Jeanderson Mafra: Monark, nazismo e a questão da Palestina

Tempo de leitura: 4 min

Monark, nazismo e a questão da Palestina

Por Jeanderson Mafra, site Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil)

Apologia ao nazismo é crime no Brasil e deve ser repudiado e punido não apenas por ser uma fala que expõe ao risco negros, homossexuais, judeus, ciganos e seres humanos considerados “não arianos”, ou “inferiores” em relação a uma “raça superior e branca”, como defendia aquela ideologia.

Não só por isso. É preciso ler o que há de mais cruel por trás de toda simpatia àquela ideologia. Me refiro à estratégia que, se utilizando desta apologia criminosa, a denuncia para legitimar outro tipo de segregação, em vigor na Palestina, buscando justificar, no campo do discurso político, o neocolonialismo sionista sobre a Palestina.

Sim, o sionismo usa o “nazismo” e o “holocausto” como “argumento” para continuar a ocupação e a limpeza étnica do povo palestino, de igual modo que fazia Hitler: sob a ideia de que a Alemanha pertencia àquela fantasiosa “raça ariana” e que a Alemanha lhes pertencia por “vínculo sanguíneo”.

Ora, não era isso que pregava o nazismo? Não é isso que prega, desde sua “fundação” sobre a Palestina, o Estado de Israel? Senão, leiamos o inconfundível Isaac Deutcsher em seu ensaio “O judeu não-judeu” [1]:

“Vamos agora aceitar as ideias de que sejam laços raciais ou ‘vínculo sanguíneo’ que faz a comunidade judaica? Não seria outro triunfo para Hitler e sua degenerada filosofia? Se não é a raça, que é então que faz o judeu? Religião? Eu sou ateu. Nacionalismo judaico? Sou internacionalista. Dessa forma, em nenhum dos dois sentidos sou judeu. Sou judeu, entretanto, pela força de minha incondicional solidariedade aos perseguidos e exterminados.”

E foi assim que Deutscher, Naum Goldmann [2] e muitos outros antissionistas desarticularam qualquer vinculação da tradição judaica com o sionismo. O primeiro chegou a concluir, com muita pena, que “é uma verdade trágica e macabra que o maior ‘re-definidor’ da identidade judaica foi Hitler e este é um dos seus maiores triunfos póstumos”.

Primo Levi, escritor italiano e sobrevivente de Auschiwitz, foi o autor da célebre frase que expôs esse mecanismo cruel sionista na Palestina ocupada quando disse que “todos têm os seus judeus; e os judeus dos israelenses são os palestinos”.

A posição antissionista de Levi sobre a colonização da Palestina, contra as justificativas do sionismo para expulsar e exterminar o povo árabe-palestino de suas terras para dar lugar a perseguidos europeus de fé judaica como se os palestinos fossem culpados dos crimes nazistas na Europa, é uma posição humanista seguida por muitos sobreviventes de fé judia.

Foi e é a posição oficial do judaísmo desde o nascedouro daquele movimento secular rejeitado na Alemanha por 75 dos seus 80 rabinos, razão pela qual não conseguiu realizar seu 1° Congresso Sionista em solo alemão, entre alemães judeu, mas em Basiléia, Suíça, em 1897.

Bem, tomo nota dessas informações para – assim como Levi, Einstein, Gandhi, Mandela… (todos antissionistas) – demonstrar como o sionismo se alimenta, para dizer que um crime de ódio, um discurso supremacista não pode legitimar a limpeza étnica e o regime de apartheid contra os palestinos sob o pretexto do “vejam, precisamos mesmo das terras palestinas para nos proteger dessas ameaças”.

Deste modo, a fala de Monark não traz prejuízos só à democracia brasileira, não põe em alerta apenas as comunidades cigana e negra – esta última, inclusive, representada pelo congolês Moise, assassinado por fascistas no Rio de Janeiro e pelo qual ainda não houve justiça -, diariamente marginalizadas no Brasil e no mundo.

A fala de Monark atinge também a Palestina e todo seu povo, dá eco ao “hasbará” (propaganda em hebraico) sionista, que se fortalece de seus atos, ademais criminosos, para acelerar sua agenda, como bem definiu outro Levy, o colunista Gideon Levy, editor do israelense Haaretz quando, citando o relatório recente da Anistia Internacional sobre o apartheid sionista de Israel, denunciou:

“O mundo continuará a lançar a invectiva, Israel continuará a ignorá-la. O mundo dirá apartheid, Israel dirá antissemitismo. Mas as provas vão continuar se acumulando. O que está escrito no relatório não é antissemitismo, mas ajudará a fortalecê-lo. Israel é o maior motivador de impulsos antissemitas no mundo de hoje.”

Então, jovem Monark, aceite de bom grado o convite do Museu do Holocausto de Curitiba. Aproveite e visite o Museu da Escravidão e conheça um crime de extermínio que continua em curso com seus “apagamentos” no Brasil.

Não esqueça de conhecer também o Museu Cigano e o “Porrajmos”, o extermínio dos sinti-roma sob o nazismo. E compreenda de uma vez que falas como a sua repercutem para além de nossas fronteiras e permitem legitimar não só aquele nazismo, mas também este que paira sobre o Brasil e aquele que dizima milhares de vidas palestinas.

E se depois de tudo isso ainda não tiver compreendido o que é o nazismo e todos os demais holocaustos que dizimaram dezenas de milhões de vidas, da escravidão aos coloniais, vá à Palestina, que é o maior campo de concentração já construído e que tem por “guardas” os sionistas, abrigados no maior gueto da história, feito pelos próprios, em forma estatal, a que denominaram Israel.

[1] Isaac Deutscher. O judeu não-judeu e outros ensaios.

[2] Naum Goldmann. O Paradoxo judeu.

Jeanderson Mafra é graduado e mestrando em Letras com ênfase em Estudos de Linguagem e Discurso, membro da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (MA), escritor e poeta maranhense.

Leia também:

Gideon Levy: Diga-me o que é falso no relatório da Anistia Internacional sobre Israel


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Comentários

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José Espare

Por estranha coincidência, as declarações da dupla Monark-Kataguiri está servindo para ofuscar os efeitos do relatório da Anistia Internacional sobre o apartheid em Israel. E isso apesar de que o apartheid é o que de mais afinado com o nazismo os seres humanos já produziram. Em lugar de discutir a prática do apartheid (ou neo-nazismo) que está acontecendo agora, de verdade, estamos debatendo o que fazer com a dupla Monark-Kataguiri.

Curumim

Tudo isso mostra que os bolsonaristas estão hiper nervosos, pois o mito vai perder. As pesquisas são muito desfavoráveis a ele.
O pt deveria reforçar a segurança do Lula mais ainda. Reforçar bastante a segurança. Mais ainda do que já fizeram.
Nazista não presta e nunca prestou.

Zé Maria

Excerto

Primo Levi, escritor italiano e sobrevivente de Auschiwitz,
foi o autor da célebre frase que expôs esse mecanismo
cruel sionista na Palestina ocupada quando disse que
“todos têm os seus judeus; e os judeus dos israelenses
são os palestinos”.
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Comentário

Os Neo-Nazistas Ocidentais, notadamente da Europa
e dos EUA – que são a Maior Ditadura [*] do Planeta -substituíram Judeus por Islamitas no “Rol do Extermínio”.

Na realidade atual, os Neo-Nazistas são “Judaico-Cristãos”.

*[Se os Estados Unidos da América (EUA) um dia foram
uma Democracia, depois do “Patriot Act” não são mais
(https://www.congress.gov/107/plaws/publ56/PLAW-107publ56.pdf)]

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