Lincoln Secco: Combater ideologização em sala de aula é censura, sim!

Tempo de leitura: 3 min

sala-de-aula-do-3-ano-do-ensino-fundamental-em-sp-1364827311187_615x300-1

 Combater ideologização em sala de aula é censura? Sim

O CENTRO DA CONSPIRAÇÃO

Lincoln Secco, em Tendências/Debates da Folha de S. Paulo, sugerido por Antônio David

Não bastasse a fúria legiferante do Congresso que destrói cláusulas pétreas da Constituição, procura constitucionalizar golpes de Estado, promover cultos religiosos em plenário e defender o “direito à homofobia”, ainda temos que discutir a censura à escola.

É disso que tratam os projetos de lei nº 867/2015 e nº 1.411/2015, de dois deputados do PSDB, ora em tramitação na Câmara Federal. Eles propõem a “escola sem partido” e criminalizam o que chamam de “assédio ideológico”. Naturalmente, os autores dos projetos não se consideram ideólogos.

Já existem vários projetos do mesmo tipo em Legislativos estaduais e municipais. Fazem parte da onda obscurantista que varre uma parte da sociedade brasileira. Para esta há o centro de uma grande conspiração intocado pela ação saneadora dos meios de comunicação.

É a escola! Basta ler a justificativa de um dos projetos e encontraremos a razão recôndita: prepara-se no Brasil uma doutrinação ideológica baseada no filósofo italiano Antonio Gramsci e nas teses do 5º Congresso do PT (sic)!

Como o processo educativo ainda é um encontro de pessoas, é claro que os professores não podem se despir de suas crenças quando ensinam, tampouco as crianças, que trazem para a sala de aula os preconceitos que absorvem em suas famílias ou meios de comunicação.

Assim, não se espera que um professor religioso de biologia finja não crer em Deus ao ensinar a evolução das espécies. Mas deve tratá-la pelo que é: uma teoria científica. Qualquer professor sabe disso. Igualmente, o educador deve corrigir manifestações racistas que, eventualmente, o aluno traga de casa.

O nosso problema não é aquilo em que movimentos, como o Escola sem Partido, acreditam. Eles criaram um novo conceito sociológico: o “aparelho ideológico de Estado petista”. Só que a escola perdeu centralidade no processo pedagógico.

A educação nunca foi um processo apenas escolar, mas professores mal pagos em escolas abandonadas e sob estafantes jornadas de trabalho que continuam fora do horário escolar não podem competir com a internet nem com a televisão.

O próprio PT jamais teve projeto pedagógico e, no poder, submeteu a educação ao superavit primário. A revolução educacional defendida por Florestan Fernandes e Paulo Freire nem sequer foi lembrada. Ainda assim, o Ministério da Educação assegurou princípios éticos, como a solidariedade e autonomia, e estéticos, como a valorização de diferentes culturas. Obviamente, a educação segue também princípios políticos, entre eles a defesa da cidadania e o respeito à democracia.

Contra quais desses parâmetros os projetos de lei se insurgem? Seriam contra a história da África, só porque foi inserida no currículo pelo governo Lula? Contra o direito a brincar que é um dos princípios definidos pelo Ministério da Educação para a escola infantil?

Afinal, talvez haja um conteúdo chinês no jogo da amarelinha ou a preparação para a clandestinidade no esconde-esconde!

Que o leitor entenda aqui a ironia como o último recurso diante da língua simplificada dos neofascistas. Apresentam-se como defensores da liberdade, assim como o golpe de Estado é sempre pela democracia.

E, quando você discorda, lê nos seus esconderijos virtuais termos como “idiotice”, “masturbação sociológica” e a suprema ofensa: “petista” (outrora seria “comunista”). Curiosamente, eles são os frutos da mesma escola que nos doutrina como esquerdistas incorrigíveis.

