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Direita midiática confunde base lulista

Por Hamilton Octavio de Souza

No início de março o professor Emir Sader postou na internet o artigo “A miséria moral de ex-esquerdistas”, no qual apresenta uma identificação irretocável de ex-militantes da esquerda que bandearam para o lado da direita, aderiram aos valores do capital e do neoliberalismo e agora são sabujos do empresariado nas críticas às lutas e bandeiras das esquerdas. O artigo é perfeito e tem a ver com o espetáculo que tais figuras proporcionam atualmente nos principais veículos da imprensa corporativa.

No entanto, tenho observado também outro “fenômeno” de confusão política e ideológica cada dia mais presente no tiroteio midiático, em especial na internet: ex-profissionais com muitos anos de serviços prestados à imprensa burguesa (corporativa, liberal, conservadora e de direita), recentemente constituiram uma frente de defesa do governo Lula, algo parecido com o oficialismo de outros tempos, só que eles defendem especialmente as propostas, medidas e ações mais afinadas com o desenvolvimentismo capitalista e os valores clássicos da democracia representativa burguesa.

Esse tipo de comportamento, que se apresenta como sendo de oposição aos bate-paus da mídia mais orgânica do sistema, arrasta lulistas e petistas e tem sido tratado com simpatia no campo da esquerda. Envolta numa cortina de fumaça, essa frente midiática camufla a sua verdadeira natureza, origem, trajetória e destino. Demarca apenas que estamos todos do mesmo lado. Assim, sem maior questionamento, a base do lulismo na classe média e parte da base petista se agarram nesses referenciais não-petistas por falta de uma formação política mais sólida, e também no afã de defender o seu governo dos ataques quase sempre raivosos e preconceituosos da direita.

Tem muita gente da base lulista-petista sendo alimentada por sites, blogs e twitters abastecidos por esses neogovernistas (lulistas, mas não petistas) com argumentos típicos do liberalismo e da defesa da sociedade de mercado. Como a mídia de esquerda identificada com o petismo não consegue ter o mesmo alcance dessa mídia “quinta-coluna”, a base lulista-petista fica cada vez mais carente de informações e opiniões sintonizadas com a visão da esquerda. Como não consegue fazer (construir) o necessário contraponto à mídia de direita, essa base social se torna cativa das referências não petistas e não de esquerda.

Esse fenômeno pode ser facilmente percebido. Basta verificar quais são as fontes midiáticas preferenciais da base lulista-petista hoje, e se perceberá que essa base está sendo devidamente arrastada para o campo da direita, mesmo com um discurso disfarçado de oposição ao sistema midiático dominante. Certamente essa ação política prospera em uma realidade incontestável: a de que o lulismo é muito maior do que o petismo, e que o lulismo se constitui numa base social enorme e igualmente carente de referencial ideológico, que pode ser qualquer um na medida em que a atual aliança governista é tão ampla até a extrema-direita malufista. Como o lulismo parece ser mais maleável ao pensamento conservador, e mais refratário às correntes de esquerda (socialistas), o terreno é fértil para essa estratégia midiática de fortalecimento do sistema dominante via comunicadores de direita à serviço do governo Lula.

Existem vários indícios de que essa estratégia da direita travestida de oposição de esquerda está surtindo efeito. O novo referencial está sendo construído em cima das bases despolitizadas do lulismo. A base petista está sendo arrastada nessa onda, na medida em que o pensamento e a formação de esquerda foram relegados ao abandono. Mesmo setores da esquerda não lulista e não petista embarcam nessa confusão ideológico-midiática. Até que as coisas possam ser esclarecidas.

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP

Acréscimo tardio, das 11:54 – Quero acrescentar que eu, Azenha, considero o professor Hamilton uma pessoa seriísima, da maior qualidade, assim como acho necessário travar e ampliar o debate que ele propõe. Por que a esquerda não consegue fazer sua mídia ter o alcance merecido? Faltam ferramentas? Criatividade? Fala só para si? Quanto ao Viomundo, ele nunca teve e nunca terá a pretensão de fazer a cabeça de ninguém. Trata-se de um blog pessoal e curioso, que adora ter leitores mas não corre atrás deles.

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