Santayana: El Pais Brasil, cavalo de Tróia das empresas espanholas

Tempo de leitura: 4 min

EL CAVALO DE TRÓIA

por Mauro Santayana, no JB Online

(JB) – O lançamento, na semana passada, da seção em português da edição de internet do jornal espanhol El Pais, elucida e ilustra, com clareza, a visão neocolonial e rasteira que continua dominando o comportamento dos espanhóis com relação ao Brasil — apesar da condição de crise e de extrema fragilidade que caracteriza a Espanha neste momento.

Sem entrar nos detalhes do regabofe promovido pelo Grupo Prisa em São Paulo, vale a pena analisar o fato, e o que se pode ler nas entrelinhas do evento e da publicação.

Controlado em pouco mais de 30% pela família Polanco, e com o restante do capital na mão de investidores e fundos internacionais — não espanhóis — o Grupo Prisa, que edita o El Pais, tem atravessado sucessivas crises nos últimos anos.

Em 2008, o valor de suas ações despencou 80%, o lucro diminuiu em 56%, foi preciso suspender o pagamento de dividendos aos acionistas e vender ativos imobiliários, entre os quais a própria sede do jornal El Pais, no valor de 300 milhões de euros, para fazer frente a compromissos.

Isso não impede, no entanto, que o Grupo Prisa seja conhecido tanto pelos altíssimos salários que paga aos seus executivos — Juan Luis Cebrian ganha mais de 1 milhão de euros por mês — quanto pelos problemas que tem com os sindicatos locais.

Os jornalistas do grupo têm ido às ruas protestar contra as frequentes ondas de demissões que varrem as redações de suas publicações e emissoras. A última, no mês passado, atingiu a revista ON Madrid.

Com uma dívida de mais de 3 bilhões de euros, o Prisa multiplicou por 6 suas perdas até setembro deste ano. El Pais perdeu 25% de sua circulação desde 2008. A circulação do diário esportivo AS caiu 23% e a do diário econômico Cinco Dias, quase 30%, e o faturamento em publicidade — segundo informa também o jornalista Pascual Serrano, na revista asturiana Atlántica XXI — diminuiu pela metade nos últimos anos.

Na mesma matéria, Serrano relata como coube a Javier Moreno — o mesmo executivo que veio lançar a seção em português do El Pais em São Paulo — em outubro do ano passado, explicar a seus jornalistas que o Grupo Prisa estava “arruinado”, para justificar a demissão de quase um terço do pessoal.

Isso não impediu, no entanto, Moreno de adotar um tom entre paternal e triunfalista no seu pequeno discurso na capital paulista, para um grupo de seletos convidados. O viés neocolonial fica claro quando ele se refere ao El Pais como um veículo, procurado por inúmeros “intelectuais, artistas e políticos” de nossa região, para “defender seus projetos e conectar suas inquietações com o resto do mundo ibero-americano”, e expõe o caráter intervencionista — considerando-se que se trata de uma publicação estrangeira — quando diz que o jornal estará ligado às “inquietações e batalhas — da sociedade brasileira — para consolidar seus avanços econômicos e sociais, e as liberdades democráticas”.

Dá a entender que a imprensa do Brasil não é livre, ou competente, na medida em que afirma que “centenas de milhares de brasileiros se informaram na edição América de El Pais, sobre as maciças manifestações de julho passado” — como se no Brasil houvesse censura ou necessidade de recorrermos a publicações estrangeiras para saber o que ocorre por aqui. E, finalmente, dispensou a modéstia quando se referiu “às expectativas que o projeto — de lançamento do El Pais Brasil — suscitou em amplos segmentos da sociedade brasileira”.

Pelo hábito se reconhece o monge. Como se pode ver pelas primeiras matérias, o El Pais está vindo ao Brasil para defender nossas minorias; lembrar que o presidente Peña Nieto está — segundo o FMI — se comportando melhor do que o Brasil, embora o México vá crescer menos da metade do que nós neste ano; que gastamos muito com nossos estádios na Copa; que não conseguimos reduzir a criminalidade; que temos o menor crescimento entre os países emergentes, etc, etc, etc .

A verdade sobre a Espanha dos dias de hoje não está no coquetel servido aos convidados em São Paulo, pago com o lucro auferido aqui mesmo no Brasil por empresas como a Vivo — devedora em mais de 1 bilhão de dólares do BNDES — ou do Grupo Indra, também espanhol, cuja publicidade já começa a aparecer na edição “brasileira” de El Pais.