LINCOLN SECCO, 46, é professor livre-docente de história contemporânea na USP e autor de “História do PT” (Ateliê Editorial)

Leia também:

Enterrando Florestan Fernandes e Paulo Freire, de novo 


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nelson

Na ditadura civil-militar, os brasileiros foram proibidos de viajarem a Cuba. A justificativa: os ditadores queriam evitar que os brasileiros ficassem horrorizados com o que veriam por lá.

Estranha justificativa. Se Cuba tinha, realmente, virado um inferno, deveriam ser incentivadas as viagens para lá; os brasileiros veriam o inferno e não o quereriam, de jeito algum, para seu país, não é mesmo?

Na verdade, o receio dos golpistas de 1964 era que os brasileiros constatassem que, apesar das imensas dificuldades, Cuba tinha resolvido alguns problemas básicos para sua população que tinha passado a viver melhor do que antes de 1959.

O medo dos golpistas era de que os brasileiros passassem a questionar os motivos pelos quais um país quase oitenta vezes maior que Cuba e muitíssimo mais rico em recursos naturais, não conseguia garantir a todo o seu povo aquilo de que passaram a desfrutar os cubanos: saúde, educação, moradia, emprego e alimentação.

leorechaun

mas os anticomunistas, diretolas, coxinhas e tals podem ficar tranquilos, porque como disse o próprio Lincoln, a mídia e a TV comandam o processo, na escola pública não se aprende nada, é uma creche para adolescentes, basta ver os resultados pífios de sempre, de todos os governos. Mesmo que eu quisesse doutrinar meus alunos com Gramsci, eles não dariam a mínima e nem conseguiriam entender, dado o estado de indigência em que andam esses alunos com relação a conteúdos básicos, por exemplo, ler um texto simples. Uma ideia abstrata, então….

Nelson

De “doutrinação ideológica em estado bruto” quem conhece mais do que qualquer outro, é o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos e a maior parte do planeta e tem anseios de dominá-lo por completo.

Um aparato de propaganda descomunal, nunca visto em outras eras da humanidade, que destila a ideologia do sistema capitalista a todo momento em busca do domínio de todos os corações e de todas as mentes que puder converter. E o Sr Paulo Falcão ainda está com medo do comunismo?

Será que é porque ele não tem 100% de certeza na insuperabilidade do sistema por ele adorado?

E ainda tem a coragem de vir chamar o professor Secco de mentiroso.

denis dias ferreira

Abastecer as escolas estaduais de São Paulo com a revista Veja e a Folha de São Paulo não é assediar os alunos ideologicamente?

FrancoAtirador

.
.
Curiosidade
.
Quando é que o Oba-Oba Norte-Americano
.
vai levantar o Embargo Econômico a Cuba?
.
.

FrancoAtirador

.
.
Esses Muares Fascistas nem sequer sabem qual é o significado de Ideologia.
.
Desconhecem até que a própria Religião que praticam é uma Doutrina Ideológica.
.
Trazer uma Bela Atriz da Guatemala para dentro de uma Universidade do Brasil
.
com o objetivo de transmitir ‘didaticamente’ a jovens estudantes brasileir@s
.
a mensagem de que um tal de Libertarismo Egoísta é uma Verdade Absoluta
.
certamente é um procedimento que não é considerado ‘assédio ideológico’.
.
(http://www.viomundo.com.br/politica/marina-amaral-rede-de-conservadores-dos-eua-financia-combate-de-governos-de-esquerda-na-al-e-defesa-de-velhas-ideias-com-nova-linguagem.html)
.
.

Urbano

A ideologia é altamente importante na escola, a depender do conhecimento e equilíbrio, como se diz, da verdadeira verdade que se exponha. Coisa essa tão difícil em todos os tempos…

Paulo Falcão

Alguns exemplos concretos de doutrinação ideológica em estado bruto que demonstram que o Lincoln Secco mente ou desconhece o tema sobre o qual escreve: http://spotniks.com/5-exemplos-de-como-a-doutrinacao-ideologica-atua-na-educacao-brasileira/

    leorechaun

    Eu sou professor de História em São Paulo e nunca vi um livro desses, onde posso encontrá-los?

Deixe seu comentário

Leia também