UNB: A Globo e a maconha no campus

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do leitor Leonel, via e-mail

Relatório afirma que Rede Globo feriu Código de Ética em matéria sobre CA’s

Documento produzido por comissão de professores criada para avaliar acusação de consumo de drogas e venda de bebidas foi entregue ao reitor

Thássia Alves – Da Secretaria de Comunicação da UnB

Relatório da comissão criada pra avaliar reportagem exibida no programa DFTV sobre suposto consumo de drogas e comércio de bebidas alcoólicas nos Centros Acadêmicos da Universidade de Brasília concluiu que a Rede Globo de Televisão feriu o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Quebra de decoro, prática indutiva, montagem de cenas, má-fé e editorialização dos fatos são condutas atribuídas à equipe de reportagem pelos professores que assinam o relatório.

“A reportagem cumpriu o dever da imprensa para com o interesse público, mas, ao mesmo tempo, prestou um desserviço ao manipular fatos e informações”, diz o documento, entregue nesta quarta-feira pela comissão ao reitor José Geraldo de Souza Junior e encaminhado também à Rede Globo.

De acordo com o relatório, a reportagem, exibida em 14 de janeiro deste ano, utilizou imagens de diferentes Centros Acadêmicos, feitas em horários distintos, e as atribuiu ao CA de Geologia (CAGEO). “Uma tomada em que aparece alguém fumando um cigarro de maconha foi feita num contexto e atribuída a outro, onde não foi constatado o consumo de drogas ilícitas”, aponta o relatório. A apuração mostra que, para conseguir viabilizar a reportagem, um dos cinegrafistas se fez passar por estudante e usou a droga junto com um grupo de alunos.

Também foi apontada má-fé na abordagem e na condução da fonte. Segundo o relatório, o prefeito do campus foi procurado pela equipe para conceder uma entrevista sobre segurança, mas não tratou do assunto. Paulo César também foi retratado erroneamente como vítima de cárcere privado. “Ele entrou na sala e ficou por livre e espontânea vontade durante três minutos e não dez, como noticiado”, mostra o documento. “Foi armada uma cilada para desmoralizá-lo”, afirma o professor Luiz Martins da Silva, da Faculdade de Comunicação (FAC), um dos integrantes da comissão.

A reportagem também afirmou que, mesmo sendo acionada pelo prefeito, a equipe de segurança não foi ao local da festa. “O serviço de segurança estava presente no local. Porém, seguindo determinações do próprio prefeito, a equipe ficou afastada enquanto o prefeito atendia a repórter”, descreve o relatório.

A comissão considerou ainda opinativos e tendenciosos os comentários do apresentador do DFTV Alexandre Garcia. “Ele disse que a UnB é uma universidade decadente há 25 anos. Ora, todo contexto de crescimento e produtividade foi ignorado”, afirma o professor Luiz Martins, que também é coordenador do projeto SOS Imprensa. “A consequência disso tudo é que houve uma distorção do que é a universidade. Condutas não comuns foram generalizadas e estereotipadas causando apreensão na comunidade externa e interna e dano à imagem”, explica.

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O relatório considera que, ao manipular fatos e informações, a reportagem trouxe “dano à imagem da UnB perante a população, que passou a ter ‘dados’ segundo os quais a universidade é um local de risco para seus freqüentadores que, em busca dos seus principais serviços – ensino, pesquisa e extensão –, acabam se deparando com oportunidades de práticas e consumos ilegais”.

Além do professor Luiz Martins, a comissão é composta pelos professores Luciano Soares da Cunha, do Instituto de Geociências (IG), e Maria de Lourdes Ribeiro, técnica em assuntos educacionais do Decanato de Gestão de Pessoas (DGP). Foram entrevistados pelos integrantes da comissão Paulo César Marques, prefeito dos campi, um responsável pelo serviço de limpeza do campus, que optou por não se identificar, Edmilson Lima, chefe da Coordenação de Proteção ao Patrimônio (CoPP) e  Fabrício dos Santos, presidente do CAGEO. Procurada, a Rede Globo não quis prestar depoimento.