A Espanha real está na ausência sutil — como um elefante, desses que o pai gosta de abater — do príncipe Felipe, que deveria ter vindo ao Brasil na mesma ocasião, para abrir um seminário econômico e participar do lançamento de El Pais.

Pouco antes da decolagem, foi localizada uma avaria em um flap do avião que deveria transportá-lo a São Paulo. Ao procurar o avião substituto, do mesmo modelo, descobriu-se que ele também estava em solo, sem condições de voar. Mecânicos tentaram, durante mais de sete horas, consertar o problema, sem conseguir, até que o infante e sua comitiva desistissem de fazer a viagem e voltassem para casa para desfazer a bagagem.

Por causa do problema do avião, em solo e sem manutenção como o próprio país, no lugar de sua majestosíssima presença, o príncipe teve de mandar, ao Brasil, uma mensagem em vídeo pela internet.

Tudo somado, pelo que se pode ver pelo lançamento de sua seção em português, o El Pais, apesar de, aparentemente, abrir espaço para comentaristas de diferentes tendências — até artigo do Lula já saiu na edição em português — continuará, agora na língua de Machado de Assis, fazendo o que sempre fez: defendendo e protegendo a cada vez mais combalida “Marca Espanha”; atuando como um Cavalo de Tróia dos interesses neoliberais e eurocêntricos em nosso continente; e das empresas espanholas — com milhares de reclamações de consumidores como o Santander e a Telefónica (do qual o próprio Grupo Prisa é acionista)— que atuam no Brasil.

Nesse contexto, o melhor negócio que os futuros leitores podem fazer é “comprar” a Espanha pelo que vale — altamente endividada e com um crescimento de menos 1,6% este ano, segundo o FMI — e vender pelo preço que o El Pais acha que vale. Com a imagem e o valor que vai tentar nos impingir.

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Comentários

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J Souza

Não virão investir, nem lutar por democracia, virão apenas para tentar lucrar no Brasil, para sobreviver, como as outras empresas espanholas que aqui estão, lucrando mais do que investindo.

Carla

Costumava ler El País antigamente, mas sua falta de objetividade e sua arrogância para com a América Latina era irritante. Ainda é.
Juan Arias sempre foi o papagaio do (pirata) FHC. Intragável.
E ainda bem que o PIG está lutando contra a invasão. Veremos.

Rodrigo Leme

Precisa de lei de meios no Brasil, pra poder calar essas vozes oposicionistas. Né?

souza

opa, opa.
o pig recebe reforço.
vamos nos proteger.

Mário SF Alves

Afinal, o capitalismo é o quê? É puramente economia ou, mais do que isso, é economia política?

pierre

JUAN ARIAS, correspondente do El País radicado no Brasil, na arte de “PUXA SACO” do FHC, dá dez a zero nos jornalistas da Veja, Folha, Estadão, Band, Organizações Globo e demais filiados do PIG. Esse jornalista, papão de hóstia, é um grandessíssimo cara de pau.

Mário SF Alves

“Ah, Brasil, o que fizeram e ainda querem fazer de você?
Bastou o País tentar se livrar de mais esse fardo, e, imediatamente, puseram-no num dos maiores impasses de sua História. Pior do que eventualmente modificar levianamente sua Constituição Federal é tê-la atropelada por quem teria a suprema missão de a defender.”
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Não sei se é chegada a hora. No entanto, sei que a perpetuarem as injustiças ditadas pelo jogo baixo de desrespeito à Constituição, dia virá que aos brasileiros, [refiro-me àqueles que não vivem aqui só pelo futebol e pelo carnaval], não restará outra saída senão a tomada de Bastilha. Simbolicamente ela já existe.

