Gleisi diz que aumento para militares agora é “indecente”. Fardados vieram para ficar “a qualquer custo”, afirma colunista

Tempo de leitura: 4 min
Rio de Janeiro 29/11/ 2018 -- O presidente eleito Jair Bolsonaro participa da formatura e diplomação de militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, na Vila Militar em Deodoro, no Rio de Janeiro. Fernando Frazão/Agência Brasil

É indecente num momento de crise econômica e desemprego recorde querer aumentar em até R$ 5 mil os salários de militares. A preocupação do governo deveria ser a área social, Fundeb e auxílio emergencial e não em dar aumento de salários. Bolsonaro não tem compromisso com o povo. Gleisi Hoffmann, presidenta do PT.

Presidência do Bolsonaro, parida nos quartéis, é bancada pelas Forças Armadas

Por Jeferson Miola, em seu blog

O plano da Presidência do Bolsonaro nasceu muito antes de 2018.

Concebido como projeto secreto da cúpula militar, foi parido nos quartéis e conduzido com inteligência estratégica.

Os obstáculos ao plano foram todos removidos do caminho – como, por exemplo, a candidatura do Lula e o altíssimo risco que seria a participação do Bolsonaro nos debates eleitorais.

A gratidão do Bolsonaro ao comandante do Exército deixou implícito o engajamento dos comandos militares na mecânica conspirativa para elegê-lo: “General Villas Boas, o que já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, declarou ele, talvez aludindo aos twitters do general para ameaçar e tutelar o STF.

A candidatura presidencial do Bolsonaro para a eleição de 2018 foi lançada publicamente 4 anos antes, já em 29 de novembro de 2014, no pátio da Academia Militar de Agulhas Negras [AMAN], precedendo a formatura da turma de cadetes daquele ano.

Isso significa, portanto, que este projeto já estava sendo gestado e preparado na caserna muito antes de 2014.

O evento político-eleitoral ocorreu dentro de uma instalação militar.

Considerando-se os princípios da hierarquia e disciplina militar que regem a caserna, é difícil acreditar que aquele ato político-partidário não tenha sido previamente consentido/conhecido pelo comando da AMAN e, também, pelo comando do Exército.

Bolsonaro, na ocasião, estava acompanhado dos filhos Eduardo e Carlos, e foi recepcionado pelo grupo de aspirantes-a-oficial que, como uma claque treinada, bradava “Líder!, Líder!, Líder! …”

O então ministro da Defesa Celso Amorim, provavelmente alienado acerca daquele evento partidário que precedeu a cerimônia de formatura, participara da solenidade oficial que se seguiu.

Mesmo com o fim da ditadura, os militares não deixaram de politizar, doutrinar e ideologizar as tropas a partir da perspectiva reacionária, autoritária e anticomunista da guerra fria; assim como cultivaram no horizonte a ambição da retomada do poder.

As [1] jornadas de 2013, com movimentos financiados por fundações dos EUA, bem como [2] a sabotagem de Cunha/Aécio/FHC/Temer, e [3] o ativismo político da Lava Jato dirigido pelos EUA, foram fatores fundamentais para a desestabilização política e a instalação do caos no país.

Os militares farejaram ali uma oportunidade para viabilizarem o projeto secreto de retorno ao poder – desta vez, porém, para permanecerem por um longo período de tempo.

Com o emprego de conhecimentos e dispositivos da guerra cibernética e de manipulação da política – transformada em teatro de operações de batalhas diversionistas e guerras psicológicas –, eles conseguiram catalisar todas frações da oligarquia, a Globo e a mídia em torno do candidato da extrema-direita, apresentado como o único capaz de derrotar Haddad e o PT.

A vitória do Bolsonaro, mesmo que maculada pelas trapaças acobertadas pelo TSE e pela corrupção do sistema de justiça, foi estratégica para as FFAA.

A falsa “fachada democrática” serve a eles como argumento de legitimidade de um governo militar “eleito”; “democrático” [sic].

É difícil não se reconhecer, hoje, a natureza militar do governo/regime.

Ao recorde de ministros militares no Planalto, somam-se mais de 6 mil militares lotados na máquina estatal, além de outro contingente significativo de policiais militares que ilegalmente colonizaram a política e se aboletam em gabinetes parlamentares e do Executivo.

A colonização das instituições civis de Estado por militares é de tal gravidade que o general bolsonarista Ajax Porto Pinheiro continua lotado no gabinete da presidência do STF, onde exerce tutela direta sobre Dias Toffoli.

A marcha rumo ao regime dos quartéis tem na data de 19 de abril de 2020 um significado análogo ao evento de lançamento da candidatura do Bolsonaro na AMAN, em novembro de 2014.

Em 19 de abril passado, Bolsonaro se juntou à manifestação inconstitucional que pedia o AI-5, o fechamento do Congresso e do STF e intervenção militar.

Aquele ato inconstitucional que “coincidiu” com a celebração do dia do Exército Brasileiro foi realizado em área de jurisdição do Quartel-General do Exército, o “forte-apache”.

