Ubiratan de Paula Santos: É preciso remar contra a maré e a hegemonia que o andar de cima construiu e mantém

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Foto: Pixabay

Por Ubiratan de Paula Santos*

Aviso aos engenheiros deste grupo de WhatsApp: a Poli [Escola Politécnica da USP] está selecionando 4 professores temporários para o Departamento de Engenharia de Produção.

Oportunidade ‘’imperdível’’, salário ‘’excelente’’: R$2.558,68 por 12 h semanais (notícia da agência Fapesp desta quarta-feira, 20/03).

Professor temporário, sem direitos, é uma modalidade que a USP tem usado cada vez mais para suprir a falta de professores regulares.

A USP se nega a preencher adequadamente as vagas dos professores que vão se aposentando, por exemplo, pois não recebe grana suficiente do governo do Estado de São Paulo e não pressiona para recebê-lo.

Resolveu, assim, aceitar o cobertor curto e criar essa escrotidão de modalidade, que são os professores temporários.

Também nesta quarta-feira, 20/03, a imprensa (Valor Econômico) noticia que o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) anulou R$1,3 bilhão em multas da Rede d’Or por praticar pejotização.

Mas o Carf ”falou grosso”. A Rede d’Or foi isenta de R$ 1,3 bilhão, mas terá que pagar a fortuna de R$2 milhões, 0,15% do devido, algo como os bônus de quatro executivos.

Defensores da empresa alegam que vínculo empregatício é ‘’incompatível’’ com a atividade de médicos (que o digam os milhares que atendem no programa de saúde família, na atenção básica, Brasil afora), que gostam mesmo é de serem PJ, não é verdade?

Em outras palavras. Tal como entregadores e uberizados, os médicos não quereriam ser registrados, alega a Rede d’Or.

Será isso mesmo?

Ou será que decidiram aceitar esta imposição do neoliberalismo, que ganha consciências e transforma pessoas em carneiros para o abate?

Diante disso tudo, me pus a fazer mais perguntas para tentar descobrir as enaltecidas ‘’vantagens’’ do trabalho sem direitos trabalhistas.

Alguns exemplos:

1. Para que ter férias remuneradas, se temporários, pejotizados ou uberizados, inclusive médicos, podem trabalhar 12 a 15 horas diárias, guardar uma grana por mês e no final do ano ir à Disney ou à Praia Grande?

2. Qual a serventia do 13º salário? Para que esse mimo que corrói o lucro das empresas?

3. E do FGTS? Comprar a sua casa, ter uma reserva financeira em caso de perda de emprego ou, ao final da vida, viver com as ‘’gordas aposentadorias’’ que irá receber? Pra quê?

4. Qual a finalidade de a gente se aposentar? Ter direito à previdência com auxílio doença ou aposentadoria por trabalho ou doença? Ou ter pensão em caso de morte do companheiro ou companheira? Luxo de marajá, não acham?

Atualmente, “uberizados”, professores temporários da Poli/USP, médicos e outros profissionais de saúde acham muito ruim ter esses vários direitos. Eles querem apenas viver o hoje, o agora, sem pensar no futuro.

— E como vão se aposentar?

Como frequentemente não contribuem para a previdência, não vão se aposentar.

E que a própria previdência se exploda mais à frente por menos gente contribuir e com valores cada vez menores.

Para que debater abertamente com quem aceita essas imposições do neoliberalismo, explicando o hoje e o amanhã das pessoas?

Para que debater com maiorias que não aceitam a democracia?

Para que debater com a maioria que perfila na boiada guiada pelos bispos vaqueiros. Temos que aceitar, não acham?!

Se não querem direitos, paciência.

Se não querem democracia, paciência.

Se querem bandido bom bandido morto, paciência.

Se querem que Gaza se exploda, paciência.

A canga sobre os que querem mudar o país, para atender melhor a maioria da população, tem que ser eliminada.

Isso exige remar contra a maré, contra a hegemonia que o andar de cima construiu e mantém.

Logo, demanda luta.

*Ubiratan de Paula Santos é médico e doutor pela FMUSP.

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