Luis Felipe Miguel: Para que serve a publicidade comercial?

Tempo de leitura: 3 min

Para que serve a publicidade comercial?

Muita gente criativa e inteligente tem que ganhar a vida em agências de publicidade. É uma pena ver tanto talento desperdiçado, usado para enganar e piorar a vida das pessoas

Por Luis Felipe Miguel*, em A Terra é Redonda

Ao longo dos século XIX e XX, houve uma mudança no sentido de “publicidade”.

De uma exigência de transparência para a esfera pública – publicidade como o procedimento de tornar públicos os atos de Estado – ela ganhou o sentido de propaganda e, portanto, de controle.

Ao mesmo tempo, a publicidade comercial passou a romper a ligação entre forma e conteúdo: entre aquilo que se fala e aquilo sobre que se fala.

Como disse David Harvey, “a publicidade já não parte da ideia de informar ou promover no sentido comum, voltando-se cada vez mais para a manipulação dos desejos e gostos mediante imagens que podem ou não ter relação com o produto a ser vendido”.

A instigação ao consumo ostentatório, o fetiche da inovação tecnológica (com a obsolescência programada dos bens de consumo pretensamente duráveis), a exaltação de certos padrões de juventude e beleza: em torno destes núcleos, o discurso publicitário constrói seus “mitos”.

E os constrói de forma científica, integrando aportes da psicologia, da sociologia e da semiótica, além das técnicas mais avançadas de pesquisa de opinião, grupos focais e big data.

O bombardeamento publicitário gera sem cessar “necessidades supérfluas” e induz ao consumo conspícuo como único caminho da realização humana. Cumpre, assim, papel fundamental na reprodução do capitalismo.

O consumo compensatório (minha vida é um lixo, meu trabalho é uma porcaria, mas eu vou comprar um carro novo), que a publicidade incentiva de forma incessante, mantém os dominados acomodados no sistema.

O discurso publicitário, embora esteja voltado para a promoção de marcas específicas, sempre afirma a eficácia e utilidade de toda a sua classe de produtos – um anúncio de uma companhia aérea é, por exemplo, a reafirmação da confiabilidade da aviação como meio de transporte; o anúncio de um remédio avaliza a ideia da cura farmacêutica e assim por diante.

De maneira mais geral, a publicidade promove a ideia de que o consumo resolve nossos problemas.

Para o público, é uma evasão da qual por vezes é difícil despertar.

P. T. Barnum, o famoso mistificador do século XIX, dono de um circo de horrores, pioneiro da propaganda comercial moderna, já dizia que o segredo é entender que o público deseja ser enganado e colabora ativamente para que a ilusão não se desfaça.

Como escreveu o crítico de arte John Berger: “A publicidade está sempre voltada para o futuro comprador. Oferece-lhe uma imagem dele próprio que se torna fascinante graças ao produto ou à oportunidade que ela está procurando vender. A imagem, então, torna-o invejoso de si mesmo, daquilo que ele poderia ser. Mas que é que o torna pretensamente invejável? A inveja dos outros”.

A fim de alcançar o máximo de eficácia, a publicidade tende a agir sempre de acordo com as expectativas de seu público – as “surpresas” são sempre milimetricamente pensadas para não causarem estranheza. Por isso, tende a reproduzir estereótipos e preconceitos.

Nos anos 1980, uma pesquisa sobre a representação dos papéis de gênero na publicidade, encomendada pelo Ombudsman dos Consumidores da Dinamarca, concluiu que o único jeito de conter a reprodução de estereótipos seria proibir toda e qualquer representação de seres humanos em anúncios.

E a publicidade ainda se apresenta como a ferramenta que nos propicia tantas coisas “de graça”. Não pagamos para assistir a TV ou navegar na web porque a publicidade financia para a gente.

Mas, na verdade, nós pagamos. O custo da publicidade está embutido no preço dos produtos. Dependendo do caso, pode significar um acréscimo de 20%, 30% ou até mais.

