Moradores da Favela Esperança, em SP, pedem fim de despejos e canalização dos córregos

Tempo de leitura: 4 min

Da Rede Extremo Sul*

Cerca de 200 moradores da Favela Esperança, na Vila Joaniza, seguem mobilizados reivindicando a interrupção imediata das centenas de despejos que começaram a ocorrer de forma totalmente abusiva em sua comunidade. Eles exigem também que a canalização do córrego Zavuvus – uma bandeira antiga do bairro – seja feita sem a remoção dos moradores históricos da região. Desta maneira, no início desta quarta-feira, eles decidiram caminhar em marcha rumo à subprefeitura da Cidade Ademar para fazer tais reivindicações diretamente ao subprefeito, Carlos Roberto Albertim, e seu corpo de burocratas.

Depois de uma longa caminhada pela Avenida Yervant Kissajikian, o conjunto dos moradores foi recebido pelo subprefeito e seus assessores em um auditório improvisado. A negociação, no entanto, não avançou em nada, sobretudo pela intransigência dos gestores, os quais inclusive se recusaram a assinar sequer uma ata da reunião – reconhecendo que seguirão fazendo os despejos da mesma maneira, oferecendo os mesmos R$ 400,00 de bolsa-aluguel (vulgo “cheque-despejo”), sem qualquer outra garantia palpável de solução definitiva para as famílias.Revoltados com a postura do subprefeito e seus assessores, que segundo muitos moradores foram bastante desrespeitosos ao longo da “reunião”, e sem qualquer alternativa digna para o futuro de suas famílias, ao sair da subprefeitura os manifestantes resolveram voltar em marcha para a favela, não sem antes travar por alguns minutos a Avenida Yervant para chamar a atenção da sociedade sobre o tipo de tratamento que a população pobre vem recebendo do tal “poder público”

História da região

A Vila Joaniza é um bairro antigo do extremo sudeste de São Paulo, na região da Cidade Ademar. Um bairro grande e desigual, que inclui tanto áreas um pouco mais endinheiradas, quanto algumas regiões bem pobres, porém todas ocupadas há muito tempo. A Favela Esperança, que fica na Joaniza, também tem mais de 40 anos de existência, quando os primeiros moradores da comunidade começaram a se estabelecer por ali. De lá pra cá, foram décadas e décadas de muita luta cotidiana, fora do horário de serviço e nos finais de semana, para transformar os primeiros barracos em casinhas melhor estruturadas (com encanamento, de alvenaria, com várias lajes…); para ir aprimorando a infra-estrutura do bairro (asfaltamento de ruas, água e esgoto, creche, posto de saúde, transporte etc); e assim fortalecendo os laços comunitários. Tudo conquistado sempre com muita luta de cada família, e da comunidade como um todo.

Nas últimas semanas, por conta do famigerado “Programa Mananciais” e da aceleração dos interesses imobiliários e especulativos nos arredores da favela, centenas de moradores antigos da comunidade estão sendo ameaçados e forçados a deixarem suas casas a toque de caixa, abrindo mão de direitos conquistados ao longo de tanto tempo. O argumento utilizado pelos gestores e pelos funcionários das construtoras tem sido, mais uma vez, a “urgência” da canalização do córrego Zavuvus – uma reivindicação histórica da própria comunidade – que estaria colocando em risco os moradores e seu meio ambiente. Assim, utilizam os velhos argumentos do “risco”, da “defesa do meio ambiente” e da “necessidade de melhorar a infra-estrutura do bairro”, além da própria comoção gerada pelo afogamento de duas crianças no início do ano, para justificar a urgência que eles têm por seus lucros empresariais e especulativos. Ao invés de atender de maneira decente a histórica reivindicação pela canalização do córrego Zavuvus em prol da comunidade, estão tentando fazer acreditar que a favela é o obstáculo no meio do caminho, ameaçando-a, e assim tentando justificar a expulsão de centenas de famílias para vá-lá-saber aonde.

