Santayana: O “ocidente” esqueceu-se dos russos e de suas matrioskas

Tempo de leitura: 2 min

A OTAN E AS MATRIOSKAS

por Mauro Santayna, em seu blog

(Hoje em Dia) – Toda nação tem seus símbolos. Um dos mais tradicionais símbolos russos, à altura de Dostoiévski, e de Pushkin, são as Matrioskas, as bonecas de madeira, delicadamente pintadas e torneadas, que, como as camadas de uma cebola, guardam, uma dentro da outra, a lembrança do infinito, e a certeza de que algo existe, sempre, dentro de todas as coisas, como em um infinito jogo de espelhos e surpresas.

Ao se meter no complicado xadrez geopolítico da Eurásia, que já dura mais de 2.000 anos, o “ocidente” esqueceu-se dos russos e de suas Matrioskas.

Para enfrentar o desafio colocado pela interferência ocidental na Ucrânia, Putin conta com suas camadas, ou suas Matrioskas.

A primeira camada, a maior e a mais óbvia, é o poder nuclear.

A Rússia, com todos os seus problemas, é a segunda potência militar do planeta, e pode destruir, se quiser, as principais capitais do mundo, em uma questão de minutos.

A segunda é o poder convencional. A Rússia dispõe, hoje, de um exército quatro vezes maior que o ucraniano, recentemente atualizado, contra as armas herdadas, pela Ucrânia, da antiga URSS, boa parte delas, devido à condição econômica do país, sem condições de operação.

A terceira, é o apoio chinês, a China sabe que o que ocorrer com a Rússia, hoje, poderá ocorrer com a própria China, no futuro, assim como da importância da Rússia, como última barreira entre o Ocidente e Pequim.

A quarta Matrioska é o poder energético. Moscou forneceu, no último ano, 30% das necessidades de energia européias, e pode paralisar, se quiser, no próximo inverno, não apenas a Ucrânia, como o resto do continente, se quiser.

A quinta, é a financeira. Com 177 bilhões de superávit na balança comercial em 2013, os russos são um dos maiores credores, junto com os BRICS, dos EUA. Em caso extremo, poderiam colocar no mercado, de uma hora para outra, parte dos bilhões de dólares que detêm em bônus do tesouro norte-americano, gerando nova crise que tornaria extremamente complicada a frágil a situação do “ocidente”, que ainda sofre as consequências dos problemas que começaram – justamente nos EUA – em 2008.

Finalmente, existe a questão étnica e histórica. Para consolidar sua presença nas antigas repúblicas soviéticas, Moscou criou enclaves russos nos países que, como a Ucrânia, se juntaram aos nazistas, para atacar a URSS na Segunda Guerra.

Naquele momento, o nacionalismo ucraniano, fortemente influenciado pelo fascismo, não só recebeu de braços abertos, as tropas alemãs, quando da chegada dos nazistas, mas também participou, ao lado deles, de alguns dos mais terríveis episódios do conflito.

Derrotados pelo Exército Soviético, na derradeira Batalha de Berlim, em 1945, os alemães sabem, por experiência própria, como pode ser pesada a pata do urso russo, quando provocado.

E como podem ser implacáveis – e inesperadas – as surpresas que se ocultam no interior das Matrioskas.

Leia também:

Mauro Santayana: Capitalismo ameaçado passeia com o fascismo


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Comentários

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Lafaiete de Souza Spínola

Azenha e Conceição,

Uma pergunta, só para entender o mecanismo.

Por que o meu comentário aparece, aqui, em “moderação” e está livre no Facebook?

Noto, também, uma diminuição geral nos comentários.

Eu mesmo estou comentando menos. Faz-se um comentário e ele só é liberado, quando o tema, mesmo de curta duração, perde o pico!

    Luiz Carlos Azenha

    Infelizmente temos poucos moderadores. Falta grana. Também acreditamos que esteja faltando tempo aos leitores para comentar. É muito conteúdo! abs

    Lafaiete de Souza Spínola

    Azenha,

    Abrindo o tema do Santayana, em outro computador, constava a sua resposta.

    Depois, neste computador, tentei várias vezes, e continuava em moderação e sem a resposta.

    Ao clicar para perguntar o porquê, apareceu sua resposta.

