Mair Pena, no Direto da Redação: Cristianizaram o Serra

Tempo de leitura: 3 min

Publicado em 04/08/2010

CRISTIANIZARAM O SERRA

Mair Pena Neto, no novo Direto da Redação (não deixe de ir lá)

A histórica campanha de 1950, quando GetúlioVargas voltou ao poder, deu origem ao termo “cristianização” na política brasileira, quando o PSD abandonou seu candidato Cristiano Machado (foto) à própria sorte e transferiu votos para Getúlio. Desde então, toda traição de um partido a seu candidato é conhecida como cristianização.

Processo semelhante ocorre agora com a candidatura de José Serra à Presidência pelo PSDB. Nome imposto à força pela tucanagem paulista e sem a simpatia do partido até pelas características pessoais do candidato, Serra vem sendo paulatinamente abandonado pelos principais nomes do partido e tende a terminar a campanha só, melancolicamente derrotado pelo que as pesquisas começam a indicar.

Diariamente, a Folha de S.Paulo vem apontando defecções na campanha de Serra. Tucanos de alta plumagem, que evitam associar seus nomes ao do candidato à Presidência, que deveria ser o puxador de votos. Nessa lista, já entraram nomes de peso do PSDB, como os senadores Tasso Jereissatti, do Ceará, Arthur Virgílio, do Amazonas, e Sergio Guerra, de Pernambuco, presidente nacional do partido, e o de Agripino Maia, do incondicional aliado DEM. Todos fazem suas campanhas sem menção ao nome de Serra.

Outro caso flagrante e de explicação óbvia, ocorre em Minas Gerais, onde Aécio Neves empenha todo seu prestígio na eleição do tucano Antonio Anastasia ao governo do estado e toca sua campanha ao senado, ignorando a existência de Serra. Aécio tentou ser o candidato do PSDB à Presidência, inclusive sugerindo a realização de prévias no partido, mas foi atropelado por Serra, com recurso a golpes baixos transmitidos por meio da mídia

Com o segundo maior colégio eleitoral do país, Minas tem papel decisivo em toda eleição, e as pesquisas indicam que será totalmente favorável à Dilma Rousseff. A candidata do governo abriu 12 pontos de vantagem sobre Serra no estado, segundo a última pesquisa Ibope/TV Globo/Estadão. Em Minas, surgiu e ganhou força a chapa Dilmasia, a união do candidato tucano ao governo do estado à candidata petista à Presidência, o melhor retrato da cristianização de Serra.

Mas o que exatamente levou Serra a ser abandonado por suas próprias hostes? Aí entra uma série de fatores. Em primeiro lugar, a dificuldade de enfrentar a candidatura de um governo popular, com altos índices de aprovação, tarefa que exigiria da oposição um discurso novo. Serra iniciou a campanha sem discurso, evitando se opor a Lula, mas não dizendo ao que veio. O slogan escolhido pela oposição, “O Brasil pode mais”, foi de uma infelicidade atroz. Ele serviria para uma idéia de continuísmo, justamente o que Serra não representa. Para a candidatura do governo ficou fácil derrubá-lo. Basta comparar o que foi feito nos oito anos de governo tucano, ao qual Serra serviu como ministro e com influência decisiva em aspectos essenciais, como a privatização da Vale do Rio Doce, e as realizações dos dois governos de Lula para verificar quem fez mais.

Como a estratégia Serrinha paz e amor não deu certo, o candidato tucano precisou engrossar um pouco mais a fala e aí se perdeu de vez. Serra incorporou o discurso da direita e saiu como um cão raivoso falando de república sindicalista, evocação terrível de um dos termos usados na preparação do golpe contra Jango, de condescendência da Bolívia com o tráfico de drogas e de ligação do PT às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, nesse último caso endossando acusações irresponsáveis de seu vice, que custaram direito de resposta no site do PSDB e processos na Justiça.

