Romero Venâncio: Extrema direita católica difama Campanha da Fraternidade

Tempo de leitura: 4 min

Da Redação

Nesta quarta-feira, 22/02, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança a Campanha da Fraternidade 2023.

“Fraternidade e Fome” é o tema.

“Dai-lhe vós mesmo de comer!”, o lema bíblico, extraído de Mateus 14, 16.

De acordo com o mais recente inquérito da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), a insegurança alimentar grave atingia 33,1 milhões de brasileiros em 2022. 

E o Brasil, depois 10 anos, voltou a figurar no Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Essa emergência fez com que a CNBB assumisse pela terceira vez a realização de uma Campanha da Fraternidade voltada para a fome. 

A CNBB está “convocando todos a considerar a fome como referência para reflexão e propósito de conversão”. 

Segundo a CNBB, “um dos objetivos é propor aos fieis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano conforme pede o Papa Francisco”.

Lamentavelmente a extrema direita católica se insurgiu virulentamente nas redes contra a Campanha .

É disso que trata o artigo do professor Romero Venâncio, enviado por Aton Fon Filho. Confira abaixo. 

A EXTREMA DIREITA CATÓLICA E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE

Por Romero Venâncio*

A extrema direita católica assumiu nas redes sociais uma crítica virulenta e desonesta à Campanha da Fraternidade de 2023 que tem como tema a fome.

O que chamo no texto de extrema direita católica é uma espécie de “neotradicionalismo” advindo das influências de Marcel Lefebvre (1905-1991).

Tem forte presença nas redes sociais e nas plataformas digitais. Organizam-se a partir de lives, cursos, palestras, divulgação e leituras de livros tradicionalistas internos ao catolicismo romano.

São radicalmente contra as resoluções pastorais do Concílio Vaticano II dos anos 60; são terminantemente contrários às resoluções das conferências de Medellin (1968) e Puebla (1979) e sempre em oposição a CNBB no Brasil.

Mesmo que não afirmem, são sempre “cismáticos” na linha de Lefebvre e estão em pé de guerra nas redes sociais contra o Papa Francisco, chegando a ponto de afirmar que o Papa é um “impostor”.

Grupos e youtubers da extrema direita católica brasileira estão em confronto aberto com a atual Campanha da Fraternidade e seu tema. Uma obviedade é a não-empatia com o tema.

A fome não incomoda esse tipo de catolicismo tradicionalista de direita.

Aplaudiram as armas de Bolsonaro, sua beligerância, seu extremismo e sua total ausência de política pública social de combate a fome.

Defendem a “aporofobia” (corporificam um ódio ao pobre). Percebemos o quão intragável se torna para essa gente um tema como: “Fraternidade e Fome”.

Está em curso uma campanha difamatória contra o tema da Campanha da Fraternidade.

A difamação vem entre frentes: primeiro, nas citações bíblicas. A extrema direita afirma ter equívocos nas citações bíblicas e sua interpretação (como se a CNBB não contasse com biblistas na redação do texto base da Campanha).

Nenhuma citação bíblica está fora de contexto ou manipulada para enganar os fiéis. No próprio lema já percebemos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” – referência explicita a Jesus e sua missão e sem reduzir a ação cristã a um passe de mágica.

Milagre não é magia.

Qualquer teólogo\teóloga sério sabe disto na ponta da língua e qualquer idiota de extrema direita nem sequer aprendeu esta obviedade hermenêutica.

Segundo, querem deslegitimar a Campanha afirmando (sem provas) que os dados utilizados na parte do II do texto base são “falsos”.

Todos os dados sobre a fome são amparados em dados estatísticos ou estudos encabeçados por pesquisadores no tema. Só conferir a bibliografia utilizada que vai de Josué de Castro ao Herbert de Souza, passando por órgãos como o IPEA.

A extrema direita católica é negacionista e preguiçosa na conferência de dados. Uma pena. E comem o velho desaprendizado proposital.

Terceiro é a crítica mais primária e conspiracionista. Afirma a extrema direita católica: a Campanha da Fraternidade deste ano vem com uma mensagem subliminar de temas da “teologia da libertação”. Típico dessa gente: acreditar que tudo diz respeito a “Teologia da Libertação” e “comunismo” (estava demorando surgir o termo).

A CNBB rende-se ao “comunismo”.

Aqui mistura-se desinformação com mau caratismo. Próprios da extrema direita católica e seus “arautos”.

Não temos dúvidas e a CNBB sabe bem disto que a “Teologia da Libertação” latino americana tem sua fundamentação teológica e uma base epistemológica sólida em seus argumentos.

Milhares de livros produzidos sobre o assunto desde os anos 70 são a prova disto. A riqueza desta Teologia não pode ser reduzida ao filminho vagabundo de um tal de Bernardo Kuster (o palhacinho sem graça da extrema direita católica brasileira).

O texto base da Campanha da Fraternidade vem todo embasado em dados e interpretações sobre a realidade da fome no Brasil.