    Tenha paciência, mas não consigo entender!

    Isto está previsto?

Notívago

Mauro Santayana é sempre muito bom. Mas a melhor matéria que eu li até agora sobre a crise na Ucrânia se encontra em

http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9418:submanchete130314&catid=72:imagens-rolantes

Bernardino

Grande Santayana como sempre culto,texto impecavel e excelente jornalista.
Conheci-o em um restaurante em Sao Paulo juntamente com sua esposa,sempre afavel e atencioso,conversamos bastante e ele é exatamente o que seus artigos dizem:Autentico e progressista.Sem rodeios um dos melhores quadros do jornalismo brasileiro.

SR LULIPE,o sr sabia que a RUSSIA derrubou dois MISSEIS americanos disparados de uma base da Otan em Barcelons no mes de outubro,em plena crise SIRIA? e um dos misseis caiu no mar vermelho em Israel o qual apressou-se pra dizer que eram manobras conjuntas com os EUA a pedido deste
O CHEFE da Defesa RUSSA ligou ao pentagono e disse:” nao iremos divulgar pra nao piorar a crise,porem um ataque a DAMASCO consideramos um ataque a MOSCOU e os Eua aceitaram a proposta Russa de destruir as armas quimicas nA SIRA.
PRA VOCE; OS EUS SAO BANDIDOS e Bandidos so RESPEITAM A FORÇA.A proposito o SR parece aquele tipo que fica de QUATRO para os EUA!!!!!!

Adriano Medeiros Costa

Mais um ótimo texto do Santayana.

Lafaiete de Souza Spínola

Os EUA necessitam de inimigos para justificarem suas intervenções mundo afora.

Antes era o fantasma do comunismo. Usavam e usam os meios de comunicação para exportação do medo aos pouco informados.

Sempre encontram testas de ferro, em toda parte!

O Brasil,já foi uma grande vítima em 64 e não aprende a lição.

Fico pensando o quanto fragilizados estamos. Por que?

Precisamos investir alto em educação, pois esta é a nossa maior fragilidade.

Não podemos continuar sendo, apenas, exportadores de comodities!

Discutimos as mazelas, os perigos que rondam o mundo. Só isso é muito pouco!

É urgente UM PROJETO PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL! Não acham?

lulipe

O Putin sabe que não pode desafiar o poder militar dos EUA, muitas vezes superior ao russo, em qualquer área.O que fazer? Blefar e tentar angariar algo para a combalida economia russa sem perder a pose de que não teve o orgulho ferido.Próximo…

    Pisquila

    É… Realmente a Rússia não precisa desafiar o “poderio militar americano”. Para quê? Basta a Rússia detonar todas as suas ogivas e acabar com a terra uma única vez. Aliás, caso não saibam, a Rússia tem arsenal nuclear 1,5 vezes maior do que o dos Estados Unidos.

    Wine

    O arsenal nuclear russo é da década de 60… Os anos 90 e boa parte dos anos 2000 foi de pura penúria para as forças armadas russas.

    De qualquer forma o problema da Criméia é visto por muitos como um FlaxFlu (pra variar o pensamento infantil imperando)…

    abolicionista

    “Jênio”! Pode me dizer onde o governo americano arranjaria dinheiro para uma guerra contra a Rússia. Só para você tirar uma média, a guerra contra o Iraque custou hum trilhão de dólares…

    Julio Silveira

    Resposta fácil meu caro abolicionista, de onde sempre tiraram. De seus financiadores internos e seus associados externos. Ou você pensa que vem de onde, todo esse vigor oposicionista que ocorrem em quase todos os países no mundo quando desponta uma chama cívica voltado para seus interesses nacionais. Não me refiro ao nacionalismo xenofóbico que forma nazistas e outros ultra nacionalistas radicais, e que esses associados costumam malignamente confundir para virar tudo a mesma coisa, mas de um nacionalismo voltado aos interesse de beneficiar um país e seus cidadãos, e infundir-lhes sentimento cívico e valorização da sua cidadania. Os States, através de seus associados, direta ou indiretamente, investem grandemente na transformação psicológica dos cidadãos dos demais países para que passem a interpretá-los como a primeira grandeza no mundo, cercado do resto ai incluso o próprio cidadão, mas sem que isso desperte a ambição pela igualdade, pelo nivelamento. A ambição pretendida e de um enlevo, uma idolatria e a consequente redução do respeito a própria cidadania, fazendo naturalmente com que a primeira cidadania desejada seja a deles. Caso no caso dos nossos colonizados, como esse cidadão.