A escolha do vice foi outro exemplo da cristianização de Serra. O DEM bateu o pé pelo direito de indicar um representante seu ao cargo, contrariou Serra, que desejava chapa puro sangue com o deputado Álvaro Dias, que chegou a ser anunciado, e empurrou um nome sem a menor expressão e preparo político, o que se revelou logo de cara com sua intervenção desastrada.

Todos esses fatores foram se acumulando, e quem era obrigado a engolir o estilo trator de Serra, que na sua obsessão pela Presidência não distinguiu aliados de inimigos, percebeu a hora do troco. Com a candidatura naufragando antes mesmo de começar a propaganda na televisão, o barco começou a ser abandonado e dá sinais de ter pouco fôlego para ir além do primeiro turno.


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Comentários

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O Brasileiro

Vamos ver quem vai pedir votos para o Serra no rádio e na televisão no horário eleitoral… hehehehehe.
Vou me divertir muito!

william porto

O Dem acabou. O PSDB depois das eleiçoes vai ter que mudar. Na minha opiniao a direita já explodiu. Está apenas agonizando.

João Luiz

Parte III:

Já do ponto de vista da candidatura governista, a estratégia foi simples, milenar: dividir para conquistar. Acenos para Aécio, justamente para enfraquecer Serra, e para ganhar a simpatia dos eleitores do governador mineiro, já que ele goza de grande prestígio em seu Estado, o segundo maior colégio eleitoral do país. Sabe, porém, que Aécio age em interesse próprio, e que no exercício do seu mandato de Senador, não vai facilitar as coisas para o governo no Senado. Mas essa é outra batalha, para ser disputada depois de 1º/01/2011. Que a candidatura Serra está fazendo água é fato, só um golpe midiático (que nunca podemos descartar) reverte esta situação.

Então, eu acho que essa evidente cristianização do Serra não é uma “desorganização” da direita brasileira, que estaria “perdida”. Eu acho que são é muito espertos – estão rifando o Serra agora, enquanto tentam se reorganizar e não perder representação no Congresso ou suas bases regionais. Assim, ficam “latentes” por um tempo, lambendo as feridas e se organizando para 2014. Eles não são estúpidos. Estão aí faz 500 anos e não vão sair de cena com essa facilidade (e nem devem sair, governo nenhum é legítimo se não houver oposição). Quem foi cristianizado foi o Serra, não os planos e interesses da direita. Alienado é quem diz que essa eleição “enterrará” a direita. Devem absorver o discurso da Marina e voltarem como “verdes” na próxima eleição, por mais absurdo que isso possa parecer.

João Luiz

Parte II:

– Assim, Aécio ganha de duas formas: 1) para o seu eleitorado mineiro, não aparece como um traidor do partido, pelo contrário, tentou ser candidato à Presidência, mas isso lhe foi negado pelo projeto pessoal de poder do Serra; e 2) ainda agrada ao mineiro que tem simpatia por ele, mas não votaria em José Serra, porque está contente com o Governo Federal. Criou as condições para eleger seu sucessor, com o Voto Dilmásia. Assim, mesmo no caso de uma vitória do PMDB em Minas, terá (assim acredita, e assim parece ao eleitor mineiro) uma boa relação com o Governo Federal; e em caso de vitória do seu candidato, garante sua influência sobre o Estado, já que o Senado, leva com certeza.

Portanto, Aécio criou uma situação política muito favorável para sua própria sobrevivência enquanto membro do PSDB, e de quebra ainda expôs Serra, que hoje detém corrente que realmente manda no partido, a uma derrota que marcará o encerramento da sua carreira política (no máximo, vai concorrer a prefeito de SP em 2010). Isso pode deslocar o eixo de poder dentro do próprio PSDB, não de SP para Minas (sabe como é paulista, “não é comandado, comanda”, como o próprio lema do Estado diz), mas de Serra para seus rivais dentro do partido. Alckmim pode exercer uma influência maior a partir de agora, o que pode ser favorável para Aécio, já que os demais caciques do partido, da região nordeste e centro-oeste, e também no sul (vide Álvaro “Botox” Dias) são serristas.

