O discurso de Dilma na recepção a Obama

Tempo de leitura: 5 min

Excelentíssimo senhor Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América,

Senhoras e senhores integrantes das delegações dos Estados Unidos da América e do Brasil,

Senhoras e senhores jornalistas,

Senhoras e senhores,

Senhor presidente Obama,

A sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos de nosso povo e honra a histórica relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Carrega também um forte valor simbólico.

Os povos de nossos países ergueram as duas maiores democracias das Américas. Ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas.

Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer à cena política e social milhões de homens e mulheres que viviam à margem dos mais elementares direitos de cidadania.

Dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, o senhor é aquele que encontra o nosso país em um momento mais vibrante.

A combinação de uma política econômica séria com fundamentos sólidos e uma estratégia consistente de inclusão fez do nosso país um dos mais dinâmicos mercados do mundo. Fortalecemos o conteúdo renovável da nossa matriz energética e avançamos em políticas ambientais protetoras de nossas importantes reservas florestais e de nossa rica biodiversidade.

Todo esse esforço, presidente Obama, criou milhões de empregos e dinamizou regiões inteiras antes marginalizadas do processo econômico. Permitiu ao Brasil superar, com êxito, a mais profunda crise econômica da história recente, mantendo, até os dias atuais, níveis recordes de geração de postos de trabalho.

Mas são ainda enormes os nossos desafios. Meu governo, neste momento, se concentra nas tarefas necessárias para aperfeiçoar nosso processo de crescimento e garantir um longo período de prosperidade para o nosso povo.

Meu compromisso essencial é com a construção de uma sociedade de renda média, assegurando oportunidades educacionais e profissionais para os trabalhadores e para a nossa imensa juventude, garantindo também um ambiente institucional que impulsione o empreendedorismo e favoreça o investimento produtivo.

O meu governo trabalhará com dedicação para superar as deficiências de infraestrutura, e não pouparemos esforços para consolidar nossa energia limpa, ativo fundamental do Brasil.

Enfim, daremos os passos necessários para alcançar nosso lugar entre as nações com desenvolvimento pleno, forte democracia e ampla justiça social.

É aqui, senhor presidente Obama, que enxergo as melhores oportunidades para o avanço das relações entre nossos países. Acompanho com atenção e a melhor expectativa seus enormes esforços para recuperar a vitalidade da economia americana.

Temos assim, como o mundo todo, uma única certeza: a de que o povo americano, sob a sua liderança, saberá encontrar os melhores caminhos para o futuro dessa grande nação.

A gentileza da sua visita, logo no início do meu governo, e o longo histórico de amizade entre nossos povos me permitem avançar sobre dois temas que considero centrais nas futuras parcerias que fizermos: a educação e a inovação.

Aproximar e avançar em nossas experiências educacionais, ampliando nosso intercâmbio e construindo progresso em todas as áreas do conhecimento é uma questão chave para o futuro dos nossos países.

Na pesquisa e inovação, os Estados Unidos alcançaram as mais extraordinárias conquistas nas últimas décadas, favorecendo a produtividade em diferentes setores econômicos. O Brasil, senhor presidente Obama, está na fronteira tecnológica em algumas importantes áreas, como a genética, a biotecnologia, as fontes renováveis de energia e a exploração do petróleo em águas profundas.

Combinar as nossas mais avançadas capacidades no campo da pesquisa e da inovação certamente trará os melhores frutos para as nossas sociedades. Tomo como exemplo o pré-sal, a mais recente fronteira alcançada pela tecnologia brasileira. Acreditamos que os enormes desafios de cada etapa da exploração dessas riquezas poderão reunir uma inédita conjunção do conhecimento acumulado pelos nossos melhores centros de pesquisa.

Mas, senhor Presidente, se queremos construir uma relação de maior profundidade é preciso também, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradições.

Preocupam-me em especial os efeitos agudos decorrentes dos desequilíbrios econômicos gerados pela crise recente. Compreendemos o contexto do esforço empreendido por seu governo para a retomada da economia americana, algo tão importante para o mundo. Porém, todos sabem que medidas de grande vulto provocam mudanças importantes nas relações entre as moedas de todo o mundo. Este processo desgasta as boas práticas econômicas e empurra países para ações protecionistas e defensivas de toda natureza.

