UPA da Zona Leste teve de transferir pacientes às pressas por falta de pressão no oxigênio

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Reprodução

Alerta de falta de oxigênio em SP e no DF amplia mapa do colapso nacional

Pelo menos 76 municípios de 15 estados estão com o estoque do produto prestes a acabar, diz Frente Nacional de Prefeitos

Por Cristiane Sampaio, Brasil de Fato

A tragédia que marca o desenrolar da pandemia no Brasil ganhou um novo capítulo neste sábado (20), com a emergência de notícias sobre falta de oxigênio em alguns pontos do país.

A UPA Ermelino Matarazzo, localizada na Zona Leste da capital paulista, por exemplo, precisou transferir dez pacientes na noite de sexta (19) por conta da carência do gás.

A informação veio à tona neste sábado em reportagem do jornal O Globo, segundo o qual esta é a primeira vez em que há escassez do insumo no local.

De acordo com entrevista dada à imprensa pelo secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, o motivo do problema parte do próprio fornecedor, a empresa White Martins, principal fabricante de oxigênio hospitalar no Brasil.

Procurada pelo Brasil de Fato, a empresa negou à reportagem que tenha ocorrido esse tipo de problema.

O fabricante alega que as UPAs não têm estrutura necessária para o aumento do consumo de oxigênio, um dos principais efeitos colaterais do descontrole da pandemia.

“Essas condições interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás”, disse, em nota.

A UPA em questão, por exemplo, vem registrando aumento exponencial na utilização do produto, que saltou 16 vezes entre dezembro e março.

O Brasil de Fato tentou contato direto também com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, mas ainda não obteve resposta sobre o caso.

Caos nacional

O problema gera preocupações em outras regiões do país. A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) projeta que pelo menos 76 municípios de 15 estados estão com o estoque de oxigênio hospitalar prestes a acabar.

Acre, Ceará, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rondônia estão no roteiro de unidades federativas com alerta de escassez do produto.

As cidades de Ibiapina (CE) e Delfim Moreira (MG), por exemplo, informaram à entidade que já registram falta do gás e hoje contam com a solidariedade de municípios vizinhos para atender a demanda.

Agentes policiais em atuação no transporte de oxigênio durante auge da crise do produto em Manaus (AM), em janeiro deste ano / SSP-AM
Roraima

Neste sábado, o Ministério Público Federal (MPF) divulgou o envio de um ofício ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na noite de sexta (19), para alertar sobre a escassez dos kits em Rondônia.

A instituição destaca informações concedidas pela empresa que fornece o insumo para 33 municípios do estado e algumas unidades da capital, Porto Velho.

No documento, o MPF menciona que a quantidade de 5 mil m³ enviada ao estado na sexta não atende às necessidades do momento. “Se nenhuma providência for tomada, dia 24 de março de 2021 o estado sofrerá com desabastecimento”, projeta.

Ao dar ao MS prazo de resposta até segunda (22), o MPF destaca ainda que a empresa projeta que serão necessários 160 mil m³ de oxigênio hospitalar além dos 80 mil m³ que a fornecedora tem condições de garantir.

DF

A diretora de Práticas de Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem, Karine Rodrigues, aponta que o problema exige maior atenção neste momento.

Ela ressalta a preocupação com a utilização de “gambiarras de oxigênio” montadas, por exemplo, em unidades de saúde do Distrito Federal (DF).

A prática surgiu a partir da necessidade de divisão dos kits do produto entre vários pacientes por conta da carência do insumo.

“Quando você coloca [o doente] a uma distância muito grande do ponto do oxigênio, o produto dispersa, então, você não está oferecendo oxigênio adequado pro paciente”, explica a profissional, ao realçar que, na quarta (17), um hospital de Planaltina (DF) entrou em colapso temporário por conta da demanda.

“Tiveram que interromper o oxigênio por um intervalo de tempo porque começou a ter ameaça de princípio de incêndio porque foi muita demanda. O suporte que fica na parede não estava dando conta. Tiveram que desligar todos os aparelhos desse suporte. A associação tem percebido que os hospitais estão muito cheios”, acrescenta Karine Rodrigues.

O secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros do DF, Jorge Henrique, pontua que o problema da escassez de oxigênio em unidades de saúde distritais passou a chamar a atenção duas semanas atrás. Foram registrados episódios do tipo em diferentes pontos de atendimento.

A entidade está envolvida numa força-tarefa de fiscalização que reúne ainda Conselho de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), Conselho Regional de Enfermagem e entidades de psicólogos e assistentes sociais.

“Sempre a gente está recebendo denúncias de profissionais sobre as condições de trabalho, oxigênio, etc. Hoje a gente ainda não recebeu nenhuma denúncia, mas as pessoas têm reportado muito esses problemas de sobrecarga [no uso do oxigênio]”, diz Jorge Henrique, ao citar os riscos de curto-circuito e falta de energia.

O Brasil de Fato tentou ouvir a Secretaria de Saúde do DF a respeito da falta do insumo, mas não conseguiu contato neste sábado.

O DF está em lockdown parcial por determinação do governador, Ibaneis Rocha (MDB), mas as políticas de isolamento têm sido marcadas pela instabilidade.

Atualmente, igrejas, academias e escolas, por exemplo, têm autorização para operar. Dados deste sábado mostram que a taxa de ocupação de leitos de UTI destinados ao tratamento de pacientes com covid no SUS está em 97% no DF.

Edição: Lucas Weber


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