Jeferson Miola: Bolsonaro já sinalizou à “matilha” que aposta na ditadura

Tempo de leitura: 4 min

O assobio do Bolsonaro à matilha

por Jeferson Miola, em seu blog                       

Com o assobio à matilha fascista representado na convocação de manifestações hostis ao Congresso e ao STF, Bolsonaro confirma seu desapreço pela débil institucionalidade ainda vigente no regime de exceção e sulca o caminho para o avanço ditatorial.

O assobio do Bolsonaro à matilha tem similitude histórica com o processo de esgarçamento institucional, político e social por meio do qual Hitler se alçou ao poder e implantou o regime nazista na Alemanha dos anos 1930.

Ante esta realidade ameaçadora, é preferível exceder-se nas preocupações do que subestimar as tendências ditatoriais e militaristas que adquiriram contorno bastante nítido no início do 2º ano da barbárie bolsonarista.

Este artigo, escrito em 2 partes, pretende abordar o significado do assobio do Bolsonaro à matilha à luz da experiência histórica do avanço nazista.

Afinal, o parentesco ideológico do bolsonarismo com o nazi-fascismo é cada vez mais notório.

Não somente devido às semelhanças temperamentais e pessoais dessas 2 figuras abjetas que são Bolsonaro e Hitler, mas porque ambos representam saídas escolhidas pelas próprias classes dominantes em momentos de crise do capitalismo.


Parte 1 – o incêndio de Reichstag, a adesão da burguesia e o ascenso de Hitler

No livro A ordem do dia, o escritor francês Éric Vuillard ilustra como a adesão política e financeira de líderes empresariais e dirigentes de grandes indústrias foi fundamental para a ascensão de Hitler e dos nazistas ao poder.

Vuillard mostra que atuais multinacionais alemãs como Allianz, Basf, Bayer, Thyssenkrupp, Opel, Krupp [atualmente ThyssenKrupp] e Siemens corresponderam aos apelos de Hitler e doaram dinheiro para a campanha do Partido Nazista no pleito de novembro de 1932.

Naquela eleição parlamentar, o Partido Nazista obteve a maior votação proporcional, porém não suficiente para indicar Hitler como Chanceler [Primeiro-Ministro] da Alemanha. Mas em 30 de janeiro de 1933, com o apoio e a pressão da burguesia alemã, Hitler ascendeu ao cargo.

O incêndio de Reichstag [Parlamento alemão] na noite de 27 de fevereiro de 1933, falsamente atribuído ao Partido Comunista [PC], foi aproveitado por Hitler para consolidar seu poder e, assim, avançar na implantação do regime nazista. “Se esse incêndio tiver sido obra dos comunistas, como acredito, precisamos exterminar essa peste assassina com punho de ferro”, alardeava o Führer.

De acordo o ministro de propaganda nazista Goebbels o objetivo era, “por meio do incêndio e do terror, causar tumultos e, em meio ao pânico geral, tomar o poder”. E de fato foi o que aconteceu à continuação, com a consolidação da ditadura nazista que, poucos anos depois, arrastou o mundo aos horrores da 2ª guerra mundial.

Na mesma noite do incêndio de Reichstag, parlamentares, funcionários e dirigentes do PC foram ilegalmente presos e torturados pelas SA, as milícias paramilitares nazistas, em prisões clandestinas, onde alguns deles morreram em consequência dos suplícios sofridos.

No dia seguinte, 28 de fevereiro, no embalo da propaganda nazista da “ameaça comunista”, o presidente Paul Von Hindenburg assinou Decreto que extinguiu a liberdade de imprensa, de expressão e de reunião; proibiu jornais independentes e autorizou a intervenção do governo central nos governos regionais para “garantir a paz e a ordem”.

O Decreto foi uma arma sob medida para Hitler ampliar a perseguição e aniquilamento dos seus “inimigos”. Estudos documentam que em abril de 1933, menos de 2 meses depois do incêndio, cerca de 25 mil pessoas haviam sido detidas. Muitas delas, inclusive, em campos de concentração.

A “ameaça comunista” serviu como anestésico para a população; mas, sobretudo, foi usada como insumo para a retórica agressiva das elites e da imprensa dominante contra a resistência e a oposição democrática e popular ao nazismo.

Nos anos posteriores, esta propaganda foi ampliada com o anti-semitismo, o racismo aberto, a misoginia, preconceitos e perseguições de toda ordem, levando ao holocausto milhões de pessoas, principalmente judeus.

Com a imprensa burguesa funcionando como repetidora da retórica nazista e com a imprensa independente proibida, grande parte da população se convenceu que o PC tentara um golpe e que Hitler salvaria o povo alemão da “ameaça comunista” e da degradação racial.

O jornalista britânico Chris Harman no livro Trotsky – Como esmagar o fascismo, anota que mesmo com o avanço do terror nazista, “os líderes sociais-democratas decidiram que como Hitler havia chegado ao poder ‘legalmente’, eles não poderiam agir agora”.

