Amianto: Na Coréia, manifestantes pedem fim da produção no Brasil

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Da Redação

Nessa quarta-feira (11/01), vítimas, ambientalistas e profissionais de saúde  se reuniram em frente à embaixada brasileira em Seul, na Coréia, para pedir o fim da mineração do amianto no Brasil e de sua exportação para a Ásia.

Japão (2004) e Coréia (2009) são únicos países daquele continente que já baniram a fibra assassina.

A manifestação, convocada pela Rede pelo Banimento do Amianto da Coréia (Banko, Ban Asbestos Network Korea), faz parte da campanha direcionada aos países produtores.

Em 4 de dezembro de 2016,  o ato foi em frente à embaixada da Rússia. Em 28 de dezembro, na embaixada da China. Em 4 de janeiro de 2017, o alvo foi a embaixada do Casaquistão.

O Brasil é o terceiro produtor e exportador de amianto no mundo. Quanto ao consumo,  o quarto. Os dados são do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes deTrabalho – Diesat.

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Jiulio Camozzi

Como será a nossa sociedade nos próximos decênios?
Wolfgang Streeck

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Jiulio Camozzi

Como será a nossa sociedade nos próximos decênios?
Wolfgang Streeck
A minha imagem da sociedade do futuro – até o ponto em que sinto poder prover
alguma – é desoladora. Pensando sobre sociedade da Europa Ocidental e da América do
Norte – região do capitalismo “avançado” –, imagino a continuidade de uma longa
tendência de declínio social, o qual já está em andamento há décadas: desigualdade
crescente, estagnação econômica, aumento da insegurança, fragmentação política.
Mais do que nunca na época moderna, “nós” perdemos o controle para onde caminha
o nosso mundo. Saudamos ainda a nossa boa sorte de viver sob o comando de uma mão
invisível útil que age sempre no momento certo, assim como a nossa capacidade de
improvisar, a nossa resistência às pressões. Contudo, na verdade, não sabemos mais até
que ponto tudo isto se sustentará.
As perspectivas são incertas. Na linguagem do sociólogo, o que vejo é o avançar
de uma degeneração contínua da capacidade do consumismo hedonista, que tomou o
lugar das antigas fontes coletivas de legitimidade, de unificar a nossa sociedade: seja
por meio do fornecimento de integração social seja por nos proteger dos conflitos
vindos da anomia. Eu não consigo ver como essas tendências podem ser contidas ou
revertidas no futuro próximo. Eis que que todas elas têm relação com a rápida expansão
da economia capitalista em uma escala global. Ou seja, as regras da política democrática,
assim como das outras forças que se opuseram ao capitalismo no passado, não podem
mais deter agora o célere desenvolvimento dessas tendências desagregadoras.
A “globalização”, como é eufemisticamente chamada, também acelerou
enormemente a mercantilização das três mercadorias fictícias de Polanyi – trabalho,
dinheiro e natureza. Elas podem ser tratadas como meras mercadorias, pura e
simplesmente como mercadorias, mas apenas sob o risco de uma catástrofe social.
Estamos começando a ver os resultados: mercados de trabalho desregulados com
sucesso; piora global das condições de trabalho; rápido avanço da degradação
ambiental; a continuidade de uma sempre mais grave crise financeira.
No fulcro da podridão social que eu vejo avançando encontra-se a economia
capitalista liberta de todo o controle. Eis que ela está agora rompendo o seu casamento
forçado com a democracia – algo que se afigurara aparentemente como um fato
consumado após a Segunda Guerra Mundial. O neoliberalismo emitiu já os documentos
oficiais do divórcio de um casamento que parecia ter silenciado os pesadelos da primeira
metade do século XX. No entanto, essa união começou já a se desagregar nos anos
setenta deste mesmo século.
Estamos em meio a um processo de desintegração que não se consegue ver o
fim. A estagnação econômica tornou-se “secular”, mesmo aos olhos dos economistas
que são otimistas por profissão. Diante dela se fazem manobras monetárias cada vez
mais desesperadas, todas elas destinadas a manter viva a festa o maior tempo possível;
delas resulta um endividamento crescente que cria uma ameaça constante de explosão
imprevisível de novas bolhas, as quais podem surgir em lugares inesperados.
É certo que a economia capitalista perdeu a capacidade para suportar a
