Manuel Domingos Neto: O documentarista

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Foto: Acervo Caliban

O DOCUMENTARISTA

Por Manuel Domingos Neto*

Tínhamos 24 anos, quando nos conhecemos, no primeiro semestre de 1974. Nos inscrevemos no mesmo curso de História da Universidade de Paris. Mais de 50 anos de amizade.

Andávamos muito à pé. Não sei como ele, sempre acima do peso, conseguia carregar durante horas suas sacolas pesadas, com equipamentos fotográficos.

Folgado, reclamava quando eu não tinha Grand Marnier em casa. Vivia lascado, mas sempre conseguia comprar lentes requintadas.

Só brigamos quando ele não assinou o manifesto em defesa de Genoino e Breno Altman, processados pelos sionistas pelas denúncias do genocídio em Gaza. Fiquei muito puto, disse-lhe grosserias.

Fizemos as pazes em minha última palestra no Rio, ano passado. Ele foi à casa Ruy Barbosa. Tava fraquinho, cadeira de rodas, falando baixo, quase sussurrando. Não mostrava mais aquele riso constante, de quem levara a vida pilheriando. Era um carioca que sacava o humor nordestino.

Lembrou passagens de nossa juventude. Levantei-me da mesa e fui beijá-lo. Todos aplaudiram.

Fiz força pra segurar o choro e retomar meu fio de argumentação.

Sabia que ele estava no fim. Muita saudade, mas não quero ficar triste. Minha geração tá partindo. Não quero passar o tempo que me resta amargando tristeza.

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O que tenho a dizer hoje é: assistam os filmes de Silvio Tendler os que quiserem saber do Brasil.

*Manuel Domingos Neto é doutor em História pela Universidade de Paris. Autor de O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (Gabinete de Leitura).

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