Estes setores iludiam-se que “diante do governo e suas ameaças de golpe de Estado, os sociais-democratas e toda a Frente de Ferro mantém-se firme no solo da Constituição e da legalidade’ [sic]”.

O autor afirma ainda que “Apesar das contínuas ameaças, seus líderes faziam discursos corajosos no Reichstag – e depois garantiam que a oposição ao governo nazista seria ‘constitucional’”.

A candura da maioria do Reichstag e a complacência da social-democracia e da elite com Hitler – considerado o antídoto eficaz ao comunismo – cobrou um altíssimo preço histórico. As cicatrizes da crueldade e da barbárie nazista ficarão inapagáveis por toda a eternidade da existência humana.

No ensaio O que é o nazismo, escrito em 1934, Trotsky foi profético ao interpretar o nazismo como hipótese totalitária intrínseca ao próprio capitalismo em momentos de crise exacerbada e que, em vista disso, conta com a adesão das oligarquias dominantes e suas distintas frações:

“Absolutamente falsas são as esperanças de que o governo Hitler cairá amanhã, se não hoje, vítima de sua incoerência interna. Os nazistas necessitavam de um programa para chegar ao poder; mas o poder serve a Hitler nem um pouco para aplicar seu programa. Suas tarefas são dadas pelo capital monopolista.

[…] O fascismo alemão, assim como o italiano, se ergueu ao poder nas costas da pequena-burguesia, que foi tornada bode expiatório contra as organizações da classe trabalhadora e as instituições democráticas. Mas o fascismo no poder é tudo menos o governo da pequena-burguesia. Pelo contrário, ele é a ditadura mais impositiva do capital monopolista.

Mussolini tem razão: as classes médias são incapazes de políticas independentes. Durante os períodos de grande crise, são invocadas a seguir os absurdos das políticas de uma das duas classes fundamentais. O fascismo conseguiu colocá-los a serviço do capital”.

A analogia da realidade brasileira com a tragédia da Alemanha dos anos 1930 alerta para a necessidade urgente de um padrão distinto de enfrentamento, para impedir que o Brasil tenha a mesma evolução insana com Bolsonaro. Antes que seja tarde demais.


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Comentários

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Nilson Machado

Fez-se um ótimo relatório. É dirigido a quem? Palavras, somente palavras não atingem o governo extremista que se instalou no Brasil. Em face do que se vê, Bolsonaro não será afastado do cargo, havendo, tão somente, esta possibilidade nas eleições de 2022. Simples assim. Estamos soprando palavras, nada mais do que palavras! É o que penso até prova em contrário.

Zé Maria

Relato de ex-nazista põe em xeque incêndio no Reichstag em 1933

Deutsche Welle (DW): https://p.dw.com/p/3MqAI

Descoberto agora, depoimento de ex-oficial lança dúvidas sobre versão nazista de que comunista ateou fogo no prédio do Parlamento alemão.
Crime foi usado por Hitler para reprimir seus oponentes e se consolidar no poder.

Em 26/07/2019, a imprensa alemã teve acesso a uma declaração juramentada
em 1955, recém-descoberta nos arquivos de um tribunal em Hannover, que
muda a versão defendida pelos nazistas de que um comunista holandês estava por trás do crime.

No relato em questão, Hans-Martin Lennings, ex-membro da força paramilitar
nazista Sturmabteilung (SA), conta ter levado o holandês Marinus van der Lubbe
até o Reichstag na noite do incêndio.

Segundo o depoimento, quando Lennings e sua equipe da SA chegaram
ao prédio da Parlamento com Van der Lubbe, eles notaram “um estranho cheiro
de queimado, e havia nuvens de fumaça flutuando pelos cômodos”.
O incêndio que atingiu o prédio do Parlamento alemão (Reichstag) em 1933, considerado um duro golpe na democracia alemã, pode não ter ocorrido da forma como pregaram as autoridades nazistas da época. O depoimento de uma testemunha, datado de mais de 60 anos atrás e descoberto somente agora, reavivou um mistério sobre o incidente.

O fogo, que destruiu o edifício em Berlim, é descrito por historiadores como um momento crucial na tomada de poder por Adolf Hitler.
O Partido Nazista usou o evento para justificar um decreto de emergência e reprimir os comunistas, responsabilizados pelo incêndio.

O incêndio ocorreu em 27 de fevereiro de 1933.
Naquele momento, os nazistas ainda não haviam se consolidado no poder,
pois somente em 30 de janeiro de 1933 é que o presidente do Reich, Paul von
Hindenburg, havia nomeado Hitler para o cargo de chanceler.

Hitler não tinha a menor intenção de deixar o poder, e seu grande receio era
uma possível insurreição dos comunistas.
Com o Reichstag em chamas, ele viu um suposto fundamento para suas
preocupações, e chegou a insistir que uma conspiração comunista estava por
trás de tudo.

