José do Vale: A marcha de Paracuru em direção ao mestre Flávio Sampaio
Tempo de leitura: 2 minPor José do Vale Pinheiro Feitosa*
O sol posto, céu de um vermelho singular, nunca visto na memória dos presentes, dizia-se: na alta atmosfera, as partículas das queimadas da Amazônia, decompunham aquele tom inusitado.
Há uma apreensão difusa e ampla das transformações climáticas e nós, na rua Coronel Meirelles, centro de Paracuru, ao lado da Praça, tentávamos inconscientemente decifrar o que já se pode chamar medo universal.
O fio da meada eram duas exposições em decifração: Paracuru Cidade que Dança – Flavio Sampaio 50 anos de Dança e Olhaves.
Um curso do capitalismo universal, centrado na moeda, na produção global e na ampla troca dos produtos na modalidade mercadoria. Como sabido é um ente material embalado numa espécie de fantasia, de um feitiço por isso mesmo chamada no século 19 de “fetiche da mercadoria”.
O feitiço de escravizar, assalariar, explorar, consumir, acumular, refazer os privilégios de classe como base na fluida apropriação de moedas (capital). Que delega a meia dúzias de bilionários e CEOs o destino não apenas dos indivíduos, mas de toda humanidade. Ou seja, da Civilização Capitalista Industrial e Mercantil.
Isso é o discurso evidente das duas Exposições? Não é. Aliás, ela é uma forma nova de dizer tudo isso.
Há 50 anos um visionário no SESI Ceará criou diversos cursos, incluindo um de dança clássica, além de organizar diversas manifestações culturais. Queria diversificar a educação dos filhos dos operários para outra realidade econômica que não a meramente industrial.
Meio século depois, um único aluno daquela escola de dança, impactou a cultura da sua terra.
Me refiro ao hoje professor Flávio Sampaio, que, na fotomontagem acima, aparece sentado ao lado do seu neto Miguel.
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Em apenas 22 anos, Flávio criou uma plateia educada, ofereceu segundo turno escolar de graça em dança para metade da população de 0 a 14 anos, deu qualificação aos egressos da escola inclusive para incubar empresas de dança, impactou o desenvolvimento cultural e artístico regional.
Uma jovem da cidade começou a seguir as técnicas de observação de aves, atraiu toda a família e hoje já é uma atividade regular a ponto de haver uma acervo de fotos que gerou a exposição Olhaves.
As exposições foram montadas num esforço coletivo, com a participação de artistas plásticos, professores, funcionários municipais, iluminadores e sonorizadores voluntários que cruzaram as horas noturnas para expor uma linguagem que representa a cor do sol das queimadas da civilização capitalista.
E um único ato mostrou a esperança que as civilizações entram em decadência e a humanidade não termina, pois o “novo sempre vem”.
Tal ato foi a marcha cênica de três gerações de dançarinos num corredor iluminado, indo em direção ao mestre.
Uma onda inexorável que é o futuro ainda sombrio, na sala escura em que se encontrava o mestre.
Ontem à noite, sábado, dia 7 de setembro de 2024.
Neste momento o dia amanheceu em Paracuru.
*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.
*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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