Altercom: Entrevista com Venício
dos arquivos do Viomundo antigo
Atualizado em 12 de março de 2010 | Publicado em 12 de março de 2010
11.03.10 – BRASIL
Altercom: Um representante das mídias alternativas. Entrevista com Venício Lima
IHU – Unisinos *
na Adital
Há cerca de 15 dias, empresários e empreendedores da área de comunicação, representantes de pequenas mídias, ou mídias alternativas, reuniram-se para efetivar um projeto pensado durante o processo da 1º Conferência Nacional de Comunicação. A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação – Altercom é uma associação feita para representar aqueles que estão por trás das produções das mídias alternativas e que não têm interesses defendidos por outras organizações semelhantes, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
“A convocação recente para a 1º Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), e sua efetiva realização em dezembro do ano passado, tornou mais claro que existe uma divergência importante de interesses entre esses grandes grupos empresariais, representados por essas associações e grupos de empresários numa escala econômica bem menor, e são ligados a novas mídias”, considerou o professor Venício Lima durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line por telefone.
Conhecido por seu comprometimento com o direito da comunicação, Venício participou das discussões durante a Confecom que idealizaram a Altercom. “Eu vejo a Altercom como uma iniciativa no caminho da democratização do mercado da mídia no Brasil”, verbalizou.
Venício Artur de Lima é sociólogo, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais. É mestre em Advertising, pela University of Illinois, onde também realizou o doutorado em Comunicação e o primeiro pós-doutorado. Também é pós-doutor pela Miami University. É professor aposentado pela Universidade de Brasília (UnB). Escreveu Mídia: crise política e poder no Brasil (São Paulo: Perseu Abramo, 2006) e Rádios comunitárias: coronelismo eletrônico de novo tipo (São Paulo: Observatório da Imprensa, 2007), entre outras obras.
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Confira a entrevista.
IHU On-Line – O que é a Altercom?
Venício Lima – A Altercom é uma associação de empresários e empreendedores da área de comunicação que não se sentem representados pelas atuais associações que existem no setor, mais especificamente a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Estas são associações tradicionais que historicamente têm representado o interesse dos grandes grupos de comunicação existentes no país, tanto na área de radiodifusão quanto na área de impressos. A convocação recente para a 1º Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), e sua efetiva realização em dezembro do ano passado, tornou mais claro que existe uma divergência importante de interesses entre esses grandes grupos empresariais, representados por essas associações e grupos de empresários inseridos numa escala econômica bem menor, ligados à mídia alternativa. Esses empresários e empreendedores, que participaram da Confecom enquanto os outros grandes grupos não só não participaram como boicotaram a conferência, tiveram contato durante as fases preparatórias do evento e chegaram à conclusão de que precisavam se organizar para que seus interesses e ponto de vista fossem representados na disputa que se faz nesse setor no país. Então, na verdade, a Altercom é o resultado dessa constatação, que não é nova, mas que ficou evidente durante a realização da 1º Confecom.
Faz parte do jogo democrático a associação de grupos e pessoas que têm interesses comuns para defesa e luta por seus interesses. Existem várias formas de associação, desde partidos políticos até a Altercom. Vou dar um exemplo muito objetivo e concreto: o Estado brasileiro é o maior anunciante do país. Se você manusear, ver, assistir qualquer veículo de comunicação comercial no Brasil, vai constatar que, em alguns casos de forma muito evidente, outros nem tanto, o Estado é o grande anunciante. Essas associações que representam os grandes grupos funcionam, dentre outras coisas, como representantes dos interesses desses veículos inclusive na distribuição desses recursos que são públicos. E essa mídia alternativa, que tem uma escola comercial menor, trabalha com novas tecnologias e tem dificuldades de acesso à parte desses recursos publicitários, por várias razões. Uma delas é porque os anunciantes comerciais normais resistem e até mesmo desconhecem a penetração dessa nova mídia. Assim, essa nova associação vai disputar em nome desses pequenos empresários da mídia alternativa e representar seus interesses em relação ao bolo publicitário e exercer um papel educativo de mostrar que está havendo uma mudança muito grande nesse setor de mídia, assim como deve mostrar o crescimento importante da mídia alternativa. Do ponto de vista comercial, é absolutamente justificável que exista uma associação desse tipo.
IHU On-Line – Quem está participando da Altercom?
Venício Lima – O grupo que publica a revista Fórum, o grupo que publica a revista Caros Amigos, o grupo Aboré, o site multimídia Carta Maior, vários blogueiros como Rodrigo Viana, a Casa de Cinema de Porto Alegre, o jornal ABCD Maior, a Adital, edições Paulinas, editora Boitempo, o blog do Nassif, o site Vermelho, a Fundação Perseu Abramo, a Revista do Brasil, a Teoria e Debate, o Núcleo Piratininga… São cerca de 60 empresários. Esses nomes que te dei já dão uma ideia.
IHU On-Line – O que significa defender as posições políticas desse setor?
Venício Lima – Vejo a Altercom de maneira extremamente positiva porque entendo que, no Brasil, se tem não apenas uma mídia concentrada, mas as associações que a representam. O sistema de mídia brasileiro precisa de regulação, mais pluralidade e diversidade. Eu sou um sujeito comprometido com a ideia de direito da comunicação, o que significa não só a liberdade de ser comunicado, mas de comunicar, de ter acesso a mídias e equipamentos para tornar a sua opinião pública. Eu vejo a Altercom como uma iniciativa no caminho da democratização do mercado da mídia no Brasil.
IHU On-Line – A Altercom tem relação com o Fórum de Mídia Livre?
