O Brasil precisa escolher, a liderança ambiental ou em agrotóxicos, diz organização Terra de Direitos

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Foto: Ricardo Stuckert/PR

O Brasil precisa escolher: liderança ambiental ou em agrotóxicos

Por Terra de Direitos*, em Brasil de Fato

O presidente Lula tem até 27 de dezembro para sancionar o Projeto de Lei 1.459/2022, conhecido como “Pacote do Veneno”.

No ato a presidência pode escolher sancionar ou vetar parcial ou integralmente a proposta legislativa aprovada pelo Senado no último dia 28 de novembro. A escolha assumida pela presidência pode apontar uma nova contradição entre suas aspirações como liderança para pauta do clima e os direcionamentos de suas políticas.

Isso porque a sanção à proposta legislativa de autoria do hoje senador Blairo Maggi (PP-MT), conhecido como “rei da soja”, resultará em fortes impactos ambientais e à saúde humana.

E os atores públicos – Legislativo e Executivo Federal – não podem alegar desconhecerem os diversos avisos de alerta sobre os impactos deste novo marco legal para os agrotóxicos.

Diversas manifestações por organizações, pesquisadores, organismos internacionais e mesmo órgãos públicos denunciam a gravidade da medida desde o início da sua tramitação, há mais de dez anos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em nota emitida no início do mês, destacou que a medida, caso implementada, “põe vidas brasileiras em risco”.

Não apenas o órgão responsável pela avaliação dos riscos à saúde é contrário ao PL do veneno.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), setor responsável pela análise de impacto ambiental, classificou a medida como um “flagrante retrocesso socioambiental”.

A manifestação destes dois órgãos é emblemática diante do problema – já que são os principais órgãos capazes de avaliar o risco do uso dessas substâncias no Brasil.

Pela legislação ainda vigente, a Lei 7.802/1989, são a Avisa e o Ibama, juntamente com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que possuem a atribuição conjunta de avaliação, a partir de critérios técnicos e científicos, para a liberação ou veto de registros e fiscalização dos agrotóxicos.

Pela nova lei, esta atribuição é tarefa exclusiva do Mapa. Aos demais órgãos cabem apenas a revisão complementar à análise do Ministério.

Ou seja, a avaliação dos impactos para saúde e meio ambiente com a liberação de determinado agrotóxicos não apenas passa a ter menor importância como também pode nem ser requerida pelo Mapa.

Além da centralização do processo de liberação de registro no Mapa, a nova proposta contém como retrocessos a definição mais vaga do critério para veto à registros de agrotóxicos com maior grau de toxidade, a revogação de uma série de regras relativas à pagamento de taxas ambientais, a dispensa de registro de agrotóxicos para fins de exportação, entre outras medidas. É o Brasil contribuindo para envenenar não apenas o território nacional, mas o mundo.

E toda essa flexibilização da legislação dos agrotóxicos ocorre dentro de uma realidade de facilidades para novos registros.

Diferente do argumento de defesa do PL pela bancada de que a atual lei é impeditiva à aprovação de novos registros, o Brasil segue com altos números de novas autorizações de agrotóxicos.

Em 11 meses de governo Lula não houve dificuldades para novos registros de agrotóxicos: foram 505, até o último dia 05 de novembro. O alto número não é muito diferente da média anual de média de 545 liberações durante o Governo Bolsonaro, com total recorde de 2.182 liberações entre 2019 e 2022.

Durante a 28ª Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP28), em Dubai, o governo brasileiro recebeu o nada honroso antiprêmio “Fóssil do Dia” por ter se juntado à Opep+.

A articulação intergovernamental reúne países exportadores de petróleo, como Arábia Saudita, Rússia e México.

A adesão do país à Opep ocorre justamente no momento de emergência climática, em que a diminuição do uso de petróleo é compreendida como urgente. Além disso, um dia após encerramento da COP, o Brasil leiloou blocos para exploração de petróleo localizados em áreas de alto risco de impacto socioambiental.

A contradição entre o anúncio presidencial e as medidas adotadas pela gestão pública já está presente. Agora é necessário saber se permanecerá para a pauta dos agrotóxicos.

Nos últimos anos pesquisadores têm apontado para o impacto ao meio ambiente pelo uso intensivo de agrotóxicos no Brasil. Já é registrado a morte massiva de abelhas e a intensa contaminação de água.

Neste sentido, a flexibilização da atual lei pelo Pacote do Veneno vai na contramão dos compromissos assumidos pelo país, na COP28, como no discurso presidencial de proteção ambiental.