Resistência na Comunidade

Frente a todos esses absurdos, a comunidade da Favela Esperança está consciente de seus direitos e disposta a resistir! Mesmo depois de uma série de ameaças e intimidações por parte das assistentes sociais e de outros funcionários da Prefeitura, reafirmam que a proposta que lhes está sendo apresentada, o auxílio-aluguel de 400 reais, não é uma alternativa aceitável. Ao contrário, exigem que seja feita a canalização do Córrego Zavuvus sem a remoção dos moradores, muitos dos quais residem na comunidade há 30 ou mesmo 40 anos. Por isso decidiram fazer esta primeira marcha até a subprefeitura da Cidade Ademar, protestando contra os despejos que estão ocorrendo na comunidade.

Para os moradores da Favela está claro que não é possível tolerar tantos absurdos assim, afinal é sabido ser possível interromper os despejos e fazer a canalização mantendo as famílias na mesma região que elas cresceram e ajudaram a construir com muita luta, tendo direito a usufruir de todas suas melhorias. Aliás, como já foi feito em outras áreas próximas do mesmo córrego, justamente onde ele tem uma vizinhança mais endinheirada. Por que será que a favela e o povo mais pobre tem que sempre ser tratado da pior maneira possível?

A comunidade garante que permanecerá mobilizada e não tolerará mais este tipo de absurdo.

Apoie o jornalismo independente

As reivindicações dos moradores

São Paulo, 23 de março de 2011

Ao Subprefeito da Cidade Ademar,

Nós, moradores da Favela Esperança, na Vila Joaniza, declaramos que auxílio-aluguel de 400 reais não é política habitacional, e reivindicamos: 1) Paralisação imediata dos despejos que estão em curso em nossa comunidade. Basta de assédios, ameaças e outras formas de violência contra os moradores e as moradoras da Favela Esperança; 2)  Que seja feita a canalização do Córrego Zavuvus sem a remoção das famílias que residem próximas a ele, como ocorreu perto do Colégio 24 de março e de outros lugares de nossa região.Só aceitaremos remoções pontuais caso seja apresentada às famílias em questão uma real alternativa habitacional – ou seja, caso a família deixe sua casa já com a chave de sua nova casa própria -, e caso essas famílias estejam de acordo. Fora isso, admitiremos apenas remoções temporárias, combinadas contratualmente, durante o tempo de realização das obras.

Solicitamos que estas reivindicações sejam encaminhadas aos demais órgãos competentes, como a Secretaria Municipal de Habitação e o Programa Mananciais, e que nos seja apresentada a resposta sobre o segundo ponto da reivindicação em nova reunião a ser realizada num prazo de 15 dias.
Moradores e Moradoras da Favela Esperança, Vila Joaniza

* Integram a Rede de Comunidades do Extremo Sul da cidade de São Paulo alguns bairros, entre os quais jardins Lucélia, Prainha, Tangará, Toca, vilas Nascente e Rubi, Parque Cocaia I e Recanto Cocaia.

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Sonia

A Prefeitura quer desapropriar a região para fazer o quê? Durante parte de 2010 e todo o ano de 2011 várias famílias foram desalojadas, as casas quebradas e o entulho cai dentro do córrego ficando lá por vários meses. Até o momento, não consegui informações claras na Subprefeitura ou na Sec. Infra-Estrutra sobre qual o projeto para a região do Córrego Zavuvus.

edv

Com "determinação" (e "sorte" de incêndios…), o Kassab vai reduzindo as favelas…
Pelo menos as que incomodam, por alguma razão merdiocrelitista.
Ja os favelados…

Jorge Mendes

Em Minas o Governador Tucano Anastasia(pupilo de Aecio )também querem despejar 1200 famílias conforme o vídeo anexo,divulguem pois já divulguei esse[youtube tQNPbo4cXeo&feature=player_embedded http://www.youtube.com/watch?v=tQNPbo4cXeo&feature=player_embedded youtube]

Deixe seu comentário

Leia também