No dia seguinte, 28 de fevereiro, foi assinado o Decreto do Presidente do Reich
para a proteção do povo e do Estado, que eliminava a liberdade de expressão,
de opinião, de reunião e de imprensa.
O sigilo do correio também era abolido.
Além disso, o governo em Berlim ganhava poderes para “intervir” nos estados,
a fim de garantir “a paz e a ordem”.

Com o Decreto do Incêndio do Reichstag, como ele ficou conhecido a seguir,
os nazistas passaram a dispor da ferramenta decisiva para combater seus inimigos.
Sem provas nem controle jurídico, eles podiam deter qualquer um que lhes fosse
desconfortável.

O decreto pavimentou, assim, o caminho para a ditadura de Hitler.

[EK/dw/afp/dpa]

https://www.dw.com/pt-br/relato-de-ex-nazista-p%C3%B5e-em-xeque-inc%C3%AAndio-no-reichstag-em-1933/a-49772750

https://www.dw.com/pt-br/1933-inc%C3%AAndio-no-reichstag-era-um-duro-golpe-na-democracia-alem%C3%A3/a-16629973
https://www.dw.com/pt-br/elei%C3%A7%C3%B5es-alem%C3%A3s-de-1933-transcorreram-em-clima-de-intimida%C3%A7%C3%A3o/a-16647900
https://www.dw.com/pt-br/1933-repress%C3%A3o-ao-partido-comunista-da-alemanha/a-303729
https://www.dw.com/pt-br/1933-aprova%C3%A7%C3%A3o-da-lei-plenipotenci%C3%A1ria/a-480521

Zé Maria

Frise-se que o chamado Decreto de 28/02/1933, um dia após o
Incêndio do Palácio do Reichstag (Parlamento Alemão), ocorreu
cinco dias antes das Eleições Parlamentares de 05/03/1933, quando,
apesar de toda perseguição política e violência contra os Comunistas,
o KPD (Partido Comunista Alemão) saiu do Pleito como a terceira
maior força eleitoral da Alemanha, atrás apenas do Partido Social
Democrata (SPD) e do Partido Nazista (NSDAP) que, ainda que com
maioria, não alcançou os dois terços das cadeiras do objetivo
principal do Chanceler Adolf Hitler que já estava com o Projeto
da Lei Habilitante (PEC de Concessão de Amplos Poderes)
pronto para ser enviado ao Parlamento e aprovado pelos
Deputados Nazistas, caso obtivesse a maioria esmagadora
que esperava obter.
http://www.gonschior.de/weimar/Deutschland/Uebersicht_RTW.html
Ainda assim, em 15 de Março daquele ano, portanto 10 dias após
o dia das Eleições, o Partido Comunista foi posto na Ilegalidade.
E 2 semanas depois, no dia 23 de Março de 1933, com o apoio dos
Partidos Conservadores, Principalmente os Ligados à Igreja como
o Zemtrum e o DNVP [hoje o Partido de Extrema-Direita Alemã],
e já sem a presença do KPD no Parlamento, Hitler consegue aprovar
a Emenda Constitucional que lhe concedia Poderes Absolutos Supraconstitucionais (http://migre.me/idHd4).
A partir daí, em 24 de maio de 1933, o Reichstag aprovou o Ato de
Autorização pelo qual transmitia suas Funções Legislativas ao Governo.
Em junho de 1933, o SPD também foi colocado na ilegalidade e, no mês
seguinte, o Zentrum se dissolveu, e os demais Partidos foram desmantelados,
inclusive o DNVP que havia se coligado com o NSDAP, até que em 14 de julho
de 1933 o Partido Nazista foi oficialmente declarado, por Decreto, o Partido Único
da Alemanha, assim permanecendo durante todo o Governo do III Reich, sob a
Ditadura do Führer Adolf Hitler.

Foi realmente uma seqüência de eventos e incidentes históricos aterrorizantes e, o que é lancinante, tudo dentro do sistema legal vigente no País e decorrente da
permissividade das instituições políticas e jurídicas, numa sociedade hipnotizada
por discursos patrióticos e messiânicos.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ascens%C3%A3o_de_Hitler_ao_poder
https://de.wikipedia.org/wiki/Deutsche_Zentrumspartei#Zeit_des_Nationalsozialismus_(1933%E2%80%931945)
https://www.viomundo.com.br/denuncias/ucrania.html
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-22022010-115028/publico/JOAO_GRINSPUM_FERRAZ.pdf

Luis Ricardo Quilzini Ciriaco

Salve Bolsonaro VC é meu presente atualmente não é o congresso nem o STF bando de corruptos ladrões da nação. Já era hora de alguém tomar alguma providência contra eles são o câncer da nossa nação, que só aprova qualquer coisa se pagarem bem, quem tem muito medo dos militares da polícia da verdadeira justiça são os ladrões bandidos que estão contra o povo, que nossa nação se levantem contra tudo e todos que pensa em afundar nosso Brasil para engordar seus próprios bolsos.

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