Tony Nakatani: Aumento de 42% para professores não é o que parece

Tempo de leitura: 2 min

POLÍTICA: SOBRE A EDUCAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO E A FALÁCIA DOS JUROS COMPOSTOS

Posted on 13/05/2011, sexta-feira, 09:56

por Tony Nakatani*, em seu blog

O governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou hoje um plano de aumento salarial para os professores da rede de ensino, plano que é para os próximos quatro anos. No ano que corre, o reajuste será de 13,8%. Na proposta quadrienal, anunciou um aumento salarial de 42%, o que, segundo alguns meios de comunicação colocaram, vai além dos 36,7% reivindicados pela APEOESP.

Entretanto, essa notícia alardeada em letras garrafais pelos grandes jornais que se situam nesse estado, esconde uma falácia que somente procura enganar os professores e ainda mais a população, fazendo crer que há uma preocupação do governo, que está sob um mesmo modelo de gestão há 16 anos, voltado para a questão educacional do estado. Além de não refletir os anseios da classe, ela esconde as causas que têm levado a um estado cada vez mais precarizado do ensino público paulista. A questão salarial é um fator relevante, mas não o essencial para compreender a degradação dos índices educacionais demonstrados pelas avaliações que são realizadas tanto em âmbito local quanto nacional e internacional.

Para começar com a questão salarial, é fantasioso pensar que o reajuste anunciado de 42% seja a melhor proposta que o governo possa fazer. E aí um esclarecimento é necessário, a reivindicação da APEOESP, balizados por dados de pesquisa realizados pelo DIEESE, de 36,7%, diz respeito a um reajuste que recomponha as perdas salariais desde 1998, ainda que esse mesmo governador tenha dado um reajuste em 2005. Portanto, dividir a meta de reajuste em quatro anos não representará ganho real no salariado do professorado paulista, quando muito continuará na mesma situação.

Certamente que você afirmar que está dando 42% de aumento é uma publicidade em tanto – os aumentos anuais são 13,8 em 2001, 10,2 em 2012, 6 em 2013 e 7% em 2014 – podendo colocar o índice sobre o que era o desejo do sindicato. O nome para que se tenha chegado a esse número de 42% chama-se de juros compostos, ou seja, a incidência de juros sobre juros. Mas, não foi dito que isso diz respeito ao salário que está sendo pago atualmente, e que não sofre reajuste há pelo menos uma década. Portanto, esse reajuste somente seria efetivo se nos próximos quatro anos não houvesse inflação – e nem estou afirmando aqui sobre as metas inflacionárias que tanto falam que estão estouradas.

Ou seja, o governo do estado comete uma desfaçatez para com a classe e para com a população, posso não ser um matemático ou economista, entretanto creio que a proposta não leva em consideração as perdas futuras que comerão o poder de compra dos salários; e mais, não promove nenhuma política salarial porque o que está em discussão é justamente a recomposição das perdas passadas e isso não ocorrerá com o tal plano de “valorização profissional” promovido por esse estado. É enganação travestida de discurso político, como se demonstrasse o interesse para com a educação.

Para continuar lendo, vá ao blog do professor.

*Professor de Sociologia da rede de ensino de São Paulo


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Comentários

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Ana Maria

Com certeza o governo não recompõe as perdas e não valoriza o profissional. Uma mentira que engana quem quer ser enganado,só morde a isca quem vota e apoia esse governo do PSDB.
Acorda professor!!!!

Ernesto Aguiar

Estou sentindo falta, tanto neste blog, como de outros ditos "progressistas", de um olhar crítico à política educacional do governador Sérgio Cabral e do prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes. Espero que não vejam estes como "aliados", como o PT do Rio que foi cooptado e hoje vota matérias que vão contra os interesses da educação e do magistério.

Prof. Garibaldo

Só falta para o Governo baixar uma lei obrigando os professores a não se suicidarem enquanto estiverem trabalhando em escolas públicas.

Mas receio que esta lei não vingue, pois trabalhar em escolas públicas paulistas já é, por si só, suicídio.

ANA

Eas as ETECS e FATECS, da Secretaria de Desenvolvimento?
Modelo Neoliberal com Gestão Medieval.

ANA

O Governo de São Paulo não está nem aí com a Educação Pública, é um fardo para ele as comunidades escolares; seu interesse é alugar a pasta para seus amigos: donos de gráfica, 'especialistas' em apostilas, donos de cursinhos de línguas estrangeiras, donos de editoras de revistinhas e reviatonas que os defendam, empresas amigas de refeição de baixo teor nutricional e por este caminho foi e continuará, se São paulo não disser um basta em 2012 e 2014.
Professor? O que é isso?

Maria Dirce

Azenha
Agora os professores e funcionários estaduais de SP aposentados, tem que pagar para receber o holerith que cai no Banco do Brasil, e o BB não quer encheção de saco para funcionários do banco ficar entregando holeriths pros funcionários do estado de sp, então temos que pagar.Ja vem uma cartinha da secretaria da fazenda explicando que dando 1 real por mes para os correios receberemos o holerity, ou tiramos na impressora.Mas claro, precisamos do original.

Adilson

E a politica do Estado do Rio, onde o professor ganha pouco mais de um salário, é colocar uma "varinha com salsicha na frente do cachorro" e fazer o docente se humilhar, divindo a classe atras dessas migalhas em forma de bônus que pulam mês a mês na promessas do governo. e que não chegam nunca…

muito triste!

Luis

O artigo e' tao vazio que acaba deixando a impressao de que pelo menos desta vez o governo Alckmin ta certo.

"Juros" compostos nao tem nada a ver com magica, e' matematica e e' perfeitamente correto dizer que o resultado dos aumentos anuais totalizara 42% ao final dos 4 anos. Infelizmente, por falta de argumento, o professor prefere apontar um tema de dificil compreensao geral como se nao fosse correto.

Segundo, e' criticavel ficar 16 anos sem dar reajuste. E e' criticavel nao considerar um potencial de perda futura quando se fala em reajuste parcelado – mas isso e' assim em todo lugar do mundo. Se a inflacao futura for alta, que os trabalhadores continuem mobilizados para corrigir o plano.

Mas nao perceber como um importante avanco que um governo que ficou 16 anos sem dar nada agora se veja obrigado a corrigir a postura (ainda que em parte) e' criticar por criticar. Eu nao tenho a menor ingenuidade de achar que Alckmin "ficou bonzinho", a mudanca e' resultado da mobilizacao dos professores, da necessidade de mostrar resultados, ate da ascensao social de outras categorias, etc… E a pressao nao deve parar. Mas uma boa maneira de perder apoio e' fazer criticas infantis como a deste artigo.

Fernando

Acho que o Geraldo aprendeu com o Sérgio Cabral como manipular dados sobre aumento de salário dos professores da rede pública.

Lazlo Kovacs

Como disse um professor amigo meu: "Chegou tarde, fui!"…
Exonerou-se.

Celso

Geraldo, tal qual um mascate, instituiu o carnê do reajuste. Um desrespeito total com a classe dos professores e uma falácia que os jornais reproduzem acriticamente.

ivania

Mas, o povo continua votando nos mesmos caras há 16 anos e é capaz de votar de novo no mesmo bando, nas próximas eleições.

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