Marco Aurélio Mello, de Montreal: Miscelânea e Bernie Sanders no FSM

Tempo de leitura: 4 min

Bernie sanders cancelada

por Marco Aurélio Mello, de Montreal,Canadá, especial para o Viomundo

Erika está sentada numa tenda armada ao lado de uma dúzia de outras.

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Ela faz parte do Brechó Eco Solidário, iniciativa que nasceu em Salvador 10 anos atrás. A ideia é simples: as pessoas abrem mão de um bem que esteja em bom estado, qualquer um, em troca de um grão, uma moeda social e solidária.

Uma vez por ano, em Outubro, um enorme bazar põe à venda tudo o que foi arrecadado. O preço por unidade é fixo: um grão. As pessoas levam seus grãos e trocam por aquilo que quiserem. Por trás da inciativa há um conceito muito simples: o sistema de trocas permite o reaproveitamento e poupa recursos do nosso meio ambiente.

Pensar globalmente, agir localmente. Hoje já são 13 mil pessoas engajadas no projeto de trocas soteropolitano. Iniciativas assim fazem parte do Movimento Social dos Povos Brasileiros  e atuam em rede com outros 15 países, numa organização chamada Dialogues en Humanité.

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Subtrair valor das coisas em busca de uma sociedade mais igualitária também é o que querem os ativistas da tenda ao lado.

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Eles defendem uma mudança radical na economia com o banimento da usura. Afinal, cobrar remuneração abusiva pelo uso do capital, como juros excessivos nos cartões de crédito, por exemplo, lesam o devedor. Apesar de repudiada socialmente e considerada conduta criminosa inclusive no Brasil, a exploração corre solta.

Já parou para pensar por que os bancos aceitam muitas vezes a décima parte de uma dívida para saldá-la? É porque não há argumento que convença a Justiça de que há sim abuso econômico quando o cidadão é submetido a uma cobrança desproporcional à sua capacidade de pagamento. No Brasil é ainda pior porque além dos juros há um “spread” exorbitante, mas isso é pra outra hora.

O capital fareja o lucro, mas flerta permanentemente com a criatividade. Porque é necessário trazer de volta ao meio ambiente o que está sendo dilapidado. A pirâmide de latas de refrigerante foi ideia de um estudante de escola secundária, para um concurso que premiou instalações animadas.

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O curioso é que não há animação nenhuma na pirâmide de latas da foto. O que se movimenta intensamente ao redor delas são as abelhas, em busca do açúcar residual dentro delas.

O mundo anda muito aflito em busca de soluções sustentáveis. Produzir sua própria energia é uma possibilidade cada vez mais viável economicamente. Enquanto nos shoppings frequentadores experimentam pedalar para carregar seus celulares, nas ruas é pedalando que o as caixas de som tocam jazz.

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Outra curiosidade está na iniciativa do grupo que quer livrar o planeta do tráfico de seres humanos.

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O visitante é convidado a preencher três cartões com os seguintes formatos: um coração, uma lâmpada e uma nuvem; sentimento, ideia e sonho. Depois os cartões são fixados num pano preto. Promotores de Justiça de Montreal estão comprometidos a receber o material e refletir sobre este inaceitável drama humano.

À tarde, um seminário tinha como finalidade responder à seguinte pergunta: como colocar em prática os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. São centenas de encontros como este, sobre diversos temas, acontecendo simultaneamente.

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Neste aqui, duas participações em especial causaram frisson: Sylvia McAdan e David Barkin. A primeira, uma remanescente dos povos originários do Canadá. O segundo, um professor da Universidade Autônoma Metropolitana do México.

Sylvia chorou quando lembrou que neste exato instante a mata ciliar que protege as nascentes de água pura de seus ancestrais está sendo derrubada. Sylvia é ativista de um movimento chamado Idle No More: em tradução livre: inerte não mais. Os povos originais não aceitam mais receber favores. Ela é advogada “formada pela escola dos colonizadores”, provocou. Diante de uma plateia majoritariamente branca ela partiu para o ataque: “sabe quanto custa em média por ano um estudante anglo-saxão aqui em Montreal? Onze mil dólares. E um francófono? Dezenove mil. Já um aborígene? Pouco menos de três mil e quinhentos.

David Barkin criticou a ONU e disse que a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável nada mais é do que transformar o meio ambiente em commodities. Mas Barkin foi além. Falou sobre o desmonte do estado de bem-estar social em todo o mundo, especialmente nos países do Sul Global. E da privatização acelerada de todos os serviços públicos, incluindo a educação e a possibilidade do livre-pensar. E arrematou: “o que esperar de uma universidade pública administrada pela iniciativa privada?”

Mas a grande estrela da noite era Bernie Sanders. O pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido democrata deveria falar às sete da noite (ainda dia). Mas sua conferência foi cancelada horas antes. Paciência. Esta tarde tem Naomi Klein, uma das ativistas mais esperadas pelo Fórum Social Mundial.

 


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Serjão

O que houve de Mariana?

FrancoAtirador

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E as Baías dos Cocôs,
as Lagoas dos Xixis
e os Córregos do Fedor.
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    FrancoAtirador

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    No dia em que for limpa a Baía da Guanabara,

    acaba-se a Carreira Política do Jair Bolsonaro.
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FrancoAtirador

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A Natureza Não é Adepta do AntropoCentrismo.

Se o Ser Humano Não Aceitar em se Readaptar,

os Fenômenos Naturais Autônomos o Sujeitarão.
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FrancoAtirador

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Já as Matrizes do Capitalismo de Última Geração,
que detêm o Monopólio dos Meios Tecnológicos,
“pensam Localmente para agir Globalmente”.

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