Aécio sabe que isso não significa que terá um apoio branco do PT durante o exercício do seu mandado como governador, sendo improvável que um governo Dilma abra mão de liderança no Senado em favor da oposição, já que este alegado acordo com Aécio não deve alterar muito o resultado das eleições, apenas ampliar a margem de vitória. Aécio não deve receber a liderança do Senado assim, de mão beijada, como estão noticiando por aí. Isso me parece mais fleuma de tucano serrista querendo fazer Aécio parecer um traidor as olhos do eleitor mais conservador, que fecha com os paulistas sempre.

    João Luiz

    Correção: … no máximo, vai concorrer a prefeiro em 2012…

João Luiz

Parte I:

Não acho que Aécio seja uma alternativa viável a José Serra. Não confio nele, como não confio em qualquer político que mantenha algum tipo de controle ou seja tratado de forma amigável pela imprensa. Na minha modesta opinião, o que aconteceu foi o seguinte:

– Aécio sacou que, nestas eleições, não importava quem encabeçaria as candidaturas da situação e da oposição. O momento pelo qual o país passa favorece a situação, independentemente de quem sejam os candidatos. Portanto, já imaginava que qualquer que fosse o candidato do PSDB, a eleição estaria perdida. A indicação de Dilma como candidata demonstra isso. Apesar de sua competência executiva demonstrada em todos esses anos de ministério, jamais passou pelo crivo das urnas. É, e isso não pode ser negado, uma burocrata. A mais eficiente burocrata que poderia ocupar a cadeira de Presidente, mas ainda assim, uma burocrata. Voltando a Aécio:

– Cobra criada que é, insistiu na realização das prévias, sabendo que seria rifado para que a “missão” fosse encabeçada por Serra (porque este é, antes de tudo, um obstinado pela presidência). Criou, assim, uma situação que permitiu ao eleitorado do seu próprio Estado que se desvinculasse da campanha do Serra, já que “atropelado” pela ala serrista do partido. Para os mineiros, pareceu que o Aécio (Minas Gerais) foi traído por Serra (São Paulo).

francisco.latorre

a direita já implodiu.

falta recolher o entulho.

..

João Luiz

Estou tentando poster um comentário em 2 partes (ficou longo) mas não consigo!!!

    Carlos

    Sugestão: divida em 3 partes.

gilberto silva

O Serra sempre usou o jogo de bastidor e agora estão fazendo o mesmo com ele. Ele nunca ataca de frente e agora os ex – aliados deles perceberam isso e estão dando o troco. Por falar nisso tenho uma pergunta ?

José Serra recebe algum tipo de aposentadoria do governo ?

Abraços

Jorge Nunes

As chances do PSDB começaram a diminuir muito quando os paulistas enfiaram a faca nas costas de Aécio e giraram o cabo. O Serra jogou sujo dentro de sua possível base aliada. Bom não é a razão principal mas soma com outra.

Mais fundamentalmente o Serra não representa nenhum projeto de governo. Nem de empresarial, nem nacional e muito menos social. Ou seja é zero tanto do ponto de vista ideológico como social. Atrai somente a hidrofobia de pessoas que não gostam do PT. Que acreditam nas lorotas que o PT tem ligação com as FARCs e que haja o ouro de Havana (no lugar do ouro de Moscou). Eu não classifico estes brasileiros de direita, pois, não representam a direita de verdade que ganha dinheiro no trabalho e no desenvolvimento do país.

A base social de serra é marcada pela desinformação de pessoas que ainda acham que ele é a continuação de Lula, por desinformados e enganados e principalmente por gente com um preconceito social e étnico muito forte (pois, o PT colocou mais gente de pele mais escura comprando em shoppings).

A questão central é:
O que ganha os brasileiros com a eleição de Serra?
Se olharmos para São Paulo não ganha nada. Ou seja Serra não conseguiu fazer uma vitrine para mostrar. Só a marca da falência do poder público em segurança, educação e saúde. Que é devidamente abafado pela mídia que é sua alidada.