Mário SF Alves

“Que capitalismo competente é este que sem o dinheiro do governo não consegue sobreviver. Andam dizendo por aí que o capitalismo é movido a corrupção em que sua competência é uma farsa. É bom lembrar que as cias aéreas do Brasil e capital privado, entretanto os atrasos dos voos demonstram a incompetência e irresponsabilidade das mesmas.”
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Capitalismo de muletas¹ é o nome da coisa. O falecido Mário Covas, PSDB, quando candidato a presidente da República Federativa do Brasil andou falando em um tal choque de capitalismo na economia brasileira. E o que efetivamente o PSDB fez? Você sabe. Todos nós, com um mínimo de educação política, sabemos. Prevaleceu a lei do menor esforço, a incompetência, a insensibilidade social³ e a preguiça. A ordem foi: sejam pragmáticos, fechem os olhos para a História e realidade socioeconômica do País. Esqueçam tudo: esqueçam o ideário do desenvolvimentismo; enterrem o que sobrou da Era Vargas; esqueçam os problemas estruturais do Brasil, e enxuguem o Estado². Reduzam-no ao mínimo; entreguem tudo; se preciso, doem as estatais; troquem-nas por moedas podres; financiem a aquisição; façam o que quiser [tirem o máximo de proveito pessoal do processo, caixa 2, inclusive] e não se preocupem; só não ultrapassem os limites da irresponsabilidade.
¹Capitalismo de muletas: é o capitalismo praticado no Brasil, o capitalismo Casa Grande-Brasil- Eterna Senzala, ou, nada mais que o sui generis capitalismo subdesenvolvimentista naZional.
²Lembra do Collor com aquela estória do elefante na sala de cristais? Pois é, o elefante era o Estado. Então?
E sim, começou, sim, com elle, o caçador de marajás. Portanto, não pense que isso foi invenção da cabeça dele, não. A coisa tem raízes bem mais profundas. E o nome dela é capitalismo neoliberal; sua “carta de princípios”, parece-me, foi estabelecida no que se convencionou chamar de Consenso de Washington”.
³Insensibilidade social: decorre de perspectiva futura na qual, INJUSTIFICADAMENTE, a ação governamental indica cenário socialmente caótico. No Brasil, seus principais indicadores foram: privatizações a toque de caixa; viseira para os problemas estruturais do País; desestímulo à autoestima do povo, com aposentados sendo chamados de vagabundos e o povo rotulado de caipira. Acresça-se a isso o fato de, em tais circunstâncias, e a prosperar tal modelo econômico, a grande massa da população, historica e economicamente excluída, ser obrigada a – da noite pro dia – a tranformar-se em centenas de milhões de empreendedores capitalistas [sem capital] e a relacionar-se com um Estado reduzido ao mínimo, sob a hegemonia da terceirização, e sujeito aos interesses IRREGULÁVEIS de grandes corporações.
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Que salto de qualidade maravilhoso, não? Quanta competência, não? E o que é ainda mais insólito: desde quando se poderia imaginar que o sábio, o tão incensado príncipe do ociólogos, o grande e agora imortal, FHC, iria seguir a cabeça neoliberal do igualmente competentíssimo Collor, hein?
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Ah, Brasil, o que fizeram e ainda querem fazer de você?
Bastou o País tentar se livrar de mais esse fardo, e, imediatamente, puseram-no num dos maiores impasses de sua História. Pior do que eventualmente modificar levianamente sua Constituição Federal é tê-la atropelada por quem teria a suprema missão de a defender.

Verde

BNDS – sinto que quando a conta estiver estourando de vermelha fazem um furo no balão, como já fizeram uma vez com outro banco.

A quantas anda esse balanço? Alguém sabe dizer?

Julio Silveira

No Brasil, por causa da corrupção de alguns, a cidadania paga para apanhar.

guru

Quem trouxe os espanhóis ao Brasil foi FHC durante seu alucinado governo neoliberal. Estas empresas só vieram saquear os povos latinos para engordar os europeus. Basta ver os altos preços que cobram pelos péssimos serviços que prestam sob regime de monopólio na maioria das vezes. A Argentina já começou a devolver estas empresas aos seus locais de origem e o mesmo deve fazer o Brasil.

flavio jose

Tem alguma coisa errada por aí. O capital Privado não é uma essência de competência?. Como pode a competência privada ser devedora em mais de 1 bilhão de dólares do BNDES. Que capitalismo competente é este que sem o dinheiro do governo não consegue sobreviver. Andam dizendo por aí que o capitalismo é movido a corrupção em que sua competência é uma farsa. É bom lembrar que as cias aéreas do Brasil e capital privado, entretanto os atrasos dos voos demonstram a incompetência e irresponsabilidade das mesmas.

    Verde

    “competente”, “criativo”, “rápido”, assim é a imagem que o empresário vende.

    Os americanos criaram o selfmade man

    e o Brasil criou o selfmade man com dinheiro público.

    Não se conhece um empresário estrangeiro ou brasileiro que tenha made himself com sua própria alardeada capacidade. Ao invés, o que se vê é a presença de um banco público, ou agente público na sua vida, ou mesmo vimos um presidente.

FrancoAtirador

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CIA INFILTROU P2 NO PARTIDO DE NELSON MANDELA
E ‘CAGÜETOU’ BLACK BLOCS PRA PM SUL-AFRICANA.