Muita gente criativa e inteligente tem que ganhar a vida em agências de publicidade. É uma pena ver tanto talento desperdiçado, usado para enganar e piorar a vida das pessoas.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica).

Publicado originalmente no Jornal GGN.

Leia também:

Fabrício Maciel: Medo da liberdade, capitalismo indigno, desigualdade e autoritarismo

Ângela Carrato: Ou colocamos a mídia no banco dos réus ou o Brasil corre o risco de continuar refém do golpismo


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Zé Maria

Notícias TST

Justiça do Trabalho Determina que Empresa Aérea
Reembolse Despesas de Comissária com Maquiagem

A 7ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou
a companhia aérea a companhia aérea TAM a pagar uma
indenização mensal média no valor de R$ 50,00 pelas
despesas de Comissária de Voo com maquiagem

O Colegiado reafirmou a jurisprudência do TST de que
despesas com apresentação pessoal, como maquiagem,
esmaltes, calçados e outros itens de uso obrigatório,
devem ser reembolsadas.

O Ministro-Relator afirmou que decisão de instância anterior
(TRT2) se baseava em estereótipo de gênero.

O pedido da empregada havia sido deferido no primeiro grau,
mas o Tribunal Regional da 2ª Região excluiu da condenação
o reembolso de despesas com maquiagem, entendendo que
a própria comissária havia admitido, em depoimento, que
usava maquiagem no dia a dia.
Como resultado dessa afirmação, concluiu que ela usaria
maquiagem por opção pessoal, independentemente da
recomendação do empregador.

O ministro Cláudio Brandão, relator do recurso da empregada,
argumentou que a decisão do TRT se baseia em um estereótipo
de gênero atribuído às mulheres e adota uma visão machista,
ao presumir que todas as mulheres usam maquiagem comumente.

O voto do relator registra que a conclusão adotada na origem {TRT2]
se baseia no “dever ser de cada sexo”, atribuindo às mulheres
a obrigação de sempre estarem maquiadas em situações de
exposição pública, inclusive no trabalho.
Esse entendimento, a seu ver, é equivocado e não pode passar
despercebido pelo Judiciário.

Nesse contexto, a Turma restabeleceu a sentença para condenar
a companhia aérea a pagar uma indenização mensal média
no valor de R$ 50 pelas despesas da empregada com maquiagem.

A decisão foi unânime.

Processo: RR-1001898-12.2016.5.02.0706

https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do
http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/resumoForm.do?consulta=1&numeroInt=86287&anoInt=2021

https://www.tst.jus.br/web/guest/-/comiss%C3%A1ria-de-voo-receber%C3%A1-reembolso-de-despesas-com-maquiagem

Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1678365904734765056

Ainda em Alta na Mídia o Barraco do Energúmeno Inelegível no PL

https://twitter.com/AgdaOli96919401/status/1678365904734765056

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/F0mTBelXsAE5yVO?format=jpg

O poeta e semiólogo Décio Pignatari relatou-me certa vez como produziu,
por encomenda, a marca nacional de um óleo lubrificante para automóveis:
programou no computador uma combinação de palavras oscilantes entre “brasilidade” e “lubrificação”, de modo a obter um resultado satisfatório.

Faz pouco, o processo me pareceu reverberar numa rua de subúrbio do Rio,
onde entrepostos religiosos ostentam variações de “primitiva de Cristo”
a “tabernáculo de fogo”. Há 150 mil deles no país, e crescem.

Fé não se discute, seja na eficácia de um óleo posto no mercado,
numa divindade que passe tempo eterno contabilizando dízimos
ou na sacralidade indiana da vaca.
A discussão pode incidir, entretanto, sobre o cabimento de projetos
de ampliação da isenção tributária das igrejas que tramitam
na Câmara.
Livros, fora de cogitação.
Ou então sobre a tragédia que seria a organização social da fé assumindo
uma feição desmedida na exploração do povo-massa espiritualmente
desenraizado e sofrido, com insidiosas inclinações políticas.