    Mário SF Alves

    Blefar?
    Você tá brincando. Blefe mesmo foi a invasão do Iraque sob a falácia da ameaça das armas químicas. Blefe mesmo foi a irresponsabilidade de tentar abocanhar a Síria.

    A continuar a arrogância e a aventura neoliberal-neonazística na Ucrânia, Putin vai acabar mesmo é fazendo um grande favor ao Ocidente: apear os SPYstates da condição de xerife do mundo e dessa contingência doida de ter de dominar o cada quadrante do planeta Terra.
    _________________________________________
    Glasnost e Perestroika também lá, nos SPYstates, e pelo bem do povo norte-americano.

    Moacir Moreira

    Muito bem informado o garotão Lulipe.

    Se os EUA tivessem todo esse poder vc não acha que já teria invadido a Rússia e a China?

    Mário SF Alves

    É… para o País que com o esfacelamento da U.R.S.S. andou esfregando na cara de todos nós o fim da História… e que até hoje ainda tem de mentir levantando bandeirolas falaciosas de ameaça comunista, e que agora usa como parceiros os neonazistas, representantes da mais desumana e danosa ideologia de todos os tempos… é… deve ser um poderzaço, mesmo.

FrancoAtirador

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Um pouco de História e Geografia não faz mal a ninguém,

exceto à União Europeia, aos United States of America, à OTAN

e à Mídia Corporativa Mafiosa da International Community.

Por que não dizem, hoje, que, em 1954, a República da Criméia

foi um presente de Khrushchov à República Soviética da Ucrânia,

em comemoração ao 30° aniversário da unificação Russo-Ucraniana?

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Seis-notas-para-compreender-o-que-se-passa-na-Crimeia/6/30382)

E por que não condenam essa prática stalinista de impor as fronteiras?

Claro, não interessa aos rapinadores informar que historicamente,

tanto no aspecto de origem étnica quanto de identidade de território,

a Ucrânia e a Península da Criméia, bem como as demais áreas próximas,

adjacentes à Rússia e ao Mar Negro, têm pouquíssimo ou nada em comum.

Alguns Mapas:

RUS’ KIEVANA (Principados)

Séculos 11 e 12


(http://bit.ly/1qF1fBY)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rus)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rut%C3%AAnia)
(http://es.wikipedia.org/wiki/Rus%27_(pueblo)#La_teor.C3.ADa_normanista)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%BAssia_Kievana)
(http://es.wikipedia.org/wiki/Rus_de_Kiev)
(http://en.wikipedia.org/wiki/Kievan_Rus#Fragmentation_and_decline)
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RZECZPOLITA (República das Duas Nações: Polaco-Lituana)

Séculos 13 a 15

Em destaque: A Expansão da Lituânia

1618

Mapa da República das Duas Nações
com suas principais subdivisões,
depois da Paz de Deulino de 1618,
sobreposto às fronteiras atuais.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_das_Duas_Na%C3%A7%C3%B5es)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_das_Duas_Na%C3%A7%C3%B5es#Prov.C3.ADncias_e_geografia)
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IMPÉRIO RUSSO (1613-1914)

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rut%C3%AAnia#Ucranianos)

HET’MANSHCHYNA = ESTADO UCRANIANO COSSACO (1648-1782)

(http://es.wikipedia.org/wiki/Hetmanato_cosaco)
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REPÚBLICA POPULAR DA UCRÂNIA OCIDENTAL (1917-1919)


(http://es.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_Ucraniana)
(http://es.wikipedia.org/wiki/Galitzia)
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URSS
REPÚBLICA SOCIALISTA SOVIÉTICA DA UCRÂNIA (1919–1991)

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UCRÂNIA (1991-2014)

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Ucr%C3%A2nia)
.
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CANATO DA CRIMÉIA (1441-1783)

1600

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Canato_da_Crimeia)

CRIMÉIA > RÚSSIA (1783-1917) > REPÚBLICA SOVIÉTICA RUSSA (1917-1954)