Venício Lima – Eu tenho impressão que o Fórum de Mídia Livre tem ligação com essa organização da mídia alternativa. Porém, durante a fundação da Altercom, não apareceu uma relação com o Fórum de Mídia Livre.
IHU On-Line – Existem, no mundo, organizações com ideias próximas ao da Altercom?
Venício Lima – Com certeza. Nos Estados Unidos, tem o Media Consortium, que reúne empresários da mídia independente, como eles chamam. No mesmo dia em que fizeram reuniões aqui para falar da Altercom, os empresários da mídia independente se reuniram em Nova York para tratar das mesmas questões. Isso mostra que não é só no Brasil que iniciativas desse tipo estão acontecendo. Uma explicação para essas iniciativas é a inquestionável mudança que está acontecendo no mercado de mídia, porque vivemos uma crise universal da mídia impressa, há uma queda de audiência importante nos canais tradicionais de televisão. E nesses espaços de crise e com a capilaridade cada vez maior das novas mídias, sobretudo a Internet, é natural que empreendedores e empresários não se sintam representados pelas associações existentes.
IHU On-Line – Qual seria a diferença fundamental entre a Altercom e entidades como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert)?
Venício Lima – A primeira diferença é de escala, porque essas associações representam a grande mídia. A Abert, apesar de ela representar concessionárias do serviço público, historicamente tem representado, sobretudo, os interesses das organizações Globo e seus afiliados Brasil afora. A ANJ, atualmente, é presidida por um superintendente do Grupo Folha. Já a Anert tem representado, principalmente, os interesses do Grupo Abril. A Altercom está representando empresários que estão em escalas menores, mais associados com a mídia alternativa, e têm maior entendimento em relação a questões ligadas ao direito da comunicação, liberdade de expressão e de imprensa. Esse entendimento do papel e do espaço da mídia é muito diferente desses grandes grupos. Essas são algumas diferenças, mas isto vai ficar ainda mais claro quando sair a carta de princípios e o estatuto. Eu tive uma informação no dia 09-03 de que a carta já está redigida, mas ainda não foi divulgada.
IHU On-Line – Que novidades as mídias podem trazer durante o processo eleitoral deste ano?
Venício Lima – Já em 2006, vários estudos mostraram que a Internet desempenhou um papel muito importante em relação ao comportamento da grande mídia. Depois disso, houve as eleições nos EUA que elegeram Barack Obama, e, nesse momento, esse papel das novas tecnologias foi fundamental para Obama, sobretudo na arrecadação de recursos. Embora haja diferenças grandes entre o que acontece no Brasil e o que acontece nos Estados Unidos, eu não tenho dúvida que, nesse processo de transformação que a mídia está sofrendo, a Internet tem um papel cada vez mais importante, porque ela está deslocando da grande mídia tradicional o monopólio da formação da opinião.
* Instituto Humanitas Unisinos
Comentários
Flavio Lima
Isso sim é boa noticia.
Quero ser cliente da Atercom.
Hans Bintje
Qual é a pessoa que escolhe as "Imagens da Vez" no Viomundo?
Hoje (22/04) tem até retrato do Peter Paul Rubens!
Eu gostaria de começar uma mídia alternativa assim. Arte, a possibilidade de transcender – mesmo que seja um pouco – a miséria humana que falava Machado de Assis.
Será que existe chance de fazer isso?
De pensar que existem versos escritos pelo grego antigo Homero, recontados por Jorge Mautner para as crianças da periferia e que provocaram uma reação linda:
– Conta mais, tio!
Eu também peço para a pessoa do Viomundo:
– Mostra mais, tio!
E, se possível, tente entrevistar o Jorge Mautner. Essa história da poesia grega clássica para as crianças sempre me emociona!
Hans Bintje
E, enquanto isso, eu preparo um pouco de Altbier – em alemão, cerveja antiga, em português, um ótimo trocadilho para cerveja alternativa.
Explico (http://blog.bottobier.com.br/2010/04/12/minha-1%C… ):
"Este é o espírito do cervejeiro caseiro, compartilhar sempre. Até porque não há o que esconder, repito isto sempre, pois como cozinhar, se déssemos os mesmos ingredientes e equipamentos pra dez chefs diferentes, teríamos ao final dez pratos também diferentes. Tudo que fugir disso é reminiscência do passado das grandes, adeptas dos segredos industriais, dos mitos e dos sofismas. Não temos o que esconder, não usamos milho, arroz, matéria primas ruins ou nada que possa denegrir nossa cervejinha, desvalorizando-a ao ter seu processo conhecido, pelo contrário. E se inventamos algo novo, por que não dividir? (…)
É muito bom receber mensagens de amigos, às vezes até desconhecidos, hehehe, perguntando se podem fazer alguma das receitas que coloquei no site. A resposta é óbvia: mas é CLARO que podem, é um prazer, do contrário não as colocaria aqui. Mais gostoso ainda é receber o feedback de como ficaram as receitas prontas, e de vez em quando até receber umas garrafinhas com as versões dos amigos."
Qualquer semelhança com o espírito da Altercom NÃO SERÁ mera coincidência.
Raphael Tsavkko
Meu caro, ainda não fizemos nem a segunda reunião! A ALTERCOM foi fundada e ponto. A direção agora deve convocar todos a decidir os próximos passos. Receberemos sugestões e etc. Assim que algo sair será amplamente divulgado!
Raphael Tsavkko
E eis a carta de princípios da ALTERCOM:http://tsavkko.blogspot.com/2010/04/altercom-e-en…
jose carlos lima
Raphael, penso que devido a diversidade da blogosfera surgirá dentro da altercom vários núcleos,,tais como o dos blogueiros anarquistas, comunistas, glbt, etc
Gostaria de participar através de um destes núcleos
Já existe algum?
Quais
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