Das páginas 14 a 23, temos as referências bíblico-teológicas da campanha.

Como a Bíblia pode ser luz no tema da fome. E sem deixar de lado o magistério da Igreja: de Santo Ambrósio a São João Crisóstomo. Tomando como base a chamada “economia de Francisco e Clara”. A CNBB não deixou de citar as pastorais sociais e todo um trabalho histórico contra fome.

Foram duas Campanhas da Fraternidade com o tema da fome e do pão (1975 e 1985) antes da atual.

Ainda temos referências de Josué de Castro (pioneiro nos estudos sobre o fome no Brasil e no mundo), aos trabalhos do MST e sua luta por comida orgânica na mesa de todos e todas, a luta histórica por um programa estatal de segurança alimentar efetivo e o apoio a todas as organizações, independente de seu credo religioso ou não, que combatem a fome.

O combate a fome e luta por comida na mesa não é privilégio religioso, mas um direito humano inalienável.

Mais uma vez a CNBB como órgão da Igreja católica romana no Brasil nos chama atenção para um tema fundamental e ao mesmo tempo nos indica o verdadeiro significado (teológico) da “Quaresma”.

Cristãos ou não-cristãos somos todos chamados à luta contra a fome.

De Dom Helder Câmara ao Pe. Julio Lancellotti e em nome de todos e todas que combateram e combatem a fome num país tão desigual e injusto como esse Brasil, somos convocados a uma profunda reflexão sobre a situação dos mais pobres na sua condição vulnerável de não ter o que comer.

Em tempo.

Romero Venâncio é professor adjunto da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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Zé Maria

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“A Xenofobia na Europa é, em Verdade, Aporofobia,
o Ódio aos Pobres, a Aversão aos Desfavorecidos.”

“Não rejeitamos estrangeiros
se forem turistas, cantores
ou atletas famosos,
rejeitamos se forem pobres”

ADELA CORTINA
Escritora Filósofa Espanhola
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A escritora e filósofa Adela Cortina (nascida em Valência, Espanha, em 1947)
tem, entre suas muitas realizações, a de ter levado à língua espanhola
um termo que a Real Academia da Língua adotou para definir o ódio
aos indigentes, a aversão aos desfavorecidos.

E é precisamente esse termo que abre o título de seu último,
“Aporofobia, el Rechazo al Pobre” (“Aporofobia, a Rejeição ao Pobre”,
em tradução livre).

Ela concedeu entrevista à [Jornalista Irene Hernández Velasco, da] BBC Mundo,
serviço em espanhol da BBC, no ‘Hay Festival Arequipa 2020’, no Peru, um
encontro virtual de escritores e pensadores.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

BBC Mundo – Você cunhou há mais de 20 anos o termo “aporofobia”,
reconhecido pela Real Academia da Língua e incluído em seu dicionário.
Como surgiu? De onde vem etimologicamente?

Adela Cortina – O termo “aporofobia” vem de duas palavras gregas: “áporos”,
o pobre, o desamparado, e “fobéo”, que significa temer, odiar, rejeitar.
Da mesma forma que “xenofobia” significa “aversão ao estrangeiro”,
aporofobia é a aversão ao pobre pelo fato de ser pobre.
E a palavra surgiu da forma mais simples, quando percebemos que
não rejeitamos realmente os estrangeiros se são turistas, cantores
ou atletas famosos, rejeitamos se eles são pobres, imigrantes, mendigos,
sem-teto, mesmo que sejam da própria família.

BBC Mundo – Por que é importante que haja uma palavra para denominar
o ódio aos sem-teto?

Cortina – Porque as pessoas precisam dar nomes às coisas para reconhecer
que existem e identificá-las; ainda mais se forem fenômenos sociais, não físicos,
que não podem ser apontados com o dedo.

Nomear a rejeição aos pobres permite-nos tornar visível esta patologia social,
investigar as causas e decidir se concordamos que continue a crescer ou
se estamos dispostos a desativá-la por nos parecer inadmissível.

BBC Mundo – A aporofobia é um fenômeno especialmente de nossos tempos,
em que o sucesso e o dinheiro são concebidos por muitos como valores supremos?

Cortina – Infelizmente, a aporofobia sempre existiu, está nas entranhas
do ser humano, é uma tendência universal.

O que acontece é que [na atualidade] algumas formas de vida e algumas
organizações políticas e econômicas promovem a rejeição aos pobres
mais do que outras.

Se em nossas sociedades o sucesso, o dinheiro, a fama e o aplauso são os valores
supremos, é praticamente impossível fazer com que as pessoas tratem todas
as pessoas igualmente, reconhecendo-as como iguais.

Íntegra em:

https://www.bbc.com/portuguese/geral-54778993

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Zé Maria

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https://t.co/rWEVKI60xc
https://mobile.twitter.com/RevistaForum/status/1628484668789084171
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DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO
Publicado em: 22/02/2023 | Edição: 36 | Seção: 1 | Página: 15

Órgão: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania/Gabinete do Ministro

PORTARIA Nº 129, DE 17 DE FEVEREIRO DE 2023

Institui Grupo de Trabalho para apresentação de estratégias de
combate ao discurso de ódio e ao extremismo, e para a proposição
de políticas públicas em direitos humanos sobre o tema.