sociedade capitalista. Ao mesmo tempo, também se pode também dizer que essa
sociedade perdeu a capacidade de sustentar a economia capitalista. Pois, a
sobrevivência sempre precária do capitalismo dependeu sempre de forças
anticapitalistas, as quais o mantiveram sob controle, protegendo-o de si mesmo:
religião, conservadorismo, socialismo, anticomunismo, nacionalismo e democracia.
Essas forças desapareceram ou se encontram criticamente enfraquecidas, talvez
fatalmente, graças à modernização, globalização, consumismo, secularismo e energias
semelhantes.
Agora, o capitalismo passou a governar sozinho. E ele, assim, vem impor às
pessoas uma ordem social substituta (Ersatz) que é altamente volátil e imprevisível. Esta
exige que seus membros cuidem de si mesmos e que se esforcem bastante para
enfrentar a incerteza sistêmica, improvisando correções de forma privada e formando
expectativas com um mínimo de confiabilidade. O aumento da infraestrutura social selfmade,
ou melhor, capital-made, que é então chamada “social network”, induz a
transformação das pessoas em máquinas para o lucro por grandes multinacionais.
A irresistível ascensão das desigualdades nos países que, no passado, tinham
feito da igualdade um de seus objetivos éticos e políticos mais importantes, é apenas
um aspecto da crescente ingovernabilidade do capitalismo global. A maior desigualdade
está associada a um aumento do enriquecimento oligárquico, do roubo, do assetstripping
(processo pelo qual um especulador compra uma empresa em estado
falimentar com a intenção de vender os seus ativos separadamente, com lucro). Ela
reflete a capacidade declinante da democracia para redistribuir oportunidades na vida
social, protegendo a sociedade do poder esmagador do dinheiro. A própria sociedade
oscila entre o fim do crescimento econômico robusto e a consequente intensificação
dos conflitos redistributivos, vendo uma crescente heterogeneidade entre os cidadãos,
assim como no interior da força de trabalho.
Legitimada por uma ideologia meritocrática, impõe-se às pessoas um regime de
concorrência cada vez intenso, no qual ganham aqueles que têm melhor alocação inicial
de recursos. Cada vez mais tem-se um poder político menos capaz de equalizar as
condições de partida, para não mencionar sua incapacidade crescente de garantir
quaisquer resultados. A solidariedade e a coesão social continuarão a definhar, assim
como, também, o impulso coletivo para a igualdade. Eis que a imigração incentivada irá
produzir um suprimento ilimitado de trabalhadores dispostos a trabalhar por salários
abaixo.
A ordem social que vigora atualmente está baseada em trabalhadores precários
transformados em consumidores confiantes (Colin Crouch). Ela se encontra nesse
estado devido também às pressões sociais continuamente geradas pela grande indústria
de publicidade e entretenimento, aliada a um setor financeiro desproporcional. O que
estamos vendo crescer é um consumismo desenfreado, devidamente disfarçado como
expressão de liberdade individual – um hedonismo secular que captura a imaginação e
restringe as energias morais, especialmente da geração mais jovem. A questão é saber
por quanto tempo tudo isso vai ser capaz de esconder a crescente fragilidade da vida
social e econômica de um segmento importante da população, fazendo com que
esqueça a lacuna entre as promessas do capitalismo e a realidade capitalista? Esgotadas
todas as outras fontes de solidariedade social, trata-se de saber agora até quando a
indústria cultural vai continuar a vender o consumismo como um modelo de vida
satisfatória, mantendo assim a legitimidade do capitalismo avançado.
No futuro que prevejo a política dos países capitalistas avançados, enquanto
efeito de tudo isso, tornar-se-á cada vez mais fragmentada. Será dada, portanto,
continuidade à espiral descendente iniciada já há algum tempo. Os imigrantes, que em
número crescente fornecerão à alta classe média serviços privados a preços acessíveis
– em virtude da preferência geral, cada vez menos renunciável, por um modelo social
orientado pelo mercado – serão excluídos formalmente e de fato dos direitos civis. As
classes médias, encantadas por um individualismo meritocrático e acostumadas a pagar
privadamente pela obtenção de serviços, perderão o interesse pela política. Como