Para Serra ser votado em grande escala tem que se reinventar fazer nesses meses o que não fez nos anos anteriores por São Paulo… basicamente impossível.

Por isso acho que a derrota de Serra seja importante para a formação de uma direita com uma base social mais solida. Que não seja contaminada pelos neoliberais.

carmen silvia

Se eu entendi bem o que li no texto a situação atual do Serra é a seguinte:se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Carcará!

Acho que o Serra nunca teve aliados, só inimigos, se o Sérgio Guerra é um parasita facultativo o Serra é um parasita típico, e guloso, está levando o PSDB à morte, sem ao menos conseguir lançar seus ovos nas fezes do partido antes do óbito.

C R TEIXEIRA

Azenha, você me enviou para o "direto da redação", fui, tive o enorme desprazer de ler as babaquices de um "não sei o que" Lessa. Direto da Redação, nunca mais!

    Paulo Maurício

    Teixeira, esse 'não sei o que' Lessa é isso mesmo que você viu, mas o site é plural o suficiente para se colher bom material para leitura e o mais interessante é que são jornalistas que moram fora do Brasil, a maioria, o que nos dá uma visão de como o país aparece lá fora. Volte lá, vale a pena, só pule o tal do Lessa para não sofrer de dores no fígado, heheheheh. Boa sorte

    Eliakim Araujo

    Paulo Mauricio, super obrigado por assumir a defesa do Direto da Redação. E vejo que vc entende a linha de pluralidade de opiniões do DR que está há nove anos no ar. Criamos a página assim, com essa carcteristica, e os nossos leitores se acostumaram a conviver com diferentes pesnsamentos políticos. CR Teixeira, volte lá, com outros olhos. Tenho certreza que vc vai encontrar um punhado de bons colunistas. Abs. Eliakim Araujo

    Carlos

    O Lessa é o Ivan?

    Carlos

    Fui lá: Cláudio.

José Raimundo Mamu

Serra é um franco enganador, um neoliberal sedento de poder, um brasileiro que só enxerga São Paulo como nação, autêntico representante do capitalismo excludente. O povo brasileiro, apesar de ainda está longe de ser um povo concientizado, politcamente falando, está mais longe ainda de acreditar nesse 171 peessidebista. O povo brasileiro, diz: ME FILMA QUE EU SOU DILMA. Porque quem gosta mesmo de serra é bode.

    Heitor Rodrigues

    Mamu,

    Serra não enxerga São Paulo. Antes, usa o apoio dos paulistas como usa papel higiênico, para limpar as mer… que faz. Quem sabe, se o cheiro ficar insuportável, os paulistas acordem….

Sânscrito

Um fato bem interessante: O ´cristianizado´ dos anos 50, Cristiano Machado, era político mineiro, foi prefeito de Belo Horizonte e o futuro ´cristianizdo´ dos anos 2010, ZéSerragio é político – poderíamos dizer ´porcolitico´ – paulista, foi prefeito de São Paulo.

Ed.

Resumindo o artigo:
Se for autêntico e disser a que vem (e todo mundo sabe), toma ferro porque não interessa a 95% do povo brasileiro.
Ser for falso e fingir que é continuista, leva ferro, porque ninguém quer falsidade e há opção autêntica para continuar.
Conclui-se:
Serra é um péssimo candidato…

    Jairo_Beraldo

    Para a nossa sorte, e pelo bem do Brasil.

carlos hely

Já venho falando a uns 3 meses atrás quando serra apareceu como candidato falando abobrinhas. Dali para frente vi que dilma vai vencer já no primeiro turno.

Carlos

"deputado Álvaro Dias"
Senador, Mair.

Carlos

Estou enganado ou Mair foi quem escreveu "Zylbersztajn lança suspeitas", publicado no JB de 05.08.2000 e postado aqui ontem como comentário?

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