Em performance na Bienal, MST denuncia o agronegócio e a fome: ‘O agro pop não produz comida para o povo; o agro tech envenena’; vídeo

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Fotos: Gui Frodu/MST

Vídeo: Gui Frodu @guifrodu 

MST faz intervenção contra o agronegócio em espaço nobre da 34° Bienal de São Paulo

A ação integra a instalação da obra “Deposição”, em arquibancada desmembrada utilizada em roda de negociações de commodities do mercado financeiro da CBOT, EUA

MST

Na noite desta quinta-feira (11), dezenas de militantes ocuparam a programação da 34° Bienal Internacional de São Paulo, realizando uma intervenção performática contra o agronegócio.

A ação contou com a participação de grupos teatrais e movimentos populares.

Entre eles o coletivo Dolores Boca Aberta, a Brava Cia e Cia Antropofágica, o Levante Popular da Juventude, e o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) e o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A intervenção foi realizada integrando a programação criada como “Roda de Negociações”, vislumbrada como espaço de interlocuções com o público a partir da obra “Deposição”, dos artistas Daniel de Paula (BR), Marissa Lee Benedict e David Rueter, Estados Unidos (EUA).

A obra traz a roda de negociação do comércio de valores de Chicago (Chicago Board of Trade – CBOT), em uma plataforma desmembrada da arquibancada octogonal utilizada para a negociação de investimentos e commodities, trazida especialmente para a exposição.

Atualmente, a Chicago Board of Trade (CBOT) é a principal instituição financeira do mundo relacionada aos commodities agrícolas. Sendo também a mais antiga, fundada em 1848, e referência para os preços de produtos futuros negociados no mercado mundial, destacando-se produtos como o milho, soja e madeira.

A partir dessa referência, desmembrar o palanque de agentes financeiros da Bolsa de Chicago enquanto expressão artística evoca um desejo de ruptura com cenário que tem como plano de fundo relações de exploração.

Desde o desmembramento de seu status original, a obra “Deposição” integra sua natureza ao espaço de intervenções e recriação da “Roda de Negociações dos Pregões”, o MST adentra o cenário contestador das artes para criticar o modelo agroexportador aliado a produção do agronegócio que produz lucro, mas não produz alimentos, “onde rodas [de negociação] como esta foram palco da perpetuação da condição de colônia imposta pelos países centrais do capitalismo, e que acentuam as desigualdades sociais e a fome até os dias atuais”, denuncia Kelli Mafort, da direção nacional do MST.

“O MST vem denunciar na Bienal internacional de artes o papel mortífero do agronegócio. Esperamos chamar a atenção da sociedade para a terrível demonstração da fome no país que diz ser o celeiro do mundo”, declarou Mafort sobre a intervenção, apontando que o agronegócio é o grande responsável pelo atraso do Brasil. “A roupagem tech e pop é o disfarce do maior roubo institucionalizado da história do nosso país.”, menciona a dirigente.

Kelli enumera razões em contraposição ao discurso positivista disseminado sobre o agronegócio: “O agro tech incendeia a Amazônia para a expansão de fronteiras agrícolas e pastoris com o objetivo de exportação. O agro pop é contra o povo pois não produz comida, produz commodities. O agro é antipopular por expulsar as famílias do campo e impedir a diversidade de culturas alimentares. O agro tech envenena o solo, as águas, o subsolo, o ar, as lavouras”.

Um dos autores da obra mencionou que “não há intenção de fazer da arquibancada um monumento ou de preservá-la como um objeto histórico” – disse Daniel de Paula.

“É notório que estamos num momento político no Brasil em que há uma expansão agrícola estimulada pela especulação financeira. Isso promove diversas formas de violência, desde o desmatamento até a grilagem de terra, violência contra comunidades locais. E todas essas são, digamos, resultantes das dinâmicas desse mercado financeiro que aconteciam nessa estrutura”, complementou Daniel, em confluência com as intervenções críticas do ato.


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