Morvan Bliasby: Dilma fará as mudanças que se espera dela?

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Foto: Roberto Stcukert/PR
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O Que Precisa Mudar Com A Vitória de Dilma Roussef

Publicado em 10 de novembro de 2014

por Morvan Bliasby, no Hariovaldinos

Segundo os cânones da imprensa totalitária, a corrupção, palavra mágica que sempre será utilizada pelos paleo e neoudenistas, sempre que houver trabalhistas no Poder (e não necessariamente com), a corrupção se instalou há onze anos e alguns meses.

Antes disto, o Brasil era Xanadu dos trópicos.

Máfia das ambulâncias, compra de votos para forçar a reeleição do Executivo, para, digamos, estender um pouco a entrega de benesses ‘meritocráticas’ (palavra muito em moda, também, por ora, a exemplo de “bolivariano”), através de privatizações profundamente lesivas para o patrimônio do Estado, etc.

Isto tudo parecia conto de fadas às avessas.

Mesmo que os lacerdistas de hoje não ostentem um milésimo do tirocínio do Corvo, do alter ego dos udenistas, mister se faz que compreendamos que a imprensa, que sempre representou esta parcela protogolpista brasileira, ainda detém muito poder, mesmo com a blogosfera lhe mordendo os calcanhares, mais pelo que o PT, como carro-chefe do Executivo Federal, nestes onze anos deixou de fazer, do que pelo que fez, para aprimorar a democratização da informação.

Nos bastidores, longe da questão da mídia matriciana, muita coisa mudou.

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Para começar, a Região Nordeste do Brasil, secularmente relegada a definhar, exibindo, via de regra, desempenho econômico pífio, ao lado de indicadores sociais alarmantes, como IDH baixíssimo, alta taxa de mortalidade infantil, indicadores estes tidos como “fatalidades” inexpugnáveis pela elite pré advento da corrupção.

Hoje, o Nordeste é o carro-chefe do desenvolvimento brasileiro, graças às políticas afirmativas para a Região.

Os indicadores econômicos enchem de orgulho, hoje, os seus habitantes.

A mortalidade infantil já não é mais uma mera fatalidade e o futuro dos jovens passa por escolarização e oportunidade de trabalho.

Vejamos o depoimento de uma pessoa que trabalhou com as duas realidades:

Fiel seguidora (8 de novembro de 2014 at 5:57):

Caros e Caras deste solidário sítio, Houve um tempo que, triste de se alembrar, trabalhar como enfermeira no interiorzao deste meu rincão querido era uma batalha diariamente perdida para a morte. Receber aqueles pequenos seres famélicos e, de mãos atadas, acompanhar o definhar do futuro.

Tempos de uma indústria pródiga com os fartos de usura, vendilhões do povo, perpetuadores do servilismo e da miséria. A indústria da seca consagrava poderes e humilhava um povo altivo. Éramos um povo tangido, bovino, submetido à canga dos gananciosos.

A distribuição de dignidade transformou, revolucionou e mostra, cada dia mais, quanto pode ser feliz um povo em pleno exercício de sua cidadania, digno e altivo, sem o temor da derrota para a adversária pobreza.
Tudo isto acontecia em um país bem distante, em terras estranhas daqui. Ironia fora e lágrimas presentes, reverencio o hoje contrário e o futuro alvissareiro que acena aos nossos pequenos.

Este belíssimo depoimento corrobora a diferença de realidades do antes das políticas afirmativas para a Região e o agora.

Eram irmãos e irmãs massacrados pelo opróbrio de séculos de negação da pessoa humana.

A grita da direita contra os programas como o Bolsa Família, o PRONATEC, o FIÉS, etc.

É o urro de ódio excludente da Casa Grande, que queria poder destinar estes recursos para os seus, jamais para aquele povo destinado a definhar.

Dinheiro para financiar aeroportos privados, mansões para os já muito ricos, pode. Políticas afirmativas, não.

Isto é populismo (aumentou nosso dicionário de verbetes do “PIG”).

O mesmo BNDES que financiou as privatizações “no limite da responsabilidade”, como asseverava um dos envolvidos naquele processo de sucateamento premiado do patrimônio brasileiro é o Banco Social que financia inúmeros projetos para o futuro do Brasil e dos brasileirinhos.