1950

(http://es.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%ADnsula_de_Crimea
1950)

CRIMÉIA > REPÚBLICA SOVIÉTICA DA UCRÂNIA (1954-1991)
Vide mapa acima

REPÚBLICA AUTÔNOMA DA CRIMÉIA (1992/2014)
Vide mapas acima

(http://es.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Aut%C3%B3noma_de_Crimea)
.
.
Leia também:

(http://www.museum.com.ua/ukr/istor/kartu/historic.htm)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Pequena_R%C3%BAssia)
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Mário SF Alves

Os EUA acabaram. O que restou deles é tão somente os SPYstates movidos a interesses corporativos seqüestradores de Estados.

Pelo que se vê, a lição do blefe no jogo de prepotência contra a Síria ainda não lhes foi suficiente. Querem mais. Deve ser o tal destino manifesto, ideologia que muito contribuiu nessa contingência megalomaníaca de ter de dominar o mundo na base do custe o que custar.

Ainda torço para que uma Gasnost e mesmo uma Perestroika os salvem deles mesmos. Pois hoje, mais do que nunca tornaram-se seus piores inimigos.

    abolicionista

    Caro Mário, estamos diante de um acontecimento histórico importantíssimo e muito pouco noticiado: a privatização do maior exército do mundo. Ela começou com Donald H. Rumsfeld, o braço direito de Bush e segue avançando à toque de fábrica. O estado americano está falido, mas o sistema financeiro continua precisando do exército (entre outras coisas, para desregulamentar à força países que não se rendam aos encantos do livre-mercado-de-mão-única). Além disso, o avanço tecnológico torna o exército cada vez mais caro e, ao mesmo, tempo diminui a necessidade de mão-de-obra (soldados). O mais provável é que o exército americano se torne cada vez mais um exército internacional privado, uma polícia mundial corporativa e robotizada. É assustador.

    http://iissonline.net/privatization-of-military-capability-has-gone-too-far-a-response-to-lindy-heineckens-outsourcing-public-security-the-unforeseen-consequences-for-the-military-profession/

    Mário SF Alves

    Obrigado.

    E, sim, assustador é a palavra correta. No entanto, faz pleno sentido. E é agora ou nunca. Ou se corta o mal pela raiz ou o fascismo mais uma vez curvará a coluna vertebral do Ocidente. Só que, agora, em definitivo. Andaram falando num Reich de 1000 anos. Pois é, ao que tudo indica, as corporações sequestradoras de Estados já não mais hesitam em enveredar por este caminho. Aliás, parece que, com a crise econômica estrutural que se avizinha, a coisa agora já não se resumiria mais apenas à corriqueira sede de dominação; já não haveria mais volta; já seria questão de contingência.

    O que fizeram com a Líbia, e esses ensaios ensandecidos na Síria e na Ucrânia podem ser evidência disso. E o que é mais grave, nesse contingenciamento mora um outro perigo. O URSSo ferido dispõe de um arsenal bélico igualmente poderoso. É lógico que antes será usado o poder dissuasão que se tem sobre a distribuição de energia convencional, e só em último caso sobre a nuclear.

    Francamente. Prefiro acreditar que os SPYstates estejam blefando de novo. E pelo andar da carruagem, dessa feita, vão ficar mesmo é em cima do muro. Quem vai pra o tudo ou nada, quem vai pro pau, serão os “novos” neo-aliados. Até porque, esse jogo de gato e rato tem limite, e está dando na vista. Aliás, o saudável mesmo é que essa crise leve o que resta de Estado nos EUA a algo similar a uma Glasnost e uma Perestroika, também lá. Certamente o mundo respiraria bem mais aliviado e menos enfasticizado.

André Colares

Opinião ludivina de Santayanna, mais uma vez! Obama e sua política (?) que, se não é padrão “tea party”, pelo menos fica com cara de “starbucks party”, muito marketing e conteúdo sofrível, não vai ser páreo para enfrentar se quer a vodka, quanto menos o URSSo !…

    Mário SF Alves

    André,

    Gostei do jogo de significados contido nesse seu URSSo. Gostei tanto que o usei na ilustração desse embate alucinante entre USA/UE e Rússia.

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