Jeferson Miola: O dia em que o Exército passou com um tanque sobre o STF

Tempo de leitura: 4 min
Via Fotos Públicas

Exército arquitetou conspiração para instalar o poder militar

Por Jeferson Miola, em seu blog

Estão dissipadas as dúvidas a respeito do papel das Forças Armadas no longo e secreto processo para a tomada de poder no Brasil por meio de um golpe de Estado “suave e silencioso”.

O general Villas Bôas confessou que a ameaça ao STF em 3 de abril de 2018 com o objetivo de emparedar a Suprema Corte para impedi-la de se decidir contra a prisão ilegal do Lula não foi uma decisão exclusiva dele, mas de todo Alto Comando do Exército, fato que é muito mais grave.

É uma decisão, portanto, institucional do Exército Brasileiro contra o Estado de Direito e a democracia.

Os comandantes se arvoraram, arbitrariamente, o direito de atuarem como um Poder acima do poder civil concebido na Constituição de 1988.

Numa democracia, tais comandantes militares estariam presos por sedição e atentado à ordem constitucional.

Os comandantes arquitetaram institucionalmente a conspiração contra o poder civil para instituírem no lugar um poder militar.

Tudo no modo neogolpista ao estilo século 21, sem disparar um único tiro de fuzil e sem ocupar as ruas com tanques.

Na visão delirante e auto-elogiosa que fazem de si mesmos, eles reivindicam que desta vez regressaram ao poder pela via eleitoral [sic], como se fosse constitucional a participação deles na política.

Daqui em diante, sentindo-se legitimados, não hesitarão em evoluir para uma “ditadura democraticamente eleita” [sic].

Pouco a pouco vai ficando comprovada e documentada a atuação conspirativa do Exército na dinâmica golpista que culminou na eleição do Bolsonaro à presidência para viabilizar a volta “democrática” dos militares ao poder.

Eleger Bolsonaro na eleição presidencial de 2018 era o projeto secreto acalentado pela cúpula militar desde muitos anos antes.

O fascista-miliciano do Escritório do Crime ofereceu a eles popularidade e voto. E eles sempre souberam que estavam enganchados num miliciano-raiz, mas isso não foi obstáculo para seguirem o plano.

Afinal, tratava-se de saquear um butim chamado Brasil.

Ainda não estão disponíveis estudos acerca da genealogia exata deste processo.

É sabido, entretanto, que a politização e ideologização com forte conteúdo antipetista e anticomunista nunca deixou de acontecer nos quarteis, mesmo depois do fim da ditadura em 1985.

A partir do período final do governo Lula e durante o governo Dilma, generais que hoje estão em postos de poder – como Augusto Heleno, Mourão e outros – esticaram a corda para testar a reação do poder civil à movimentação militar em marcha.

A impunidade os encorajou a seguirem o plano, esgarçando progressivamente os limites da ordem instituída.

Ainda está por ser desvelado como eles atuaram na espiral de desestabilização política do Brasil e na preparação da Lava Jato [2012, nas “jornadas” de 2013 e 2014].

Na despedida do Comando do Exército, em 11/1/2019, o general Villas Bôas curiosamente destacou Sérgio Moro/Lava Jato, junto com Bolsonaro e Braga Netto, como as “três personalidades que destacaram-se para que o ‘Rio da História’ voltasse ao seu curso normal” – ou seja, os heróis da libertação do Brasil do PT.

Um marco temporal do plano de poder dos militares é o dia 29 de novembro de 2014, quando Bolsonaro lançou-se candidato à presidência para a eleição de 2018 no pátio da AMAN [Academia Militar das Agulhas Negras].

Lá, ele foi ovacionado pelos aspirantes fardados com traje do Exército Brasileiro [EB] aos gritos de “líder!, líder!, líder!” [vídeo aqui]. Segundo a letra da Constituição e das Leis, trata-se de um crime.

Este ato político-partidário ilegal [ou criminoso] de militares, que tem o agravante de ter sido promovido numa unidade militar, jamais teria acontecido sem o consentimento ou sem o conhecimento dos comandos superiores do Exército e das Forças Armadas.