CIA foi decisiva para a prisão de Mandela em 1962

Esquerda.Net, via Carta Maior

Agente infiltrado no Congresso Nacional Africano (CNA) deu todas as informações à polícia sul-africana, segundo o The New York Times.

O The New York Times revelou em 1990 que a CIA [Central Intelligence Agency of the United States Government)desempenhou um importante papel na prisão de Mandela em 1962.

A agência, usando um agente infiltrado no Congresso Nacional Africano (CNA), deu à polícia sul-africana informações precisas sobre as atividades de Mandela.

Segundo o diário norte-americano, um agente da CIA relatou:

“Entregamos Mandela à segurança da África do Sul.
Demos-lhes todos os detalhes, a roupa que ele estaria a usar, o horário, o exato local onde ele estaria”.

Thatcher e a terra do faz de conta

Em 1987, quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva alinhou Portugal à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos num voto contra o fim do apartheid e a libertação de Nelson Mandela, a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher dizia:

“O CNA – Congresso Nacional Africano, partido de Mandela – é uma típica organização terrorista… Qualquer um que pense que ele vá governar a África do Sul está a viver na terra do faz de conta”.

Reagan dizia que apartheid era essencial para o mundo livre

Nos Estados Unidos, a opinião sobre Mandela não era diferente: o presidente Ronald Reagan inscreveu o CNA na lista de organizações terroristas.

Em 1981, Reagan disse que o regime sul-africano – o regime do Apartheid – era “essencial para o mundo livre”.

Reagan explicou à rede de TV CBS que o seu apoio ao governo sul-africano se devia a que “é um país que nos apoiou em todas as guerras em que entramos, um país que, estrategicamente, é essencial ao mundo livre na sua produção de minerais.”

Mandela precisava de autorização especial para entrar nos EUA

Só em 2008, Mandela e o CNA deixaram a lista americana de organizações e terroristas em observação.

Até então, Mandela precisava de uma permissão especial para viajar para os EUA.

Outro país que se manteve ligado ao regime segregacionista sul-africano foi Israel.

Durante muitos anos, o governo israelita manteve laços econômicos e relações estratégicas com o regime do apartheid.

Nesta sexta-feira, o governo israelita lamentou a morte de Mandela afirmando que
“o mundo perdeu um grande líder que mudou o curso da história”
e que ele foi um “apaixonado defensor da democracia”.

“Eu também era um terrorista ontem”

Em entrevista ao jornalista Larry King em 2000, o próprio Mandela falou sobre esta mudança de tratamento.

“É verdade.
Ontem, chamavam-me terrorista, mas quando saí da cadeia, muitas pessoas me abraçaram, incluindo os meus inimigos, e é isso que digo habitualmente às outras pessoas que dizem que os que lutam pela libertação dos seus países são terroristas.
Digo-lhes que eu também era um terrorista ontem, mas, hoje, sou admirado pelas mesmas pessoas que me chamavam terrorista”.

(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/CIA-foi-decisiva-para-a-prisao-de-Mandela-em-1962/6/29744)
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    Mário SF Alves

    1- “O CNA – Congresso Nacional Africano, partido de Mandela – é uma típica organização terrorista… Qualquer um que pense que ele vá governar a África do Sul está a viver na terra do faz de conta”.

    2- Nos Estados Unidos, a opinião sobre Mandela não era diferente: o presidente Ronald Reagan inscreveu o CNA na lista de organizações terroristas.

    Em 1981, Reagan disse que o regime sul-africano – o regime do Apartheid – era “essencial para o mundo livre”.

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    Franco, não que eu não considere plenamente possível o que está relatado acima, mas, por favor, mande aí a fonte para que se possa comprovar documentalmente a infâmia que decorre de tudo isso.
    Obrigado,

    Mário.
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    Cara. Que doideira! Então são essas as autoridades, cujo ideário, a partir do qual, os neoliberais pretendiam nos governar? Ela, a mãe do neoliberalismo; ele, o cowboy ama de leite que o enfiou goela abaixo no povo dos EUA.
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    Peraí, será que a última Copa do Mundo de Futebol realizada na África do Sul, sob governo de coalizão liderado pelo CNA foi miragem? As vuvuzelas também?

ellen

As associações de INVESTIMENTOS estrangeiros comprando e mandando nas IES particulares não merece nemhum destaque.
Actis, laurette, e por ai vai…Santander também está no negócio para chafurdar a educação superior que restou aos mais pobres.

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