A palavra-chave para uma reflexão proativa está no “comum”, que sempre se
construiu como algo coletivo e diverso, mas que no âmbito de configurações
religiosas estreitas é anulado pela mesmerização privatista (mistificação da
prosperidade, rentabilização da crença) e pela ausência de fé em finalidades sociais.
Cooperação e solidariedade são figuras de retórica pastorais.

Progressistas ainda perplexos com a penetração de discursos abstrusos
da ultradireita na esfera civil teriam muito a ganhar com a leitura
de Ernst Bloch, para quem “os homens querem ser enganados”
(em “Princípio Esperança”, 1976).
Ele se referia aos anos de “estupidez funcional e sistêmica” da primeira
metade do século passado, mas o diagnóstico permanece atual na
ficcionalização eletrônica do mundo.

Não se trata mais de “ópio do povo” (Marx) e sim da droga tecnologicamente
fabricada como relação social na hegemonia ético-política do capital
globalizado.

O fio que liga os polos verticais dessa fabricação é a magia redentora
do dinheiro, atuante nos bilionários que tripulam espaçonaves pelo êxtase
extraplanetário ou nos danados da Terra vulneráveis a logros sobre
prosperidade individual.

Passa despercebida a crueldade de se condicionar, como sanguessugas
de esperança, a fé ao preço.

“A metástase dos entrepostos com denominações aleatórias,
um deepfake bíblico, desenha a face miserável do capitalismo
convertido em religião.
Uma pirâmide extrativista:
no topo, lavam-se bilhões e se elegem bancadas parlamentares,
enquanto na base lavam-se cérebros por overdose de fé integrista.”

Sociólogo MONIZ SODRÉ
Professor Emérito da UFRJ.
Autor de “Pensar Nagô”
e “Fascismo da Cor”.
Em “A Overdose de Cada Dia”:
https://leiaisso.net/ygiuf/

https://twitter.com/LenioStreck/status/1678033995638927362
https://twitter.com/xenotar31/status/1678035626216546304

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Zé Maria

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Por falar em Publicidade Comercial
Mais Conhecida como Propaganda …
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“Bolsonaro inelegível ‘caiu para cima’:
cabo eleitoral da grande mídia…
e do bandeirante-frankenstein

Para a grande mídia, Bolsonaro é uma figura tóxica:
extrema-direita, golpista, autoritário, intolerante, negacionista…
Mas não consegue esquecer dele!
Por que não o condena à “Sibéria do esquecimento” (Brizola),
como tentaram com Lula e fizeram com outros tantos personagens
políticos na história recente?
Inelegível e sem cargo, Bolsonaro não sai da ribalta.
Porque, afinal, ele “caiu para cima”:
virou cabo eleitoral da grande mídia, na busca até aqui fracassada
de encontrar uma direita “limpinha” e de centro.
Nem que seja através da psicologia reversa, como satiriza a capa
do “Le Monde Diplomatique Brasil”:
diretamente dos laboratórios do PMiG (o Partido Militar Golpista),
uma nova criatura está sendo construída – um bandeirante-frankenstein. Tarcísio de Freitas ganha cada vez mais espaço na mídia como protagonista
da reforma tributária e seu cabo eleitoral é… Bolsonaro.
Em psicologia reversa.

Por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no Jornal GGN: https://t.co/WbjbRsjIv6

https://jornalggn.com.br/midia/bolsonaro-inelegivel-caiu-para-cima-cabo-eleitoral-da-grande-midia
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Zé Maria

Hoje ocorre Grande Evento Universal no braZil:

O Concurso de Miss Inteligência Artificial.

Zé Maria

Para derrubar Governos de Esquerda

https://twitter.com/i/status/1677682939121876993

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