Assim como a participação do Bolsonaro, já presidente, nos atos terroristas que pediam o fechamento do Congresso e do STF na frente do Exército, em 19 de abril de 2020, foram consentidos pelo Comando do EB.

Os militares têm um projeto de poder militar. Eles voltaram dispostos a ficar no poder. Além de ministérios, estatais e empresas públicas, são mais de 11 mil militares comissionados em cargos e funções civis.

Hoje eles controlam instituições e poderes de Estado. Compraram a valores bilionários a maioria do Congresso corrupto que assegura a eles quórum para mudar a Constituição, como fizeram na aprovação da “independência” do Banco Central.

Além disso, os militares tutelam a PGR, a PF, o STF, os tribunais, as polícias militares estaduais etc. Enfim, tutelam todo poder judiciário.

O anúncio do ministro Gilmar Mendes de que a suspeição do Moro não abrange todos processos do Lula, com o que o ex-presidente continuará inelegível em 2022, é resultado do arranjo em construção pela magistocracia com os estamentos castrenses. É tutela do judiciário na veia!

A confirmação de que o Exército Brasileiro institucionalmente opera para avançar seu projeto de poder militar, obriga a esquerda e os setores democráticos a enfrentarem, com absoluta centralidade, a questão militar.

A escalada militar é uma realidade inexorável.

O risco do país evoluir para uma ditadura fascista-militar é rigorosamente concreto.

A confissão do general-conspirador Villas Bôas de que ele emparedou o STF com o respaldo de todo Alto Comando do Exército Brasileiro é sinal de que a realidade brasileira é mais aterrorizante que o pior dos piores pesadelos poderia sugerir.

A ameaça fascista no Brasil subiu de patamar com esta revelação.

Não se trata mais de uma disputa entre a democracia e a ditadura, mas de uma guerra de vida ou morte entre o poder civil e o poder militar.

O risco de uma regressão medieval de recorte militar-fascista no Brasil é muito real.


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Comentários

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Marcondes Filho

Bravateiro, cascateiro. A cúpula militar pensa todo mundo igual ?
Cá entre nós o gen. não consegue por nem a cueca dele sozinho.
E o outra acham que o Gilmar Mendes tem medo de general e do Moro. Não tem. Fato.

Nelson

São os dossiês, meu caro Tadeu Silva.

Infelizmente, parte do PT – creio que seja uma minoria – virou, assim como quase toda a patota do centro e da direita, para não dizer toda, refém de dossiês produzidos pelos serviços secretos dos EUA.

Lembras da espionagem denunciada durante o governo da Dilma, quando nos EUA a presidência estava com o DEMOCRATA Barack Obama? Pois é. Parlamento, executivos, Judiciário, grande mídia, empresariado, todo mundo espionado.

Todo mundo com dossiê montado contra si. A partir daí, amigo, o Sistema de Poder que domina os Estados Unidos determinou: “agora, vocês vão dançar conforme a música”, ou seja, vão votar conforme o Império mandar.

A acrescentar aqui que até mesmo o baluarte do combate à corrupção, Sérgio Moro, tem o seu dossiê, baseado em sua atuação no “Escândalo do Banestado” e também os militares que estão no comando do golpe de Estado têm os seus. É óbvio que, ainda que confiando nos fardados, o Império não os deixaria agirem sem freios.

E eis que passamos a ver, notadamente a partir do golpe de 2016, uma sequência infindável de deliberações tomadas pelo Congresso Nacional e o Governo Federal, frontalmente contrárias aos interesses do país e da nação, contra a grande maioria, 99,…%, do povo brasileiro.

E vieram o impedimento da dona Dilma, da PEC 241/EC95, a Terceirização sem limites, a “reforma” Trabalhista, a MP do Trilhão, a “reforma” da Previdência, a privatização (doação) do Pré-Sal, a entrega da Embraer, a independência do Banco Central, etc.

E virão, infelizmente, muitas mais, como a “reforma” Administrativa e as demais privatizações. Enquanto grande parte do povo segue acreditando que o lema é “Brasil acima de tudo”, nosso país vem sendo desmanchado, desmantelado.

O objetivo é destruir todas as estruturas públicas e estatais que passaram a ser construídas, decisivamente, a partir da Era Vargas e até hoje sustentam o país e fazem com que o Brasil ainda seja, em boa medida, um país decente para se viver.