OUTRO LADO
– Em depoimento, o presidente do CAGEO, Fabricio dos Santos, conta que a confraternização dos alunos estava acontecendo com ordem quando um homem com uma mochila entrou na sala e disse estar à procura de um aluno da Química. Em seguida, ele deixou o espaço e foi até o Centro Acadêmico de Geofísica (CAGEF). Lá, os estudantes estavam jogando vídeo-game e fumando maconha. O cinegrafista abordou os alunos e perguntou onde poderia comprar drogas. Depois de questioná-los, se juntou ao grupo e também usou a droga.

Em seguida, o cinegrafista e a repórter voltaram à festa do CAGEO, passearam pela sala e, parando no caixa onde estava sendo vendida bebida alcoólica, a repórter perguntou se tinha vodca. Os profissionais compraram duas latas de cerveja e foram embora deixando um troco. Ao sair da sala, a profissional teria dito a um dos estudantes que era aluna do Jornalismo. O aluno viu quando a repórter e o cinegrafista entraram no carro da Rede Globo.

Cerca de 1h30 depois, a equipe de reportagem, acompanhada pelo prefeito, voltou ao CA. “Nesse momento, quando um aluno percebeu o reflexo das luzes da câmara, fechou a porta”, afirma o relatório. Segundo o estudante, quando Paulo César afirmou que a entrada de uma autoridade não poderia ser impedida, os estudantes abriram a porta e pediram para que a repórter não entrasse. Ao contrário do que a reportagem noticiou, Paulo César não foi “retido” pelos alunos, diz o relatório.

Junto aos estudantes, o prefeito constatou o consumo de cervejas e cigarros. Porém, não identificou o uso de maconha ou de qualquer outra substância ilícita. Enquanto conversavam com Paulo César, Fabrício afirma que a jornalista insistia em empurrar a porta. “Foi quando houve o incidente em que a câmera mostra que ela teria ficado com o sapato preso, o que motivou que alguém, supostamente o cinegrafista, desse um pontapé na porta para liberar o pé da repórter”, disse o estudante. Enquanto esteve na sala, o prefeito disse que acionou a equipe de segurança, que chegou ao local.

O presidente do CA afirma que em nenhum momento foi convidado a dar entrevistas sobre a reportagem. “Se isso tivesse acontecido, a repórter teria conseguido todas as informações sem precisar se infiltrar em uma festa, junto com sua equipe, disfarçados de convidados”, disse Fabricio. “Eles sofreram as consequências dos problemas que aconteciam no Corredor da Morte”, disse o professor Luciano Soares da Cunha, do Instituto de Geociências.

RECOMENDAÇÕES
– A comissão recomenda que as festas realizadas nos campi devem ser autorizadas pela Administração, independentemente do horário previsto para ocorrerem e do número de convidados. Os procedimentos para solicitar a autorização precisam ser divulgados no Portal da UnB e devem estar de acordo com as exigências da Diretoria de Serviços Gerais da Prefeitura, do Corpo de Bombeiros e demais órgãos competentes. Hoje, as festas precisam de autorização das unidades acadêmicas ou decanatos e só podem acontecer após às 22h.

De acordo com o documento, foi verificado que quando as festas possuem autorização não há problemas de dano ao patrimônio, atos ilícitos ou tumultos. “Tudo fica em ordem e a limpeza é um procedimento normal”, diz um funcionário da Prefeitura não-identificado no relatório. Já nas festas clandestinas, o cenário muda: muita sujeira, mau uso do patrimônio público, furto de fechaduras e torneiras, vidros quebrados e até salas de aula arrombadas. “Nestes casos, além de fazer a ocorrência no livro preto, é acionado o Serviço de Segurança para que seja feita a ocorrência e comunicado à Diretoria de Serviços Gerais”, explica o servidor.

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