Somos um país que se esforça por sair de anos de baixo desenvolvimento, por isso buscamos relações comerciais mais justas e equilibradas. Para nós é fundamental que sejam rompidas as barreiras que se erguem contra nossos produtos – etanol, carne bovina, algodão, suco de laranja, aço, por exemplo. Para nós é fundamental que se alarguem as parcerias tecnológicas e educacionais, portadoras de futuro.

Preocupa-me igualmente a lentidão das reformas nas instituições multilaterais que ainda refletem um mundo antigo. Trabalhamos incansavelmente pela reforma na governança do Banco Mundial e do FMI. Isso foi feito pelos Estados Unidos e pelo Brasil, em conjunto com outros países. E saudamos o início das mudanças empreendidas nestas instituições, embora ainda que limitadas e tardias, quando olhada a crise econômica. Temos propugnado por uma reforma fundamental no desenho da governança global: a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.

Aqui, senhor Presidente, não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos.

Mais ainda, senhor Presidente, nos interessa aprender com os nossos próprios erros. Foi preciso uma gravíssima crise econômica para mover o conservadorismo que bloqueava a reforma das instituições financeiras. No caso da reforma da ONU, temos a oportunidade de nos antecipar.

Este país, o Brasil, tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso não é algo conjuntural, mas é integrante dos nossos valores: tolerância, diálogo, flexibilidade. É princípio inscrito na nossa Constituição, na nossa história, na própria natureza do povo brasileiro. Temos orgulho de viver em paz com os nossos dez vizinhos há mais de um século, agora.

Há uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que deverá reforçar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil está empenhado na consolidação de um entorno de paz, segurança, democracia, cooperação e crescimento com justiça social. Neste ambiente é que devem frutificar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos.

Senhor Presidente, quero dizer-lhe que vejo com muito otimismo nosso futuro comum.

No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre nós, entre Estados Unidos e Brasil.

Uma aliança entre os nossos dois países – sobretudo se ela se pretende estratégica – é uma construção. Uma construção comum, aliás, como o senhor mesmo disse no seu pronunciamento sobre o Estado da Nação.

Mas ela tem de ser uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam esses países em território, população, capacidade produtiva ou poderio militar.

Somos países de dimensões continentais, que trilham o caminho da democracia. Somos multiétnicos e em nossos territórios convivem distintas e ricas culturas.

Cada um, a sua maneira, temos o que um poeta brasileiro chamou de “sentimento do mundo”.

Sua presença no Brasil, senhor Presidente, será de enorme valia nessa construção que queremos juntos realizar.

Uma vez mais, presidente Obama, bem-vindo ao Brasil.


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Comentários

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beattrice

Azenha
circula a notícia de que FINALMENTE conseguiram liberar os 13 presos políticos, seria muitissimo oportuno uma entrevista com eles para documentar o absurdo.
Essa conta é do Tony Patriota e do CARDOZO.

Guanabara

Votei no Tonny Blair e não sabia.

Helen

Onde o Império pisa há discórdia. Eles espalham sangue por onde passam.
São um povo arrogante e agressivo. Que pena que o Brasil está passando esse vexame…

Carlos

Nós estamos perdidos. Que governo é esse?

    SILOÉ

    Pra seu governo: é o melhor governo do mundo, e ele está só começando!!!

laura

É um discurso de estadista.

monge scéptico

Tava lá no outro blog; fhc quer entregar o pré-sal. Ah,ah,ah , não precisa a dilma
já entregou. É mais uma frustração para o sistema fhc/serra que cortarão os
pulsos de inveja da dilma. Caraca que arrependimento de não ter anulado meu
voto. O Obama deve ter conseguido também, vender os f-18? obsoletos, para a
aeronáutica dos botucudos; nossos aviadores n/ merecem isso!.
Como um certo âncora: tá tudo dominado!( desculpem o simplismo).

    José Manoel

    Eu não acredito nisso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nem por um segundo!!!!!!!!!!!!!!!