O Brasil deve ficar tão destruído que levará muitas décadas ou séculos para voltar a se levantar. Se é que conseguiremos recuperá-lo um dia. Este é o projeto embalado pelo golpe de Estado de 2016.

Não há piedade, não há clemência nas relações internacionais em um mundo mergulhado em uma crise capitalista insolúvel. Então, os países mais poderosos economicamente, que, apesar de toda a propaganda ideológica em prol do tal liberalismo, mantém seus Estados bem fortes, procuram empurrar sua crise para os mais pobres e mais frágeis.

Para terem sucesso nessa empreitada, precisam destruir o Estado, ou o que ainda resta dele, nos países pobres. Se os Estados Unidos já fizeram e seguem fazendo esforços no sentido de destruírem o esado nos seus países amigos da Otan, será que nos deixariam incólumes?

Matias

Políticos resolveram jogar xadrez com o povo.
Fica brigando que vai encontrar a solução. Vai dar certo.
Não é força, é jeito.

Roger Marcondes

Ou ataca a raiz do problema ou esquece, fica fazendo massinha com o barro 50 anos.
Desconfio que se um dia a gente brasileiro ganhar um Nobel vai ser igual o Nobel de portugal.
É capaz de um matar o outro por motivo fútil igual o corinthiano matou a esposa palmeirense. Motivo fútil: opinião política.
Quem não nasceu pra ser Zidane só consegue assassinar a bola. Nunca faz um golaço daqueles.
E o brasileiro desde 2014 só tá assassinando a bola. É canelada atrás de canelada.
Porém a origem do problema não está em 2014 e nem em 20-13.
Sacou.
Então, saca aí.
Não sacou, então, enterra na força bruta mesmo igual o guerrinha.
Pqp !
Vai tentando que um dia a gente consegue.
Onde sempre enrosca a nossa democracia ?
Até criança vê. Não precisa de Nobel.
Arriegua.

Ernani

Dizer o que, na vida civil quando um funcionário de uma empresa comete falta é demitido por justa causa sem direito algum… Já na vida militar o praça é expulso por cometer falta grave, como punição é elevado de categoria, exemplo : Bolsonaro

Maria Carvalho

(…)
“Ainda está por ser desvelado como eles atuaram na espiral de desestabilização política do Brasil e na preparação da Lava Jato [2012, nas “jornadas” de 2013 e 2014].”
(…)
Ora, atuaram com o auxílio da mídia “PIG”!

Oseias

O primeiro golpe militar dado pelo twitter. Ah, esse Brasil…

Zé Maria

Entrevista: Jurista Pedro Serrano, na TVT.

Legalidade Extraordinária x Estado de Exceção

(https://youtu.be/mvtRXXo6Qps?t=656)

Alvaro Tadeu Silva

Dilma e seu ministro da Justiça deixaram o barco correr solto. Nas manifestações anti impeachment, enquanto uma parte dos manifestantes gritava “não vai ter golpe, vai ter luta!”, outra parte (a dos dirigentes do PT) impedia o “vai ter luta”. Essa covardia expressa, sem punir os dirigentes da PF e afastar os generais golpistas, quando uma turma de formandos das Agulhas Negras escolheram Médici como seu patrono, foi o passe livre para o golpe. Dilma agiu como Jango em 1964, não reagiu, o povo, sifu.

Mancini

Alguém poderia me explicar: tem militar filho da elite?… https://refazenda2010.blogspot.com/

Zé Maria

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Depois da série de Manipulações e Interferências
do Ministério Público, do Poder Judiciário, das FFAA
e dos Meios de Comunicação de Massa, e, inclusive,
de Países Estrangeiros nos Poderes da República e
nas Instituições Democráticas, pelo menos desde 2013,
para derrubar os Governos do PT e, além disso, alijar da
Vida Pública os Líderes do Partido dos Trabalhadores,
alguém ainda supõe que existe Democracia no Brasil?
Só, talvez, a Justiça Eleitoral que, após declarar a
Inelegibilidade de Lula, diplomou, em 2018, a Chapa
Presidencial Bolsonaro/Mourão que foi eleita pelo
WhatsApp.
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