É difícil acreditar, por isso, que a iniciativa não tenha tido a anuência prévia – ou a complacência – do comando do Exército.

Ou alguém se ilude que a área de segurança máxima da defesa nacional seria ocupada sem o conhecimento, ou sem o consentimento prévio do comandante Edson Leal Pujol?

No dia seguinte, Bolsonaro mandou às favas o texto constitucional vigente e declarou: “A Constituição sou eu!”.

E, algumas semanas depois, dizendo que “as Forças Armadas também estão ao nosso lado”, Bolsonaro ameaçou: “Acabou a paciência, não tem mais conversa. Daqui pra frente faremos cumprir a Constituição [dele] a qualquer preço”.

O sobrevôo de outra manifestação inconstitucional [31/5] com o ministro da Defesa é prova do engajamento das FFAA na escalada militar.

O uso de helicóptero do Exército, de cores camufladas, ao invés de equipamento aéreo da estrutura civil da presidência da República, tem mais que valor simbólico; é uma clara mensagem militarista.

A senha para se entender que se trata de um governo/regime militar que não se subordina ao poder civil e à Constituição civil foi dada no manifesto dos colegas de turma do general Augusto Heleno contra o STF e replicada, com nuances de linguagem, pelo próprio Bolsonaro e outros generais do Planalto e da reserva: “as FFAA não cumprem ordens absurdas”.

Ou seja, os militares não cumprem ordens civis!

A Presidência do Bolsonaro, que foi parida nos quartéis, é sustentada pelas Força Armadas. Bolsonaro foi o motor eleitoral dos militares; ele é instrumento deles e continuará sendo até o momento que os militares entenderem que ele deve ser descartado, se deixar de ser operacional e funcional para a continuidade do regime.

Para 2022, se Bolsonaro estiver irremediavelmente avariado, Sérgio Moro poderá ser o motor eleitoral para a perenização do regime militar com o aprofundamento do Estado policial, mesmo que no contexto de uma eleição fraudada e manipulada, como se pode prever que deverá ser.

Os militares não pretendem recuar do status conquistado; eles pretendem continuar no poder por um longo tempo e a qualquer custo.


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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/i/status/1285910133021847554
“No Brasil, a elite controla a ralé com o poder do cassetete
e a classe média com o poder do microfone.”
Jessé de Souza
https://youtu.be/CIqothArixA
https://twitter.com/meteoro_br/status/1264970310736056322

Henrique Martins

Complementando comentário de um dos posts anteriores eu soube que a vacina da tuberculose protege também contra a Hanseníase (Lepra).
Acontece que uma doença não tem nada a ver com a outra, pois são provocadas por mycobacterias diferentes e mesmo assim funciona.

Henrique Martins

Sobre o nepotismo que está sendo praticado pelo general Ramos é preciso lembrar que o general Mourão usou da influência do cargo para colocar seu filho como assessor especial na presidência do Banco do Brasil. Embora o moço faça parte do quadro do banco a promoção foi em detrimento de outros servidores só porque se tratava do filho do vice presidente.

    Nelson

    Ah, essa tu não me aplicas, meu caro Martins. Eu acho que é por puro e honesto compromisso com o país que eles estão no governo do Bozo.

    Um pouco de ironia vai bem em meio a tantas agruras que temos sofrido, não é mesmo?

    Os militares são todos ilibados, impolutos, probos, inatacáveis, puros, incorruptos. Pelo menos é isto que posso concluir ao ouvir tanta gente invocando a volta da ditadura. Diz essa gente que, no tempo dos militares não havia roubalheiras, sem-vergonhices, corrupção. e o escambau.

    Então, nada melhor do que eles voltarem ao poder para, assim, poderem comprovar todas essas suas virtudes e qualidades.

    Em tempo. Naõ estou aqui a generalizar, um dos grandes pecados que normalmente cometemos. Não estou a colocar todos os militares no mesmo saco. Há, sim, entre eles, muita gente decente, muita gente dedicada.

    Marco Vitis

    Temos que defender o general Ramos. Por que ele, sendo general, não pode arrumar uma boquinha pra filha ? Ele está fazendo exatamente o mesmo que fizeram os generais Villas Bôas e Mourão. E os outros 3.000 militares que estão pendurados em cargos no Executivo ? Por que só o pobre do general Ramos não pode ?
    “Isonomia, Já !” é o grito ouvido nos quartéis…

Henrique Martins

Os evangélicos são muito apegados a dinheiro, por isso aceitam o comércio da fé imposto pelos pastores.
O filme favorito deles chama ‘Comprando Jesus’.

Então neste momento eles nao estão preocupados com a vida humana e sim com economia, neste sentido, apóiam Bolsonaro incondicionalmente na condução da pandemia. Daí a base dele não cai nem com o genocídio que está sendo executado no país.
Nem mesmo a vida deles é mais importante do que o dinheiro. Imagine a do outro!.

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