O discurso de Dilma, a Liga de Democracias e a submissão voluntária | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] presidenta Dilma Rousseff fez um excelente discurso de boas vindas ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Usando o tom diplomático que a ocasião exige, […]

ricardo silveira

O discurso da Dilma só não mostrou a subserviência do FHC, o que nos deixa mais tranquilos, no mais foi correto. Disse o essencial: que a relação entre os países tem que ser entre iguais, indepedente do poderio econômico e militar de cada um. Se o sujeito está aqui como convidado não cabe ficar cag… na cabeça dele em público. Dizer, por exemplo, que é um presidente fraco e mentiroso, isso o Lula já disse e, a rigor, a Dilma não desdisse. Isso não quer dizer que devemos dormir sossegados. Esses imperialistas vieram aqui para levar o nosso petróleo e, dado ao precedente dessa gente, fazem isso na marra e na cara-de-pau.

    SILOÉ

    Não se preocupe, pois eles pagarão direitinho por todo o petróleo que levarem daqui.
    Ou você se esqueceu dos movimentos populares quando FHC quis vender a Petrobrás?
    Agora estamos todos mais atentos.
    "Escreveu não leu o pau comeu"!!!

dukrai

A Dilminha disse ao Obama que "é preciso também, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradições" e mais uma vez está certa. A humilhação do Brasil pela guarda pretoriana do império com as revistas de autoridades nativas, a ocupação de espaços urbanos e aéreos, a repressão de manifestações pacíficas e a prisão de opositores como no Egito de MuBarak mostra o país de quatro com o macho alfa fungando no cangote.
Este é o simbolismo da visita relâmpago de Obama, mostrar que "manda quem pode, obedece quem tem juízo" e de que o trabalho incansável de oito anos de Lula e Amorim em posicionar o país soberano, altivo e ativo pode ser desfeito em 10 horas.

    SILOÉ

    Esse é o preço que todos os países sem exceção tem que pagar, por receber o presidente do pais mais odiado do mundo.

    Ronaldo Irion

    Concordo plenamente. O objetivo da visita foi este. Com a ajudinha do agente infiltrado Tony Patriot… No final das contas, o Império cínico veio aqui com o único objetivo de emporcalhar o Planalto e o Itamaraty. Vamos aguardar, para ver se amanhã a Dilma volta a criticar o Irã…

Ronaldo Irion

Já sabíamos que a Dilma costuma falar grosso com os ministros.
Agora, para o nosso azar, descobrimos que (diferentemente do Lula) a Dilma fala fino com os americanos. (ai, ai…, pobre Brasil, colocado em seu "devido" lugar…)

FrancoAtirador

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Artigo do Reginaldo Nasser na Carta Maior:

"Em documentos revelados pelo WikiLeaks tomamos conhecimento de ações do governo norte-americano e seus lobbies para combater a lei do pré-sal e que a Casa Branca pressionou autoridades ucranianas para obstaculizar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes.

Portanto, já é hora pararmos com essa ladainha de visita simbólica ou de início de uma nova parceria estratégica."
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos
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FrancoAtirador

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O que não dá para admitir é que alguém ou um país

esteja empenhado na consolidação da paz,

enquanto, ao mesmo tempo, silencia sobre a guerra.
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Ronaldo Irion

Prendem 13 manifestantes, e fazem autoridades brasileiras tirar o sapato? Ôrra, regredimos tanto assim??? (Antony Patriot, go home!)

    José Manoel

    Fora Patriota!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Antonio Alves

Enquanto a Dilma dizia: "Mas ela tem de ser uma construção ENTRE IGUAIS…" "No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre nós, entre Estados Unidos e Brasil"

Enquanto isso também, os seguranças estadunidenses faziam revistas às autoridades brasileiras convidadas para o encontro, ordenando à elas que tirassem os sapatos. Então, caros amigos, continua DESIGUAL , pois a recíproca da HUMILHAÇÃO imposta às autoridades estadunidenses não vai ocorrer.

O novo Itamaraty e o Antony Patriot dão sinais de que estão querendo trazer de volta a SERVILIDADE as nossas relações com o império.

Marcel Vieira

Enquanto isso, a polícia do Rio prende 13 manifestantes em frente ao consulado dos EUA, alegando o pretexto de um suposto coquetek molotov atirado contra o consulado, molotov que ninguém viu, ninguém tem imagens do mesmo para mostrar. Prenderam 13 pessoas que não tiveram nada a ver com molotov nenhum. E ainda transferem os 13 para o presídio, dizendo que é "crime inafiançável". Protestar contra a visita de um chefe de Estado estrangeiro virou "crime inafiançável" no Brasil.

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