O MINISTRO DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal, resolve:

Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Grupo de Trabalho para apresentação de estratégias de combate ao discurso de ódio e ao extremismo, e para a proposição de políticas públicas em direitos humanos sobre o tema.

Art. 2º Compete ao Grupo de Trabalho:

I – assessorar o Ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania nas questões referentes ao discurso de ódio e ao extremismo;

II – realizar estudos e discutir estratégias de combate ao discurso de ódio e ao extremismo; e

III – propor políticas públicas de direitos humanos para combater o discurso de ódio e o extremismo.

Art. 3º O Grupo de Trabalho será composto por:

I – cinco representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, sendo:

a) um da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos;

b) um da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+;

c) um da Assessoria de Participação Social e Diversidade;

d) um da Assessoria Especial de Comunicação Social; e

e) um da Assessoria Especial de Educação e Cultura em Direitos Humanos; e

II – vinte e quatro representantes da Sociedade Civil:

a) Manuela Pinto Vieira d´Ávila, que presidirá os trabalhos;

b) Camilo Onoda Caldas, na condição de Relator;

c) Christian Ingo Lenz Dunker;

d) Débora Diniz Rodrigues;

e) Esther Solano;

f) Felippe Mendonça;

g) Felipe Neto Rodrigues Vieira;

h) Guilherme Stolle Paixão e Casarões;

i) João Cezar de Castro Rocha;

j) Isabela Oliveira Kalil;

k) Letícia Maria Costa da Nobrega Cesarino;

l) Dolores Aronovich Aguero;

m) Lusmarina Campos Garcia;

n) Magali do Nascimento Cunha;

o) Marcos Xukuru;

p) Michel Gherman;

q) Nina Santos;

r) Patrícia Campos Mello;

s) Pedro Rodrigues Curi Hallal;

t) Rosane da Silva Borges;

u) Ricardo Campos;

v) Ronilso Pacheco;

w) Rosana Pinheiro-Machado; e

x) Rodney William Eugênio.

§ 1º Cada representante do Grupo de Trabalho de que trata o inciso I do caput deste artigo terá um suplente, que o substituirá em suas ausências e impedimentos.

§ 2º Os representantes de que trata o inciso I do caput deste artigo, titulares e suplentes, serão indicados pelo titular das Unidades que representam e designados por ato do Ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania.

§ 3º Serão convidados a participar do Grupo de Trabalho um representante, titular e suplente, indicado pelos seguintes Órgãos:

I – Advocacia-Geral da União;

II – Ministério da Educação;

III – Ministério da Igualdade Racial;

IV – Ministério da Justiça e Segurança Pública;

V – Ministério das Mulheres;

VI – Ministério dos Povos Indígenas; e

VII – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Art. 4º O Grupo de Trabalho se reunirá em caráter ordinário nos termos do calendário por ele estabelecido e, em caráter extraordinário, sempre que convocado por sua Presidenta.

§ 1º O quórum de reunião do Grupo de Trabalho é de maioria absoluta dos membros e o quórum de aprovação é de maioria simples.

§ 2º Poderão participar das reuniões do Grupo de Trabalho, como convidados especiais, sem direito a voto, pessoas de notório saber em assuntos referentes ao tema em questão e representantes da área, os quais poderão emitir pareceres para apreciação do Colegiado.

§ 3º Em sua primeira reunião, o Grupo de Trabalho estabelecerá o calendário de encontros, seu modo de funcionamento e plano de trabalho com seus objetivos específicos.

Art. 5º A Secretaria-Executiva do Grupo de Trabalho, que lhe prestará o apoio administrativo necessário, será exercida pela Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Art. 6º A participação no Grupo de Trabalho será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.

Art. 7º O Grupo de Trabalho terá duração de 180 (cento e oitenta) dias, prorrogáveis se necessário.

Parágrafo único. O relatório final das atividades do Grupo de Trabalho será encaminhado ao Ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Art. 8º Esta Portaria entra em vigor em 1º de março de 2023.

SILVIO LUIZ DE ALMEIDA

https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-129-de-17-de-fevereiro-de-2023-465411989
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Zé Maria

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A Extrema-Direita Reacionária Católica
é uma das Maiores Responsáveis pela
Ascensão do NeoFascismo na Europa.
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Aliás, os Extremistas Católicos Europeus
atuam, inclusive, em Grupos Neonazistas
dentro e fora da União Européia.
.

Miriam Lopes

“Extrema direita católica” essa frase é uma contradição em termos. São cristãos? Verdadeiros cristãos? Ou apenas cristãos por costume e inércia? A igreja deveria excomunga-los, para que eles possam criar uma igreja de acordo com as suas próprias crenças e feitio desumano.

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