Hoje o banco é infamado, justamente por cumprir sua função social.

Ao lado da história belíssima da Fiel Seguidora, há outras conexas, igualmente belas, como a da Itapipoquense ‘Arretada’, Que Cria Oito Filhos, Com a Ajuda do Bolsa Família, Faz Palestras Sobre Agricultura Familiar; e Devolve o Cartão.

Água, outrora infortúnio, é abundante no Nordeste, graças à política de segurança hídrica implementada nestes dias de “corrupção” e de “populismo”.

Cisternas, açudes, vão, aos poucos, moldando um novo Nordeste. Os carros-pipa já não são mais abundantes.

A indústria da seca, irmã siamesa da cerca, já não podem mais ser flagelo para nossos irmãos nordestinos.

A transposição do “velho” Chico está quase concluída. Antônio Conselheiro, o sertão virou mar. Tínheis razão, enfim.

Então, porque, apesar de tantas mudanças, Dilma venceu por pouco? As pessoas não estão cientes das mudanças, nestes anos de “aparelhamento” (vá guardando as palavras pigais)?

Não é isso.

É que, enquanto o PT é um partido político com grande visão social, o mesmo é de uma miopia acachapante, quando se trata da questão da hegemonia política.

Pensam, ou fazem crer que a consciência do povo se dá por osmose.

Que não é necessário preparar, também, e mais do que qualquer coisa, o povo para compreender política.

Educação política é fundamental. O currículo escolar, por exemplo, tem que refletir relações de Poder e a imprensa tem que ser democratizada.

Aulas de História e xadrez nas escolas são misteres. A imprensa, ainda, precisa deixar de ser cabo eleitoral dos udenistas 24/7 e cumprir sua função social.

O Judiciário precisa ser reformado, urgente. Acabar com a caixa-preta em que se transformou este Poder.

Torná-lo um dos arcos da República, não um centro de coonestação de casuísmos, como d’ora o é.

Só com estas mudanças inadiáveis poderemos consolidar a verdadeira República brasileira, porque se não se fizerem as mudanças que urgem, a UDN, com a sua máquina de inversão de valores retomará o Poder e reverterá as mudanças em curso, dando fim ao ‘bolivarianismo’ do PT.

É o retorno da Casa Grande e da indústria de fadados à fome, à exclusão, à indústria de não-pessoas que perdurou até a chegada dos “corruptos”.

Há alguns dias, por acaso, cunharam uma palavra que estava em certo desuso. “Bovinos”.

A direita taxou os nordestinos de bovinos, por terem votado, segundo os corvinos, neoudenistas, segundo seus interesses. Mas quem não o faz?

Banqueiros têm seus candidatos (candidatas idem); industriais também.

A mídia sempre esteve ao lado dos que lhe trariam benefícios, por mais que eles tentem dizer o contrário.

Por que seria diferente, no caso da Região Nordeste? Argumentação preconceituosa, incoerente e mistificadora.

Em política, a não ser que indevidamente enganados, sempre se vota por interesses, imediatos ou finalísticos.

Tragicômico é sermos taxados de bovinos, pelos pigais, justamente quando deixamos de sê-lo. Hoje o Nordeste pensa.

É a linguagem nazista da imbricação do real. Da demonização dos que ousam pensar [e fazer, como Lula e Dilma o fazem] diferente.

Dilma e o PT têm que puxar as reformas urgentes.

Não esqueçam que foi a militância quem conseguiu segurar o barco, nos momentos mais acres desta disputa renhidíssima; senão, teremos o mesmo enredo de sempre.

Vitórias, quando possíveis, no aperto. Educação política e reformas já.

PS do Viomundo: Os primeiros sinais não são nada animadores. Dilma deixou de falar e abriu espaço para que a mídia corporativa “enquadre” à vontade o segundo mandato, apontando como único caminho possível a austeridade europeia, como lamentam economistas de esquerda que gostariam de participar do debate. De um lado, a mídia fala em “estelionato” eleitoral como forma de enfraquecer Dilma, de outro praticamente dita um programa de governo que seria o de Aécio Neves, como ficou claro hoje na coluna de Noblat em O Globo e numa “reportagem” do Valor Econômico que dita o “programa de governo” dos conservadores.

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