contrapartida, crescerá a dominação tecnocrática sobre a despesa pública por parte dos
bancos centrais e das organizações supranacionais. Cada vez mais se imposição a
austeridade e a consolidação orçamentária aos governos como forma de abrir espaço
para o investimento privado e para reforçar a confiança dos mercados financeiros.
A participação política vai diminuir ainda mais entre as classes baixas, pois elas
não terão mais nada a esperar da política pública – exceto, talvez, obter alguma
participação nos passatempos escandalosamente vulgares providos aos ricos e aos
poderosos. Excluídos da “sociedade do conhecimento”, a sua participação no
consumismo será cada vez mais limitada. A cidadania democrática também lhes será
denegada.
À medida que o estado de bem-estar se torna menos generoso como resultado
da diminuição do crescimento e da intensificação do conflito distributivo, os perdedores
da globalização poderão, em alguns momentos, mobilizar-se politicamente. Porém, eles
se aliaram provavelmente aos partidos xenófobos de direita. Pois estes continuarão a
estimular uma reação irracional à competição por parte dos imigrantes, os quais estarão
mais e mais dispostos a trabalhar por menos e a suportar condições mais duras de
emprego.
O declínio geral da participação política, a qual vem se arrastando há décadas,
oferece aos partidos do tipo Frente Nacional, Democratas Suecos, Vlaams Belango,
Movimento Wilders, a oportunidade de capturar uma parte significativa dos votos. Os
partidos tradicionais de centro, em consequência, veem cada vez mais as suas chances
eleitorais ficarem bastante reduzidas. Por isso, tenderão a se unirem contra esses
partidos intrusos sob a bandeira do liberalismo e do neoliberalismo. Ora, tudo isso vai
confirmar a impressão de que não há política alternativa. Assim, consumar-se-á a
exclusão politicamente desestabilizadora de uma parte crescente do eleitorado.
A política da fragmentação no centro se manterá conectada à evolução das
periferias do império capitalista. Os estados falidos e os conflitos insolúveis exigirão
intervenções miliares por parte das nações capitalistas ricas. Estas atuaram cinicamente
em nome da democracia, da construção das nações e dos direitos humanos, mas
preservarão apenas uma oferta ilimitada de mão de obra barata, formada por
refugiados e imigrantes. Podemos ver, portanto, que a “política de integração”
promovida pela sociedade decadente do centro não pode levar a qualquer lugar.
Enquanto a primeira geração de imigrantes tende a ficar feliz pelo lugar ao sol
obtido, os seus filhos estarão irremediavelmente prejudicados pela falta de capital social
e cultural. Em consequência, estarão também excluídos de princípio do núcleo
meritocrático da “sociedade do conhecimento”, a qual está suplantando o estado social
do pós-guerra. Incapazes de acender à classe média e a participar do consumismo
capitalista, bem como da secularização hedonista – formas importantes atualmente de
integração social –, alguns deles serão atraídos para a luta inglória contra os exércitos
do centro. De qualquer modo, o mundo da periferia estará mesmo caindo aos pedaços.
Desta forma, as guerras pós-coloniais – e, assim, os assassinatos seletivos da “guerra
contra o terror” promovidos pelas forças especiais e pela tecnologia dos drones – vão
continuar. Isto não impedirá que os países avançados continuem promovendo uma
autoimagem de sociedade tolerante, pacífica, não violenta e igualitária. Ora, isto
fortalecerá ainda mais a fragmentação política. Tudo isso será acompanhado pelo
aumento da vigilância, pois a infraestrutura microeletrônica da nova sociedade facilita
a espionagem feita pelas agências estatais.
Como imaginar a sociedade do futuro? O futuro ao qual faço referência é aquele
dos próximos vinte ou trinta anos. Temo que esta será uma época de profunda confusão,
desorientação crescente, desordem, sem que uma nova ordem qualquer apareça de
imediato. Será uma época “do salve-se quem puder”, não sem novas formas de
violência, tanto dos Estados quanto dos insurgentes. Não faltarão também as imagens
falaciosas do espetáculo produzido pela indústria cultural. Ocorrerá uma transição longa
e dolorosa para algo que ainda se mostra imperceptível; ver-se-á o fim do capitalismo
tal como nós o conhecemos e o começo de algo que ainda não conhecemos.

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