Urariano Mota: Nesse domingo, o Recife voltou a ser vermelho

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Urariano Mota com  João Paulo (primeiro, à esquerda), “o candidato ao Senado que a pregação do cadáver de Eduardo Campos crucificou nas urnas” 

por Urariano Mota, do Recife

Ontem, o Recife Antigo – ruas em torno do porto, onde a cidade nasceu – se tornou vermelho.

Com um convite à militância de Dilma para que comparecesse à saída do bloco de carnaval Eu Acho é Pouco, houve um comparecimento em massa de todas as tribos de esquerda e de centro e indecisos no Marco Zero e na Rua do Apolo. Olhem, a cor dominante era a vermelha. E com alegria e com orgulho.

Todas as tribos, quero dizer, velhos, crianças, jovens, idosos, bebês carregados no colo e em carrinhos, mas nada de escadaria Odessa no Encouraçado Potemkin, apenas uma formação de militância. Essas crianças vão ser socialistas e de esquerda no futuro, eu não tenho nem dúvida. E quando eu digo todas as tribos, quero dizer também: classe média, trabalhadores, estudantes, negros, brancos, mulatos, caboclos, intelectuais, artistas e analfabetos. E moças e moças e moças de todas as cores, evangelhos e credos, num autêntico creio em deus pai todo poderosos criador da esquerda e da terra do Recife.

Aquela ideia de não-lugar, de estranhamento, de virar estrangeiro em minha própria cidade, que senti com o resultado das eleições para governador, foi embora. O Recife ontem voltou a ser o abrigo primordial do útero coletivo. A terra que nos faz crescer com novas forças, como aquele deus grego que no contato com o chão virava imortal.

Houve, em especial, dois instantes comoventes: por volta das 5 e 30 da tarde um congraçamento de blocos, com seus bonecos gigantes (e cada um de nós é um boneco daqueles), entrou na Rua do Apolo, que no passado era rua de prostitutas e hoje é rua de todos nós, amantes, amados e amadas.

O outro momento foi o ex-prefeito João Paulo, que a pregação do cadáver de Eduardo Campos crucificou nas urnas. João Paulo chora com um sorriso. Havia filas de pessoas querendo tirar fotos a seu lado, os famosos selfies, que não mais são selfies, mas registros de um momento único.

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Eu entrei na fila e queriam tomar o meu lugar, ao que eu protestava: “eu estou na fila”.

E consegui tirar uma foto ao lado do ex-prefeito, que trazia no rosto as marcas tristes da última batalha. E gritei na hora das luzes: “O melhor prefeito do Recife”. Eu não pude nem olhar para ele, que respondeu com um gutural, de voz embargada: “Muito obrigado”.

Não sei se a tarde e a noite de ontem foram termômetro das urnas. Mas com tanta gente de todas as cores e raças e idades, dos bebês que não estavam em Odessa, mas cujos pais iriam à escadaria se estivessem na Rússia do czar, debaixo da estátua de Chico Science na Rua da Moeda, eu soube então que ontem o Recife foi o lugar. Do Brasil.

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