dos países desenvolvidos e agora atinge as economias emergentes?

Wilson Cano: A predominância do capital financeiro nas relações econômicas internacionais, a política neoliberal e a globalização ampliaram sobremodo a internacionalização das grandes empresas e bancos transacionais — sobretudo os norte-americanos. Com a adoção das políticas neoliberais, a maioria dos países foi fortemente afetada por aquela internacionalização, que contaminou sua finança privada e pública, deteriorando suas economias.

De que maneira se estabeleceu a hegemonia dos ditames ortodoxos no campo da política econômica? Por que há tanta dificuldade em produzir novos consensos?

Wilson Cano: Para acabar de vez com o Padrão Ouro-Libra, fez-se a 1ª Guerra Mundial, para reorganizar as economias destroçadas pela grande depressão dos 30, fez-se a 2ª Guerra. Os EUA consolidaram sua hegemonia com a crise dos 70, liquidando com grande parte do socialismo e restaurando sua hegemonia do capitalismo. Como vê, não é a falta de “pactos” ou de “consensos” (aliás vivemos hoje o de Washington) que “não se arruma a casa”. Não se arruma, porque o capitalismo, com sua predominância financeira, nunca foi tão voraz e irracional, nunca criou tantos miseráveis como hoje, e nunca alimentou e realimentou tantas guerras como nos últimos 30 anos! Soltaram a fera, com a desregulamentação, agora, que se cuidem todos…

PS do Viomundo: A ideia de que o Brasil poderia engatar vôo solo num quadro de desindustrialização é infantil. Além do mais, nunca houve consenso da elite brasileira em defesa da soberania. É bem mais fácil ganhar a vida como capitalista subordinado, o que exige preservar a tremenda desigualdade interna. Isso explica em parte a reação psicopata contra o tênue reformismo do PT, ou “melhorismo”, como bem definiu Plinio de Arruda Sampaio.

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Comentários

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Urbano

Pouquíssimos países do orbe terrestre suportam a sangria perpetrada pelos quatro poderes da república bandida da oposição ao Brasil, principalmente por tanto tempo, que nos dá a impressão de ser per saecula saeculorum…

    Urbano

    Sim! Na melhor das hipóteses, a gente vai ter que inverter esse número…

FrancoAtirador

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Passam-se os Milênios e a Maioria das Pessoas
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ainda não conseguiu desvendar quem ganha
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com a Fome, com a Guerra e com a Doença.
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FrancoAtirador

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Faz 515 Anos que o braZil vem trocando de Mão.
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