Se o Brasil quer, de fato, se assentar no lugar de liderança mundial ambiental não há outro caminho a não ser o veto integral ao “Pacote do Veneno” pela Presidência da República.

Qualquer outra medida – como veto parcial ou sanção – demonstra o contrário do anunciado compromisso com meio ambiente e saúde.

Do contrário, sem o veto, é possível prever – sem margem de erro – que 2024 será de intensificação da contaminação da terra, dos rios e dos alimentos, aumento do desmatamento e impactos ao orçamento público com tratamento da população intoxicada, entre outras realidades que acompanham o alto uso de agrotóxicos no Brasil.

* Texto assinado conjuntamente por Terra de Direitos e Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

** A Terra de Direitos é uma organização de Direitos Humanos que atua na defesa, na promoção e na efetivação de direitos, especialmente os econômicos, sociais, culturais e ambientais (Dhesca). Criada em 2002, a Terra de Direitos incide nacional e internacionalmente nas temáticas de direitos humanos e conta com escritórios em Santarém (PA), em Curitiba (PR) e em Brasília (DF).

*** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a posição do Viomundo

Edição: Vivian Virissimo

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Zé Maria

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MST doa Mais de 60 Toneladas
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A Comida chegou a cerca de 5 Mil Famílias,
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Zé Maria

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Direita Articula Federação Partidária

Três Partidos de Direita (Republicanos, União Brasil-UB e PP)
com Grandes Bancadas no Congresso Nacional dialogam
sobre a Possibilidade de formar uma Federação Partidária
que teria o Potencial de alterar profundamente a Correlação
de Forças no Cenário Politico Brasileiro.

Uma eventual Federação dos 3 Partidos de Direita
chegaria à Expressiva Marca de pelo menos 150
Representantes na Câmara dos Deputados
e 17 (Dezessete) no Senado Federal.

Além de marcarem Forte Presença no Congresso,
UB, PP e Republicanos são tradicionalmente
competitivos em Eleições Municipais e tendem
a ter um Resultado Significativo em 2024, embora
ainda não façam Previsões Assertivas.

As 3 Legendas, que compõem o Chamado ‘Centrão’,
também ocupam 5 Ministérios no Governo Lula:

1) André Fufuca (PP): Esporte;
2) Celso Sabino (UB): Turismo;
3) Juscelino Fº (UB): Comunicações;
4) Silvio Costa Fº (Rep): Portos e Aeropotos;
5) Waldez Góes (PDT indicado p/ UB): Integração e Desenv. Regional.

[Reportagem: Leonardo Miazzo (Editor do site de CartaCapital)]

Íntegra:
https://www.cartacapital.com.br/politica/direita-pode-formar-grande-federacao-e-baguncar-a-correlacao-de-forcas-no-congresso/

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Nelson

Infelizmente, a trajetória dos governos do PT não nos permite nutrir esperanças no veto.

Já em 2003 o PT “dava um cavalo de pau” e, ao invés de adotar o princípio da precaução, mudava drasticamente sua posição no tocante aos transgênicos. O tempo só mostrou o quão equivocada foi essa mudança de posição.

Ao contrário do que prometia a exaustiva propaganda em prol dos transgênicos, o uso de venenos agrícolas não diminuiu, mas se multiplicou desde aquele ano, sendo praticamente 5 vezes maior hoje.

Dá para acreditarmos que aqueles que nos empurraram essa tecnologia deletéria não sabiam que essa explosão no uso de venenos iria acontecer?

Ou seja, mentiram deslavadamente demonstrando total desprezo para com a saúde do nosso povo e para com a nossa natureza enquanto colocavam como primeira e única prioridade o aumento dos lucros da indústria química.

E, claro, também os lucros futuros da indústria farmacêutica, que, tal qual urubus ficariam à espera dos ganhos que seriam auferidos com a proliferação de doenças entre o povo.

Se colocarmos essas variáveis na discussão – os impactos altamente negativos dos transgênicos à saúde humana, ao meio ambiente e às sementes crioulas e à pequena agricultura, vez que essa tecnologia foi desenvolvida para o latifúndio -, teremos a dimensão do erro gigante cometido pelo PT em 2003.

Zé Maria

https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/12/911×1200-2.jpg

Governo Lula III, Ano I:
Meio Cheio, Meio Vazio.
CartaCapital Nº 1291

[Reportagem: Mariana Serafini (SP) & Mauricio Thuswohl (RJ) | 21/12/2023]
https://www.cartacapital.com.br/politica/meio-cheio-meio-vazio/

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